Comportamentos Homônimos
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Comportamentos Homônimos - Ana Luiza Alves
O MUNDO VISTO PELOS OLHOS DE
UMA CRIANÇA.
Quando eu era pequena tudo era
muito grande e duvidoso, os dias
eram incertos, o futuro era muito
longe, tão longe que não se
conseguia imaginar onde ele
ficava, só se ouvia falar, planos não
se tinha, viver um dia após outro já
estava bom, ás vezes eu me punha
a imaginar como seria quando eu
estivesse grande ,seria bonita? Iria
me transformar muito?Como eu
conseguiria sair sozinha? Andar
sozinha na rua, sem o risco de ser
roubada, eu iria trabalhar em quê?
E quando todo mundo morresse,
será que eu ficaria viva? Quem
morreria primeiro? Como eu agiria
quando esse dia chegasse, se
alguém da minha casa morresse?
Eu tinha muito medo da morte dos
meus familiares, quanto a mim
nunca tive medo, já que eu era tão
doente quando era pequena, que
me obrigava a me acostumar com
a morte constantemente, não tinha
medo, pois não tinha planos, a vida
apenas estava se iniciando, e se eu
tivesse de partir não faria muita
diferença, eu só tinha muito medo
de ficar sozinha.
Eu
era
muito
observadora,
observava ao máximo o que eu
pudesse ,pessoas ,lugares, animais
,muito curiosa e ao mesmo tempo
discreta. Eu percebia muitas coisas,
e uma das coisas que mais me
chamava a atenção sempre foi o
céu, como eu gostava de olhar o
céu, admirá-lo, vigiava as nuvens
acinzentadas na qual pudesse ter a
chance de se transformar em
arroxeadas para negras, pois morria
de medo de tempestades, isso
incluía
ventos,
relâmpagos
e
trovoadas, sempre tive muito temor
dos ventos, quando acontecia de
eu ver as manhãs se transformarem
em noites eu ficava apavorada,
chorava muito, rezava e pedia a
Deus para aquilo melhorar logo,
quando eu via as luzes da rua se
acenderem aí eu tinha a certeza
que o mundo estava prestes a
acabar, na minha cabeça um
homem
era
responsável
por
acender aquelas lâmpadas, esse
homem sabia mais que todo
mundo, dessa forma ele sabia que
o pior pudesse acontecer, só depois
na fase adulta que eu descobri que
as luzes dos postes tem um
dispositivo que acendem devido a
falta de luminosidade do dia, de
acordo com que vai escurecendo
automaticamente elas vão se
acendendo, então o homem que
sabia mais que todo mundo não
existia, de certa forma fiquei
aliviada e frustrada ao mesmo
tempo, pois o que sempre acreditei
nunca existiu. Porque ninguém
nunca me explicou isso, talvez eu
teria sofrido menos, mais também
como eu nunca falei a respeito
desse
"
homem",
ninguém
adivinharia o que eu estava
pensando.
Como as nuvens ganhavam
formas, eu morava de frente para
uma grande mata que hoje em dia
não existe mais, no qual eu
admirava as suas árvores, me
imaginava
caminhando
por
aquelas pequenas trilhas, sempre
achei que ali tinha onça e a
qualquer momento eu fosse ver
uma delas passeando, nunca as vi,
se existia eu nunca soube,na
primavera a mata ficava linda com
seus franboyans lilás e rosas
maravilhosos, logo eu sabia que a
primavera estava para chegar pois
tudo ficava lindo e florido, mais de
tanto eu ouvir que o mês de agosto
ventava muito,tomei uma certa
ojeriza por esse mês,e até hoje eu
não gosto, apesar de dizerem que
agosto é o mês do desgosto, e de
certa forma parece que sim, pelo
menos para mim, esse mês
geralmente
é
pesado
com
problemas familiares, coisas que
não desenrolam, mais quando eu
era criança esse mês representava
o mês onde mais haveria de ouvir
aqueles barulhos ensurdecedores
de mato se quebrando com fortes
ventos. Antigamente o dia era
muito longo, os meses custavam
demais para acabar, os anos se
arrastavam, um ano parecia uma
eternidade, as férias escolares de
final de ano eram 3 meses, o natal
demorava demais para chegar, e
ainda contando com a ansiedade
para a chegada do Papai Noel,
demorava mais ainda, na véspera
de natal eu acreditava tanto que
ele me visitaria, que eu escutava os
passos dele dentro de casa
colocando o meu presente aos pés
da minha cama, eu cobria a
cabeça
para
que
ele
não
imaginasse
que
eu
estava
escutando e se arrependesse de
colocar o meu presente ali, sem
contar que apesar de saber que
Papai Noel era uma pessoa boa eu
tinha medo de vê-lo com medo da
minha emoção,eu imaginava,como
olhar para um homem estranho?
Gordo? Que vive na neve? Que
voa, e eu nem sei se ele é morto e é
alma, ou se ele não morre nunca, é
imortal, eu tinha medo do quê os
meus olhos pudessem ver. Quando
amanhecia o dia e eu me
deparava com o meu presente
ficava encantada, num estado de
felicidade tremendo, os Natais na
minha casa eram muito animados,
iam meus primos com filhos e
maridos, tocava música a noite
toda, meu padrasto matava porco,
tinha muita comida e muita bebida,
a vizinhança adorava a minha
casa. Quando eu descobri que
Papai Noel não existia, foi mais uma
decepção, então os barulhos que
eu ouvia na madrugada, ou eram
meus pais, ou imaginação da
minha cabeça,mais que eu ouvia
eu ouvia, inclusive até o barulho das
botas no cimento vermelho eu
escutava, uma vez cheguei a ver
pegadas no chão da sala, como
assim??? Então comecei a imaginar
como os adultos mentem, e não
deveriam
fazer
isso,
pois
desmoronam os nossos castelos de
sonhos.
Eu morava num terreno muito
grande, havia vários animais, eu
tinha 3 jabutis e uma galinha que eu
alimentava tanto que acabou
morrendo de gordura, haviam
porcos,
cachorros,
pombos
passarinhos mais de 30 presos nas
gaiolas, no qual desde pequena
nunca concordei de deixá-los
presos, já que eram tão lindos, tudo
acontecia naquele quintal, havia
várias árvores no qual com o tempo
eu
subia
em
quase
todas,
abacateiro, mangueira, limoeiro,
goiabeira, jaqueira essa eu não
subia, pé de paina e grumixama na
porta da cozinha, essa árvore era a
minha
Preferida, lotava no mês de
setembro de uma frutinha preta
mais doce que a jabuticaba, já que
são primas, quando eu aprontava e
queria correr para a minha mãe
não me bater eu subia para essa
árvore eu ficava acima da casa,
quantas vezes eu via a minha mãe
passar danada da vida atrás de
mim e não me achava, eu a olhava
lá de cima, quando ela se ocupava
eu descia e me mandava para
brincar com minhas primas que
moravam do lado da minha casa,
eu era filha única até os meus 7
anos de idade, na maioria das
vezes brincava sozinha, a minha tia
tinha 7 filhos , todas tinham essa
média de filhos, 7 e 8 filhos, eu
sempre achava muito, já que não
tinham condições nenhuma, pois
eram pobres e muita das vezes não
tinham nem o quê comer, da
vizinhança da época a única que
comia o que queria era eu, e tinha
os brinquedos que eu queria,
enquanto as crianças brincavam
com coisas, os meninos não tinham
um carrinho, as meninas nem uma
boneca e quando uma delas
ganhava
alguma,
as
outras
estragavam e continuavam sem
nada, mais eu gostava muito
daquele movimento de casa cheia,
aquele rebuliço, aquele cheiro de
pobreza extrema, a hora da
comida as panelas vazias e a minha
tia no canto abaixada chorando,
eu não entendia porquê ela
chorava tanto, com o tempo eu
percebi que era a necessidade que
o meu tio a fazia passar, e as
mulheres que ele arrumava na rua,
naquela época os homens eram
muitos machistas e proviam o
sustento da família, uns mal e
porcamente,eu gostava daquela
vida que não era a minha, muitas
das vezes comia com eles sentada
no chão, café ralo com açúcar e
farinha misturados num copo, isso
era o café da manhã, eu achava
muito gostoso, porquê para mim era
mais para eu me igualar com eles, e
ser novidade para mim,mais para
eles era essencial, eu tinha uma
outra vizinha muito boa que
também tinha 8 filhos e eu era muito
amiga da filha mais velha dela que
era da minha idade, mais ou menos
uns 10 anos, a mãe dessas crianças
recebia da LBV isso antes dos anos
80, mais ou menos 1977, 1978,
macarrão e leite lata de 5 kg, todo
mês ela ia pegar, a alimentação
deles no geral todo dia era angu,
no fogo de lenha do lado de fora,
ela sentava num monte de pedras
na porta da cozinha com a gente e
colocava leite em pó na latinha
para todo mundo, e eu também, e
nos divertíamos muito, riamos muito,
eu olhava aquele macarrão no
qual eu nunca gostei, pois era
grosso e furado no qual em casa eu
usei
como
canudo
quando
machuquei