Introspecção
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Introspecção - Anderson Sathler Vieira
Introdução
Os mecanismos cerebrais que regulam as emoções e o comportamento foram moldados pela seleção natural com o objetivo de otimizar a adaptação, e concordamos que os transtornos mentais supõem uma ruptura que afeta essa adaptação. Essa perspectiva, chamada evolucionista, tenta explicar a vulnerabilidade humana aos transtornos mentais e comportamentais.
O final dos anos 80 marca o início do que veio a ser chamado de psicologia evolutiva, onde a psicologia evolutiva passa a integrar a psicologia que integra o conhecimento da biologia evolutiva, assumindo que a compreensão do processo que levou à formação da mente nos permitirá compreender seus mecanismos.
Os princípios da psicologia evolutiva tentam estabelecer as ameaças que existiam em ambientes pré-históricos, os mecanismos que foram criados para o gerenciamento dessas ameaças e a maneira como esses mecanismos continuam a funcionar hoje. Essa abordagem, portanto, parte de três premissas fundamentais: 1, há comportamento humano universal além das diferenças culturais. 2, o funcionamento cerebral que define nossa natureza desenvolvido, como em outras espécies, por seleção natural.
E 3, os fatores ambientais que projetaram nosso cérebro ocorreram no Pleistoceno e não nas assembleias e conjuntos das circunstâncias atuais.
Parece que nosso cérebro não mudou nos últimos 50.000 anos, então permanece o mesmo de nossos ancestrais. Portanto, ocorre o que tem sido chamado de atraso do genoma ou atraso do genoma. A carga genética que condiciona nossos instintos e nossos comportamentos, que nos dá um design emocional para sobreviver, apareceu adaptada aos ambientes ancestrais e não à nossa situação atual.
Cérebros velhos para novos mundos, nossos medos não foram projetados para temer aviões, elevadores ou supermercados, nosso medo foi projetado para fugir das feras que ameaçavam nossa sobrevivência. Aqui, devemos considerar que o aumento dos transtornos mentais pode ser consequência da má adaptação dos mecanismos destinados à sobrevivência.
De fato, vivemos atualmente em ambientes muito protegidos, embora nos preocupemos tanto com a segurança social, e é possível que mecanismos que foram desenhados pela seleção natural para garantir nossa sobrevivência sejam mal-adaptativos produzindo transtornos mentais.
As emoções devem ser entendidas como sinais internos que direcionam nossa sobrevivência, de ação rápida e adaptativa, que busca conectar nossa natureza biológica com o mundo externo em que está imersa. As emoções respondem rapidamente a situações que ameaçam nossa integridade: o medo nos alerta para o perigo, o desgosto nos afasta do mau e a tristeza nos diz que perdemos um determinado status social.
As emoções influenciam a motivação, a aprendizagem, a tomada de decisões, pensamentos, comportamento e adaptação. Por outro lado, a função adaptativa das emoções é melhor compreendida quando observamos as diferenças entre emoções negativas, tendo em conta que positivo e negativo adquire aqui uma metodologia ou um modo de pensamento filosófico que retoma a importância dos fenômenos, os quais devem ser estudados em si mesmos.
Essa distinção é consistente com a origem das emoções entendidas como estados fisiológicos que foram moldados para nos ensinar quais situações são vantajosas e quais envolvem perdas e podem oferecer uma explicação sob a perspectiva evolutiva dos efeitos do uso de drogas nas emoções positivas e negativas.
Na perspectiva da psicologia clássica, o abuso de substâncias é explicado como um aspecto da tendência do ser humano de repetir comportamentos que produzem prazer e evitar aqueles que nos fazem sentir mal. Esta explicação é válida, mas incompleta. As drogas de abuso atuam em áreas muito antigas do cérebro associadas a emoções positivas.
Assim, as diferentes drogas ativam um sistema cerebral chamado sistema dopaminérgico mesolímbico e os receptores opioides associados em cérebros de mamíferos, um sistema de recompensa neural e um substrato que regula a motivação.
As drogas criam um sinal no cérebro que indica falsamente a chegada de um benefício adaptativo. Esse sinal cerebral causa, por sua vez, um aumento na frequência de consumo deslocando comportamentos adaptativos. De fato, outros comportamentos do homem moderno têm efeitos semelhantes no cérebro, por exemplo, videogames e internet.
O cérebro humano demonstra continuamente sua vulnerabilidade a recompensas que afetam a adaptação, porque nossos cérebros não são projetados para lidar efetivamente com o acesso a drogas, videogames ou internet. O desacordo entre nossos cérebros arcaicos e nossos ambientes modernos pode ser a maior causa dos problemas de saúde mental que vemos hoje.
Essa perspectiva levanta muitas áreas de melancolia no que diz respeito à explicação de comportamentos aditivos. Por exemplo, como o vício se desenvolve, como o prazer induzido pela substância diminui ou mesmo como o desejo aumenta apesar do acúmulo de consequências desadaptativas.
Uma explicação plausível para esses efeitos seria encontrada na separação no cérebro dos mamíferos de dois sistemas diferenciados: um sistema de prazer e outro de desejo. O sistema de prazer seria ativado ao receber uma recompensa enquanto o sistema de desejo antecipa a recompensa e inicia comportamentos para alcançá-la.
Quando ambos os sistemas são expostos ao uso de drogas, o sistema do desejo motiva uma busca persistente por uma substância que não produz prazer a longo prazo. Este é o grande paradoxo do vício. Os organismos podem tender a procurar drogas viciantes mesmo que não proporcionem prazer e defendem a existência de um sistema neuronal separado que intervém no desejo por drogas.
Embora esse sistema neuronal normalmente funcione em conexão com os sistemas neuronais que intervêm no prazer, no viciado esse vínculo normal seria rompido entre esses sistemas, mostrando níveis patológicos de desejo dissociados do prazer.
De alguma forma, todos nós provamos um pouco dessa dissociação quando estamos com fome e observamos um bolo atrás de uma vitrine, vendo-o, se não temos dinheiro para comprá-lo, nos é produzido um desejo persistente, mesmo que que não sintamos prazer em saber que não podemos adquiri-lo.
Um organismo como o nosso, com um sistema de recompensas ultrapassado e quimicamente mediado, em uma sociedade como a nossa, é especialmente suscetível ao vício. Esse desenho especial de recompensa dos mamíferos amplia os riscos da não autoadministração de substâncias, o que explicaria os comportamentos que um viciado chega para conseguir a substância.
Nesse sentido, talvez, pudéssemos afirmar que o vício é um dos preços pagos pela espécie humana por viver protegida e ao mesmo tempo superexposta a elementos que proporcionam prazer cerebral imediato, mas que não se relacionam com nenhum aspecto de melhor adaptação ao nosso meio Ambiente.
Essa perspectiva evolutiva também tem suas implicações quando nos referimos a drogas cuja finalidade é reduzir a ansiedade, melhorar o humor e bloquear outras emoções.
A psiquiatria biológica negativa possui atualmente um grande arsenal psicofarmacológico cuja finalidade é controlar as emoções negativas, assim como outras disciplinas, possuem medicamentos para controlar eficazmente a tosse, febre, diarreia ou vômito. Assim, encontramos muitas investigações que tentam explicar as causas de um transtorno mental sem antes entender o funcionamento normal do cérebro.
Tomemos, por exemplo, os transtornos de ansiedade: os manuais de diagnósticos podem dividir os transtornos de ansiedade em vários tipos e subtipos, e as pesquisas tratam cada um desses subtipos separadamente buscando aspectos epidemiológicos, genéticos, neurobiológicos e de tratamento eficaz. Mas a pergunta chave é: a ansiedade é uma desordem ou uma defesa do organismo?
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