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O Nascimento Virginal
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O Nascimento Virginal

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About this ebook

O dogma do nascimento virginal é defendido por cristãos no mundo todo como sendo um dado histórico ocorrido na Palestina há cerca de 2 mil anos, conforme tem sido crido pela Igreja desde então. Este livro traz uma abordagem crítica para mostrar que o relato evangelístico foi um desenvolvimento teológico, e não um dado histórico, com o claro objetivo de preencher lacunas cristológicas que surgiram no início da comunidade cristã. Passando por vários tópicos relacionados, Galvão mostra como o nascimento virginal de Cristo se relaciona com a imagem mitológica arquetípica dos nascimentos milagrosos de deuses, semideuses e heróis da antiguidade.
LanguagePortuguês
Release dateDec 17, 2014
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    O Nascimento Virginal - Eduardo G. Junior

    Agradecimentos

    Tenho uma enorme dívida de gratidão para com vários amigos e leitores que me ajudaram, de uma forma ou de outra, para a realização deste projeto. Agradeço a Odailson Cavalcante pelas críticas construtivas na leitura do original. Um leitor, em especial, que sempre me apoiou e incentivou desde quando comecei a escrever em um pequeno espaço na internet, Leandro Paz, muito obrigado. Acima de tudo, agradeço as centenas de pesquisadores que, muito antes de eu nascer, já se debruçavam sobre o estudo do assunto e em cujos trabalhos tenho buscado compreender a evolução da religião cristã.

    A todos, meus sinceros agradecimentos.

    Nota ao Leitor

    Gostaria de fazer algumas observações para auxiliá-los durante a leitura. Apesar de intencionar alcançar a todos, tanto acadêmicos, como leigos, nem sempre isso é uma tarefa fácil. Busquei evitar ao máximo que pude termos técnicos do campo da Teologia e, quando não foi possível, expliquei em notas de nota pé seus respectivos significados, não sendo seus futuros usos explicados novamente. Como busquei ser detalhado em muitas ponderações, alguns leitores podem considera algumas partes um tanto chatas, por serem de interesse acadêmico. Por esse motivo, em cada um dos capítulos faço uma conclusão específica, e mostro como ela se encaixa neste quebra-cabeça cristológico. Nessa conclusão, o leitor terá um resumo do que foi visto, juntamente com suas respectivas implicações, com base nos dados obtidos até o momento. Assim, alguns leitores podem achar útil pular algumas partes que julguem por demais tediosas devido à complexidade e irem diretamente para a conclusão do capítulo.

    Na tentativa de limpar mais o texto, não coloquei referências dentro do corpo, como é comum em textos acadêmicos, mas desloquei-os para as margens em notas de rodapé que servirão para apontar de onde foi extraída a citação direta, indireta, ou assertiva, bem como explicar uma palavra, ou ampliar uma ideia. Nas notas, será citado apenas o nome do autor e do livro com a página, ao passo que na bibliografia final, haverá todas as informações sobre a obra.

    Metodologia

    Algo que fiz questão de fazer neste livro é exatamente aquilo que mais falta em livros de apologética cristã. Tome, como exemplo, o livro Em Defensa da Fé,¹ de Lee Strobel e Evidências da Ressurreição,² de Josh e Sean McDowell. Em ambos, todas as referências giram em torno de cristãos conservadores apologistas,³ feitas com o objetivo de impressionar o leitor incauto e convencê-lo do assunto ao qual se propõem defender.

    Todas as autoridades que aparecem nestas duas obras são cristãs, evangélicos na maior parte, comprometidos com a fé que exercem, usando de seus respectivos títulos acadêmicos para dar crédito ao Cristianismo como verdade absoluta. Em praticamente nenhum momento nestes dois exemplos é mostrado o outro lado da moeda,⁴ ou seja, o que dizem os teólogos liberais, os críticos, os historiadores e outros acadêmicos seculares de áreas de conhecimento relacionadas. Chamo isso de argumento redundante. Claro que não há qualquer problema em um especialista cristão citar outro cristão, afinal, se alguém está defendendo algo que acredita, se espera que ele cite outros que creem na mesma coisa. O problema está em estreitar a visão do leitor ao fornecê-lo a posição de apenas um lado do debate.⁵ Se um escritor cristão busca provar que Jesus ressuscitou historicamente dentre os mortos, por que não citar historiadores ao invés de teólogos? Isso além de ser possível, demonstra que o autor quer passar uma ideia equilibrada para seu leitor. No livro Did Jesus Exist?, Bart D. Ehrman aborda e cita cada um dos principais eruditos que afirmam que Jesus nunca existiu e no final discorre rebatendo cada uma das alegações, provando a realidade histórica da pessoa de Jesus de Nazaré. A sensação que temos é que acabamos de ler tudo que atualmente é dito sobre o assunto, assim como, no final, a posição do autor, cabendo ao leitor aceitá-la ou não.

    O problema do argumento redundante poderia também ocorrer se, no presente livro, só citasse críticos do Cristianismo, teólogos liberais como Bart D. Ehrman, e miticistas como Robert M. Price, Earl Doherty, Richard Carrier, pois estaria cometendo exatamente o mesmo erro comumente encontrado nos livros de apologética cristã.

    Mais uma vez, não quero dizer com isso que não podemos citar autoridades da mesma linha a qual estamos inseridos, mas é bem mais honesto da nossa parte quando oferecemos aos nossos leitores o que nossos críticos dizem, mostrando o porquê discordamos deles e deixando que estes decidam em quê acreditar ao compararem as duas linhas argumentativas. Assim, ao máximo que foi possível, objetivei provar meu ponto citando, em sua maioria, obras de erudição cristãs conservadoras nos tópicos relacionados, citando a própria literatura cristã evangélica e católica para esclarecer meu argumento. A melhor forma de demonstrar a honestidade e exatidão dos nossos argumentos é quando fazemos uso da literatura dos nossos próprios opositores para provar o nosso pensamento.

    Entender a religião é algo que mexe com uma diversidade de saberes humanos, seja a Ciência das Religiões, Sociologia, Psicologia, Antropologia, História, Filosofia ou Teologia, sendo todas partes integrantes de um corpo que nos ajuda e forma um esboço mental do desenvolvimento da espiritualidade humana. A própria mitologia é uma matéria interdisciplinar. Desta forma, precisamos ouvir cada área, pois todas têm muito a dizer sobre o fenômeno religioso. O problema é que, na maioria das vezes, os fundamentalistas religiosos ouvem apenas a Teologia como resposta final a tudo.

    Será que permitiríamos que um oftalmologista fizesse uma cirurgia em nosso coração e um cardiologista em nossos olhos, pelo simples fato de que ambos são formados em medicina? É claro que não, pois cada qual deve atuar em sua própria área de especialidade. Da mesma forma, boa parte dos apologistas que dizem que os dogmas do Cristianismo são únicos, que não possuem paralelos com os mitos, que nunca foram influenciados pelas religiões ao seu redor, que colocam o Judaísmo antigo e o Cristianismo como religiões superiores, são pessoas com formação no campo da Teologia, não sendo especialistas nos assuntos aos quais pertencem o mito, as lendas e o folclore.

    Tome, como exemplo, James P. Holding, estrela evangélica da internet, sendo um dos mais lidos em inglês quando se trata de refutar a ideia de que o Cristianismo foi influenciado por mitos. Embora tendo escrito tanto sobre o assunto e buscado avidamente desacreditar acadêmicos especialistas em História antiga, classicistas, sua única credencial é ser mestre em Biblioteconomia.⁶ Embora não sendo autoridade neste campo, Holding chega a escrever um inteiro artigo onde chama Joseph Campbell, umas das maiores autoridades no tema da mitologia, como sendo desatualizado, irrelevante e petulante.⁷

    Para os de fora dos círculos acadêmicos, basta uma breve pesquisa para conferir que Campbell foi uma das maiores autoridades em mitologia do século XX, sendo que muito que sabemos hoje sobre as religiões ditas pagãs veio pelo seu trabalho de campo e extensas pesquisas. É exatamente esta pessoa que é retratada por teólogos conversadores com sendo alguém indigno de créditos. Interessante que muitos outros teólogos cristãos conservadores aceitam sem questionar as conclusões de Campell sobre outros assuntos não relacionados ao Cristianismo, mas, quando toca neste ponto, tudo que ele diz é desconsiderado e isto, é claro, ocorre pelo simples fato de que esses teólogos conservadores estão fazendo o que se espera que façam, conservar as mesmas ideias de dois mil anos atrás.

    Portanto, é importante olharmos várias áreas conforme expressas por eruditos destes respectivos campos do saber, ao invés de aceitar apenas a palavra de teólogos cristãos e, assim, nos fecharmos para o restante. Historicamente, a Teologia não é a Mãe das ciências e, sim, a Filosofia, e mesmo esta última já teve seu cordão umbilical cortado da união com suas filhas, podendo elas mesmas andar com suas próprias pernas.

    Introdução

    O que vocês pensam a respeito do Cristo? De quem ele é filho?

    (Mateus 22:42 NVI)

    F

    alar sobre a pessoa de Jesus não é fácil. Muito provavelmente ficaríamos estupefatos com o inteiro volume de literatura que já foi escrito sobre sua pessoa, incluindo seu nascimento. Podemos observar através da citação acima, do evangelho de Mateus, que o interesse pela identificação da pessoa e filiação de Cristo era algo fomentado por ele mesmo, e entender sua natureza está nitidamente entrelaçado com a compreensão do seu nascimento, sendo este último o objetivo deste livro.

    Em outra ocasião, Jesus indagou aos discípulos: Quem os outros dizem que o Filho do Homem é?⁸ e, em seguida, seus ouvintes dão várias opiniões sobre quem seria ele. Se esta mesma pergunta fosse feita hoje, obteríamos também várias respostas, com certeza bem mais do que foram dadas no primeiro século EC.⁹ Uns diriam que ele era Deus encarnado, outros que era apenas o filho de Deus e outros ainda que era apenas um profeta.¹⁰

    Quando Jesus anunciou ser ‘Filho de Deus’ e ter ‘descido do céu’, seus opositores diziam: ‘este não é Jesus, filho de José e Maria, como pode então dizer que desceu do céu?’ Assim, fica claro que a forma como Jesus veio ao mundo desempenha um papel importante na compreensão da Cristologia.¹¹

    No geral, as pessoas têm uma visão sincrônica da figura de Jesus, e se esquecem de ver que a imagem que contemplamos dele hoje é uma construção teológica e literária que atravessou dois milênios. Estudar historicamente o desenvolvimento da imagem religiosa de Jesus é um empreendimento fascinante, além de nos levar a contemplar a magnitude do anseio humano pelo seu referencial de vida.

    Meu desejo de escrever este livro estava vinculado a dois sentimentos fortes: 1) O apreço pela história do Cristianismo primitivo e sua manifestação posterior, bem como 2) propor uma alternativa para o dogmatismo cristão. Esses dois pontos marcam os motivos da escrita do livro, mas não marcam os motivos ainda mais anteriores à escrita.

    Por ter sido cristão praticamente por muitos anos, acreditava irredutivelmente que Jesus nascera de uma virgem e que este acontecimento foi um evento histórico, localizado no tempo e no espaço. São poucos os cristãos que, quando abraçam o evangelho, estudam sistematicamente a Teologia. A grande maioria dos que se consideram cristãos aprendeu que Jesus nasceu de uma virgem, que devemos comemorar seu nascimento no dia 25 de Dezembro, e ponto final, sem maiores reflexões.

    Outros cristãos são mais reflexivos, por assim dizer, e entre os acadêmicos, muitos trabalhos de excelente qualidade foram realizados sobre o nascimento de Cristo. Alguns buscaram até mesmo explicações científicas para dar maior credibilidade ao nascimento virginal de Jesus, proporcionando uma maior aceitabilidade ao homem moderno. O que me levou a pesquisar este assunto, muito antes de ter qualquer pretensão de tornar minha pesquisa um livro, não estava relacionado nem com o primeiro ponto, nem com o segundo mencionados anteriormente, mas sim com um terceiro: eu quis, pela primeira vez na vida, colocar todas as minhas convicções de lado e ler, ao máximo que podia, sobre o tema, buscando em fontes cristãs conservadoras, bem como em teólogos liberais, e, no final, pesar quais argumentos eram mais críveis. Portanto, minha jornada pelo assunto foi algo pessoal e minhas conclusões, julgando-as imparciais, hoje se materializam através deste livro.

    Não obstante, gostaria de deixar claro que estas foram as minhas conclusões, mas é importante que você tenha as suas, que faça a sua pesquisa, de forma honesta, checando todas as fontes, comparando os dois lados da moeda e tirando uma conclusão. Através de seções e capítulos, irei abordar o relato do nascimento de Jesus através de diversos ângulos e áreas do conhecimento, refletindo sobre como esta tradição começou e como se espalhou dentro do Cristianismo que hoje conhecemos.

    Será que o nascimento virginal é um evento apropriadamente histórico que atesta a capacidade profética da Bíblia? Os primeiros discípulos de Jesus criam ter ele nascido de uma virgem? Se tal evento não ocorreu, como os evangelistas criaram o relato? Ao contrário do que muitos frequentadores de igrejas podem imaginar, essas perguntas são por demais importantes, e suas respostas são ainda mais importantes e trazem tremendas implicações sobre as asserções do Cristianismo como sendo a única religião verdadeira. São estas e outras perguntas que procurarei responder no livro. Convido gentilmente os meus leitores a refletirem abertamente sobre o assunto, sejam eles acadêmicos, religiosos ou meros curiosos do tema, e espero sinceramente que este estudo contribua, de alguma forma, para as questões religiosas que se colocam a nossa frente.

    Natal, Dezembro de 2013

    Eduardo Galvão Junior

    Parte 1 —

    O Nascimento Virginal e a Teologia Cristã

    Capítulo 1 —

    Importância para a Teologia Cristã

    O nascimento virginal permanecerá sempre um mistério, mas a sua verdade é eternamente demonstrada na pessoa que produziu.

    — Ian Richard Kyle Paisley

    P

    odemos dizer que é inegável a importância que o dogma do Nascimento Virginal¹² tem para a Teologia cristã. Isso ocorre, principalmente, por estar nitidamente relacionado com outros dogmas igualmente importantes, como é o caso da divindade de Cristo no NT.¹³

    Para a Teologia, lidar com o nascimento de Jesus é lidar com sua origem humana, mas, claro, sem deixar de ressaltar sua posição divina. Entender como Jesus veio ao mundo lida diretamente não apenas com sua natureza, mas implica, também, em saber qual era a natureza daquela que o concebeu, dai então sua relação com a Imaculada Conceição,¹⁴ que aponta para a natureza sem pecado de Maria, bem como a posterior natureza humana de Jesus, ambos imaculados. Da mesma forma, o nascimento de Jesus está profundamente relacionado com o dogma da Encarnação.

    Havia dois objetivos independentes e amplamente diferentes na encarnação. (1) No lado messiânico e em relação ao seu cargo de rei de Israel, o Cristo nasceu de uma virgem e entrou neste relacionamento humano com direitos régios indiscutíveis, a fim de que pudesse cumprir a aliança davídica (2 Sam 7:8–18; Ps 89:20–37; Jer 33:21, 22, 25, 26).¹⁵

    Um clássico da literatura evangélica em defesa do Nascimento Virginal é o livro The Virgin Birth of Christ, escrito por J. Gresham Machen, e publicado originalmente em 1930. Esse livro ainda é extensamente usado nos círculos acadêmicos conservadores de Teologia e tem sido o livro essencial para a apologética cristã contra o liberalismo teológico. Pondo à parte a dificuldade de sua leitura técnica, Machen passa para uma abordagem ampla, iniciando pela literatura patrística,¹⁶ passando pelas considerações textuais de Mateus e Lucas, até as teorias sobre as origens pagãs e judaicas da doutrina.

    Como será de fácil percepção para o leitor, irei citar extensivamente o livro de Machen quando apropriado para responder as suas objeções quanto às críticas feitas ao nascimento milagroso de Jesus. Obviamente, não seria possível parar em uma única obra como fonte única. Observei na introdução que um volume interminável de literatura já foi produzido sobre as questões do nascimento de Cristo e isso, per si, já aponta para a importância que a Teologia dá ao assunto.

    Berkhof (1990) ressalta que uma virgem dar a luz é algo tão grandioso, que nos levaria automaticamente a nos convencermos da sua importância. Além disso, aponta para o fato de que era necessária tal concepção, pois caso Jesus fosse fruto da união de Maria com outro homem qualquer, isso minaria a posterior identidade de Jesus como Filho de Deus.

    Além disso, uma vez que todos pecaram,¹⁷ seria natural refletirmos sobre como Jesus poderia nascer sem pecado, caso fosse concebido naturalmente através de progenitores humanos. O vaso que receberia o Logos preexistente¹⁸ deveria estar purificado de toda mancha da imperfeição humana, mas mesmo assim possuir toda a natureza da humanidade:

    O nascimento virginal de Cristo não é uma doutrina independente que podemos receber ou rejeitar, sem afetar o nosso Cristianismo. É uma das pedras fundamentais do Cristianismo; a nossa fé vai desmoronar se for removida. Esta doutrina está ligada a infalibilidade bíblica, caráter sem pecado de Cristo, a Expiação, e outras doutrinas fundamentais da Bíblia. Se Jesus não nasceu de uma virgem, então Ele não seria capaz de salvar a si mesmo, porque Ele não seria um Salvador sem pecado. Se não podemos aceitar o nascimento virginal de Cristo, muito pouca credibilidade permanece na Bíblia. Portanto, devemos entender o nascimento virginal se vamos entender a nossa fé.¹⁹

    Discordâncias Internas

    Sabemos que o Cristianismo é bem diversificado em sua abordagem da Bíblia; por sua vez, se torna um obstáculo para o pesquisador definir exatamente o que os cristãos pensam. Apesar do que foi mencionado acima, muitos eruditos cristãos não consideram o Nascimento Virginal algo de tanta, ou até mesmo alguma, importância, seja para a Teologia, seja para a história.

    Brunner (1934) afirma categoricamente que não possui o mínimo de interesse pelo assunto e rejeita a doutrina do nascimento milagroso de Jesus, sustentando que o mesmo foi algo puramente natural, mas que, apesar disso, não está interessado em defender extensamente a sua opinião. Além disso, ele afirma:

    A doutrina do nascimento virginal teria sido abandonada há muito tempo, não fosse o fato de, ao que parece, haver interesses dogmáticos preocupados com a sua manutenção.²⁰

    Barth acredita no milagre do nascimento virginal, e vê nele um sinal do fato de que Deus estabeleceu um novo princípio ao fazer-se homem.²¹ Ele vê também na doutrina algo de suma importância cristológica. Segundo ele, a herança do pecado é transmitida pelo pai, de modo que Cristo pode assumir a criaturidade nascendo de Maria e, ao mesmo tempo, escapar da herança do pecado pela eliminação do pai humano. Bultmann,²² por exemplo, não acreditava que o Nascimento Virginal tinha ocorrido historicamente, mas era apenas um mito criado pelos primeiros cristãos com o objetivo de apreenderem o significado espiritual de coisas além de sua compreensão.

    Da mesma forma como dentro do pensamento cristão moderno encontramos uma variedade enorme de interpretações e abordagens sobre o assunto, o mesmo ocorreu no início do Cristianismo. Esta discordância no credo cristão, exemplificada acima pelas opiniões divergentes entre Barth e Bultmann, no que diz respeito à importância de como se deu o nascimento de Jesus, reflete uma verdade que a maioria das pessoas não sabe, ou seja, que o Cristianismo não é, bem como nunca foi, um movimento homogêneo, como nos fazem crer.

    Diversas facções, seitas e subdivisões religiosas eram comuns no mundo judaico antigo em que nasceu o Cristianismo, sendo os mais conhecidos, os Essênios, Fariseus, Saduceus e os Zelotes.²³ Isso não é de estranhar, pois religiões baseadas em textos sagrados têm a natureza, quase intrínseca, de causar conflitos e divisões em seu próprio meio devido a subjetividade da interpretação textual. 

    De forma profundamente resumida, este era o contexto religioso judaico em que nasceu o movimento cristão. Sabemos que após a morte de Jesus, muitas comunidades cristãs se formaram e cada qual tinha sua concepção de quem era Jesus e seu papel na obra de salvação. O conjunto de ideias cristãs que conhecemos hoje é chamado de ortodoxia,²⁴ sendo a mesma apenas a representante do grupo que saiu vitorioso durante a militância teológica que durou séculos após a morte de seu messias. Desta forma, como veremos detalhadamente mais à frente, nos primórdio do Cristianismo havia uma diversidade enorme de comunidades cristãs que tinham as mais diversas ideias sobre quem era Jesus e, entre estas, estava o grupo cristão conhecido como ebionitas²⁵ que não acreditava no nascimento virginal de Jesus. Além disso, possuíam seu evangelho próprio, chamado Evangelho dos Ebionitas, que era uma versão resumida do evangelho de Mateus que não continha a narrativa do nascimento, nem a genealogia inicial. Inúmeros outros grupos gnósticos tinham ideias semelhantes e eram considerados igualmente heréticos pela Igreja posterior, uma vez que crer no Nascimento Virginal se tornou regra para alguém ser reconhecido e aprovado como cristão pela Igreja.²⁶

    Por outro lado, havia as comunidades cristãs da proto-ortodoxia,²⁷ que sustentavam essa doutrina do Nascimento Virginal.²⁸ Os Pais da Igreja²⁹ também falavam abertamente sobre a virgindade de Maria, bem como do nascimento de Jesus, como sendo algo que contribui para o desenvolvimento de outras doutrinas importantes, como foi comentado no início. Inácio diz: "Agora, a virgindade de Maria estava escondida do príncipe deste mundo, como foi também sua prole e a morte do Senhor; três mistérios de fama que foram forjados em silêncio por Deus.³⁰ Justino, o Mártir, disse: "Pois, eu já provei que ele era o unigênito do Pai em tudo, sendo gerado, de uma forma única, Logos e Poder por ele, e depois se torna homem por meio da virgem."³¹

    Visão Geral do Dogma

    De qualquer forma, á parte das divergências internas do Cristianismo, é aceito de forma geral entre os cristãos que Jesus nasceu de maneira milagrosa, por meio de uma virgem, através da agência de Deus, de acordo com uma profecia do AT.³² Esta ideia é aceita, espraiada e defendida pelas igrejas cristãs e até mesmo imposta para alguém aceitar o Evangelho dentro de alguns seguimentos e seitas cristãs. Claro que muitas pessoas podem ler isto e dizer que o Nascimento Virginal não é importante para que alguém aceite Jesus como seu Salvador. Por este motivo, não objetivo abordar cada pensamento cristão que possa existir sobre a importância, ou não, de tal doutrina. Mas, para aqueles que insistem em sua importância, que insistem em sua historicidade, e acima de tudo, em sua aceitação como dogma, creio que este estudo tem algo a dizer.

    Capítulo 2 —

    Uma Virgem Dá à Luz

    Eis que conceberás e darás luz à um filho,

    a quem chamarás pelo nome de Jesus.

    Lucas 1:31 ARA.

    A

    narrativa de Lucas conta a história do nascimento de Jesus começando contextualmente nos dias do Rei Herodes,³³  por volta do ano 6 AEC,³⁴ sendo ele, então, rei da Judeia. Neste período, tomamos conhecimento da primeira anunciação que prepararia o nascimento do futuro Messias. Zacarias, casado com Isabel, durante seu serviço sacerdotal no Templo, recebe a visita de um anjo e este, por sua vez, anuncia que sua esposa, embora idosa, daria à luz um filho, e que ele seria alguém grande em Israel.³⁵ Embora Zacarias achasse isso uma impossibilidade física, o anjo diz que ele ficaria mudo até que seu filho nascesse.³⁶ O evangelho de Lucas não relata se Isabel teve também uma visita angélica, mas independente disto, ela acha-se milagrosamente grávida.³⁷

    No sexto mês da gravidez de Isabel, Deus envia o mesmo anjo para uma cidade bem pequena, chamada Nazaré.³⁸ Desta vez, o alvo do mensageiro angélico é uma virgem, noiva de um homem chamado José, descendente de Davi; o nome da virgem era Maria.³⁹ Ao encontrar com ela, o anjo disse-lhe:

    Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi seu pai; e reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.⁴⁰

    Depois que Maria recebe a visita angélica, talvez pela alegria de ter recebido a mensagem, vai "apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá".⁴¹ Quando chega à casa de Isabel e a saúda, há uma proclamação do Espírito Santo. Dos versículos 46 ao 55 do capítulo 1 de Lucas, Maria passa a entoar um cântico de louvor a Deus por tê-la gerado um filho e, depois disto, permanece três meses com sua irmã.⁴²

    No evangelho de Mateus, no entanto, pouca coisa nos é dita sobre o nascimento em si, bem como as circunstâncias do mesmo. Digo de nota é que a versão João Ferreira de Almeida revista e atualizada, omite a palavra virgem em Mateus 1:16; apenas no v. 18 somos informados que Maria estava grávida, sem que tivesse antes coabitado, o que não necessariamente remete ao estado de virgem; e no versículo 23 lemos sobre a profecia da virgem. Diferente da narrativa de Lucas, o evangelho de Mateus centraliza-se mais na reação de José ao saber que sua noiva⁴³ está grávida. Achando que fora traído, ele decide se separar dela secretamente.⁴⁴ No entanto, durante um sonho, um agente divino explica a situação incomum a José, conforme lemos:

    José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo; ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.⁴⁵

    José fica tranquilo por saber que não foi traído, mas que o filho que se forma no ventre de sua noiva foi gerado por Deus através do Espírito Santo.⁴⁶ Depois de relatar as palavras do anjo, Mateus comenta que a escolha divina por uma virgem se deu porque este foi o plano de Deus, conforme as profecias do AT apontavam:

    Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco.⁴⁷

    A expressão para que se cumprisse é usada nove vezes em Mateus,⁴⁸ algumas delas para mostrar que Jesus cumpre todas as qualificações messiânicas.⁴⁹ Uma vez que na antiguidade a Bíblia não era como a temos hoje, com capítulos e versículos,⁵⁰ o evangelista apenas cita a profecia sem maiores especificidades. O texto profético a qual o escritor se refere é encontrado em Isaías 7:14, profecia essa que iremos estudar em detalhes no capítulo 4. Nela, lemos as seguintes palavras: Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel.

    No texto de Lucas não se menciona que a virgindade de Maria cumpre qualquer profecia bíblica, no entanto, Mateus faz uma citação direta de uma suposta tradução do AT em grego, chamada de Septuaginta, onde oráculos falam sobre uma jovem virgem que daria à luz um filho e que este seria um grande sinal em Israel. Embora os judeus, em toda sua história, nunca tenham visto neste texto de Isaías qualquer indicação de um futuro messias, o evangelista Mateus interpreta-o como se cumprindo na pessoa de Jesus Cristo.

    Capítulo 3 —

    Genealogias de Mateus e Lucas

    Olhei para a minha árvore genealógica

    e descobri que era a seiva.

    Rodney Dangerfield

    T

    endo destacado em resumo, no capítulo anterior, como os dois evangelistas relatam o nascimento de Cristo, apontando suas particularidades, mas, no entanto, sem introduzir qualquer crítica direta, passaremos agora para algumas argumentações sobre as falhas desse dogma cristão conforme analisamos as duas respectivas genealogias.

    Ao relatar o nascimento de Jesus, Mateus, bem como Lucas, faz uso da genealogia.⁵¹ Para os antigos judeus, a genealogia era por demais importante visto que direitos e heranças eram delineados através dela. Por muito tempo, as genealogias destes dois evangelistas foram apontadas como contraditórias. Como não irei tratar aqui de contradições, ou mesmo de discrepâncias bíblicas, nos basta apenas comentar que os apologistas explicam as diferenças das respectivas genealogias como questões de enfoque teológico, embora, como de costume, eles não estejam de acordo sobre como entender essas diferenças.

    Por exemplo, o início do evangelho de Mateus já nos remete ao foco teológico de que Jesus é filho e herdeiro legítimo de Davi, quando lemos: "Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão".⁵² A genealogia de Mateus é muito mais complexa do que a de Lucas; ela é abertamente esquemática, organizada em três conjuntos de quatorze anos, cada um com caráter distinto. No versículo 2 até o 16, são alistados os nomes de homens importantes na história de Israel que geram (ἐγέννησε) outros. Uma mudança ocorre no versículo 16, pois lemos que Jacó gerou (ἐγέννησε) José, marido de Maria, da qual nasceu (ἐγεννήθη) Jesus, que se chama Cristo. O ponto que desejo destacar é que todos os homens são descritos nesta árvore genealógica como gerando alguém igualmente masculino, o verbo grego estando na forma ativa, mas, quando chegamos ao versículo em que Jesus é citado, a forma verbal muda, embora seja exatamente o mesmo vocábulo, estando agora no passivo, dizendo que ele foi gerado. A expressão da qual em grego é feminina e se refere a Maria, embora não se mencione sua virgindade.⁵³

    Acho muito suspeita essa leitura.⁵⁴ Poderíamos no perguntar como a genealogia de José poderia ser usada para provar a descendência davídica de Jesus, uma vez que ele não era seu filho biológico. Dito de forma simples, se Jesus não é literalmente filho de José, ele não poderia ser considerado da linhagem de Davi. Em 2 Samuel 7:12-14, somos informado que o rei Messias viria dos lombos⁵⁵ do rei Davi, implicando que sua descendência régia e messiânica seria carnal, através de uma linhagem de sangue, biológica e não alguma adoção paterna, conforme alegam os apologistas. É verdade, no entanto, que o Talmude atesta que se alguém cria um garoto ou garota órfã em sua casa, a Escritura considera isso como se ele o tivesse gerado.⁵⁶ Alguns comentaristas cristãos, como John Gill, fazem uso destas referências talmúdicas para arguir que Jesus poderia usufruir dos privilégios da linhagem régia através da adoção por José. No entanto, isso apenas aponta para uma falta de compreensão do costume entre os antigos judeus.⁵⁷

    Muitos quando abordam este assunto costumam citar expressões tais como a lei judaica dizia, o costume judaico era que, no que diz respeito à adoção de Jesus por José, mas, no entanto, falham por mostrar de onde tiram esta ideia e, quando mostram, a interpretação é bem duvidosa. Os incautos, ao lerem isso, e por ser justamente o que esperam ouvir, aceitam sem pensar duas vezes suas declarações. Machen (1930) afirma que ‘na forma de pensar semítica, eles consideravam a paternidade de uma forma mais realística do que fazemos hoje’.⁵⁸ Cerca de seis décadas depois, Meier (1991) ainda afirmou que o meio judeu, do qual as narrativas da infância vieram, regularmente traçava a genealogia de uma criança através de seu pai, quer fosse, ou não, realmente o pai biológico. Aos olhos do AT, o pai legal seria o verdadeiro pai, quer ele tenha, ou não, fisicamente procriado a criança.⁵⁹

    O judeu Yigal Levin (2006) do departamento de História Judaica da Universidade de Bar-Ilan, em um estudo detalhado sobre o sistema de adoção tanto na cultura judaica antiga, como moderna, bem como a romana, comenta no seu artigo científico:

    [...] enquanto a adoção é conhecida em alguns códigos legais no Antigo Oriente Médio Próximo, a lei judaica, tanto na antiguidade e na era moderna, não tem esta instituição legal.⁶⁰

    A seguir, comentando os exemplos bíblicos de adoção, o mesmo autor acrescenta as seguintes ideias:

    Quase todos estes são casos de adoção dentro da família existente, muitas vezes por mulheres que tinham pouca, se algum, status legal para passar, e em nenhum caso pode ser mostrado que tal ‘adoção’ teve quaisquer consequências legais. Conforme resumido por Tigay, se a adoção desempenhava qualquer papel de alguma forma, nas instituições da família israelita, era algo insignificante.⁶¹

    Assim, além de não existir historicamente esta ideia de direitos legais através de adoção, quando ocorriam eram bem contextualizadas, sem muita importância e não previam nenhum direito legal. Enquanto várias passagens bíblicas baseadas aparentemente na terminologia usada no Antigo Oriente Próximo usam a ideia de adoção como uma metáfora para a relação entre Deus e Israel, ou seu rei, estas são apenas metáforas.⁶² Assim, como Levin apropriadamente comenta:

    Em poucas palavras, não há nada na lei judaica, tanto na Bíblia hebraica, ou em Halakhah mais tardia, que possa ser visto como o modelo pelo qual Jesus, Filho de Deus, poderia ter sido considerado o herdeiro legal, mas não genético, para o trono de Davi.⁶³

    Para sustentar suas visões apologéticas da adoção de Jesus por José, alguns fazem uso do contexto romano que permeava a geografia do NT, buscando nas leis romanas motivos para os direitos régios de Jesus através de adoção, mesmo assim:

    Embora o direito romano se espalhasse pelo Império e varresse diante de si sistemas e práticas locais... ele parece ter tido pouco impacto sobre a lei judaica. Em contraste com a legislação grega, a partir do qual foram adotadas as instituições jurídicas importantes, dificilmente se encontra um exemplo convincente de um instituto jurídico romano particular que se tornou parte da lei judaica.⁶⁴

    Uns poucos estudiosos conservadores do NT têm reconhecido isto. Um deles foi Lyall (1984),⁶⁵ quando se discute a adoção de metáforas nas epístolas paulinas, mas ele não aplica isto às histórias da natividade nos Evangelhos. Schaberg (1987) que também admitiu que adoção não era conhecida como uma instituição legal na lei judaica do período,⁶⁶ mas, em seguida, passa a assumir, pelo menos, a adoção nas análises de tanto Mateus e Lucas. Na opinião do Freed (2001), a aceitação de José de Maria não constituía uma adoção legal de Jesus.⁶⁷ Freed aponta que Mateus, ao contrário de Lucas, nunca se refere a José como pai de Jesus. Ele assume, então, que as genealogias de Cristo eram documentos preexistentes, compostos para mostrar a linhagem davídica de Jesus que foram, então, incorporados nas narrativas evangelísticas. Nenhum deles, no entanto, resolve o problema de como, ou por que, os evangelistas poderiam ter usado essas genealogias davídicas, juntamente com as narrativas de um nascimento virginal, se José não fosse o pai biológico, e não havia nenhuma coisa como adoção que implicasse em direitos legais em Israel. Cullmann (2008) ressalta de forma apropriada:

    Não podemos, por certo, nos apoiar nas genealogias dadas por Mateus e por Lucas, por causa de suas divergências: elas diferem uma da outra em pontos importantes e estabelecem a vinculação entre Jesus e Davi por linhas genealógicas muito diferentes..., a confrontação das duas genealogias faz surgir dificuldades que não podem ser descartadas, senão, graças a hipóteses e combinações complicadas.⁶⁸

    Conclusão

    As duas genealogias, encontradas respectivamente em Mateus e Lucas, são distintas e mesmo a ortodoxia cristã não chegou a um consenso sobre a interpretação correta, nem o porquê de suas discrepâncias. A genealogia de Mateus segue abertamente a genealogia de José, que postula homens representantes da geração de homens importantes em Israel. Esta sequência é quebrada no v. 16, mudando totalmente a linha de raciocínio estabelecida desde o versículo 1. Isto pode indicar uma interpolação⁶⁹ posterior, quando a tradição do Nascimento Virginal se espalhou, ou alteração de alguma sorte. Se for original ao texto, vemos apenas uma tentativa de colocar Jesus como descendente de Davi pela adoção por José. No entanto, como vimos, direitos legais não eram passados por adoção em Israel, e, portanto, Jesus não poderia ser herdeiro ao trono de Davi por uma suposta adoção feita por José.

    Além disto, a profecia que falava do Messias como filho de Davi apontava para um filho biológico, e não adotivo, que sairia metaforicamente dos lombos Davi. Todas estas informações indicam que o início do Nascimento Virginal é problemático e aponta não para um evento, mas invento, como veremos mais à frente.

    Capítulo 4 —

    Isaías e a Virgem Profética

    Reunimos pedaços desconectados de luz e sombra,

    e inconscientemente tentamos ver uma face.

    Carl Sagan

    C

    omo observamos no capítulo 2, Mateus apresenta o nascimento virginal de Jesus como um cumprimento profético.⁷⁰ A profecia a qual ele se refere é Isaías 7:14, onde lemos que uma virgem daria à luz um filho. Embora Lucas nada fale sobre

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