Em busca de autonomia: Quilombolas e políticas públicas
()
About this ebook
Read more from Thiara Bernardo Dutra
Da memória à escrita: Oficina de alfabetização e letramento, comunidade do Quilombo Alto Iguape Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAutoridades coloniais e o controle dos escravos: Capitania do Espírito Santo, 1781-1821 Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Related to Em busca de autonomia
Related ebooks
Estatuto Da Igualdade Racial: Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLeituras afro-brasileiras: volume 2: Contribuições Afrodiaspóricas e a Formação da Sociedade Brasileira Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA matriz africana no mundo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDicionário escolar afro-brasileiro Rating: 3 out of 5 stars3/5Escravidão, fronteira e liberdade: Resistência escrava em Mato Grosso, séculos XVIII-XIX Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCapoeira em Múltiplos Olhares: Estudos e pesquisas em jogo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPolíticas da raça: Experiências e legados da abolição e da pós-emancipação no Brasil Rating: 0 out of 5 stars0 ratings300 anos de histórias negras em Minas Gerais: Temas, fontes e metodologias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPolíticas culturais e povos indígenas Rating: 5 out of 5 stars5/5Tecendo redes antirracistas: Áfricas, Brasis, Portugal Rating: 3 out of 5 stars3/5Cultura em movimento: Matrizes africanas e ativismo negro no Brasil Rating: 2 out of 5 stars2/5Capoeira em perspectivas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEscravidão, trabalho e liberdade no Brasil Oitocentista: Outros olhares, novas visões Rating: 3 out of 5 stars3/5Educação Patrimonial Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Cidade De Rancho ! Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPensadores negros - Pensadoras negras: Brasil séculos XIX e XX Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLeituras Afro-brasileiras (v. 3): Reconstruindo Memórias Afrodiaspóricas entre o Brasil e o Atlântico Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsBrasil: a última cruzada Rating: 0 out of 5 stars0 ratings40 Ideias de periferia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação e diversidade étnico-racial Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMbundas, Caraculus E Buxettas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Papel Da Cultura Afro-brasileira E Indígena Para A Democratização Social. Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsResiliência e alteridade na construção de identidades sociais negras no sul do Brasil Rating: 5 out of 5 stars5/5Steve Biko e o Movimento Consciência Negra: trajetória e atuação de um jovem líder negro na África do Sul (1969 - 1977) Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsIrmandades Negras: Educação, Música e Resistência nas Minas Gerais do século XVIII Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsOs Índios na História da Bahia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAs faces contemporâneas da cultura popular Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTempo, Papel e Tinta: imprensa e fotografia sobre Moçambique (1897- 1937) Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Social Science For You
Um Poder Chamado Persuasão: Estratégias, dicas e explicações Rating: 5 out of 5 stars5/5A perfumaria ancestral: Aromas naturais no universo feminino Rating: 5 out of 5 stars5/5Segredos Sexuais Revelados Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsApometria: Caminhos para Eficácia Simbólica, Espiritualidade e Saúde Rating: 5 out of 5 stars5/5O livro de ouro da mitologia: Histórias de deuses e heróis Rating: 5 out of 5 stars5/5Os Segredos De Um Sedutor Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsManual das Microexpressões: Há informações que o rosto não esconde Rating: 5 out of 5 stars5/5Tudo sobre o amor: novas perspectivas Rating: 5 out of 5 stars5/5A Prateleira do Amor: Sobre Mulheres, Homens e Relações Rating: 5 out of 5 stars5/5Verdades que não querem que você saiba Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Manual do Bom Comunicador: Como obter excelência na arte de se comunicar Rating: 5 out of 5 stars5/5O martelo das feiticeiras Rating: 4 out of 5 stars4/5Detectando Emoções: Descubra os poderes da linguagem corporal Rating: 4 out of 5 stars4/5Mulheres que escolhem demais Rating: 5 out of 5 stars5/5Coisa de menina?: Uma conversa sobre gênero, sexualidade, maternidade e feminismo Rating: 4 out of 5 stars4/5Como Melhorar A Sua Comunicação Rating: 4 out of 5 stars4/5As seis lições Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPele negra, máscaras brancas Rating: 5 out of 5 stars5/5Pertencimento: uma cultura do lugar Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMulheres na jornada do herói: Pequeno guia de viagem Rating: 5 out of 5 stars5/5O Ocultismo Prático e as Origens do Ritual na Igreja e na Maçonaria Rating: 5 out of 5 stars5/5Liderança e linguagem corporal: Técnicas para identificar e aperfeiçoar líderes Rating: 4 out of 5 stars4/5Quero Ser Empreendedor, E Agora? Rating: 5 out of 5 stars5/5Churchill e a ciência por trás dos discursos: Como palavras se transformam em armas Rating: 4 out of 5 stars4/5O marxismo desmascarado: Da desilusão à destruição Rating: 3 out of 5 stars3/5Psicologia Positiva Rating: 5 out of 5 stars5/5Teoria feminista Rating: 5 out of 5 stars5/5Introdução à Mitologia Rating: 5 out of 5 stars5/5Fenômenos psicossomáticos: o manejo da transferência Rating: 5 out of 5 stars5/5
Reviews for Em busca de autonomia
0 ratings0 reviews
Book preview
Em busca de autonomia - Thiara Bernardo Dutra
APRESENTAÇÃO
Em 16 de maio de 2012 a comunidade de Alto Iguape, em Guarapari, recebeu a certificação como remanescente de quilombo da Fundação Cultural Palmares. Para a comunidade, tornar-se quilombo não foi apenas um ato simbólico de reconhecimento de sua autodefinição e titulação das terras, representou também um processo de organização política e social, das práticas e modos de viver em torno da construção de uma identidade quilombola. Mas, o reconhecimento dos direitos à terra e à memória social do grupo como remanescente de quilombo, não veio acompanhado de medidas que assegurem o acesso da comunidade às políticas públicas. Tornar-se quilombo não acarretou mudanças significativas no cotidiano da comunidade.
Assim, o presente projeto Em busca da autonomia: quilombolas e políticas públicas teve o objetivo de oferecer à comunidade do Quilombo Alto Iguape o acesso ao conhecimento histórico, à legislação e políticas públicas e à Economia Solidária, a fim de auxiliá-los no processo de consolidação de sua identidade quilombola, bem como contribuir para que a comunidade se organize em busca de autonomia. De modo a assegurar a sustentabilidade de seus moradores e a preservação de suas formas e modos de vida tradicionais.
Esse material didático foi elaborado para os moradores da comunidade do Quilombo Alto Iguape, sendo utilizado pelos alunos como material de apoio durante as videoaulas. Está organizado de acordo com os três módulos que foram trabalhados no curso – história e identidade quilombola, legislação e políticas públicas e economia solidária – e dividido por aulas. Além da parte teórica, cada aula possui atividades de reflexão e consolidação da aprendizagem, elaboradas com o intuito de que os alunos apliquem o conhecimento teórico em seu dia a dia.
Com o desejo de que esse material venha agregar conhecimento sobre a memória da escravidão no Brasil e estimular ações em torno do acesso ao direito e à preservação dos modos de vida dos povos tradicionais!
Thiara Bernardo Dutra
CAPÍTULO 1. HISTÓRIA E IDENTIDADE QUILOMBOLA
Nesse módulo, apresenta-se o contexto histórico da formação do Brasil e da escravidão africana. Conta também os aspectos relativos à escravidão na história regional e local, com destaque para as sublevações escravas do início do século XIX e a formação da república negra, em referência aos modos como os ex-escravizados viviam nessa região, da qual parte dos moradores de Alto Iguape seriam descendentes. Os conhecimentos históricos contrastados com a memória social do grupo podem auxiliá-los no processo de construção da identidade quilombola, necessário para que a comunidade se autorrepresente.
Aula 1: A diáspora africana no Brasil, no Espírito Santo e em Guarapari
Objetivo: Apresentar aspectos fundamentais sobre a presença africana no Brasil colonial, no Espírito Santo e em Guarapari.
A escravidão é a prática social em que um ser humano assume direitos de propriedade sobre outro, imposta por meio da força. A escravidão existiu em diversas sociedades, desde os tempos mais antigos, mas, variou conforme o período e o lugar. Quando nós falamos sobre a escravidão no Brasil, referimo-nos à escravidão moderna, isto é, um tipo de exploração da força de trabalho, que ocorreu do século XV ao século XIX, e submeteu as populações da África subsaariana.
A principal diferença entre a escravidão antiga e a moderna foi a introdução do elemento racial. Na Antiguidade, as pessoas escravizadas tinham várias origens étnicas, enquanto nas Américas, a maior parte das pessoas escravizadas eram africanas e seus descendentes.
A escravidão africana contribuiu para a colonização portuguesa no Brasil. Isso porque, com a implantação do sistema escravista, esteve a necessidade do colonialismo europeu de alavancar a mineração e a agricultura comercial nas colônias espanholas e portuguesas
(Ferreira, 2018, p. 52). Em outras palavras, o surgimento do tráfico atlântico está associado a uma demanda por mão de obra.
Os engenhos utilizavam africanos escravizados desde o início da colonização. Mas, a