Métodos de avaliação em psicologia do esporte
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Métodos de avaliação em psicologia do esporte - Evandro Morais Peixoto
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Métodos de avaliação em psicologia do esporte [livro eletrônico] / Evandro Morais Peixoto, Tatiana de Cássia Nakano, organizadores. -- 1. ed. -- São Paulo : Vetor Editora, 2022. ePub.
Vários autores.
Bibliografia.
Métodos de avaliação em psicologia do esporte [livro eletrônico] / Evandro Morais Peixoto, Tatiana de Cássia Nakano, organizadores. -- 1. ed. -- São Paulo : Vetor Editora, 2022. ePub
22-105602 | CDD-796.01
Índices para catálogo sistemático:
. Psicologia do esporte 796.01
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
ISBN: 978-65-89914-85-3
CONSELHO EDITORIAL
CEO - Diretor Executivo
Ricardo Mattos
Gerente de produtos e pesquisa
Cristiano Esteves
Coordenador de Livros
Wagner Freitas
Diagramação
Rodrigo Ferreira de Oliveira
Capa
Rodrigo Ferreira de Oliveira
Revisão
Daniela Medeiros e Paulo Teixeira
© 2022 – Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer
meio existente e para qualquer finalidade, sem autorização por escrito
dos editores.
Sumário
Apresentação
1. AVALIAÇÃO EM PSICOLOGIA DO ESPORTE
Introdução
Avaliação psicológica no esporte e exercício físico: particularidades e recomendações
Considerações finais
Referências
2. A IMPORTÂNCIA DA OBSERVAÇÃO NA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA COMO FERRAMENTA PARA O CONHECIMENTO DE ATLETAS
Introdução
Observação como método de avaliação psicológica na psicologia
Avaliação de emoções por meio da observação
Considerações Finais
Referências
3. FERRAMENTAS QUALITATIVAS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DA PSICOLOGIA DO ESPORTE
Introdução
Observação
Anamnese
Entrevista
Considerações finais
Referências
4. CONTRIBUIÇÕES DOS TESTES PSICOLÓGICOS À PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
Introdução
Testes psicológicos: história e conceito
PEE e o papel do teste psicológico nas pesquisas
Os testes psicológicos e a atuação profissional em PEE
Desafios na escolha de um teste psicológico
Considerações finais e perspectivas futuras
Referências
5. INTEGRAÇÃO DAS INFORMAÇÕES EM PROCESSOS DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO ESPORTE
Introdução
Avaliação psicológica
Contextualização de AP na psicologia do esporte
Fontes fundamentais e complementares de AP no contexto do esporte
Considerações finais
Referências
6. AVALIAÇÃO PSICOSSOCIAL DE ATLETAS
Introdução
Aspectos psicológicos positivos e negativos decorrentes da prática esportiva
Aspectos psicossociais que influenciam a carreira esportiva
Escala de Avaliação Psicossocial de Atletas em Formação
Considerações finais
Referências
7. RAZÕES PARA PRÁTICA DE ESPORTE E EXERCÍCIO: MODELOS TEÓRICOS E PROPOSTA DE MENSURAÇÃO[1]
Introdução
Um pouco da história relativa ao IMPRAFE-132
O IMPRAFE-132
As bases teóricas do Modelo Teórico de Avaliação de Motivos (MoTAM)
Modelo Teórico de Avaliação da Motivação (MoTAM) para a prática regular de atividades físicas ou esportivas
Considerações finais
Referências
8. AVALIAÇÃO DAS PRÁTICAS DE TÉCNICAS DE IMAGENS MENTAIS PARA O ESPORTE
Introdução
Modelos teóricos das imagens mentais
A relação de imagens mentais com outras dimensões psicológicas
Avaliação subjetiva das imagens mentais
Considerações finais
ANEXO 1 – Questionário de Habilidade de Imagem Mental no Esporte (Sport Imagery Ability Questionnaire©®)
ANEXO 2 – Inventário PETTLEP de Imagens Mentais no Esporte (Sport Imagery PETTLEP Inventory©)
Referências
9. DESENVOLVIMENTO POSITIVO DE JOVENS NO ESPORTE: MODELOS TEÓRICOS E PROPOSTAS DE AVALIAÇÃO
Introdução
Desenvolvimento positivo de jovens
Ativos de Desenvolvimento
Modelo 5C
Estruturas de ativos pessoais
Habilidades para a vida
Transferência implícita e explícita
Propostas de avaliação
Considerações finais
Referências
10. AVALIAÇÃO DA AUTOEFICÁCIA NO CONTEXTO ESPORTIVO BRASILEIRO
Introdução
Autoeficácia: definição e aspectos relacionados a esse construto
Por que estudar A autoeficácia no contexto esportivo?
A avaliação da autoeficácia
Desafios em avaliar a autoeficácia no contexto esportivo brasileiro
Considerações finais
Referências
11. AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NO ESPORTE E NO EXERCÍCIO
Introdução
Avaliação psicológica e interdisciplinaridade
Avaliação neuropsicológica
Avaliação neuropsicológica no esporte
Considerações finais
Referências
12. AVALIAÇÃO DOS VALORES NO ESPORTE
Introdução
Histórico e teorias dos valores humanos
Estudo dos valores no esporte
Avaliação dos valores no esporte
Considerações finais
Referências
13. INTEGRAÇÃO DAS INFORMAÇÕES PSICOFISIOLÓGICAS À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE ATLETAS E PRATICANTES DE EXERCÍCIO FÍSICO
Introdução
Avaliação da percepção subjetiva do esforço
Ansiedade e sua relação com a variabilidade da frequência cardíaca
Avaliação psicofisiológica por biofeedback
O estresse e a avaliação pelo hormônio cortisol
Avaliação da dor
Considerações finais
Referências
14. ESTRATÉGIAS DE AVALIAÇÃO DA EMPATIA E LIDERANÇA EM TREINADORES ESPORTIVOS
Introdução
Empatia e liderança no contexto esportivo
Empatia: comunicação e gestão
Avaliando a empatia no contexto esportivo
Considerações finais
Referências
15. RESILIÊNCIA NO ESPORTE: DOS MODELOS TEÓRICOS ÀS EVIDÊNCIAS DE VALIDADES DAS ESCALAS APLICADAS EM ATLETAS
Introdução
Fundamentação teórica da resiliência psicológica
A resiliência no esporte
Avaliação da resiliência no esporte
Evidências de Validade das Escalas de Resiliência no Esporte (ER-Esp) no contexto esportivo brasileiro
Considerações finais
Referências
16. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO RENDIMENTO ESPORTIVO
Introdução
Referências
17. PAIXÃO, MINDFULNESS E BEM-ESTAR SUBJETIVO: AVALIAÇÃO DE CONSTRUTOS PSICOLÓGICOS POSITIVOS E SUAS RELAÇÕES COM A PRÁTICA DE ESPORTE E EXERCÍCIO FÍSICO
Introdução
Paixão
Mindfulness
Bem-estar subjetivo
Considerações finais
Referências
18. AUTOEFICÁCIA PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ESPORTES E NO EXERCÍCIO, EFICÁCIA COLETIVA E AGÊNCIA HUMANA EM EQUIPES ESPORTIVAS
Introdução
A teoria social cognitiva (TSC) – o principal eixo teórico
A TSC e a agência humana
A reciprocidade triádica na TSC e aplicada ao contexto esportivo
As relações interpessoais em uma equipe esportiva
Autoeficácia e o profissional de EF: um construto aplicável no contexto esportivo
Eficácia coletiva: um construto interessante para compreender a dinâmica da comissão técnico-esportiva
Autoeficácia e eficácia coletiva – sugestões de instrumentos para avaliação
Considerações finais
Referências
SOBRE OS AUTORES
Organizadores
Autores
Apresentação
Esta obra busca fornecer bases teóricas e práticas para a utilização de procedimentos, métodos e técnicas da avaliação psicológica aplicados ao contexto da psicologia do esporte e do exercício físico em 18 capítulos. Divide-se em três partes: (1) a primeira aborda, em seus cinco capítulos, os métodos e técnicas específicas da avaliação psicológica no esporte (observação, avaliação qualitativa, testes psicológicos e a integração dos dados provenientes da avaliação psicológica); a segunda parte, composta por 10 capítulos, enfoca a avaliação de construtos relevantes na psicologia do esporte, tais como avaliação psicossocial, as razões para a prática esportiva, funções executivas, desenvolvimento positivo, autoeficácia, avaliação neuropsicológica, valores, informações psicofisiológicas e resiliência; e, por fim, (3) a terceira parte apresenta exemplos de aplicações práticas de processos de avaliação psicológica.
CAPÍTULO 1
AVALIAÇÃO EM PSICOLOGIA DO ESPORTE
Tatiana de Cássia Nakano
Introdução
A psicologia do esporte é uma ciência voltada ao estudo e à aplicação dos princípios psicológicos, com o objetivo de ajudar as pessoas a alcançarem um desempenho consistente na faixa superior de suas capacidades (Hays, 2012). Embora tal área tenha surgido da demanda proveniente do esporte de alto rendimento, atualmente se observa sua ampliação para atividades físicas cotidianas, projetos sociais, recreação e lazer, em situações competitivas ou não (Angelo & Rubio, 2007), nas mais diferentes fases do desenvolvimento humano, da infância à velhice (Bartholomeu, Montiel, & Machado, 2017).
Para isso, os profissionais de psicologia que atuam nessa área devem ser treinados e especializados para desenvolver uma ampla gama de atividades, incluindo a identificação, o desenvolvimento e a execução do conhecimento mental e emocional, habilidades necessárias para a excelência em diferentes domínios de desempenho; a compreensão, a avaliação e o gerenciamento dos fatores inibidores psicológicos, cognitivos, emocionais, comportamentais e psicofisiológicos e a melhoria dos ambientes de desempenho para facilitar um desenvolvimento mais eficiente, uma execução consistente e experiências positivas nos esportistas (Portenga, Aoyagi, & Cohen, 2017).
Entre as atividades desenvolvidas por esse profissional, o livro enfocará uma especificamente: a avaliação psicológica. É importante esclarecer que a prática da avaliação psicológica é restrita aos psicólogos, mas a consultoria nessa área pode ser desenvolvida por atletas, treinadores, educadores físicos e outros profissionais (Taylor, 2018). A avaliação psicológica (AP) visa, em primeiro lugar, oferecer uma visão holística acerca do nível de desenvolvimento do atleta tanto no contexto esportivo quanto no contexto pessoal (Stambulova, Ryba, & Henriksen, 2020). Isso porque, no contexto esportivo, muitas vezes os atletas estão muito mais preocupados com sua aprovação e seu alto desempenho esportivo do que com o autocuidado físico e psíquico (Rabelo, Angelo, Gonçalves, & Rubio, 2016). Dada sua amplitude, alguns exemplos enfocando os principais objetivos da AP no esporte são sumarizados no Quadro 1.1.
Quadro 1.1. Principais focos e objetivos da psicologia do esporte
Fonte: elaborado pela autora.
Para que tais objetivos possam ser alcançados, o psicólogo do esporte é requisitado a tomar decisões e intervir junto aos atletas e à comissão técnica, pautando-se, para isso, em informações coletadas a partir de processos avaliativos (Pesca, Frischnecht, & Peixoto, 2019), abordados no tópico a seguir.
A relevância desses processos ampara-se na constatação de que os atletas podem experimentar fatores de risco para a saúde mental, relacionados, por exemplo, a engajamento no esporte, ocorrência de lesões, excesso de treinamento e crises na transição esportiva, especialmente entre as categorias juvenil e adulta (Schinke, Stambulova, Si, & Moore, 2018). Ao mesmo tempo, a psicologia do esporte tem desenvolvido um trabalho baseado na compreensão do esporte como ferramenta voltada à recreação, qualidade de vida, à reabilitação e à promoção de saúde (Bandeira & Conde, 2016).
Avaliação psicológica no esporte e exercício físico: particularidades e recomendações
O processo de avaliação psicológica é uma das práticas que gera maior visibilidade para a área e maiores expectativas nos próprios atletas, treinadores e dirigentes, dadas as informações dele provenientes. No contexto esportivo, o processo de avaliação psicológico é também conhecido como psicodiagnóstico esportivo e visa avaliar os níveis de desenvolvimento de diferentes capacidades e funções do atleta, especialmente aquelas consideradas imprescindíveis para um bom desempenho, para a manutenção da prática esportiva e para a otimização do trabalho (Pesca et al., 2019).
Nesse sentido, a avaliação deve ser conduzida considerando aspectos grupais e individuais, a fim de identificar pontos fortes e fracos e embasar o delineamento de programas de intervenção (Montiel, Bartholomeu, & Costa, 2016). Serve, também, para a identificação das dificuldades, do modo de funcionamento do sujeito e das relações interpessoais dos praticantes (Santo, 2017). Assim como os aspectos físicos, técnicos e táticos, os aspectos psicológicos dos atletas devem ser avaliados adequadamente por um profissional capacitado, no caso, o psicólogo (Pesca et al., 2019).
Considerando essa possibilidade, a prática da AP no contexto esportivo tem sido alvo constante de preocupações dos profissionais, dado o fato de envolver procedimentos éticos determinados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) (Rubio, 2007). Haja vista a importância da área, a The International Society of Sport Psychology desenvolveu recomendações específicas para a prática da avaliação psicológica no contexto do esporte. Entre os cuidados necessários, ressaltam-se: (1) a realização de avaliações psicológicas conforme os limites de especialização do profissional; (2) a necessidade de explicar ao cliente os propósitos, os usos e os limites de cada um dos métodos de avaliação escolhidos; (3) garantia de informações sobre a finalidade, o processo, o uso de dados, a confidencialidade, a comunicação e o armazenamento dos dados provenientes das AP; (4) obter o consentimento informado dos clientes ou seus responsáveis legais; (5) fornecer feedback sobre a avaliação realizada, em linguagem acessível; (6) garantir a segurança dos dados e registros da avaliação; (7) adquirir e fazer uso somente de técnicas para as quais tem treinamento apropriado e experiência; e (8) garantir o descarte correto dos materiais de AP, assegurando que nenhum acesso indevido possa acontecer (Quartiroli et al., 2020).
Segundo Montiel et al. (2016), no caso do esporte de alto rendimento, a AP pode ser utilizada em situações pré-competição, durante a competição, pós-competição e para avaliar a disposição psíquica do atleta para treinamentos e competições. Quando a avaliação é realizada anteriormente à competição, possibilitará o estabelecimento de planos e metas, bem como apresentará maior probabilidade de alcançar seus objetivos. Durante a competição, pode auxiliar na monitoração do estado de humor dos atletas, bem como a periodização e a adequação das estratégias dos treinamentos, com vistas a favorecer um melhor desempenho. E, por fim, após a competição, também poderá ser feita com o propósito de avaliar ganhos e perdas emocionais e cognitivas, por meio da devolutiva (Bartholomeu et al., 2017).
O psicólogo, com base em seu referencial teórico, seleciona métodos próprios de avaliação, considerando as questões particulares da prática esportiva em que o examinando está inserido (Tavares, 2012). Dada essa amplitude, faz-se necessário que o psicólogo do esporte apresente conhecimentos amplos em uma série de áreas, tais como psicopatologia, personalidade, desenvolvimento humano, psicometria, domínio teórico em relação ao contexto esportivo e, em especial, às diversas modalidades (Bartholomeu et al., 2017).
Como resultado, se conduzido de maneira adequada, esse processo possibilita a obtenção de dados para uma compreensão completa e individualizada do atleta, a fim de que tal conhecimento possa ser utilizado na elaboração de intervenções voltadas a ajudar esse atleta ou o time a maximizar sua performance e alcançar o sucesso (Taylor, 2018), considerando o indivíduo como um todo, suas especificidades e necessidades, seu histórico de vida, as particularidades da modalidade praticada e o momento vivenciado (Rabelo et al., 2016). Para isso, recomenda-se que a avaliação psicológica seja realizada tanto em contextos clínicos controlados quanto em contextos esportivos reais (Brown & Fletcher, 2017), de modo que, em conjunto com o conhecimento acerca das particularidades do esporte e suas modalidades, possa orientar ações voltadas à saúde e à melhora da qualidade de vida de seus praticantes. É importante, no entanto, enfatizar que o resultado final deve ser interpretado como um diagnóstico do momento atual, dinâmico e mutável, devendo, por isso, a avaliação ser realizada com certa regularidade, visando a um maior mapeamento periódico do atleta (Bartholomeu et al., 2017).
Mais comumente, o processo de AP envolve análise da equipe esportiva, observação de padrões de conduta dos atletas, entrevistas para refinamento das informações e escolha dos instrumentos mais apropriados para investigar as demandas (Montiel et al., 2016). Contudo, é importante ressaltar que não existe um protocolo que seja adequado a todos os casos. A avaliação deve ser estruturada de acordo com o público investigado, ou seja, os métodos e procedimentos adotados para praticantes de esporte de alto rendimento serão diferentes daqueles utilizados para praticantes de atividades físicas ou de lazer, dados os diferentes objetivos de cada público (Rubio, 2007).
A escolha dos procedimentos deve ser feita considerando-se a clientela a quem se destina, as particularidades da modalidade e os objetivos a serem alcançados, visto que o perfil do atleta pode variar conforme a modalidade praticada e suas particularidades (se há ou não contato físico, se é coletiva ou individual, os tipos de instrumentos utilizados para sua prática (Rubio, 2007). Deve incluir medidas voltadas aos aspectos psicológico, emocional, comportamental e social, com foco no desenvolvimento do bem-estar (Taylor, 2018). Algumas etapas e ferramentas importantes da AP no contexto esportivo são sumarizadas no Quadro 1.2.
Quadro 1.2. Etapas importantes da avaliação psicológica no esporte
Fonte: elaborado pela autora.
A primeira etapa pode envolver, ou não, o uso de instrumentos psicológicos, tais como testes e escalas. Embora a condução de uma avaliação psicológica não dependa da utilização dos testes psicológicos, os estudos realizados por Garcia e Borsa (2016) demonstraram que os psicólogos do esporte da atualidade os consideram importantes e recomendam a inclusão dessa ferramenta no processo de avaliação.
Caso haja a opção pelo emprego desse tipo de ferramenta para coleta de dados, alguns questionamentos devem ser considerados pelo profissional (Taylor, 2018):
1. A medida é válida? Ou seja, o instrumento apresenta estudos científicos que atestam suas evidências de validade e precisão? Esses estudos foram conduzidos na população que está sendo avaliada?
2. O instrumento é apropriado? Nem todo instrumento é apropriado para toda a população, sendo necessário investigar a adequação ao perfil do examinando, considerando idade, gênero, raça, nível educacional, entre outros fatores.
3. O instrumento atende aos objetivos da avaliação? A informação proveniente do teste poderá ajudar o profissional a entender o cliente, tomar decisões e planejar o programa de intervenção?
4. Quão prejudicial pode ser seu uso? A utilização de instrumentos deve considerar o impacto que seu uso pode causar em relação a reações inesperadas ou prejudiciais, como reviver uma lembrança traumática do passado, estimular o desenvolvimento de uma concepção negativa de autoestima ou, ainda, desencadear emoções que podem mostrar-se negativas para o alcance do resultado desejado.
Caso o profissional observe que não há vantagens para utilização de instrumentos estruturados para avaliação (seja por observar que os resultados podem ser usados contra o atleta ou pela exigência de compartilhar com o treinador dados confidenciais, entre outros), é dever do psicólogo lançar mão dessa metodologia e buscar uma estratégia que traga benefícios para o atleta (Anshel & Brinthaupt, 2014). No entanto, quando há percepção de benefícios para uso dos instrumentos, o psicólogo deve optar pelo uso de testes que o ajude a obter informações mais aprofundadas.
É importante que o profissional que está conduzindo a avaliação tenha conhecimentos básicos acerca das características sociodemográficas do atleta ou do grupo, a fim de poder selecionar os testes que são adequados para essa população (Lee & Taylor, 2018). Os autores ainda reforçam a importância de atentar à congruência entre a população com que o instrumento foi validado e a que se está pretendendo avaliar. Muitas vezes, os questionários, apesar de apresentarem evidências de validade, carecem de usabilidade, porque são muito longos ou inadequados para aquele esporte ou atleta específico (Horvath & Rothlin, 2018).
Para além dos testes, considerados métodos quantitativos, outras medidas qualitativas também devem ser incorporadas à avaliação, tais como entrevistas estruturadas, semiestruturadas e clínicas, conversas com os atletas e técnico, uso de questionários, escalas de classificação, lista de verificação, simulações ou jogos comportamentais e observação comportamental (Lee & Taylor, 2018; Quartiroli et al., 2020). Esta última ferramenta mostra-se especialmente importante, haja vista sua flexibilidade e sua adaptabilidade a diferentes contextos e situações (Holder & Winter, 2017).
É importante esclarecer que os diferentes tipos de avaliação podem diferenciar-se em razão da facilidade, do custo para aplicação, da confiabilidade e da validade, e muitas vezes os métodos podem ser empregados combinando informações subjetivas e objetivas (Beckmann & Kellmann, 2003). Por meio da interação entre dados qualitativos e quantitativos, o psicólogo pode compreender melhor o atleta, visto que os dados se complementam e interagem de maneira dinâmica (Rubio, 2007).
Considerações finais
Um dos principais desafios da AP no contexto do esporte consiste na formação do profissional que atuará nessa área, bem como no desenvolvimento de instrumentos específicos e validados para esse contexto e essa população (Campos, Alves, & Nakano, 2016). Tal situação tem atuado de modo a comprometer ou dificultar a AP no esporte (Montiel et al., 2016). Consequentemente, segundo os autores, os profissionais que atuam na psicologia do esporte têm feito uso de instrumentos de outras áreas, como psicologia clínica ou educacional, ou, ainda, testes importados de outros países, sem adaptação a nossa população e nossa cultura, notadamente perante a constatação de que não existe, até o momento, nenhum instrumento específico para o esporte aprovado pelo Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (Satepsi). Essa situação deve ser considerada pelo psicólogo, fazendo-o refletir se os resultados obtidos podem ser generalizados para uma população de atletas, se os resultados de um esporte coletivo podem ser exportados para analisar um esporte individual ou se, ao contrário, seria necessário promover adaptações específicas para cada um deles (Fernández, 2010).
O que se verifica é que a psicologia do esporte não dispõe da mesma variedade de testes desenvolvidos e validados para uso em outras áreas da psicologia, de modo que essa lacuna tem provocado uma avaliação muitas vezes ineficaz e insuficiente ou cujos resultados somente são válidos para uso em grupos restritos ou minoritários (Bartholomeu et al., 2017). Parte dessa situação pode ser compreendida diante da constatação de que diversos instrumentos vêm sendo propostos como resultado de teses e dissertações, apresentando fundamentação teórica, evidências de validade e precisão, mas que não atendem a todas as exigências para a aprovação do CFP, de modo que, consequentemente, sua disponibilização para uso profissional não se torna possível (Pesca et al., 2019).
Outra questão frequente refere-se ao desenvolvimento de um trabalho voltado ao diagnóstico de psicopatologias ou descrição de perfil, e não especificamente ao psicodiagnóstico esportivo (Rubio, 2007), podendo, inclusive, gerar conclusões equivocadas para a população avaliada. Nesse sentido, apesar de a psicologia do esporte ter alcançado importantes avanços nas últimas décadas, alguns desafios a serem superados envolvem o reconhecimento, por parte de atletas, treinadores e comissão técnica, de sua importância, do aumento no número de pesquisas, especialmente aquelas voltadas ao desenvolvimento ou adaptação de instrumentos para o contexto esportivo e a reformulação do processo de formação em psicologia do esporte nos cursos de graduação (Noce, Vieira, & Costa, 2016).
Referências
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