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Direito Público - análises e confluências teóricas: Volume 3
Direito Público - análises e confluências teóricas: Volume 3
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Direito Público - análises e confluências teóricas: Volume 3

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É cada vez mais necessário que seja reconhecido o esforço e a dedicação dos pesquisadores e das pesquisadoras brasileiras, que se mantêm ativos e resilientes, no intuito de apresentarem caminhos para a superação dos mais diversos problemas que a difícil realidade nacional impõe. Um país rico, produtivo, de infinita diversidade humana e natural, mas ainda muito desigual e deveras limitado por uma série de práticas sociais conservadoras, que tornam mais que relevante cada esforço por sua superação. E é exatamente aqui que se insere a pesquisa e todo o trabalho da ciência, em especial a ciência jurídica, no desempenho de seu papel crítico em relação àquilo que muitas vezes não é devidamente visto ou notado, muitas vezes porque se encontra naturalizado na infinidade de problemas que são cotidianamente varridos para debaixo do tapete, invisibilizados diante da miríade de obstáculos que ainda precisam ser superados pelo Brasil.
Inserida neste cenário, a presente coletânea de artigos busca colaborar para que alguns desses relevantes problemas nacionais sejam discutidos com a seriedade que merecem e, assim, estejamos um tanto mais próximos de seu desate. A riqueza e a variedade de temas tratados na obra chamam a atenção e demonstram o comprometimento de seus autores e autoras com a pesquisa jurídica.
LanguagePortuguês
Release dateJul 15, 2022
ISBN9786525244532
Direito Público - análises e confluências teóricas: Volume 3

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    Direito Público - análises e confluências teóricas - Bruno de Almeida Oliveira

    A PSICOPATIA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO: A RESPONSABILIDADE PENAL DO PSICOPATA À LUZ DA (IN)EFICÁCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL

    Valdemir Ferreira Santos

    Mestrando em Ciências Criminais, PUC-RS

    valdemirferreira1977@gmail.com

    DOI 10.48021/978-65-252-4454-9-c1

    RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo principal analisar, por intermédio do instituto jurídico-penal, a psicopatia no Direito Penal Brasileiro sob a perspectiva da responsabilidade penal do psicopata. Permeia-se, neste artigo, o estudo sobre a teoria do crime, a culpabilidade e a imputabilidade desse grupo de pessoas, incluindo, nele, o instituto da semi-imputabilidade. Para isso, apontaram-se questões, tais como, o perfil do psicopata, os níveis de psicopatia em relação às espécies de sanções penais atribuídas no Código Penal, o que permite perceber como o ordenamento jurídico-penal brasileiro tem analisado as questões que perpassam o tema em questão. A metodologia adotada faz o resgate às referências bibliográficas de materiais já publicados de penalistas renomados, tais como, Bitencourt (2012), Costa (2017), Dias (2019), Grego (2012), Nucci (2014), Roxin, Arzt e Tiedemann (2007). Considerando a inexistência de uma legislação específica ao caso proposto e em obediência aos pressupostos constitucionais concernentes à dignidade da pessoa humana, entende-se a necessidade de refletir sobre esse debate no que tange ao respeito aos pressupostos jurídico-penais no Brasil e, também, em relação ao resultado do diagnóstico médico-pericial que afeta a decisão do juiz, tornando, muitas vezes, a decisão entre esses entes contraditórias, desarmônicas e lacunosas.

    Palavras-chave: Direito Penal; Psicopatia; Responsabilidade Penal do psicopata; Culpabilidade; Imputabilidade.

    1. INTRODUÇÃO

    Neste artigo, discutem-se questões voltadas à psicopatia à luz do ordenamento jurídico-penal brasileiro. Este texto pretende refletir sobre os direitos fundamentais da pessoa humana previstos pela Constituição Federal de 1998 (doravante CF/88) e a atuação jurídico-penal no Brasil em relação à pessoa psicopata. Para isso, utilizou-se, como fonte normativa, o Código Penal Brasileiro (doravante CPB).

    O foco principal deste trabalho consiste em analisar, por intermédio do instituto jurídico-penal, a psicopatia no Direito Penal Brasileiro sob a perspectiva da responsabilidade penal do psicopata. Esse tema é de extrema relevância aos estudos atuais, visto que, apesar da discussão que o permeia, não há amparo jurídico legal específico que contemple a questão da pessoa psicopata à circunstância da culpabilidade e da imputabilidade.

    Nesse contexto, há uma espécie de lacuna no ordenamento jurídico-penal brasileiro quanto à temática da responsabilidade penal frente à aplicação das espécies penais. O modo como o psicopata vem sendo tratado na jurisdição brasileira pode ocasionar danos na aplicação das sanções em relação a quem tenha esse transtorno de personalidade e, por isso, este artigo almeja discutir o assunto sob a ótica dos direitos fundamentais abarcados pela CF/88, bem como trazer à tona aspectos da insuficiência da legislação penal brasileira em vigor.

    Na seção 1, introduz-se o que será tratado neste trabalho. No item 2, apresentam-se a teoria do crime, bem como o conceito analítico de crime, que traz à tona a tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade, sendo este último subdividido em imputabilidade, potencial consciência sobre a ilicitude do ato e exigência de conduta adversa do agente criminoso. O tópico 3, A psicopatia, subdivide-se em o conceito de psicopatia, o perfil do psicopata e os níveis de psicopatia. No item 4, este trabalho tem como escopo explanar a questão da responsabilidade penal do psicopata à luz da esfera jurídico-penal brasileira. Para isso, examinaram-se a culpabilidade reduzida: o aspecto da semi-imputabilidade, as espécies de aplicação de sanção penal, a deficiência na legislação sobre a punição aplicada e dois casos emblemáticos que ilustram o tema ao caso concreto. Por fim, no último tópico (5), elaboram-se as considerações finais e inclinações futuras a respeito do tema estudado neste artigo.

    2. TEORIA DO CRIME

    O ordenamento jurídico-penal brasileiro tem como objetivo proteger bens jurídicos individuais e coletivos, isso para atender a finalidade protetiva do Direito Penal. Nesse contexto, esse ramo jurídico pretende, por intermédio do Estado, proibir determinadas ações ou omissões que violem os bens jurídicos mais relevantes para a sociedade. Para isso, existem infrações de caráter penal.

    Segundo Costa (2017, p. 14-15), o Direito Penal constitui uma área jurídico-normativa que se caracteriza, principalmente, pela existência de normas incriminadoras. Isto é: pela positivação de normas que consagram a proibição penal de condutas ou de comportamentos, ou seja, que definem os crimes. Diante disso, pode-se afirmar que cabe ao campo jurídico-penal evitar ou coibir a prática de infrações penais. Passa-se, assim, a análise do conceito analítico de crime adotado pelo ordenamento jurídico-penal.

    2.1. O conceito analítico de crime

    Para o conceito analítico, trata-se de crime o fato típico, antijurídico e culpável. Roxin, Arzt e Tiedemann (2007, p. 22) esclarece que os pressupostos gerais que precisam estar presentes em todo fato penal podem ser classificados em três categorias: tipicidade, antijuridicidade e culpa. Essa definição expõe os elementos estruturais do crime, com o intuito de que seja tomada a melhor decisão cabível sobre determinada infração penal em relação ao seu agente.

    Em outras palavras, conforme explica Greco (2012, p. 142):

    A função do conceito analítico é a de analisar todos os elementos ou características que integram o conceito de infração penal sem que com isso se queira fragmentá-lo. O crime é, certamente, um todo unitário e indivisível. Ou o agente comete o delito (fato típico, ilícito e culpável), ou o fato por ele praticado será considerado um indiferente penal. O estudo estratificado ou analítico permite-nos, com clareza, verificar a existência ou não da infração penal; daí sua importância.

    A partir disso, compreende-se que a definição de crime vai além de apenas considerá-lo como ato praticado ou omisso por agente que lese direito, mas abrange uma estrutura analítica que consiste em identificar e analisar cada caso concreto a partir dos elementos constitutivos do crime mencionados. Passa-se, com isso, a analisar a tipicidade, a antijuricidade e a culpabilidade.

    2.1.1. Tipicidade

    Antes de entender a aplicação da tipicidade, é preciso indicar o que é tipo penal. Esse indica a descrição legal da conduta proibida. Segundo Bitencourt (2012, p. 130):

    Tipo é um modelo abstrato que descreve um comportamento proibido. Cada tipo possui características e elementos próprios que os distinguem uns dos outros, tornando-os todos especiais, no sentido de serem inconfundíveis, inadmitindo-se a adequação de uma conduta que não lhes corresponda perfeitamente.

    Por esse conceito, percebe-se que o fato típico surge de um modelo abstrato – que possui elementos objetivos e subjetivos – de conduta contraditória à norma penal; nele, devem estar vinculados a vontade de agir do agente e o resultado praticado por intermédio do nexo de causalidade. Entendido isso, pode-se afirmar que a tipicidade se insere no contexto da legalidade, na medida em que se situa no princípio constitucional, presente no artigo 5º, inciso II, da CF/88, denominado Reserva Legal, cuja determinação é a de que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Diante disso, não se deve considerar crime qualquer fato sem lei anterior que o enquadre no viés criminal.

    Partindo do pressuposto do art. 1º do Código Penal Brasileiro, juntamente aos preceitos constitucionais, de que não há crime sem lei anterior que o defina, será típico o fato que se enquadre dentro de uma conduta delituosa disposta na legislação penal. Contudo, esse é apenas um dos requisitos para que determinada conduta seja considerada crime. Passa-se, dessa maneira, ao próximo tópico cujo teor complementa um dos elementos estruturais do crime: a antijuridicidade.

    2.1.2. Antijuridicidade

    A antijuridicidade refere-se à ilicitude da conduta criminosa, isto é, a oposição entre o que preceitua o ordenamento jurídico-penal brasileiro e a conduta do agente. Nesse caso, se a conduta típica do agente colidir com o ordenamento penal, diremos ser ela penalmente ilícita (GRECO. 2012, p. 313).

    Cabe ressaltar que uma conduta pode ser típica e não ser antijurídica. Conforme Roxin, Arzt e Tiedemann (2007, p. 23), nem todo comportamento típico é punível. É que, sem prejuízo de seu caráter em princípio punível, ele pode excepcionalmente ser autorizado. Chamamos a essas autorizações de causas de justificação, que em nada alteram a tipicidade, mas exclui a antijuridicidade. Nesse cenário, o artigo 23 do Código Penal expõe as causas excludentes de ilicitude, deixando claro que:

    Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

    I - em estado de necessidade;

    II - em legítima defesa;

    III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

    Ressalta-se, com isso, que cada elemento constitutivo de crime deve ser analisado separadamente para se chegar à conclusão da existência de conduta proibida. O próximo item deste artigo tratará da questão da culpabilidade, servindo, neste estudo, como terceiro requisito para aplicação da infração penal.

    2.1.3. Culpabilidade

    Consoante Roxin, Arzt e Tiedemann (2007, p. 25):

    O injusto penal, ou seja, um comportamento típico e antijurídico, tampouco é punível de imediato. A sentença de injusto diz somente que o fato do agente é reprovado, mas ainda não autoriza a concluir que, por isso, ele também será pessoalmente responsabilizado. Pelo contrário, essa decisão não se dá senão numa terceira etapa da apreciação do campo da culpabilidade. Já sabemos que uma pena não pode ser imposta sem que haja culpa. Consequentemente, um comportamento típico e antijurídico pode muito bem não ser punido se o agente agiu sem culpa no caso concreto, por exemplo, porque, em razão de doença mental ou perturbação mental, não era capaz entender o caráter ilícito de seu fato ou de agir de acordo com esse entendimento.

    A culpabilidade é, portanto, um juízo de reprovação que se realiza sobre a conduta típica e ilícita perpetrada pelo agente. Tal conceito preceitua que não há crime sem culpa. Nesse viés, sendo a conduta do agente típica e antijurídica, resta examinar o âmbito da culpabilidade para estabelecer a prática criminosa. Para isso, serão analisadas as circunstâncias sobre as quais recaem a conduta do agente, sendo essas submetidas a apreciação do juiz.

    Para que a culpabilidade seja, de fato, considerada como elemento estrutural do crime, devem estar presentes três requisitos fundamentais: a imputabilidade, a potencial consciência sobre a ilicitude do fato e a exigibilidade de conduta adversa. Essas serão destacadas nas próximas seções.

    2.1.3.1. Da imputabilidade

    Imputar significa atribuir a alguém a responsabilidade de algo censurável. Para o DPB, a imputabilidade insere-se na responsabilização penal por qualquer prática de fato típico e ilícito. No ordenamento jurídico-penal brasileiro, não há uma definição precisa do que vem a ser a imputabilidade, contudo, o dispositivo penal traz, no título III – Da imputabilidade penal –, em seu artigo 26, caput, a seguinte redação:

    Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (BRASIL, 1984)

    Nesse contexto, o CPB baseia-se em três critérios principais para determinar se o agente é imputável ou não, sendo eles, o biológico, o psicológico e o biopsicológico. Para o primeiro requisito, entende-se como inimputável o agente com doença mental ou desenvolvimento mental afetado. Esse fato deverá ser comprovado, objetivamente, em juízo, por intermédio de provas e laudos periciais. No entanto, salienta-se que adotar apenas este critério passou a não atender o caso concreto na esfera jurídica, motivo pelo qual se constrói o requisito psicológico que permite ao juiz focar sua atenção nos fatos, podendo esse elaborar um entendimento contrário a depender da dinâmica da prática do agente. Esse segundo critério considera que a compreensão do agente deve ser observada no momento da prática de crime. Por último, o critério biopsicológico une, em seu conceito, os dois primeiros, isto é, considera, tanto doença mental ou desenvolvimento mental afetado, quanto possível distúrbio do agente no momento da prática criminosa. Ressalta-se, por fim, que a legislação brasileira adota este último critério como regente sobre a temática da imputabilidade.

    Cabe salientar que a perícia serve como prova imprescindível e fundamental para avaliação da inimputabilidade, devendo indicar indícios plausíveis de que, no momento do fato, o agente era incapaz de entender a natureza ilícita da conduta e agir conforme tal entendimento (MASSON, 2012, p. 458). Portanto, deve-se provar, de forma objetiva, o estado no momento atual do agente em relação à sua prática delituosa.

    2.1.3.2. Da consciência da ilicitude do fato

    Quanto à consciência da ilicitude do fato, entende-se que, para que o agente de determinada conduta criminosa seja, de fato, imputável, deve ele ter, potencialmente, a compreensão do viés delituoso de sua ação ou omissão. O artigo 21 do Código Penal traz a questão do erro da ilicitude do fato:

    Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminui-la de um sexto a um terço. Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência (BRASIL, 1984).

    Nesse contexto, é preciso que exista consciência da ilicitude para a realização da prática criminosa, não se trata, contudo, de uma consciência real, mas potencial, ou seja, a possibilidade de deter o conhecimento sobre o ato. Em outras palavras, quando não há capacidade de compreensão da ilicitude pelo agente em relação às circunstâncias, esse não poderá ser responsabilizado, penalmente, pela sua prática.

    2.1.3.3. Da exigibilidade de conduta adversa

    Em se tratando da exigibilidade de conduta adversa, é preciso destacar a relação entre o agente e a conduta praticada por ele. Trata-se da possibilidade de esse agente agir em prol do que determina o ordenamento jurídico-penal brasileiro. Para Nunes et. al (2021, p. 183), este item consiste em um:

    Requisito analisável apenas no caso concreto, a exigibilidade de conduta diversa, isto é, de conduta conforme o Direito, está relacionada a fatores externos relevantes para o indivíduo e, por isso, capazes de exercer influência sobre o seu agir, impelindo-o no sentido do cometimento do fato típico e ilícito. Fundado na dicção do art. 22 do Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940, o Código Penal Brasileiro (CPB), esse requisito não pode, portanto, ser afastado aprioristicamente, pela mera presença do transtorno de personalidade em tela.

    Assim, reconhece-se que, no Brasil, haja uma lacuna no sistema jurídico que determine, de fato, as hipóteses de inexigibilidade. Portanto, quando não for possível aplicar outras excludentes de culpabilidade, utiliza-se a inexigibilidade de conduta diversa, com o intuito de não punir o agente injustificadamente.

    Explicada as circunstâncias nas quais se inserem a teoria do crime, passe-se ao próximo tópico concernente à psicopatia. Neste artigo, serão analisados, a seguir, o conceito de psicopatia, bem como o perfil do psicopata e os níveis de psicopatia.

    3. A PSICOPATIA

    O conceito de psicopatia vem sendo elaborado por especialistas da academia médico-científica, contudo, sempre sofrendo transformações ao longo dos anos à medida que se tem mais domínio sobre o assunto. Isso se deve ao fato de que, por se tratar de um transtorno de personalidade caracterizado pelo comportamento humano, ela recebe influências acadêmicas e, também, influências sociais do senso comum, o que torna a psicopatia um conceito psicológico de significado, por vezes, controverso.

    É imprescindível dizer que o surgimento da necessidade de se definir a psicopatia aparece no âmbito da medicina legal. Assim explicam Hauck Filho et. al (2009, p. 337):

    O conceito de psicopatia surgiu dentro da medicina legal, quando médicos se depararam com o fato de que muitos criminosos agressivos e cruéis não apresentavam os sinais clássicos de insanidade. Descrições desses pacientes e tentativas de criar categorias nosográficas adequadas aos mesmos são consideradas pela literatura o momento inicial da chamada tradição clínica de estudo da psicopatia (Hare & Neumann, 2008). A tradição clínica apoiou-se basicamente em estudos de casos de criminosos e pacientes psiquiátricos, com o uso de entrevistas e observações como fontes principais de dados para a descrição do fenômeno e a hermenêutica clínica como método de análise dos dados. O papel da tradição clínica foi fundamental para o desenvolvimento das modernas concepções de psicopatia.

    Todo esse conceito que não define a psicopatia dentro de um modelo rígido e bem definido relaciona-se à marcação de uma de suas fases evolutivas para encontrar um conceito que seja bem aplicado e eficaz aos novos estudos. Cabe destacar que o termo psicopatia foi estabelecido a partir de 1941 graças ao psiquiatra norte-americano Hervey Cleckley em seu trabalho A Máscara da Sanidade. O médico pretendeu conceituar o termo psicopatia, para isso, formulou-se uma lista contendo dezesseis características que fossem capazes de definir o indivíduo psicopata. Cabe ressaltar, como indica Davoglio e Argimon (2010), que em 1976, Hare, Hart e Harpur incorporaram a esses critérios outros novos.

    Assim, apesar da obscuridade que perpassa o conceito, pode-se observar a psicopatia como um conjunto de traços disruptivos de personalidade e comportamentos antissociais. Este estudo adota a definição elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que trata a psicopatia como:

    Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros. Há um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. O comportamento não é facilmente modificado pelas experiências adversas, inclusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade.

    Tem-se nos registros da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) termo equivalente à psicopatia, que também é denominada como Transtorno de Personalidade Dissocial. Portanto, fica claro para a comunidade científica que a psicopatia não é uma doença mental, como tratada pelo senso comum, mas, sim, um distúrbio ou transtorno de personalidade. O renomado doutrinador Dias (2019, p. 675), ao tratar do tema, afirma que incluem-se nesta categoria todos os desvios de natureza psíquica relativamente ao normal que se não baseiam em uma doença" ou

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