A Outra Máquina
By Márcio Moreira, Anna Martino and Débora Santos
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About this ebook
A esposa do Cientista o deixou, mas ele não sabe bem como sofrer (e olha que ele sabe muita coisa). Então, ele decide construir uma Máquina do Tempo para resolver a questão, pois não é Ele que cura todas as dores?
No entanto, o Tempo não pretende facilitar a situação, e faz o Cientista seguir numa jornada de descobertas, do início dos dias ao fim do mundo. E nessa viagem, o cientista experimenta a mecânica dos desacontecimentos, a arqueologia dos desejos e a mágica do Magnífico Bizu, tudo para responder a maior questão de todas: como desatar o nó de seu destino com a linha da vida de sua amada.
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Book preview
A Outra Máquina - Márcio Moreira
A OUTRA MÁQUINA
Márcio Moreira
1ª EDIÇÃO
2022
Logo da editora Dame BlancheCopyright © 2022, Dame Blanche, Márcio Moreira
EDIÇÃO
Anna Martino
CAPA
Débora Santos
REVISÃO E PREPARAÇÃO
Sol Coelho
PRODUÇÃO DO E-BOOK
André Caniato
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Moreira, Márcio
A outra máquina [livro eletrônico] / Márcio Moreira ; ilustração Débora Santos. -- 1. ed. -- São Paulo : Editora Dame Blanche, 2022.
ePub
ISBN 978-65-87759-16-6
1. Ficção de fantasia I. Santos, Débora. II. Título.
CDD-B869.93
22-110243
Índices para catálogo sistemático:
1. Ficção de fantasia : Literatura brasileira B869.93
Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129
Todos os direitos reservados
Para Adriana Falcão com carinho e H. G. Wells com ressalvas
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Agradecimentos
Sobre Márcio Moreira
1.
O Cientista não percebeu de imediato quando sua esposa foi embora. Naquele dia, pendurou o jaleco no armário do laboratório e foi para casa, com a cabeça rodeada de equações de segundo e terceiro graus. Comeu o jantar do forno, como de costume, tomou banho, feito todo dia, e se deitou para dormir, desejando boa noite para ninguém. Só na manhã seguinte, mal o sol raiava, compreendeu que ela se fora.
Sem abrir os olhos, sentiu o frio do outro lado da cama, a ausência dos cabelos entrando em seu nariz. Adicionou os fatores numa conta simples, então esticou o braço para verificar seus cálculos. Em teoria, ela não dormira em casa. O guarda-roupas vazio, a garrafa de café vazia e um vazio algo imensurável que tomava a casa inteira. O elemento esposa estava ausente no conjunto casal.
Sem saber o que acontecia, foi para o laboratório como se nada houvesse acontecido. Devia ser uma anomalia isolada, decerto ela estaria de volta no fim do dia. Era improvável que Carolina fosse embora assim, sem um bilhetinho na geladeira que fosse. Logo ela, tão razoável. Ainda assim, naquela tarde, ele perdeu o passo e várias casas decimais.
Quando não encontrou a mulher em casa no fim do dia, identificou um padrão. Mesmo com uma amostragem tão pequena, havia pouco espaço para conjecturas: de Carolina, só restava ausência. O Cientista sentiu, então, a dor mais doída de toda sua vida. Tentou se desesperar, mas não sabia como; era um homem equilibrado, e como havia de sofrer equilibradamente? Ao invés disso, registrou uma série de fenômenos fisiológicos incomuns: seu coração batia como se quisesse derrubar a porta, o ar fugiu não sei para onde e o chão, de repente, era composto tão somente por paredes.
Tomou um remédio para pressão, só para garantir.
Tentou ligar para a esposa, que não atendia, depois para a mãe de sua esposa, que disse que ela não queria atender e depois para sua própria mãe, que não disse nada por um longo tempo.
— Mãe? A senhora ainda está aí?
— Meu filho — ela respondeu finalmente —, o casamento é como uma dança, veja bem.
— Mainha, a situação já está bem ruim sem nenhuma metáfora…
— Presta atenção, menino. São duas pessoas em parceria, bailando vida afora. Ele tem ritmo, tem confiança, um jeito de conduzir e de se entregar.
— Mas é difícil dançar sozinho — ele replicou. Junto também, completou em sua cabeça. O Cientista pisava muito nos pés de Carolina.
— É, meu filho, mas todo baile segue um pé depois do outro.
— Mas, mãe…
— Escute a música, Crisântemo — o nome do Cientista era Crisântemo — Dê espaço pra Carolina, sua esposa precisa de tempo.
Espaço. Tempo. O Cientista entendia os conceitos, as implicações físicas, mas custava compreender que tudo o que podia fazer era justamente nada. Seu trabalho era criar soluções, testar os limites do possível. Será que não poderia conversar com Carolina, inquirir suas motivações, tabular suas tristezas, cruzar os dados em busca do que havia se perdido? E ele? Era apenas um observador neutro? Não era ele também um ator participante do casamento?
Ele, o Cientista que se dedicava a responder às maiores questões do universo: o motivo das quinas, a linguagem das nuvens, a árvore genealógica dos números primos, ele, Crisântemo, que só pensava em por quês e entretantos, ele, logo ele, não conseguia dar razão à maior questão de todas: por que, Carolina?
Sem respostas, quatro dias ficou entregue à inércia, meditabundo na escuridão do laboratório. Aconteceu alguma coisa, Doutor?, perguntavam seus assistentes. Bobagem, ele respondia, apenas um problema de mecânica quântica que o preocupava. Mentia, mas não completamente. Carolina era uma partícula incerta, ocupando todos os espaços de sua mente ao mesmo tempo.
Sua dor só arrumou outra ocupação que não doer no fim do quinto dia, quando resolveu iniciar um novo experimento. Havia