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A Dimensão Comunitária do Ministério Presbiterial: Reflexões a Partir do Decreto Presbyterorum Ordinis
A Dimensão Comunitária do Ministério Presbiterial: Reflexões a Partir do Decreto Presbyterorum Ordinis
A Dimensão Comunitária do Ministério Presbiterial: Reflexões a Partir do Decreto Presbyterorum Ordinis
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A Dimensão Comunitária do Ministério Presbiterial: Reflexões a Partir do Decreto Presbyterorum Ordinis

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Juntamente com os bispos, com os outros presbíteros e com os cristãos leigos, os presbíteros devem exercer seu ministério em comunhão, fraternidade epromovendo a unidade. Mas como viver esse ministério em uma dimensão de comunhão hoje? Como relacionar-se com os outros de maneira frutuosa, à luz da fé, do magistério da Igreja e dos desafios de nossa sociedade? Olhar para essa realidade e pensá-la tendo por base o Decreto Presbyterorum Ordinis, do Concílio Vaticano II, é a proposta desta obra, que se constitui de um recorte da pesquisa de doutorado do Pe. Sandro Ferreira, e que tanto pode ajudar-nos a pensar o ministério presbiteral nesse aspecto da comunhão.
LanguagePortuguês
Release dateAug 11, 2022
ISBN9786555626810
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    A Dimensão Comunitária do Ministério Presbiterial - Sandro Ferreira

    Sumário

    CAPA

    FOLHA DE ROSTO

    APRESENTAÇÃO

    DEDICATÓRIA

    AGRADECIMENTOS

    SIGLAS E ABREVIAÇÕES

    INTRODUÇÃO

    1. O DECRETO PRESBYTERORUM ORDINIS E OS NOVOS PARADIGMAS DO PRESBITERADO

    2. A COMPREENSÃO TEOLÓGICO-ECLESIAL DO PRESBITERADO

    3. AS RELAÇÕES NO MINISTÉRIO PRESBITERAL A PARTIR DO DECRETO PRESBYTERORUM ORDINIS

    CONCLUSÃO

    BIBLIOGRAFIA

    COLEÇÃO

    FICHA CATALOGRÁFICA

    Landmarks

    Cover

    Table of Contents

    APRESENTAÇÃO

    O ministério e a vida dos presbíteros são uma grande riqueza para a Igreja e para as nossas comunidades eclesiais. Juntamente com os bispos, com os outros presbíteros e com os cristãos leigos, os presbíteros devem exercer seu ministério em comunhão, fraternidade e promovendo a unidade.

    Mas como viver esse ministério em uma dimensão de comunhão hoje? Como relacionar-se com os outros de maneira frutuosa, à luz da fé, do magistério da Igreja e dos desafios de nossa sociedade? Olhar para essa realidade e pensá-la, tendo por base o Decreto Presbyterorum Ordinis, do Concílio Vaticano II, é a proposta desta obra, que se constitui de um recorte da pesquisa de doutorado do Pe. Sandro Ferreira, e que tanto pode ajudar-nos a pensar o ministério presbiteral nesse aspecto da comunhão.

    Com o título "A dimensão comunitária do ministério presbiteral: reflexões a partir do Decreto Presbyterorum ordinis", Pe. Sandro percorre um caminho que traz à luz o debate sobre este aspecto fundamental para o exercício desse ministério: a dimensão comunitária. Como membro de um presbitério e inserido na Igreja particular, o presbítero não deve exercer seu ministério sozinho ou de maneira individualista e autoritária, na fraternidade presbiteral e em comunhão com as demais pessoas junto de quem ele é chamado a ser exemplo do Bom Pastor, cuidando e deixando-se cuidar.

    Em um contexto socioeclesial e cultural marcado por atitudes que tanto favorecem o individualismo e, por vezes, ignoram as relações horizontais, a temática abordada aqui encontra sua atualidade e merece ser pensada com maior atenção por toda a Igreja, pois também os presbíteros sofrem as tentações do isolamento, do fechamento à pastoral de conjunto, da resistência à vivência da fraternidade, do clericalismo, do autoritarismo. Tantas vezes eles também são afetados pela ilusão e pela tentação de olhar para os cristãos leigos como meros auxiliares do clero nas comunidades paroquiais. E como isso é triste! Agindo assim, alguns presbíteros ignoram a beleza do ministério laical e não compreendem os cristãos leigos como sujeitos eclesiais e essenciais na evangelização.

    Neste texto, cuja leitura ora nos é proposta, tomando como ponto de partida o Decreto Presbyterorum ordinis – especialmente os números 7, 8 e 9 –, o autor apresenta os novos paradigmas do presbiterado a partir das reflexões do Concílio Vaticano II, que traz uma rica contribuição para a Igreja ao compreender o ministério presbiteral de forma mais eclesial, mais comunitária e mais missionária. Nesse caminho, Pe. Sandro faz uma reflexão sobre os princípios eclesiológicos que norteiam a teologia do presbiterado e aborda ainda as relações que envolvem o cotidiano dos presbíteros com o bispo, com os demais presbíteros e com os cristãos leigos. Toda essa reflexão também nos coloca em sintonia com a eclesiologia do papa Francisco e aponta para uma Igreja sinodal.

    Precisamos ter em mente que as orientações do Concílio Vaticano II sobre os presbíteros continuam em processo de recepção e precisam ser alvo de mais reflexões, necessitam ser mais aprofundadas e, acima de tudo, colocadas em prática nos presbitérios das Igrejas particulares. Dessa forma, o texto que agora temos em mãos se mostra como um auxílio para que os presbíteros reflitam e amadureçam o desejo dos padres conciliares sobre a dimensão comunitária ou relacional do ministério presbiteral e, dessa forma, possam viver, com alegria, a plenitude comunional do seu ministério junto ao seu bispo, aos outros presbíteros e aos cristãos leigos.

    Dom Frei Severino Clasen

    Arcebispo de Maringá

    DEDICATÓRIA

    A todos os presbíteros que se doam incansavelmente em favor da evangelização e são testemunho de unidade e de fraternidade na Igreja, e especialmente aos presbíteros da Arquidiocese de Maringá, na qual, juntos, formamos um único presbitério com o bispo e vivenciamos os valores do Evangelho na comunhão com os cristãos leigos.

    AGRADECIMENTOS

    Quando pensamos na realização de uma pesquisa, é inevitável lembrar de tantas e tantas pessoas que caminharam conosco, sendo apoio em tantos e em tão diversos aspectos. Assim, minha gratidão e meu agradecimento:

    À Arquidiocese de Maringá, na pessoa de D. Frei Severino Clasen, arcebispo metropolitano, e aos presbíteros e cristãos leigos, pelo incentivo, apoio e auxílio para a realização de toda a pesquisa.

    Ao Pontifício Seminário Lombardo, em Roma, em especial a Don Ennio Apeciti, reitor, por sua acolhida e confiança, e também por me apoiar na publicação desta obra.

    Aos amigos presbíteros e às amigas cristãs leigas que colaboraram com a leitura do texto, com sugestões e críticas, que tanto me ajudaram a refletir sobre a temática da comunhão no ministério presbiteral. Um agradecimento especial à Ana Paula Peron, pela rica e sugestiva correção gramatical.

    À minha família, que soube compreender minha ausência durante o período de estudos. Aos meus pais, pelos valores a mim transmitidos; aos meus irmãos e cunhadas, por estarmos sempre juntos; e aos meus pequenos sobrinhos por tornarem mais suaves os meus dias com sua espontaneidade e alegria.

    SIGLAS E ABREVIAÇÕES

    INTRODUÇÃO

    O objeto de estudo de nossa pesquisa é a dimensão comunitária do ministério presbiteral a partir do Decreto Presbyterorum ordinis (PO), especialmente nos números 7, 8 e 9, que tratam sobre o relacionamento dos presbíteros com o bispo, dos presbíteros entre si e deles com os cristãos leigos.

    Em relação ao título da obra, especificamos que, dentre as diversas dimensões que compreendem o ministério presbiteral – humana, espiritual, pastoral, comunitária e intelectual –, destacaremos a dimensão comunitária, pois ela perpassa todas as outras dimensões e constitui-se em um aspecto fundamental no ministério do presbítero, visto que ele é chamado a ser homem de comunhão, promovendo-a na comunidade eclesial e vivendo-a concretamente no presbitério. Ressaltamos que, ao escolhermos a dimensão comunitária, não pretendemos fazer uma escala de valores entre as referidas dimensões, pois, como afirma a Pastores dabo vobis (PDV), acreditamos que todas elas precisam, necessariamente, estar harmoniosamente integradas entre si.¹ Portanto, a escolha da dimensão comunitária faz parte do recorte específico que desejamos aprofundar em nossa reflexão.

    Essa temática, que foi sistematizada pelo Concílio Vaticano II, é tratada, especialmente, no Decreto PO, que apresenta, na segunda seção do segundo capítulo, as relações dos presbíteros com os outros, ou seja, com as pessoas com as quais eles desenvolvem seu ministério: o bispo, os demais presbíteros e os cristãos leigos, respectivamente nos n. 7, 8 e 9.

    O n. 7 de PO ressalta que os presbíteros, juntamente com os bispos, participam do mesmo e único sacerdócio e ministério de Cristo. Essa unidade teológica entre ambos, que tem sua raiz no sacramento da ordem e manifesta-se, liturgicamente, na concelebração eucarística, requer a comunhão hierárquica, em grau subordinado, pois os presbíteros são cooperadores da ordem episcopal e, por isso, devem estar unidos a ele com sincera caridade e obediência. Devido a essa comunhão, o bispo deve estimar os presbíteros como irmãos e amigos, deve zelar pelo seu bem material e espiritual, tendo a responsabilidade de sua santificação e de sua formação permanente, e deve estar disposto a ouvi-los e a consultá-los a respeito dos desafios pastorais da diocese. Esse Decreto incentiva a criação de um conselho – nominado posteriormente, pelo papa Paulo VI, de Conselho Presbiteral – que represente o presbitério e ajude o bispo no governo da diocese, e afirma enfaticamente a necessidade da união entre eles, pois nenhum presbítero pode realizar suficientemente a sua missão de maneira isolada, mas apenas na comunhão com os outros presbíteros e com o bispo.

    O n. 8 de PO sublinha que, teológica e sacramentalmente, os presbíteros estão unidos entre si em íntima fraternidade sacramental, formam um único presbitério na Igreja particular e, embora desempenhem funções distintas, exercem o mesmo ministério, cuja finalidade é a edificação do Corpo de Cristo, ou seja, a Igreja. Como membros do presbitério, estão unidos entre si por vínculos de caridade apostólica, de ministério e de fraternidade, que exprimem a unidade desejada por Cristo. Liturgicamente, essa unidade se expressa quando, na ordenação, os presbíteros presentes são convidados a impor as mãos, juntamente com o bispo ordenante, sobre o novo eleito, e quando concelebram a Eucaristia. Do ponto de vista pastoral, esse decreto destaca a importância do auxílio mútuo entre os presbíteros idosos e jovens, e enfatiza ainda a necessidade de atenção para com os doentes, os atribulados, os sobrecarregados, os que vivem sozinhos, os que estão longe da sua pátria, os que sofrem perseguição e os que deixaram de exercer o ministério. Por fim, o decreto em pauta aponta a importância de algumas atividades que visam fortalecer a fraternidade entre eles, tais como: encontros espontâneos para estudo e lazer, uma certa vida comum – a qual pode ser caracterizada pela coabitação ou por refeições em comum –, que os defenda dos perigos da solidão e os auxilie na vida espiritual e intelectual, e recomenda o apreço e a promoção das associações de presbíteros.

    A recepção a essas orientações de PO aconteceu de forma variada e gradual, e também em meio a conflitos e resistências, crises e incompreensões. Não é tarefa fácil avaliar o modo como essas conclusões conciliares foram recebidas e vivenciadas na Igreja, porém o certo é que, no período posterior ao Concílio Vaticano II, durante o pontificado de João Paulo II, houve três sínodos dedicados, mesmo que indiretamente, a cada um desses respectivos números de PO: um sínodo sobre os cristãos leigos, que resultou na Exortação Christifideles laici; um sobre a formação dos presbíteros, com a consequente Exortação Pastores dabo vobis; e outro ainda sobre os bispos, que culminou na Exortação Pastores gregis. Além desses, também o Sínodo dos Bispos de 1971 tratou sobre o sacerdócio ministerial.

    A respeito do status quaestionis, ou seja, dos estudos e reflexões teológico-pastorais já realizados acerca dessa temática, pode ser encontrada, no contexto europeu, uma vasta bibliografia.² No Brasil, entretanto, apesar de diversas publicações sobre o ministério presbiteral, não há pesquisas que tratam especificamente sobre o Decreto PO.

    Dentre os diversos autores que refletem sobre essa temática e que nos servirão de auxílio em nossa pesquisa, destacamos os seguintes: Castellucci, que defende que a recuperação da dimensão comunitária do ministério presbiteral é uma das grandes contribuições do Concílio Vaticano II, além de apresentar, com riqueza de detalhes, o processo de redação do decreto em questão e sublinhar a necessidade da integração do tríplice múnus no exercício do ministério e a imprescindível compreensão eclesiológica e missionária do presbiterado; Favale, que contribui com a reflexão sobre essa temática a partir de sua organização sobre a gênese histórico-doutrinal do Decreto PO e os estudos sobre a identidade teológica e a espiritualidade do presbítero; Rodríguez, que defende que a dimensão comunional do ministério presbiteral é fundamentada, biblicamente, no mandamento do amor fraterno instituído por Cristo (cf. Jo 13,34-35) e no modo de viver das primeiras comunidades cristãs; Bertola, o qual reflete sobre a fraternidade presbiteral a partir do grupo dos doze apóstolos e aponta que a vida fraterna deve levar em consideração os aspectos existenciais, que auxiliam na maturidade humana e na abertura aos outros; e ainda Fabene, para quem o Conselho Presbiteral e o Conselho de Pastoral são sinais de comunhão entre os presbíteros e os cristãos leigos.

    Também oferecem uma valiosa contribuição à nossa temática os trabalhos de sistematização, organização e comentários realizados por Caprile e Kloppenburg em relação a todo o processo de redação dos documentos conciliares. Esses autores reúnem, em suas obras, as intervenções dos padres conciliares, apresentam detalhes sobre as sessões do Concílio Vaticano II e, assim, nos ajudam a compreender a progressão das reflexões conciliares, com seus avanços e retrocessos, sobre cada um dos esquemas de redação que culminaram na aprovação do Decreto PO.

    Para refletir sobre a dimensão comunitária do ministério presbiteral à luz do Decreto PO nos n. 7, 8 e 9, organizamos nosso trabalho em um trajeto que visa: aprofundar a compreensão do ministério presbiteral presente no Decreto PO, a partir da história de sua redação e de seus novos paradigmas; compreender a dimensão teológica do ministério presbiteral, tendo Cristo como modelo e paradigma para o agir do presbítero; e, por fim, ressignificar as relações do presbítero com o bispo, com os outros presbíteros e com os cristãos leigos sob a ótica do Decreto PO.

    Para tanto, nosso trabalho está articulado da seguinte forma: no primeiro capítulo, apresentaremos a gênese histórica do Decreto PO, desde o processo de preparação do Concílio Vaticano II e as primeiras contribuições recebidas pela comissão de redação, até os debates conciliares – com as muitas intervenções dos padres conciliares –, e sua revisão final e aprovação. Veremos que, como consequência de todo o processo redacional, esse decreto provocou algumas mudanças em relação ao modo de conceber o ministério, como: em vez de se usar o termo alter Christus, prefere-se o termo in persona Christi; ao invés de enfatizar a dupla potestas, prioriza-se o tríplice múnus; de uma visão cultual-sacerdotal, passa-se a uma perspectiva missionário-presbiteral do ministério. Tais direcionamentos sinalizam, assim, para uma concepção do presbítero a partir de uma dimensão mais eclesiológica e comunional, como membro de um presbitério e inserido em uma Igreja particular. Contudo, destacaremos que também há limitações e críticas ao Decreto em relação à sua terminologia, à falta de aprofundamento de alguns temas e, ainda, ao uso inadequado de textos bíblicos.

    No segundo capítulo, versaremos sobre a compreensão teológico-eclesial do ministério presbiteral, enfatizando temas que são tratados direta ou indiretamente pelo Decreto PO e que nos oferecem uma base teológica para compreendermos melhor a dimensão relacional na qual o presbítero está inserido. Para tanto, do ponto de vista bíblico, abordaremos o grupo dos doze apóstolos, o ministério dos presbíteros-epíscopos nas primeiras comunidades cristãs e o sacerdócio de Cristo na carta aos Hebreus; teologicamente, ressaltaremos a dimensão cristológico-trinitária e eclesiológica do ministério presbiteral; e, no tocante à espiritualidade, apresentaremos como o exercício do ministério é um caminho para a santidade, como a caridade pastoral unifica as ações dos presbíteros e, por fim, ressaltaremos alguns meios que favorecem a vida espiritual.

    Essa perspectiva nos oferecerá a fundamentação teológica para abordar, no último capítulo, a dimensão relacional do ministério presbiteral. Baseando-nos em cada um dos três números de PO que norteiam nossa pesquisa, trataremos sobre o relacionamento dos presbíteros com o bispo, dos presbíteros entre si, e deles com os cristãos leigos. Em relação ao primeiro aspecto, refletiremos a respeito dos presbíteros enquanto cooperadores da ordem episcopal, da concelebração, do Conselho Presbiteral e também da relação fraterna que deve haver entre eles; acerca do relacionamento dos presbíteros entre si, sublinharemos que a fraternidade que os une é de caráter sacramental, manifestando-se no presbitério e também na imposição das mãos realizada na ordenação sacramental, e concretizando-se na vida comum e nas associações de presbíteros; no que tange ao relacionamento com os cristãos leigos, destacaremos que os presbíteros são, para eles, pais e mestres, mas, com eles, são irmãos entre os irmãos e, por isso, devem reconhecer a dignidade batismal dos cristãos leigos, assumindo que eles são corresponsáveis na missão evangelizadora da Igreja, e dispensando cuidado e atenção também para com os cristãos afastados e os não cristãos.

    O método que utilizamos aqui é o da hermenêutica teológico-pastoral, com enfoque na pesquisa bibliográfica e histórico-documental. Ou seja, a partir das reflexões conciliares sobre o ministério presbiteral, interpretaremos os dados aprovados e publicados em PO. Para isso, nos serviremos das atas e dos documentos do Concílio Vaticano II, de textos do magistério eclesiástico, além das teorizações de diversos autores a respeito da temática.

    Conscientes de que nenhuma pesquisa é completa no sentido de esgotar as possibilidades de estudos sobre determinado tema, apontamos alguns limites em relação ao recorte específico que fizemos para este trabalho. Primeiramente, esclarecemos que nosso objetivo não é abordar o sacramento da ordem em seus três graus – episcopado, presbiterado e diaconado –, mas somente os aspectos referentes ao ministério e à vida dos presbíteros. No entanto, teologicamente, não é possível compreender o ministério presbiteral sem sua referência e comunhão com o bispo, pois ambos estão unidos no mesmo e único sacerdócio e ministério de Cristo, e os presbíteros são cooperadores da ordem episcopal em grau subordinado. Por isso, diversas vezes faremos referência ao bispo, contudo, sem a pretensão de apresentar uma teologia do episcopado, mas com o propósito de sublinhar os aspectos teológico-pastorais em relação à comunhão com os presbíteros apresentados em PO 7. Em relação aos diáconos, eles estão, teologicamente, a serviço do bispo, e não dos presbíteros; e mesmo que, pastoralmente, eles exerçam seu ministério junto aos presbíteros, não serão objeto de estudo e reflexão nesta pesquisa, visto que PO não trata sobre essa temática.

    Outro aspecto relevante é que não abordaremos todos os temas do Decreto PO, mas somente os aspectos relacionados à dimensão comunitária tratada nos n. 7, 8 e 9. No entanto, conscientes de que a dimensão comunitária não está desligada ou desvinculada das outras dimensões que compõem a vida do presbítero, por algumas vezes, recorreremos a outros números do mesmo Decreto – bem como a outros textos do Concílio Vaticano II –, não com o propósito de apresentá-los de forma aprofundada, mas, sim, de contextualizar o pensamento conciliar e enfatizar aquilo que é o objetivo de nossa pesquisa.

    Enfim, esperamos que essas reflexões contribuam para que os presbíteros compreendam mais e melhor sua imprescindível relação, cooperação e unidade com o bispo; redescubram que a íntima fraternidade que os une possui caráter sacramental, sendo, portanto, inerente ao sacramento da ordem, e cujo testemunho no presbitério não é fruto de uma escolha pessoal, mas elemento constitutivo do sacramento recebido; e que, na comunidade eclesial, os presbíteros possam ser verdadeiramente sinais de unidade e de comunhão com os cristãos leigos, valorizando-os e incentivando-os a assumirem sua missão na Igreja.

    1.

    O DECRETO PRESBYTERORUM ORDINIS E OS NOVOS PARADIGMAS DO PRESBITERADO

    Neste primeiro capítulo, nosso objetivo é apresentar o percurso conciliar do processo de redação do Decreto PO – marcado por muitas intervenções orais e escritas – e o modo como, progressivamente, o tema desse Decreto foi amadurecendo entre os padres conciliares, a ponto de provocar novos paradigmas – ou recuperar compreensões existentes nos primeiros séculos do cristianismo – na concepção teológica sobre o ministério e a vida dos presbíteros.

    Para melhor compreendermos o processo de redação de PO, é importante destacar que o tema sobre o presbiterado já havia sido tratado pelo Concílio Vaticano II na Constituição Lumen gentium (LG). Por isso, a elaboração desse Decreto – com os seus diversos esquemas, ou seja, as versões preliminares que foram feitas até que se chegasse ao texto final – reflete e amadurece a teologia do presbiterado, tendo presentes os princípios teológicos já apresentados na LG.

    Em relação ao modelo paradigmático adotado pelo Concílio Vaticano II, destacamos: o uso da terminologia in persona Christi ao invés do termo alter Christus; a compreensão de que o tríplice múnus é inerente ao sacramento da ordem, superando, assim, a concepção de dupla potestas; e a predominância da perspectiva missionário-comunitária no lugar da visão cultual-sacerdotal. Tais mudanças apontam para um novo modelo de presbítero, no qual se ressaltam a perspectiva da comunhão e a valorização dos múnus de ensinar, santificar e governar.

    Por fim, apresentaremos alguns limites contidos neste decreto, pois, seja pela falta de tempo durante as sessões conciliares, ou – talvez a razão mais provável – porque o Concílio tenha se concentrado com maior ênfase na reflexão sobre a teologia do episcopado e não tenha dedicado atenção suficiente à teologia do presbiterado, há críticas em relação à terminologia, ao conteúdo e ao modo como certos temas são tratados em PO.

    1.1. Gênese histórica do Decreto Presbyterorum ordinis

    O Concílio Vaticano II, inicialmente, não pretendia apresentar um documento específico sobre o ministério e a vida presbiteral. Um dos motivos que o levou a dedicar um Decreto exclusivo aos presbíteros foi a percepção de que a compreensão doutrinal acerca do ministério presbiteral, vigente até então, não mais correspondia aos novos ensinamentos conciliares a respeito da Igreja, dos bispos e dos cristãos leigos. No contexto conciliar, as reflexões apontavam a Igreja não somente como o Corpo de Cristo, mas também como Povo de Deus; os bispos não eram vistos apenas como representantes do papa, mas como um colégio episcopal, dotados da plenitude do sacramento da ordem; os cristãos leigos não mais eram compreendidos como uma parte passiva da Igreja, mas como batizados que participam do sacerdócio real e da missão eclesial.³

    Por isso, à medida que amadureciam as reflexões da Constituição LG sobre a Igreja e sobre o episcopado, tornava-se também cada vez mais evidente aos padres conciliares que o Vaticano II não poderia deixar de refletir sobre a questão do presbiterado. Além dos motivos apontados anteriormente, o modelo cultual do sacerdote, predominante no segundo milênio, não correspondia ao modelo missionário que o Concílio estava descobrindo, pois este destacava a missionariedade de toda a Igreja – revalorizando os cristãos leigos – e a dimensão missionária dos bispos, enfatizando a sacramentalidade, a colegialidade e superando uma visão puramente administrativa e burocrática que predominara durante séculos. Assim, uma vez que o presbítero, compreendido apenas sob o aspecto cultual, não correspondia à nova concepção eclesiológica, foi em março de 1963, enquanto se elaborava o segundo esquema da LG, que se decidiu por escrever um texto específico sobre os presbíteros.

    Em relação ao modo de apresentar a história do Decreto PO, é possível distingui-la em três etapas sucessivas: a primeira se estende dos trabalhos preparatórios até à elaboração das 12 proposições do esquema De vita et ministerio

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