O desenvolvimento emocional de bebês e crianças: uma leitura winnicottiana da metodologia IRDI nas Instituições
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Para isso, foi estudado o desenvolvimento emocional de quatro crianças, a partir dos estágios de dependência, que o autor denominou de amadurecimento pessoal, e da metodologia de estudo, que será baseada no método de observação com crianças, mediado pelo instrumento de Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil (IRDI). Como um dos principais resultados encontrados, vimos que, apesar de falhas no desenvolvimento em decorrência de toda a experiência vivenciada pelo abandono, a relação educadora-criança é de fundamental importância para dar continuidade ao processo de amadurecimento da criança, dentre outros aspectos; os quatro casos apresentados testemunham tal assertiva.
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O desenvolvimento emocional de bebês e crianças - Natália Costa Leitão
À memória de minha avó, que partiu no início
deste percurso. Por todo seu amor e dedicação.
AGRADECIMENTOS
Agradeço principalmente aos meus pais, Gerardo e Eveline, e meu irmão, Leonardo, por me apoiarem incondicionalmente. Às crianças, Liz, Luca e Marina, todo meu carinho e amor.
Aos pacientes e às crianças das instituições, pelos ensinamentos, que me proporcionaram tanto crescimento profissional como pessoal. Às mães, aos pais, familiares e educadores de cada criança.
Aos professores, colegas e amigos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza, pelos ensinamentos, escuta, sugestões e colaboração. Em particular à professora Dra. Maria Celina Peixoto Lima, pela orientação, e às professoras Dra. Luciana Maria Maia Viana e Dra. Karla Patricia Holanda Martins, pelas sugestões e contribuições.
Aos amigos, pelas escutas e torcida durante todo o processo de pesquisa e construção deste livro. Estendo meu agradecimento a todas as crianças, filhos de amigos e primos, com quem pude conviver durante seus primeiros anos de vida.
Mas que fazer para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender uma fagulha de confiança?
Eis que acode meu coração e oferece, como uma flor, a doçura desta lição: dar a meu filho meu amor.
Pois o amor resgata a pobreza, vence o tédio, ilumina o dia e instaura em nossa natureza a imperecível alegria.
(Carlos Drummond de Andrade – Diante de uma criança)
PREFÁCIO
No início de sua II Consideração Extemporânea, o então jovem Nietzsche retoma uma máxima de Goethe que diz: Abomino tudo aquilo que apenas instrui sem também impulsionar ou intensificar a vida
. Talvez para nenhuma outra área do conhecimento científico este preceito seja tão decisivo e urgente quanto para a Psicologia. Afinal, é sobretudo quando lidamos com o sofrimento psíquico dos sujeitos que todo o nosso saber não pode se restringir somente a um conjunto de informações indiferentes, exigindo do pesquisador e microscopista da alma
um envolvimento intelectual e existencial. Quem sabe justamente por isso o mencionado filósofo alemão, com o tom hiperbólico e polêmico que lhe caracteriza, tenha também se autodenominado como o primeiro psicólogo
.
Qualquer um que leia este livro não terá dúvidas de que Natália Costa Leitão se debruça sobre um tema que se enraíza em sua própria experiência profissional e humana. Seja em seu período inicial de formação em Psicologia ou em sua atuação já como psicóloga, ela se encontrou diante dos desafios de lidar com o desenvolvimento infantil nos casos de crianças que foram abandonas por suas mães ou familiares. Tal vivência clínica lhe suscitou a necessidade de pensar o amadurecimento destes indivíduos nos quais há a falta de cuidado e de sustentação psíquica em seus primeiros anos de vida. Isto requer do analista tanto um aprimoramento do olhar para que encontre um aparato psicanalítico pertinente quanto o seu próprio crescimento psicológico.
O presente trabalho, originalmente uma dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza em 2016, registra uma etapa desta busca por um saber que ensine e também impulsione e intensifique a vida. No âmbito teórico, Natália Costa Leitão encontrou nos estudos do pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott um escopo conceitual oportuno para investigar quais seriam as diferenças entre crianças abandonadas e aquelas que cresceram num ambiente familiar. Tal problemática se estabeleceu num recorte específico de pesquisa, no caso, a progressão emocional de crianças privadas e deprivadas da relação mãe-bebê. Neste sentido, os conceitos winnicottianos como os já citados privação
e deprivação
, bem como função materna
, ambiente
, objetos e fenômenos transicionais
, dentre outros, fornecem o suporte metodológico para o exame de quatro crianças que foram encaminhadas para instituições de acolhimento. Tal exame, o qual constitui o aporte experimental deste estudo, permitiu mostrar como a relação educadora-criança adquire um papel central nestes casos para a evolução emocional das crianças.
Há muito já nos desvencilhamos da falsa ideia de que as crianças seriam pequenos adultos
e isso nos levou a tentar entender cientificamente como a existência se dá nesta fase inicial da vida. Ao lidarmos com o sofrimento psíquico na infância e de como podemos desenvolver processos terapêuticos para que os sujeitos se desenvolvam apropriadamente, somos levados a meditar sobre nossas próprias estruturas afetivas, motivações e desejos. Será que, em nossas dificuldades emocionais, por vezes não se oculta também este sentimento de abandono, ainda que mais imaginado do que factual? Será que vê-lo tão diretamente na vivência daqueles jovens sujeitos não nos leva enfim a também nos defrontarmos com o que deles há em nós mesmos? Este itinerário nos faz refletir, como bem destaca Natália Costa Leitão, na noção mesma de abandono e de como esta influencia ou mesmo condiciona a maneira como estruturamos os nossos afetos.
Bruna Bastos Peixe
Diretora e Fisioterapeuta da clínica Espaço Estímulos;
Especialista em Fisioterapia Neonatologia e Pediatria; Especialista em Saúde Pública; Atuou como fisioterapeuta na Casa de Acolhimento Abrigo Tia Júlia.
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 WINNICOTT E O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DO INDIVÍDUO
1.1. ESTABELECIMENTO DA RELAÇÃO BEBÊ-AMBIENTE COM A REALIDADE EXTERNA
1.2. PROCESSO DE MATURAÇÃO A PARTIR DA PRIVAÇÃO E DA DEPRIVAÇÃO
1.3. NOÇÃO DE SAÚDE E OS ESTÁGIOS DE AMADURECIMENTO PESSOAL
CAPÍTULO 2 SOBRE O MÉTODO DE PESQUISA
2.1. INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO
2.2. LEITURA E ANÁLISE DE PRONTUÁRIOS
2.3. MÉTODO DE OBSERVAÇÃO NA PSICANÁLISE COM CRIANÇAS
2.4. O IRDI SOB A PERSPECTIVA DE WINNICOTT
CAPÍTULO 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1. O AMBIENTE INSTITUCIONAL: LARES, CRECHES E ABRIGOS
3.2. O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DAS CRIANÇAS E SEU NOVO AMBIENTE
3.2.1. ANA: UMA MENINA SAPECA
3.2.2. JOÃOZINHO: UM BEBÊ DE OLHAR INTRIGANTE
3.2.3. MARIA: A PREFERIDA DENTRE OS BEBÊS
3.2.4. ANTÔNIO: ONDE ESTÁ REALMENTE A DEFICIÊNCIA?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANEXOS / APÊNDICE
ANEXO 1
ANEXO 2
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Sumário
Bibliografia
INTRODUÇÃO
O interesse por estudar a infância e a relação entre a mãe e a criança surgiu do meu percurso acadêmico e clínico, que se deu principalmente através da psicanálise com crianças. Nesta perspectiva, este trabalho foi traçado a partir de construções e reflexões teórico-clínicas, visto que a psicanálise não separa a teoria da prática. A partir dos estudos realizados por Freud, Winnicott (1961/1999a) vai dizer que a psicanálise é um termo referente a um método (método psicanalítico) e a um corpo teórico que diz respeito ao desenvolvimento emocional do indivíduo humano. É uma ciência aplicada que se baseia em uma ciência
(p. XIII).
O percurso na clínica psicanalítica começou no curso de graduação em Psicologia na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), por meio do estágio supervisionado na clínica-escola desenvolvido no Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI). Este estágio teve duração de 2 anos, nos quais eram desenvolvidos atendimentos individuais de crianças com as mais diversas demandas. Em seis desses 24 meses foram realizados também atendimentos em grupos, nos quais as atividades desenvolvidas consistiam em oferecer um espaço lúdico para as crianças com contação de histórias, proporcionando uma escuta de orientação psicanalítica.
Essa experiência clínica, principalmente em atendimentos individuais, teve sua continuidade, após a formação, como profissional, e mantendo-se atualmente. Durante esse percurso, tive também a experiência, desenvolvida em uma instituição de acolhimento da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), do Governo do Estado do Ceará, que atende crianças de 0 a 7 anos de idade, e que me possibilitou
ter um novo olhar acerca do desenvolvimento emocional do indivíduo e dos sintomas apresentados pelas crianças.
Durante quase cinco anos na instituição, inicialmente como estagiária de psicologia e logo em seguida como psicóloga, atendi as crianças que ali se encontravam junto com os demais profissionais que compõe a equipe técnica, a saber: assistentes sociais, fisioterapeutas, fonoaudiólogas, enfermeiras, entre outros. O atendimento psicológico nesta instituição dava-se através de atendimentos das crianças (individuais e em grupo), dos pais (biológicos), dos familiares e dos pretendentes à adoção; além de observações, intervenções, encaminhamentos, acompanhamentos e elaboração de relatórios; entre outras funções. Nesta experiência pude trabalhar com crianças abandonadas por suas mães nas suas primeiras horas de vida, não tendo com a mãe o contato inicial da relação mãe-bebê; e com crianças que tiveram alguns anos ou períodos de convivência com suas mães e/ou familiares, sendo em seguida retiradas desse ambiente.
O motivo pelo qual essas crianças são encaminhadas para instituições de acolhimento variam e diferenciam-se de acordo com a história individual de cada uma. Mesmo em sua diversidade, podemos pensar em algo que as une, o abandono, seja ele qual for, como, por exemplo, negligencia por parte dos pais e familiares. Podemos dizer que o abandono implica em uma falta de cuidado e sustentação psíquica, ou seja,