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A escola remota: Presente e futuro da educação
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A escola remota: Presente e futuro da educação

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About this ebook

"Na sociedade contemporânea, mesmo antes da pandemia, a presença marcante da tecnologia no cotidiano já exigia transformações tanto no campo social e cultural quanto no educacional. De repente, o mundo mudou. A pandemia, de certa forma, acelerou o processo de comunicação em todos os níveis: da educação infantil ao ensino superior; da educação formal à não-formal. Ferramentas digitais se tornaram visíveis, com a intenção de facilitar e mediar tanto o campo da comunicação quanto o processo de ensino-aprendizagem. Hoje, um professor que não tenha habilidades com computadores, videochamadas, softwares e aplicativos educacionais, terá muitas dificuldades em exercer a sua profissão. Mesmo os professores menos adeptos às novas tecnologias tiveram que se render. Não houve a possibilidade de escolha. A pandemia nos impôs mudanças muito significativas e difíceis. Em meio a tantas turbulências, o início da pandemia foi invadido por muitos debates, dentre eles o seguinte: 'que tipo de educação seria possível diante da emergência de saúde pública global?' Para acalmar ânimos, foi preciso e importante, então, apresentar e conceituar uma expressão específica para o momento que vivemos: Educação Remota Emergencial. A partir dele, destacam-se dois termos: remoto e emergencial. Remoto está vinculado a um distanciamento no espaço, mas não necessariamente no tempo. Emergencial se vincula ao momento crítico, perigoso e de crise que a emergência sanitária impôs. Na ausência de uma antecipação do problema e sem um prévio preparo, foi necessário sair do espaço escolar para adentrar as residências durante um longo período, iniciado no longínquo março de 2020. Além da mudança do espaço caseiro, foi necessário transformar um currículo que não tinha sido preparado para um trabalho remoto."
LanguagePortuguês
Release dateJul 6, 2022
ISBN9786588547250
A escola remota: Presente e futuro da educação

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    Book preview

    A escola remota - Simão Pedro P. Marinho

    capa-escola-remota-ebook

    A Escola remota:

    presente e futuro da educação

    SIMÃO PEDRO P. MARINHO

    CARLOS ROBERTO JAMIL CURY

    VÂNIA DE FÁTIMA NORONHA ALVES

    (ORGANIZADORES)

    Logotipo Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

    Belo Horizonte

    2021

    PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

    Grão-chanceler

    Dom Walmor Oliveira de Azevedo

    Reitor

    Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães

    Pró-reitor de Pesquisa e de Pós-graduação

    Sérgio de Morais Hanriot

    EDITORA PUC Minas

    Direção e Coordenação Editorial

    Mariana Teixeira de Carvalho Moura

    Revisão

    Thúllio Salgado

    Diagramação digital

    Luiza Seidel

    Conselho Editorial

    Conrado Moreira Mendes | Édil Carvalho Guedes Filho | Eliane Scheid Gazire| Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barros | Flávio de Jesus Resende | Jean Richard Lopes | Javier Alberto Vadell | Leonardo César Souza Ramos | Lucas de Alvarenga Gontijo | Luciana Lemos de Azevedo | Márcia Stengel | Meire Chucre Tannure Martins | Pedro Paiva Brito | Sérgio de Morais Hanriot

    Linha Editorial

    Educação & Pesquisa

    Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC Minas

    Colegiado 2020-2023

    Carlos Roberto Jamil Cury | Simão Pedro Pinto Marinho (Coordenador) | Vânia de Fátima Noronha Alves

    DISTRIBUIÇÃO DA OBRA

    Sob licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações-SemDerivados

    Capa

    Bárbarah Carolina Soares da Silva Costa Gomes

    Diagramação

    Madalena Araújo

    Projeto editorial

    Simão Pedro P. Marinho

    FICHA CATALOGRÁFICA

    Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

    E74 A escola remota [recurso eletrônico]: presente e futuro da educação / organizadores: Simão Pedro P. Marinho, Carlos Roberto Jamil Cury, Vânia De Fátima Noronha Alves. Belo Horizonte : Editora PUC Minas, 2021.

    E-book (282 p.)

    ISBN 978-65-88547-25-0

    1. Educação - Estudo e ensino. 2. Educação - Métodos de ensino. 3. COVID-19. 4. Pandemia. 5. Ensino auxiliado por computador. 6. Tecnologia digital. 7. Metodologias Ativas. 8. Aprendizagem. I. Marinho, Simão Pedro P. II. Cury, Carlos Roberto Jamil. III. Alves, Vânia De Fátima Noronha. IV. Título.

    CDU: 371.3

    Ficha catalográfica elaborada por Fabiana Marques de Souza e Silva - CRB 6/2086

    SUMÁRIO

    DE REPENTE, O MUNDO MUDOU: o que docentes nos disseram sobre o ensino de Física ante a pandemia de Covid-19

    Adriana Gomes Dickman

    Arnaldo Moura Vaz

    Cristina Leite

    Eugenio Maria de França Ramos

    NOTAS SOBRE A EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA: a aula remota e o devir da cidadania

    Amauri Carlos Ferreira

    Luzia Maria de Jesus Werneck

    Soraia Aparecida Belton Ferreira

    A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA PANDEMIA E PÓS-PANDEMIA: uma reflexão

    Carlos Roberto Jamil Cury

    EDUCAÇÃO E SAÚDE EM TEMPOS DE PANDEMIA

    Maria Auxiliadora Monteiro de Oliveira

    Jussara Bueno De Queiroz Paschoalino

    Amauri Carlos Ferreira

    EDUCAÇÃO BÁSICA E O ENSINO DE MATEMÁTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19: percepções das realidades brasileiras

    Elenice de Souza Lodron Zuin

    RECURSOS E ESTRATÉGIAS PARA O ENSINO DO CONCEITO DE ÁREAS DE FIGURAS PLANAS

    Tatiane Pertence da Silva Mota

    Eliane Scheid Gazire

    O SABER E O ENSINO REMOTO: O que está em tela?

    Carla de Abreu Machado Derzi

    Cristina Moreira Marcos

    Ilka Franco Ferrari

    A PRÁTICA EDUCATIVA DE PROFESSORES NO ENSINO MÉDIO REMOTO NA PERSPECTIVA DO TPACK

    João Bosco Laudares

    Saulo Furletti

    Sandra Andrade de Castro

    Tamara Souza Silva

    O MAREMOTO CHAMADO ENSINO REMOTO: lutas e resistências nas reconfigurações do trabalho docente no pós-pandemia

    Cleidiane Lemes de Oliveira

    José Heleno Ferreira

    Lorene dos Santos

    Vânia Noronha

    A PANDEMIA DE 2020 EM UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DE MINAS GERAIS

    Lucas Reis Ávila

    Magali dos Reis

    RESSIGNIFICANDO A PRESENCIALIDADE NO ENSINO DE GRADUAÇÃO: impactos, a partir da pandemia da COVID-19

    Maria Inês Martins

    Marcos André Silveira Kutova

    PANDEMIA, PEDAGOGIA, E TECNOLOGIA: o ontem, o agora e o depois

    Simão Pedro P. Marinho

    Alessandra Machado Simões Marinho

    Bárbarah Carolina Soares da Silva Costa Gomes

    PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE APOIO À INCLUSÃO NA PANDEMIA DE COVID-19: desafios da experiência remota na ótica de uma professora brasileira e de uma professora portuguesa

    Stela Marques

    Márcia Cristina Leandro

    Maria João Faustino

    DIREITO À EDUCAÇÃO E DIREITOS DE APRENDIZAGENS NO CONTEXTO DA PANDEMIA: AFINIDADES ELETIVAS

    Márden de Pádua Ribeiro

    Teodoro Adriano Costa Zanardi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Decisão por atividades remotas

    Figura 2: Porcentagem de alunos que alcançam os níveis adequados de aprendizagem em Matemática e Língua Portuguesa, de acordo com resultados do SAEB - 2019

    Figura 3: Recursos digitais

    Figura 4: Kahoot

    Figura 5: Hypatiamat

    Figura 6: Outros Recursos Digitais

    Figura 7: Proposta de formação para professores

    Figura 8: Representação dos conhecimentos na estrutura TPACK

    Figura 9: Esquema das partes do questionário de autoavaliação

    Figura 10: Modelo dos Quadrantes Híbridos

    Figura 11: Modalidades de disciplinas de Graduação (pré-pandemia)

    Figura 12: Modalidades de disciplinas na Graduação (pós-pandemia)

    LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1: Indicadores relativos às tecnologias digitais (percentual docentes)

    Gráfico 2: Indicadores de avaliação e adaptação do ensino

    Gráfico 3: Principais mudanças em regime remoto (Freq. respostas)

    Gráfico 4: Capacidade de crítica e adaptação das tecnologias digitais

    (Docentes %)

    Gráfico 5: Capacidade e/ou condição de realização -

    Tópicos 1, 2 e 3 (Docentes %)

    Gráfico 6: Novas práticas identificadas no regime remoto (Freq. respostas)

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Reação do Professor em Relação ao Ensino Remoto

    Quadro 2: Com Quem o Professor Conversa Sobre os Desafios da Atividade Remota?

    Quadro 3: Consolidado de Dados da Pesquisa: Tempo de Magistério, Idade e Gênero

    Quadro 4: Construção das afinidades eletivas

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    DE REPENTE, O MUNDO MUDOU: o que docentes nos disseram sobre o ensino de Física ante a pandemia de Covid-19

    Adriana Gomes Dickman

    Arnaldo Moura Vaz

    Cristina Leite

    Eugenio Maria de França Ramos[1]

    Na sociedade contemporânea, mesmo antes da pandemia, a presença marcante da tecnologia no cotidiano já exigia transformações tanto no campo social e cultural quanto no educacional.

    De repente, o mundo mudou. A pandemia, de certa forma, acelerou o processo de comunicação em todos os níveis: da educação infantil ao ensino superior; da educação formal à não-formal. Até mesmo reuniões de família e comemorações festivas tiveram que se adaptar às formas remotas de interagir.

    Ferramentas digitais se tornaram visíveis, com a intenção de facilitar e mediar tanto o campo da comunicação quanto o processo de ensino-aprendizagem. Hoje, um professor que não tenha habilidades com computadores, videochamadas, softwares e aplicativos educacionais, terá muitas dificuldades em exercer a sua profissão. Mesmo os professores menos adeptos às novas tecnologias tiveram que se render. Não houve a possibilidade de escolha. A pandemia nos impôs mudanças muito significativas e difíceis.

    Em meio a tantas turbulências, o início da pandemia foi invadido por muitos debates, dentre eles o seguinte: que tipo de educação seria possível diante da emergência de saúde pública global?.

    Para acalmar ânimos, foi preciso e importante, então, apresentar e conceituar uma expressão específica para o momento que vivemos: Educação Remota Emergencial. A partir dele, destacam-se dois termos: remoto e emergencial. Remoto está vinculado a um distanciamento no espaço, mas não necessariamente no tempo. Emergencial se vincula ao momento crítico, perigoso e de crise que a emergência sanitária impôs. Na ausência de uma antecipação do problema e sem um prévio preparo, foi necessário sair do espaço escolar para adentrar as residências durante um longo período, iniciado no longínquo março de 2020. Além da mudança do espaço caseiro, foi necessário transformar um currículo que não tinha sido preparado para um trabalho remoto (SOUZA et al, 2020).

    Educação Remota Emergencial versus Educação a Distância

    Educação a distância (EaD) é um termo conhecido pelos atores educacionais, cujas propostas e públicos aumentaram com o barateamento do acesso a novas tecnologias da informação e comunicação, em especial, aquelas baseadas na internet. Essa modalidade possui uma estrutura pedagógica e arquitetura educacional própria, que já utilizou correio escrito, rádio e televisão. Hoje, está vinculada ao desenvolvimento de propostas de cursos baseadas em plataformas educacionais, nas quais as tecnologias da comunicação e informação são essenciais, mas em essência com atividades em tempos e espaços diversos. É um modelo desenhado para um público mais disciplinado e com mais autonomia de aprendizagem. A flexibilidade em termos de tempo e espaço para a realização das atividades educacionais é seu atrativo, característica procurada pelos que se aventuram pela EaD. Em geral, nesse modelo, há uma escolha intencional, que demanda preparo antecipado e materiais previamente construídos e especialmente desenvolvidos para o curso e seu público. A construção desses cursos requer uma série de habilidades do professor que, geralmente, se prepara e, por isso, se torna um especialista em EaD. Importante detalhe: há um tempo longo para essa preparação.

    Na pandemia de Covid-19, não dá para dizer que as vivências educacionais sejam as mesmas da EaD. Por isso, utilizamos uma outra nomenclatura: Ensino Remoto Emergencial. Tratou-se da transposição emergencial do ensino presencial para os meios digitais. A presença física foi substituída por uma presença digital. As aulas, similares ao modelo presencial, tenderam a ser síncronas, muitas delas expositivas, sem as tarefas e as metas típicas da EaD. Aparecem, ainda, a proposição de atividades periódicas e regulares (semanais, em geral) em plataformas educacionais escolhidas pela escola e universidade, ou ainda disponíveis em diversos aplicativos. E, para quem se arriscasse, até mesmo com as redes sociais. Enfim, valia tudo para manter as atividades educacionais. Até deixar de lado os preconceitos e o despreparo com uso da tecnologia na Educação!

    Diante da emergência de saúde global, com grande número de mortes, sequelas da doença, aumento do desemprego, da depressão e mesmo da fome, é preciso ressaltar um outro aspecto: o grande impacto na saúde física e mental de todos em meio a essa conjuntura (ORNELL et al, 2020). Foi preciso se reinventar em condições pouco propícias.

    Contudo, a grande maioria dos professores (83,4%) se sente nada ou pouco preparados para ensinar de forma remota, como mostra um estudo do Instituto Península (2020).

    Crianças, jovens e adultos, estudantes e professores, impedidos de frequentar escolas e universidades, em função de restrições impostas pela Covid-19, com ou sem autonomia, preparados ou não, na tentativa de diminuir as perdas educacionais, tiveram que aprender a utilizar diferentes tecnologias e a se adaptarem a esse novo jeito de interagir e aprender (BRASIL, 2020).

    As experiências educacionais da pandemia são bastante diversas, uma vez que as diferentes realidades impuseram suas possibilidades e limitações. Dentre as limitações, destacam-se a ausência de internet e/ou de equipamento adequado, que foram um grande divisor de qualidade nesse processo, expondo um fosso entre os incluídos digitalmente e os não-incluídos. Além disso, espaços físicos apropriados e silenciosos propícios para a aprendizagem também têm sido um grande desafio para muitas famílias (de estudantes e de professores).

    Em meio a tantas aprendizagens, professores de todas as áreas e em todas as regiões do planeta tiveram que ressignificar seu trabalho docente, se reinventar e superar (ou não) diversas dificuldades para sua profissão. Assim,

    mais do que nunca, é necessário um olhar atento ao professor, peça fundamental no processo de aprendizagem. A mudança do ensino presencial para o remoto tem exigido adaptação diária dos docentes aos desafios da modalidade. (NOVA ESCOLA, 2020, p.6).

    Nesse contexto, nosso estudo foca-se na análise da reação de professores, participantes da Sociedade Brasileira de Física, nos primeiros momentos da pandemia, em meados de 2020, naquele instante de incertezas, em que não se sabia exatamente de possibilidades como a da vacinação e parecia que nada funcionaria mais sem o isolamento social.

    O caminho percorrido

    Naquele momento, como membros eleitos da Comissão de Área de Pesquisa em Ensino de Física (Capef) da Sociedade Brasileira de Física (SBF) procuramos nos comunicar com os associados, realizando um estudo exploratório, com o objetivo de caracterizar e registrar o impacto inicial da pandemia na atuação de professores de Física da educação básica e superior. Mais do que um estudo, tratava-se de oferecer uma oportunidade para troca de experiências.

    Foram elaboradas consultas na forma de duas enquetes, disponibilizadas para os sócios da SBF, no período de 28 de maio a 10 de junho de 2020, inicialmente distribuídas a cerca de 1.400 pessoas constantes em nosso cadastro de associados. A primeira foi Ensino de Física no Brasil da Covid-19, com o objetivo de entender a situação de ensino dos professores de Física. A segunda foi Professores e Professoras de Física no Brasil da Covid-19 para identificar o perfil desses profissionais. Os sócios foram notificados pelo correio eletrônico institucional da SBF, em que os convidávamos a responder os questionários elaborados com o aplicativo GoogleForm.

    Sobre as perguntas

    As respostas às duas enquetes foram surpreendentes para o período, demonstrando atenção e interesse em partilhar opiniões, práticas educacionais e angústias.

    A primeira enquete foi dividida em cinco seções:

    a primeira seção Situação consistiu em uma única pergunta respondida por todos os participantes, com objetivo identificar professores que mantiveram contato com seus estudantes, formal ou informalmente, após o afastamento social imposto pelas restrições sanitárias do combate àpandemia.

    As seções seguintes foram respondidas somente por professores que continuaram a lecionar no regime remoto:

    a segunda seção Sua Avaliação teve como objetivo identificar a percepção do professor referente à relação dos seus estudantes com o ensino; seu papel no processo de ensino e aprendizagem; sua avaliação sobre a oferta de atividadesremotas;

    a terceira seção, Sobre a Decisão, permitia ao professor fazer uma avaliação sobre as condições relativas à oferta de aulas remotas: se a tomada de decisão envolveu a opinião dos professores, se foi obrigatória; quais aspectos foram levados em consideração para a oferta destas atividades, se professores e estudantes teriam acesso à internet, tarefas domésticas sob sua responsabilidade, familiaridade com ferramentas tecnológicas e disposição para participar de aulasremotas;

    a quarta seção, Sobre Você, explorava as percepções dos professores ao ensinar durante a pandemia, se a pandemia afetou seus rendimentos e se eles se sentiam confortáveis ao trabalhar com ferramentastecnológicas;

    a quinta seção, Sobre agora, outras questões exploravam a reação dos professores frente ao desafio de ensinar na pandemia, se dividem este sentimento com alguém e como avaliam o seu trabalho nessa situaçãoexcepcional.

    A intenção dessa enquete era também proporcionar um canal de diálogo com os professores sócios da SBF. Dessa forma, o último bloco de questões concentrou-se em abrir um espaço para sugestões, críticas ou depoimentos que não serão tratados neste trabalho.

    Perfil dos participantes

    Dos sócios da SBF que indicam fazer pesquisa em ensino de Física, 244 pessoas responderam as enquetes. A amostra apresenta as seguintes características:

    é composta por 73,1% de pessoas do sexo masculino e 25,2% do sexo feminino, uma pequena fração preferiu não responder àquestão;

    a maioria dos respondentes concentra-se entre 30 e 59 anos, representando 84,7% da população pesquisada, 12,1% com 60 anos ou mais e 3,2% na faixa dos 20anos;

    em relação às regiões do Brasil, aproximadamente metade dos respondentes são da região Sudeste (48,9%), seguidos por Nordeste (24,4%), Sul (14,0%), Norte (6,3%) e Centro-Oeste (5,4%); 0,9% encontravam-se no exterior no momento dapesquisa.

    Tais indicações sugerem que a amostra não compunha estratificação ideal para representações estatísticas. Entretanto, para os propósitos de nosso estudo, permitiu vislumbrar facetas, compondo uma abordagem qualitativa e exploratória. Importante mencionar que os propósitos iam além de realizar uma pesquisa amostral. Havia também o interesse de estabelecer uma comunicação qualificada em um momento extremo de isolamento e, com isso, identificar possibilidades e limitações.

    Dos respondentes, 48,0% declararam não estar lecionando, 48,0% declararam estar lecionando em regime remoto e 4,0% preferiram não responder à pergunta.

    Dentre aqueles que declararam não estar lecionando, 23,9% indicaram que perderam o contato com seus estudantes completamente; 20,5% perderam o contato com suas turmas, mas haviam sido procurados por estudantes; a maioria, 55,6%, afirmou que não perdeu o contato, pois mantinham contato individual com alguns estudantes por redes sociais, por exemplo.

    Os dez professores que optaram por não responder à questão justificaram a posição por não estarem lecionando no momento por motivos diversos. Três eram aposentados, quatro ainda não lecionavam, dois foram demitidos e um estava afastado para realizar o doutoramento.

    Neste trabalho, concentramos a análise nas respostas dos participantes que declararam estar lecionando em regime remoto, ou seja, 48,0% dos 244.

    A maioria (58,1%) afirmou que seus estudantes querem aprender e o professor tem um papel importante nesse processo. Em menor proporção, 16,2% dos professores em aula indicaram que poucos estudantes se empenham, pois não se sentem capazes de aprender. As outras opções querem aprender, mas o ensino parece não fazer diferença e alguns querem aprender, mas duvidam que eu garanta o aprendizado foram selecionadas por 3,4% e 4,3%, respectivamente, da amostra. Apenas 17,1% ofereceram outras respostas à questão e uma pessoa não respondeu (0,9%).

    Uma análise das outras respostas permite perceber com mais detalhes as razões que os professores atribuem à vontade de aprender ou não dos estudantes. Assim, quatro professores responderam que a maioria de seus estudantes quer aprender, que o consideram importante no processo, mas não têm tido acesso às aulas remotas. Sete professores afirmaram que poucos estudantes querem aprender, indicando motivos como desmotivação, desinteresse, desânimo, falta de ambiente propício para estudar em casa.

    Outros professores indicam fatores que dificultam responder a essa pergunta, como a ausência de condições emocionais, condições financeiras para assistir aulas online, postura institucional para incentivar atividades remotas. Outras respostas refletem as percepções dos professores relatando que os estudantes participam da aula para fugir do tédio, muitos copiam da internet, que o ensino remoto funciona bem para os estudantes de segundo e terceiro ano do Ensino Médio, mas não para os do primeiro ano. Por fim, um professor, com 13 anos de experiência em ensino presencial e EAD, escreveu um texto explicando o posicionamento sobre a situação. Na opinião dele, estudantes e professores estão sob a influência constante de dor, medos, o que afeta a condução de atividades escolares formais nesse período. Esse professor sugere a implementação de atividades virtuais que incentivem a união e socialização, ao invés de atividades individualistas que privilegiam o isolamento e a concentração.

    Em relação ao papel no processo de ensino-aprendizagem, a maioria dos professores considera-se como facilitadores ou catalisadores (59,0%) ou variáveis importantes (27,4%) do processo. Esse cenário está em acordo com questão anterior em que a maioria apontou que o professor tem um papel importante nesse processo. Uma parcela menor dos respondentes indicou o papel como aquele que evita dispersão, marca o ritmo, mas não garante o aprendizado (6,8%) ou como uma peça tradicional que perdeu a função, exceto manter um ritual (3,4%). Ainda tivemos outras respostas, correspondendo a 3,4% da amostra, indicando posturas diferentes desses professores em relação ao processo de ensino-aprendizagem, se colocando como problematizador, mediador ou orientador, pensando na autonomia do estudante. Um professor indicou que tenta se colocar como um facilitador do processo, mas aponta que os estudantes carregam uma herança mais tradicional do espaço escolar e, assim, o colocam como uma variável importante do processo.

    Sobre a oferta de atividades remotas durante o afastamento social, aproximadamente 90,0% dos professores indicaram estar de acordo com a decisão. Entretanto, 62,4% deles julgam que a operacionalização não tem sido feita de uma maneira adequada. Apenas 9,4% discordam da decisão e a maioria deles (6,0%) também pensa que não tem sido adequada. Um professor preferiu não responder à questão.

    A maioria dos professores (66,7%) indicou que a oferta de atividades educacionais remotas por sua instituição foi obrigatória. Desses, um número expressivo (47,9%) afirmou que a decisão foi tomada por instâncias superiores sem consulta aos professores; 16,2% afirmaram que houve consulta aos professores; e apenas 2,6% relataram que a decisão foi tomada pela maioria dos professores. O restante dos respondentes (33,3%) indicou que a decisão ficou a cargo do professor ou do setor a que pertence. Entretanto, na maioria desses casos as instituições sugeriram a realização de atividades remotas.

    A próxima pergunta buscou identificar aspectos levados em consideração ao se decidir pela oferta de atividades didáticas de maneira remota, em que várias alternativas deveriam ser avaliadas, como indicado no gráfico da figura 1. Na visão da maioria dos professores, a decisão considerou aspectos relacionados ao acesso e qualidade da internet e facilidade com ferramentas tecnológicas, com mais ênfase ao acesso à internet. As respostas dos professores tiveram uma margem superior de respostas positivas em relação à disposição de estudantes e professores para assistir/assumir aulas remotas, embora tenham ficado divididas quanto a aspectos pessoais como responsabilidades com as tarefas domésticas. Uma pequena parcela da amostra (máximo de 17,0%) declarou desconhecimento em relação ao assunto.

    Figura 1: Decisão por atividades remotas

    Fonte: Elaborado pelos autores.

    A maioria dos respondentes (63,2%) afirmou que se sentiram bem em ensinar durante a pandemia. Dentre eles, 29,0% admitem que as tarefas domésticas e demandas pessoais interferem nas atividades; 19,7% afirmam que seus estudantes têm superado as dificuldades, apesar das queixas; 7,7% afirmam que a demanda profissional tem preenchido seu tempo; 6,8% admitem que se cansam bastante, que têm percebido as próprias carências e estudado mais. Entretanto, 26,5% manifestaram mal-estar ao ensinar durante a pandemia mencionando diminuição na produtividade devido ao ensino (10,3%); interferência do ensino na vida pessoal (9,4%); pouca contribuição ao ensino (6,8%).

    Outros comentários foram feitos por 9,4% dos professores. Desses, quatro (3,4%) afirmaram que se sentem bem, porém com justificativas distintas daquelas indicadas nas respostas preestabelecidas nas alternativas. Outras respostas mostram que os professores se sentem sobrecarregados, estranhos, preocupados, neutros. Alguns mencionam aumento da carga de trabalho, pois além das tarefas domésticas tiveram que realizar a readaptação das atividades de ensino, pesquisa e extensão. Outros relatam percepções relativas às dificuldades dos estudantes, participação que exige seu empenho, dificuldades para acompanhar a evolução dos estudantes, aulas remotas como paliativo não eficaz, perda de qualidade na aprendizagem e mediação do professor. Um professor afirmou que não leciona remotamente e outro deixou a questão em branco.

    A resposta de um professor ilustra o sentimento dúbio que o ensino remoto gerou nos professores:

    Eu faço o melhor para dar boas aulas, mas tudo é muito diferente do usual. Usar meu espaço pessoal para dar aulas não é agradável e não é correto. As atividades se misturam, e as aulas on-line não têm o mesmo efeito das aulas presenciais. A interação com os alunos acaba sendo drasticamente reduzida, tanto durante as aulas como fora delas. Em síntese, apesar de meus esforços e dos resultados parcialmente positivo, a minha conclusão pessoal é muito desfavorável.

    Outro aspecto que perguntamos foi em relação ao pagamento de salários. A maioria dos professores, 86,3%, afirmou que a pandemia não teve nenhum efeito sobre o salário; 6,8% disseram que continuavam a receber o salário, mas com atraso; uma pessoa foi demitida e aproximadamente 6,0% tiveram uma redução no salário recebendo ajuda do governo.

    Quanto ao uso de ferramentas tecnológicas, 85,4% afirmaram ter facilidade para o ensino remoto. No entanto, ao julgar como os colegas poderiam lidar com ferramentas semelhantes, 53,8% acreditam que é difícil para a maioria dos colegas e 31,6% afirmam que seria fácil. O restante da amostra (14,6%) afirma que tem dificuldade para lidar com essas ferramentas e, com referência a colegas, 10,3% acreditam que também seria difícil para a maioria dos colegas, 4,3% afirmam que os colegas teriam mais facilidade.

    A reação dos professores em relação ao desafio de ensinar durante a pandemia mostra mais características positivas do que negativas, como pode ser visto no quadro 1. Assim, a maioria relatou enfrentar o processo com resiliência, entusiasmo e até leveza. Em porcentagens menores, outros indicaram dificuldade e desânimo.

    Quadro 1: Reação do Professor em Relação ao Ensino Remoto

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Na opção outras respostas, os professores citaram preguiça, preocupação, certo desânimo, determinação, bem-estar, mistura de entusiasmo, resiliência e dificuldade. Um professor admitiu que está lecionando por ser algo que creio que tenho de fazer. Outro professor citou a mesma resposta dada para justificar os sentimentos dos estudantes em relação ao ensino remoto, relatando depressão, síndrome do pânico, ansiedade, medo da morte.

    Os professores indicaram que conversam sobre os desafios de ensinar no regime remoto, principalmente com professores de outras disciplinas, seguido pelos parceiros ou cônjuges e colegas, professores de Física, como pode ser visto no quadro 2. Uma fração muito pequena relatou que conversa com outras pessoas, familiares ou que não divide seus sentimentos com ninguém.

    Quadro 2: Com Quem o Professor Conversa Sobre os Desafios da Atividade Remota?

    Fonte: Dados da pesquisa.

    As respostas classificadas como outras mostram que alguns professores compartilham seus sentimentos com mais de um grupo, como por exemplo: colegas e familiares, namorada, estudantes, professores de Física e de outras disciplinas. Outros indicaram conversar com o coordenador do curso e a vizinha, que é terapeuta.

    A maioria dos professores (88,8%) avaliou bem o trabalho nessa situação excepcional. Cerca de 42,7% descobriram que ainda são capazes de reinventar a própria prática; 25,6% colocaram em prática planos antigos de rever conteúdo ou formas de abordagem; 20,5% afirmam que não mudaram muito o que já faziam antes da pandemia. Uma pequena fração, 9,4%, avaliou mal o trabalho, justificando que não consegue adaptar o que faz normalmente (6,0%) ou que a situação bloqueou a criatividade (3,4%). Duas pessoas não responderam à questão.

    Para além das porcentagens, algumas possibilidades e perspectivas

    O nosso propósito de ampliar a comunicação entre a Sociedade Brasileira de Física e seus associados em um momento tão extremo foi possível com a disposição de responderem uma longa enquete eletrônica.

    O estudo, mesmo exploratório, nos proporcionou perspectivas de como docentes de Física reagiram à situação extrema de suspensão de atividades didáticas presenciais. Importante mencionar que naquela época a crise sanitária parecia se prolongar indefinidamente, sem vacinas ou remédios eficazes e confiáveis.

    Dos 244 associados da SBF relacionados à área de atuação da Capef que responderam a nossa chamada, uma parte considerável suspendeu as atividades didáticas. Entretanto, parte equivalente as manteve, com disposição de buscar alternativas, modalidade que chamamos de Educação Remota Emergencial. Foram com colegas que continuaram suas atividades didáticas que obtivemos respostas mais detalhadas acerca de aspectos como a qualidade do trabalho didático, as relações de trabalho e até mesmo os sentimentos pessoais.

    Diversas nuances aparecem nas respostas às questões de múltipla escolha disponibilizadas e espaços para observações pessoais. Natural imaginar que um país tão diverso como o nosso implicasse em diferentes possibilidades de enfrentamento à interdição das práticas educacionais presenciais. Contudo, para aqueles que continuaram seus trabalhos didáticos, o ensino remoto parece expressar mais adequadamente o que ocorreu, mantendo-se na maioria dos casos as relações de trabalho e com salários.

    A distribuição regional dos professores da nossa amostra reproduz a distribuição obtida pela pesquisa realizada pela Nova Escola (2020), com exceção das regiões Norte e Centro-Oeste, que têm a posição invertida. A idade dos participantes desta pesquisa também está de acordo com a faixa etária dos professores da pesquisa realizada pela Nova Escola (2020).

    Em relação ao gênero, percebe-se uma discrepância com nossos dados, contrariando todas as tendências relatadas pela maioria das professoras, também observada nos dados obtidos pelo Instituto Península (2020). Uma possível explicação para esse fato é a predominância masculina nos cursos de Física. Esse dado mostra sua relevância quando se considera a tendência da nossa amostra em que a maioria dos respondentes (do sexo masculino) reage com sentimentos positivos ao fato de lecionar durante a pandemia. Dado que contrasta com todas as outras pesquisas, nas quais a maioria das respondentes (do sexo feminino) relatam sentimentos de ansiedade, cansaço, sobrecarga de trabalho, frustração (NOVA ESCOLA, 2020; INSTITUTO PENÍNSULA, 2020).

    Evidenciou-se, no grupo dos docentes que mantiveram suas atividades, a preocupação com a qualidade do trabalho educativo e da aprendizagem dos estudantes. Foi relevante a preocupação com os colegas, muitas vezes considerando que haveria mais dificuldade em manter as atividades com as tecnologias de comunicação.

    Apesar das atividades terem sido mantidas, um gosto de dúvida aparece nos comentários, particularmente no depoimento destacado. A atuação dos professores foi abalada com ausência do contato direto com os estudantes, momentos de sala de aula em que a percepção dos alunos pelo docente parece mais explícita do que nos aplicativos de videoconferências. Por isso, restaram traços de dúvidas se houve aprendizagem, embora o esforço para manter as aulas tenha sido um exemplo notável de compromisso e persistência de educadores e educadoras.

    As dúvidas quanto à aprendizagem dos estudantes encontram respaldo nos resultados trazidos pelo Projeto A Educação não pode esperar, em que ficou constatado que as redes educacionais esperam que o ensino remoto funcione como um paliativo, garantindo os vínculos dos estudantes com a escola, colegas e professores para um eventual retorno presencial, e que eles mantenham o que já foi aprendido. Ainda de acordo com os resultados, afirma-se que dado o papel central e insubstituível do professor, são poucas as redes que consideram que os estudantes irão consolidar a aprendizagem de novos conteúdos neste período (CTE-IRB, 2020, p.23).

    Em face da pandemia, Harari (2020, p. 30) nos instiga questionando:

    o que acontece quando todo mundo trabalha de casa e se comunica apenas à distância? O que acontece quando escolas e universidades inteiras passam a operar on-line? Em tempos normais empresas e autoridades educacionais jamais concordariam em conduzir tais experimentos. Mas estes não são tempos normais.

    Este estudo responde parcialmente ao questionamento de Harari (2020), mostrando que é possível manter as atividades acadêmicas, uma vez que metade da nossa amostra continuou lecionando. No momento, ainda não sabemos quais as consequências desse ensino remoto. Os estudantes aprenderam a lição? E a sociedade, aprendeu algo? A pandemia alterou nossas práticas didáticas, forçando a inserção de ferramentas tecnológicas em todos os níveis da atuação docente. Será que a sala de aula será ampliada?

    De acordo com Castells (2018, p.20), uma identidade de projeto surge quando os atores sociais, [...], constroem uma nova identidade que redefine sua posição na sociedade e, ao fazer isso, buscam a transformação da estrutura social como um todo. Esperamos que uma das valiosas lições deixadas pela pandemia seja o reconhecimento da importância do professor, como sujeito fundamental na continuidade do processo de ensino e aprendizagem e na descoberta de novos caminhos para a Educação.

    Considerações finais

    A pandemia de Covid-19 oferece lições e desafios para a sociedade e em particular para a Educação. Uma delas, provavelmente, é a compreensão de que cada pessoa é única e – embora seja um indivíduo – o que ela faz, sente e pensa impacta outras pessoas e causa algum efeito no rumo que a humanidade toma.

    Esta investigação registra uma iniciativa de comunicação solidária com a comunidade de docentes de Física, relacionados com a SBF. A pesquisa por meio de uma comunicação eletrônica foi a forma que lançamos mão para isso. Despretensiosa na origem, foi surpreendente nas suas possibilidades e desvelamentos. Resta fascinante a ideia (e necessidade) de que futuras pesquisas possam identificar quais aspectos

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