Diálogos Satânicos
By Paulo Lucas
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Diálogos Satânicos - Paulo Lucas
Dedicatória
Dedico este livro a minha Amada companheira de todos os momentos da vida: Cida Ribeiro. Realmente uma mulher amorosa e compreensiva. Pois ela tem muita paciência com minhas esquisitices.
Eu a amo de todo o meu coração.
Capítulo 1
Mauricio estava totalmente imerso no texto que digitava em seu terminal de computador. Tinha que terminar a matéria para que fosse impressa no jornal de amanhã. Seus dedos se moviam rapidamente no teclado. Era um exímio digitador, os caracteres surgiam como passe de mágica no editor de texto. Fazendo uma ligeira pausa no que estava fazendo, sua mão direita foi ávida para o bolso da camisa social em busca de um cigarro. Estava louco por uma tragada.
Sandra riu gostosamente e olhou para o colega de trabalho. Era uma morena linda com os cabelos curtos e cacheados. Vestia uma camiseta e uma calça jeans azul que realçava as curvas generosas.
— Eu não te disse que você não ia aguentar? Quer um cigarro? — ela zombou.
— Não. Eu tô parando mesmo — Mauricio disse com firmeza, mas todo o seu corpo gritava pela merda de um cigarro. Devolveu um olhar irritado para Sandra.
— Se caso começar a tremer as mãos é só pedir um. Dizem que a abstinência pode causar taquicardia...
— Porra Sandra, dá um tempo!
Sem demonstrar chateação com a irritação do colega, Sandra disse. — Ai que merda! Parece que a Alice tá fazendo falta mesmo, não é?
Mauricio desviou o olhar da tela do computador. Os olhos dele chispavam fogo de raiva quando encarou Sandra.
— Mais que saco eim? Hoje você tirou o dia pra me chutar às bolas mesmo, não é? Você não tem nada pra fazer não? Se não tem, vai procurar alguma coisa pra fazer.
Sorrindo o tempo todo, Sandra se inclinou junto à mesa dele. — Eu vou, mas antes você tem que prometer que vai jantar comigo. Que tal? A gente pode ir depois do trabalho.
— Não sei não. Acho que vou pensar — disse ele ainda meio irritado. O nervosismo era mais pela vontade de fumar do que outra coisa.
Sandra ficou séria. — Eu sei que não é da minha conta, Mau, mas você tem que se divertir um pouco. Sei que uma separação não é fácil. Você sabe que eu já passei por isso. Eu sei do que tô falando. Quando o Pedro me deixou por causa daquela lambisgóia, eu fiquei arrasada. Achei que o meu mundo tinha acabado. No fim a gente sempre supera.
Mauricio se virou totalmente para ela. Parecia mais calmo agora. — Aquela doida me deixou com um vazio aqui dentro, — ele colocou a mão no peito — não sei se vou sair dessa.
Sandra colocou a mão no ombro do amigo. — Você vai sair dessa com certeza. Eu estava nessa aí, mas acabei descobrindo que há vida depois da separação.
O redator-chefe Antônio Almeida se aproximou dos dois. Usava uma camisa social azul clara com gravata vermelha, sua calça cinza era muito bem passada e com vincos. O homem gostava de se vestir com esmero. Antônio era um homem de baixa estatura. Tinha uma compleição atarracada com um ventre ligeiramente avantajado. Possuía braços fortes, talvez de trabalhos braçais anteriores. Viera de Alagoas ainda muito jovem, e ralara muito para chegar onde estava agora. Trabalhando de dia e estudando a noite, conseguira se formar em jornalismo. Entrou no jornal e depois de alguns anos chegara a redator-chefe de o Notícia do Dia
. O Notícia era um dos mais importantes jornais de Campinas, com expressiva tiragem diária. O grupo que o controlava também possuía uma emissora de TV na cidade. O redator era um homem extrovertido e muito querido pelos seus subordinados. Era diferente dos chefes ranzinzas que causavam azia nas pessoas. Antônio era padrinho de batizado do menino de Sandra, e o adorava como se fosse seu próprio filho.
— E aí Mau? Como tá a matéria sobre a casa assombrada do Campos Elíseos?
Mauricio coçou uma das sobrancelhas. — Estou quase acabando Toni. Já estou nos últimos parágrafos.
Antônio que para os mais chegados era o Toni, deu uma risadinha. — Você tá com uma cara danada hoje, eim? Que bicho te mordeu, cara?
— O Mau tá doido pra dá uma tragada num cigarro, Toni — Sandra explicou sorrindo.
Tôni arqueou as sobrancelhas e se virou para Sandra. — Ele não disse que ia parar?
— Ele disse. Mas você sabe como é.
— É. É foda mesmo. No começo a gente fica na unha do carcará — Toni disse pensativamente. — E a matéria sobre o tal do Paulão do bairro Santa Lúcia? O cara atirou naquela gente do bar mesmo?
Isso era com Sandra que cobria as matérias policiais da cidade.
— Eu passei a manhã toda no bairro Santa Lúcia entrevistando as pessoas e coletando dados para a matéria. O pessoal disse que o Paulão era um usuário de farinha e muito encrenqueiro. Disseram que ele arrumava uma briga quase todos os dias. Era um tipo valentão que andava armado. Parece que tinha uma treta com o Juca do bar por causa de uma mulata.
— E ele tentou resolver essa treta atirando na turma que tava tomando uma no bar? — Mauricio perguntou.
— Foi assim mesmo. Parece que a mulata tinha passado um tempo com o Juca dono bar. Depois que conheceu o Paulão, ela decidiu deixar o Juca por ele. Parece que o Juca tava ameaçando o Paulão já algum tempo. O homem resolveu tirar isso a limpo antes que a coisa ficasse pior. Aí resolveu sapecar não só o Juca, como todo mundo que tava dentro do boteco — Sandra explicou.
— Ótimo. Isso realmente é muito bom. Eu quero a matéria na segunda página e com destaque. O Bira tirou alguma foto boa dos presuntos lá no boteco? — os olhos de Toni brilharam. Ele adorava essas matérias de matança, isso fazia o jornal vender bastante.
— Tem uma braçada pra você escolher Toni.
— Tem alguma do tal do Juca cheio de azeitona?
Sandra riu da morbidez do chefe. Para ela tinha sido horrível ver as dantescas cenas daquelas pessoas mortas dentro do botequim. O Paulão tinha sapecado meio-mundo com uma pistola 380.
— O Bira tirou uma muito boa do sujeito caído perto da mesa de bilhar.
— Então vai ser essa mesmo. Ela vai dar destaque à matéria.
Toni se voltou para Mauricio. — E a tal da casa, Mau? Era realmente assombrada?
Mauricio ajeitou a postura na cadeira. — Pelo o que pude apurar até agora, parece que os moradores começaram ver umas sombras escuras passando pelos cômodos à noite. Ruídos como que de corrente se arrastando são ouvidos constantemente, como também vozes chamando. A dona da casa quase teve um ataque quando algo a apertou contra o colchão durante o sono. Segundo o que ela me falou, era como se uma pessoa tivesse subido em cima dela, chegando a quase fazer o estrado da cama se quebrar. O marido acordou com os terríveis gritos dela.
— Nossa que coisa terrível! Olha aqui gente, tô toda arrepiada — Sandra esticou um dos braços.
Maurício continuou. — O casal andou chamando uns pastores pra benzer a casa.
— Benzer não Mau. Os evangélicos não dizem benzer, eles dizem orar. — Toni acrescentou. — Vê se coloca orar e não benzer na matéria. Está bem?
— Que seja Toni. Pra mim tanto faz se é benzer, orar ou que merda que seja. Eu não acredito nessas baboseiras de espíritos desencarnados, almas ou extraterrestres. Acho tudo isso uma tremenda duma baboseira. Essa gente enche a barriga de churrasco e cerveja, depois fica dizendo que tá vendo coisa.
— Eu acho que devem existir essas coisas, Mau. Você sabe que a literatura mostra muitos casos que a ciência não consegue explicar até hoje. Você deve ter ouvido falar do caso daquela alemã que ficou endemoniada... Como é mesmo nome dela Toni? — Sandra encarou Toni.
— Annealiase... Eu acho que era Annealiase Michel. É isso mesmo, ela se chamava Annealiase Michel. Fizeram