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O Diário De Um Deus
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O Diário De Um Deus

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About this ebook

Já imaginou se você pudesse viajar no tempo e descobrir toda a verdade, omitida e alterada nos livros de história? Ou esses livros seriam nada além de ficção? Nosso herói, Cesar, pôde ver a maioria dos fatos que marcaram para sempre a história da humanidade e conta, com riqueza de detalhes, muito do que viu e ouviu e traz, em seu diário, muitas informações que poderão nos ajudar a saber em que lado lutarmos e contra quem lutarmos, em uma guerra que poderá ocorrer muito em breve e que mudará, para sempre, o destino desta civilização. Acompanhe o dia-a-dia, as dificuldades e as emoções vividas por Cesar, sua amada Glaucia, seus mentores e seus companheiros da futura batalha, rumo a aventuras inimagináveis e viagens no tempo e no espaço, preparando-se para o derradeiro retorno ao seu amado planeta. Este é o assunto principal deste livro, que é parte da trilogia O diário de um Deus . Boa leitura e boa viagem! Walter Pontes é casado, pai de uma menina que, quando da conclusão desta edição, contava com um ano e sete meses de idade. Há muito vem pesquisando sobre religiões, profecias, ocultismo, política e guerras, entre os principais assuntos de interesse. É defensor do revisionismo histórico e procura, incessantemente, uma versão isenta e acurada da história. Esta obra de ficção, com muitas chamadas para a realidade, é o resultado do um trabalho de uma vida de pesquisas nos campos esotérico, religioso, político, da história e do comportamento humano; tenta definir o que vivemos e o que sentimos no contexto atual e busca as fundações históricas do que vivemos atualmente. Convida, nesta obra, o leitor a questionar tudo que nos é imposto como fato e propõe que possamos ser aquilo para o que nascemos: livres e independentes . A mensagem final é: “Somos nossos próprios deuses”.
LanguagePortuguês
Release dateFeb 27, 2016
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    O Diário De Um Deus - Walter Pontes

    Walter Pontes

    O Diário de um Deus

    Livro I

    1ª edição

    Mauá – SP

    2016

    O Diário de Cesar

    O Diário de um Deus

    Livro I

    A Revelação

    Figura 1: Representação de uma Vimana (nave extraterrestre)

    Uma história sobre o princípio de quase tudo

    Ou

    A maior farsa de todos os tempos

    Copyright by Walter Pontes, 2015-2016

    Organização e revisão geral: Roque Aloisio Weschenfelder

    Ficha catalográfica

    P813d               Pontes, Walter

    O Diário de um Deus: a revelação.

    Walter Pontes. 1ª ed. – Mauá: Edição do Autor, 2016.

    850KB; EPUB

    ISBN: 978-85-920787-1-3

    Livro Eletrônico

    1.Romance Brasileiro 2.Literatura Brasileira.  I. Título.

    Catalogação na Fonte: Kelly M. Bernini – CRB-10/1541

    Este livro é

    Para Alicia

    Para Lucia

    Aos meus pais

    Para todos aqueles que desejam fazer a diferença

    SUMÁRIO

    Índice de figuras

    Prefácio

    Premissas

    E se...

    1 – Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Ou não?

    2 – Violência e caos

    3 – Ignorância e escravidão

    4 – É preciso pouco para ser feliz

    5 – Exemplo de vida, o emburrecimento das pessoas e o submundo

    6 – Ceticismo e fatos sobrenaturais

    7 – A verdade que liberta

    8 – Perseguição, choro, desespero

    9 – Pessoas demais, mas estamos cuidando disso

    10 – Aprimorando as técnicas. Conheça a si mesmo

    11 – Os intraterrenos

    12 – Conhecimento: maldição ou armadilha?

    13 – Quem são meus pais e quem são meus irmãos?

    14 – Uma nova vida a caminho; vidas que se vão

    15 – Suspeitas, dor e desespero

    16 – Recolhendo os cacos

    17 – A concepção de um Deus

    18 – Novas vidas

    19 – Alcançando suavemente o paraíso

    20 – Primeiras aulas

    21 – A maior de todas as viagens

    22 – Aprendendo a mudar – em muitos sentidos

    23 – Grandes conhecimentos, enormes responsabilidades

    24 – Colocando em prática o que foi aprendido: uma batalha real.

    25 – Heroísmo, sacrifícios e ausência

    26 – Um pouco de história... Diante de meus olhos

    27 – Um pouco mais de história: Anunnaki, Adão e Eva e o dilúvio

    28 – Um Jesus. Um homem comum

    29 – Uma falsa morte necessária e um astuto oportunista

    30 – Da Idade Média ao grande líder assassinado

    31 – Missionários, Visionários e Líderes de um novo velho mundo

    32 – Eles, os únicos vencedores de todas as guerras

    33 – Corpo e espírito

    34 – Um novo lar. Um novo deus

    35 – O nascimento de Alicia

    Apêndice

    Sites da Internet

    Livros recomendados

    Filmes

    Consulte também:

    Índice de figuras

    Figura 1: Representação de uma Vimana (nave extraterrestre)

    Figura 2: O verdadeiro Bonifácio, Meg. Arquivo pessoal.

    Figura 3: Negão, como ele mesmo. Arquivo pessoal

    Figura 4: Imagem em X – Chemtrails? Arquivo pessoal

    Figura 5: Buraco de minhoca wormhole

    Prefácio

    O Diário de um Deus é o Diário de Cesar, que faz o leitor mudar tanto, que se pode dizer que não consegue ser mais o mesmo de antes da leitura desta obra, em que a história ensinada a partir do ponto de vista dos vencedores – o das entidades poderosas – que sempre comandaram e, por enquanto, continuam a decidir o que a grande massa humana deve pensar e como se deve agir, ocupando-se em disputar as migalhas que sobram a cada um, e que bilhões jamais terão o suficiente para uma vida digna, livre da escravidão que nos é imposta ao longo dos séculos.

    Com extrema maestria Walter Pontes conduz a trama dos personagens Cesar, sua namorada Glaucia e muitos outros, de uma cidade da grande São Paulo a mundos longínquos, em uma preparação para uma guerra sem precedentes históricos, que definirá o destino desta humanidade.

    O leitor será transportado com Cesar e sua família em naves com recursos simplesmente fantásticos e ficará torcendo – e muito – para que as peripécias enfrentadas por Cesar e Glaucia e seus futuros companheiros nas batalhas vindouras possam, sempre inesperadas, ser superadas, pois o leitor sentir-se-á também um novo deus, também responsável pela mudança necessária para que a grande metáfora Brasil-Humanidade-Universo se torne, no futuro, um grande centro de convivência, onde a ganância e a obsessão por poder e posses materiais desapareça completamente.

    Caro leitor: entre nesta nave e sinta o que é percorrer um túnel espaço-temporal rumo a outros planetas, outros sistemas solares e outros Universos. Ninguém proíbe imaginar, muito menos ficar alienado a ideias político-religiosas que tentam manipular os pensamentos de cada um de nós. O que Cesar mostra poderá ser taxado de utopia, de perversão religiosa, de coisas de adolescente revoltoso, mas não deve ser negado, a quem quer que seja, dar-se o benefício da dúvida.

    O que o autor pretende, ao criar suas personagens que enfrentam inúmeras e, com frequência, atrozes dificuldades, é mostrar que a luta é árdua, pois as poucas, mas poderosíssimas facções, que mandam no dinheiro e nos recursos naturais não serão fáceis de serem derrotadas. Walter Pontes quer dizer a cada um de nós: pense o que quiser, mas não diga que não mostrei outro pensar diferente; se você quiser continuar pensando como antes é sua prerrogativa, porém há possibilidades diferentes. O que aconteceu, de fato, em 11 de setembro de 2001? Existiu realmente um Jesus? Qual o propósito de sua eventual existência cerca de dois mil anos atrás? Seria realmente possível o homem ter pousado na Lua em 1969? Como essas, muitas outras perguntas serão feitas e grande parte das respostas Cesar deixará em aberto, para que o leitor possa concluir.

    Termino este prefácio dizendo que não sou nenhum adepto das teorias de Walter Pontes, mas nem por isso me furto de refletir sobre tudo que ele estudou, pesquisou e deduziu para escrever seu livro. No final da obra, o autor coloca uma lista de endereços de internet, filmes e livros que ele consultou e que estarão também a sua disposição para serem verificados e que você, prezado leitor, possa, também, tirar suas conclusões.

    Boa viagem a todos.

    Roque Aloisio Weschenfelder

    Professor aposentado

    Revisor textual e crítico literário.

    Premissas

    Aviso ao leitor:

    A intenção desta obra é a de convidar o leitor a questionar alguns fatos ditos como tal, o pensar fora da caixa. Propõe-se a ser um livro que reúna conceitos para que as pessoas possam pesquisar e buscar a chave para serem livres de dogmas e de preconceitos que só atrapalham a evolução. É possível afirmar que muitas obras de ficção, que é o caso desta obra, previram comportamentos e acontecimentos que presenciamos atualmente. Da mesma forma, pode-se questionar se os assuntos aqui descritos não teriam um considerável fundo de verdade. A escolha é, e sempre será do principal integrante que se dispuser a entrar nesta aventura: você, leitor.

    Os assuntos vividos e presenciados pela personagem principal, Cesar Naven, em suas viagens, ao longo de aproximadamente dez anos, despertariam o interesse de alguns cientistas, ao menos daqueles que tentam criar uma teoria consistente sobre nossas origens e nosso destino nos universos. Muito do que será visto por ele em suas viagens ao passado poderia ser uma realidade alternativa; muito do que ele verá no futuro, uma possibilidade.

    Trata-se, contudo, de uma obra de ficção. Qualquer correspondência com dados históricos, pessoas ou acontecimentos reais terão sido mera coincidência.

    Àqueles que desejarem colaborar com críticas, sugestões e, se merecido, elogios, queiram, por favor, enviar e-mail a walterpontes@gmail.com. À medida do possível, responderei aos e-mails, pelos quais, antecipadamente, agradeço.

    E se...

    Eu sou Cesar, um filho das estrelas. Sou, no presente, o que todos vocês poderão ser no futuro, se quiserem. Um dia, quando a humanidade estiver livre das amarras do poder econômico, quando o ser, definitivamente, estiver à frente do ter, quando toda criatura souber que não precisa de intermediários para chegar ao seu próprio Criador, quando os vícios, para sempre, estiverem extintos, quando houver a conscientização de que todos nós somos um nos infinitos universos, quando a união para o bem de todos for o único objetivo, viver será um prazer indescritível, e posso assegurar-lhes que as barreiras do espaço-tempo deixarão de existir, toda e qualquer dúvida sobre nosso papel no universo acabará, toda dor e sofrimento terminarão, e inúmeras maravilhas estarão ao seu alcance. Sua herança divina estará, de direito e de fato, em suas mãos. As possibilidades serão incontáveis. A criação de mundos será uma de muitas tarefas prazerosas de sua existência infinita. Os mitos e lendas, que, atualmente, são assumidos como verdades, por alguns, serão apenas histórias pueris, pois vocês, sim, serão deuses. Eu mostrarei que é possível e lutarei contra aqueles que não querem que vocês saibam dessa verdade. Acompanhem minha vida; trilhem, vocês, seu caminho rumo ao infinito, pois infinitas serão suas habilidades. Não se prendam a conceitos e atitudes que lhe escravizem. Vocês são deuses em crescimento e serão deuses de uma forma que não há palavras para descrever. Desejo-lhes uma boa leitura. Pensem, reflitam. Vocês podem me questionar se eu tenho ou não razão, mas, e se...

    PARTE I

    CRESCIMENTO

    Neo: O que é a Matrix?(1)

    Trinity: A resposta está lá fora, Neo, ela está te procurando, e ela o encontrará se você desejar.

    (1)                 The Matrix© é de propriedade da Warner Bros, sendo detentora de todos os direitos da marca. – Nota do autor.

    1 – Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Ou não?

    Domingo.

    Quando a aventura (re)começa...

    Figura 2: O verdadeiro Bonifácio, Meg. Arquivo pessoal.

    – Como eu poderia acreditar nisso tudo, Hiero? Então, você me diz que quase toda a história está incorreta?

    – Coube-me revelar o que vi e sei e, a você, decidir o que fará com essas informações. É sua prerrogativa e responsabilidade. Você pode, inclusive, escolher como e, se quiser, dizer às pessoas as verdades mais importantes de suas vidas.

    – Você não me ouviu? Isso tudo é muito perturbador. Não consigo acreditar. Além disso, que provas você tem?

    – Cesar, eu tenho muitas provas sobre tudo o que lhe digo. Eu tenho a intenção de lhe mostrá-las em breve. Se você achou que tudo o que falei mexeu com a sua cabeça – e é uma parte muito pequena do que sei e vi – já não tenho certeza se vai valer a pena mostrar-lhe as provas que você quer.

    – Você sabe que sou curioso. Você está jogando com minha curiosidade, não é?

    – Quem não está mexendo com a cabeça de todos, ou quase todos, os humanos? Você, mais do que muitos, já deveria ter se convencido disso, principalmente depois de tudo que lhe falei. Faça o seguinte: procure digerir, ao menos, alguns fatos que lhe contei, esfrie a cabeça e mantenha a mente aberta. Leve o tempo que for necessário. Se as suas crenças ainda não sofreram uma reviravolta, com o que vou mostrar, se estiver disposto e preparado, tudo o que você pensava saber vai cair definitivamente por terra. Agora vá. Um pouco é minha culpa por pensar que, mesmo com sua inteligência bem acima da média, você entenderia o que para nós é uma parte bem pequena e trivial de sua história. Vamos um pouco mais devagar.

    – Sim, meu jovem – disse Hillel – você não se arrependerá de tudo o que verá desde que queira saber.

    Despedi-me dos dois e fui para casa, cerca de quinhentos metros dali. Ao sair, ouvi um sussurro:

    – Será que ele conseguirá encarar tamanha responsabilidade, Hiero?

    – Shhh Hillel. Vamos conversar sobre isso mais tarde.

    Fui para casa bastante pensativo. O que eles haviam me dito, certamente, renderia muita coisa para falar com as pessoas próximas, se é que não achariam que fiquei maluco, mas será que não fiquei? Bem, ainda sei meu nome e acho que isto é verdade. Pelo menos isto.

    Cheguei em casa por volta das dez da noite, cumprimentei minha mãe, que me disse algumas palavras que não me lembro bem; eu falei que estava cansado e fui para meu quarto.

    Alguns minutos depois, Erica bateu a minha porta e disse que queria conversar. Deixei-a entrar, meio a contragosto.

    – Teco (é assim que Erica me chama praticamente desde que aprendeu a falar), você sabe que, apesar de te achar meio esquisito, gosto muito de você. O problema é que a vizinhança está falando do seu comportamento estranho. Você passa pelas pessoas e nem diz bom-dia. Seu Carlos me disse que está muito sentido com você. Ele diz que lhe acenou num outro dia e você nem respondeu!

    – É mesmo! Depois eu percebi isso – falei meio sem jeito – eu gosto das conversas com o velho Carlos. Não foi por querer. Quando o vir, vou me desculpar.

    – Tem mais, a dona Lina, fofoqueira que nem ela só, disse que te viu falando sozinho – continuou Erica – veja se presta atenção. Não se lembra de quantas bobagens ela falou do nosso pai, para nós, quando ele nos deixou? Quer que a vizinhança toda lhe olhe estranho?

    – Tá bom, tá bom. Vou ficar mais atento com esse povinho atrasado. Se eles soubessem... – disse eu, em tom de mistério.

    – Soubessem do quê? – perguntou Erica indignada – veja lá, hein? Você está tramando alguma coisa?

    – Não, não, deixa para lá. Fique tranquila. Está tudo bem.

    – Tem mais – emendou Erica – veja se dá um pouco mais de atenção para a nossa mãe. Ela perguntou bastante de você, e acha que seu comportamento está um pouco estranho. O filhinho preferido dela...

    – Que é isso? Tá com ciúme? – falei brincando – que culpa eu tenho se sou tão especial?

    Percebendo meu tom de brincadeira, ela se limitou a dizer:

    – Sei. Além de tudo, sua humildade de sempre...

    – Ela está precisando de alguma coisa? – perguntei eu, meio interessado.

    – Acho que só quer conversar, não deve ser nada de mais. – Está bem, agora vai dormir que já é tarde. Amanhã falo com ela um pouco mais – disse eu, querendo encerrar a conversa.

    – Vou mesmo! Amanhã tenho uma prova de História, daquela professora chata. Até amanhã.

    – História. Para mim está cada vez mais para ficção. Tudo parece falso agora. Mas, não entrei em polêmica e tratei de me livrar logo da minha irmã. – Até amanhã, Erica. Descanse bem.

    Aquela noite foi muito difícil para dormir. Sentia que estava com um peso e uma preocupação muito grandes na minha cabeça. Tudo o que haviam me ensinado nesses anos estava revirado, sentia-me enganado, um pouco triste e desconfiado de tudo.

    De repente, senti que algo pulou em cima de mim. Era o Bonifácio, nosso gato, que é branco, com algumas manchas de preto; uma delas, que lhe dá muito charme, e é a que fica na parte esquerda do nariz. Tem os olhos muito azuis da cor do céu, e é um tanto vesgo. Quase sempre um sujeito mal-humorado, mas que é muito querido pela família, e por mim também.

    O Bonifácio e eu temos uma ligação muito forte. Certa noite, há alguns anos, eu estava voltando do futebol, mais ou menos às oito horas de uma terça-feira, depois de uma tarde bastante chuvosa; foi quando vi um gatinho sujo, molhado e que parou bem em frente a um carro, miando alto no meio da rua.

    Ao ver a cena, corri para frente do carro, de maneira bastante precipitada e imprudente, confesso. O carro parou, eu peguei o gatinho como as mães deles costumam fazer, pelo cangote e o levei para casa, que ficava mais ou menos dois quarteirões de onde tudo aconteceu. O gatinho ficou quieto todo o percurso. Ao chegar a minha casa, eu o coloquei no chão. Imediatamente, ele passou repetidas vezes sua cabeça em meu braço esquerdo e eu tive a clara sensação de que aquilo era um sinal de gratidão pelo resgate. Ele estava espirrando, deveria estar com resfriado devido à chuva que deve ter enfrentado, e decidimos que iríamos cuidar dele até que conseguíssemos um lar definitivo. Preparei uma caixa de papelão e o acomodei com alguns panos que o aqueceram e permitiram que ele descansasse um pouco. No dia seguinte, nós o levamos ao veterinário, para os primeiros cuidados; compramos a ração para filhotes, os potes de comida e água, uma casinha de pano e os medicamentos. Na semana seguinte, ele foi vacinado e, dois meses depois foi castrado, seguindo as recomendações da veterinária, que estimou sua idade em cerca de quatro meses quando eu o resgatei.

    É óbvio dizer que, o que era um lar temporário, ficou definitivo. O Boni, depois de alguns cuidados e dedicação da família, ficou grande, forte e bonito.

    Naquela noite, ele estava um pouco mais carinhoso do que de costume. Fiquei com ele até às três da manhã; depois coloquei-o de volta na cama dele e voltei para meu quarto. Dizem que os gatos têm uma sensibilidade para perceber nosso estado de espírito, que veem coisas que nós não conseguimos. Passei a gostar dos gatos após perceber a inteligência e a independência que eles têm. São seres especiais. O nosso Bonifácio já está com oito anos; ainda é brincalhão como quando era mais jovem, mas só quando ele quer. Tem uma personalidade forte, mas é gentil e carinhoso, um pouco mais comigo do que com minha mãe e Erica. É muito amado por todos da casa.

    De volta àquele assunto que passou a me incomodar, com Hiero e Hillel, fiquei me perguntando por que eu fora escolhido para saber o que eles estavam falando na nossa conversa mais recente. Já faz algum tempo que os conheço; eles têm a aparência de uns sessenta anos e são muito ativos; auxiliam de forma voluntária em um hospital próximo, na administração e provimento de fundos.

    Hiero, com quem tenho conversado mais, me disse que eles são irmãos, ambos, viúvos, que não se casaram desde então. Costumam acordar bastante cedo, fazem exercícios, jogam tênis três vezes por semana e têm um restaurante vegetariano em uma cidade próxima. Foi lá que os conheci e passamos a ter uma grande amizade. Eles têm uma filosofia de vida que eu admiro muito; por vezes, nos dias frios, participam de mutirões distribuindo sopas para os moradores de rua, perguntando se os mesmos desejam ir ao albergue para se abrigarem do tempo; distribuem cobertores àqueles que insistem em permanecer na rua, deixam algum alimento e até conversam com alguns deles; interessam-se pelas histórias, pelo que passaram até que terminassem nas ruas.

    Há pessoas de todos os níveis de educação, até professores universitários que, infelizmente, alguns, devido ao uso de drogas, perderam tudo: família, amigos, casa e até a dignidade. Para vários é um caminho sem volta, mas Hillel conseguiu recuperar um deles, o André, que trabalha como que um gerente do restaurante, orientando os clientes onde se sentarem, organizando o movimento das funcionárias que abastecem as bandejas de alimento e que fazem a limpeza das mesas.

    Muito simples e educado, certo dia, após o fechamento do restaurante, André me contou sua história: seu irmão mais velho assassinara sua esposa e seus dois filhos, por pura inveja da felicidade dele, o que lhe causou uma depressão enorme. Seu irmão nunca foi preso, mas, segundo ele, a justiça de Deus foi feita: em uma discussão de bar, foi morto por um adolescente drogado que, ao lhe pedir dinheiro, foi rechaçado aos pontapés. Levou dez facadas e morreu ali mesmo.

    André, por sua vez, procurou fugir da dor, que o consumia, no álcool e depois no crack. Vendeu o resto do que possuía para sustentar o vício, inclusive sua casa. Foi parar na rua, onde foi espancado, roubado e até alguns adolescentes, ditos de família e com boas condições financeiras, tentaram pôr fogo no seu corpo, jogando gasolina. Quando foram riscar o fósforo para concluir o atentado, Hillel apareceu e protegeu André da morte certa, expulsando os delinquentes.

    André agradeceu imensamente a Hillel, que lhe perguntou se desejaria trabalhar. Ele respondeu que sim e já está no restaurante há dois anos, sem faltar um dia sequer e sem qualquer incidente; ao contrário, é um funcionário admirado pelos colegas e por todos os clientes do restaurante. Sempre educado, de fala pausada e amigável, jamais o vi nervoso ou de mau humor.

    Ele conta com um salário mensal, recebe ajuda com o aluguel de um apartamento pequeno, próximo ao trabalho e deve ter seus cinquenta anos.

    Voltando aos motivos de terem me escolhido para supostas tão importantes revelações, só pude imaginar que fora ao acaso, ou que simpatizaram comigo. Mal sabia eu que os motivos eram muito mais fortes.

    Eu ainda não sabia o que faria com tantas informações. Poderia escrever um livro, contar, a todos que conheço, o que eu soubesse; enfim, estava desorientado. Eu precisava mesmo de um tempo para pensar. A responsabilidade de saber de tantos fatos poderia ser demasiado pesada e, se não mantivesse certo equilíbrio, certamente eu enlouqueceria.

    Recostei-me na cama, fechei os olhos e procurei esquecer, ainda que temporariamente, os acontecimentos.

    2 – Violência e caos

    Segunda-feira

    De volta à rotina... Por enquanto...

    Devo ter dormido apenas umas duas horas naquela noite, mas não estava, apesar disso, me sentindo cansado. Minha mente não me deixava pensar na exaustão de uma noite mal dormida.

    O dia seguinte foi comum, calmo até demais. As aulas de ciência no colégio foram ministradas sem contestações por parte dos alunos e sem percalços. Eu estava acertando o diário de classe, após o final da última aula, quando uma aluna se aproximou e me perguntou, meio triste:

    – Professor, o senhor acredita em Deus?

    Fiquei surpreso com a pergunta, ainda mais vindo de uma aluna do ensino básico, mas foi mais uma constatação da precocidade, em relação à minha geração, não tão distante, dos jovens da atualidade. Os pequenos praticamente já nascem sabendo utilizar o computador, o videogame e outros tantos aparelhos tecnológicos de hoje em dia. Refleti um pouco, pois, muitas vezes, minhas respostas, de cunho pessoal e, aparentemente, um tanto bizarras, soam confusas, por vezes, parecendo ofensivas. Meu conceito de Deus, e de uma porção de assuntos tão polêmicos é estranha para alguns; sempre preciso ter cuidado com o que falo. Limitei-me ao básico.

    – Claro, Eliana. Por que pergunta?

    – Sabe, professor – continua minha aluna – tem tanta coisa ruim acontecendo com a gente, tanta maldade; têm amigos morrendo por causa de droga, de assalto. Estou com medo até de vir pra aula.

    Fiquei um pouco surpreso com o que minha aluna acabara de falar. Na idade dela, eu alimentava muitas esperanças, acreditava nas pessoas, aproveitava o tempo livre para ir ao clube, perto de casa, jogar bola, andar de bicicleta e passar algum tempo com os amigos. Com o que ela me falou, de repente, me dei conta de como eu fui privilegiado, sem preocupações, sem malícia. Tinha a impressão de que alguém estava sempre olhando por mim, me protegendo dos perigos. Posso dizer que tive realmente uma infância feliz. Com o que Eliana falou, percebi que não havia muito a fazer ou falar, além de tentar confortá-la.

    – Sabe, Eliana, às vezes, a gente precisa tentar esquecer as coisas ruins e lembrar as boas. Se você acredita em Deus, tenha fé. Talvez tenhamos de passar por isso tudo. Converse com seus pais, tente fazer alguma coisa que você goste. Talvez tudo isso tenha um propósito.

    – Mas, tá difícil, professor. Outro dia, vi minha mãe chorando por causa de um vizinho nosso, o Beto, que foi assaltado na frente de casa. Tinha câmera de segurança filmando tudo. Beto estava entregando o celular; ficou nervoso, o celular caiu e o bandido, sem pena, deu dois tiros nele, um no peito e outro na cabeça. Depois pegou o celular, revirou os bolsos dele e saiu como se nada tivesse acontecido. Beto morreu lá mesmo.

    – Mas, pegaram o assassino? – perguntei.

    – Pegaram, mas ele era de menor – disse Eliana, utilizando uma expressão que, pelo significado e pelo erro de concordância, causava repulsa e indignação – se ficar preso é por pouco tempo.

    Aquilo me fez lembrar de que neste país há uma inversão total de valores. O bom é aquele que leva vantagem, que é malandro, que faz e desfaz sem se importar com os outros. Aos honestos e de bem, só resta lamentar e rezar para ter a sorte de voltar para casa depois de trabalhar. Retornando a minha aluna, apenas comentei:

    – É verdade, Eliana. Têm muitas coisas erradas neste país, mas nós temos a chance de mudar tudo isso.

    – Como, professor?

    – Simples: estudar e aprender para tentar mudar o que achamos que esteja errado. Assim podemos desfazer as injustiças, protestar, contestando algumas falsas verdades e votar corretamente. Os políticos deste país estão muito confortáveis. Precisamos colocá-los a trabalhar. Para os interesses do Brasil, é claro.

    – Não sei não, professor – retrucou Eliana, visivelmente inconformada – vi na televisão aquele monte de gente na Avenida Paulista, no centro de São Paulo. Foi até bem bonito, as pessoas protestando sem desordem. Mas, agora, tá tudo tão calmo...

    – É mesmo. Não se sabe direito o que motivou esses protestos e, menos ainda, por que pararam.

    – Bem, tenho de ir pra casa – disse Eliana – minha mãe já deve estar me esperando lá fora. Até amanhã, professor!

    – Até amanhã, Eliana. Pense um pouco no que eu lhe disse.

    – Tá bom, professor. Até.

    Continuei nos meus afazeres para fechar o diário de classe e pensando um pouco mais no que minha aluna acabou de falar comigo. Nem eu tinha certeza se o que eu acabara de aconselhar iria mesmo mudar algo neste país. Muitos se perguntam onde estaria Deus que não vê tanta coisa errada e, se vê, por que Ele não age. Eu prefiro pensar que as coisas são assim mesmo e que Deus, se existir, deve estar ocupado em criar universos. Nosso mundinho talvez seja medíocre demais para ser levado a sério, mesmo por um Deus. Puxa, como estou amargo hoje...!

    Voltei para casa para almoçar e lembrei-me do que Erica comentara ontem à noite. Vou prestar mais atenção na nossa mãe e conversar mais com ela.

    – Como foi o dia de hoje, filho? Aquele bando aprendeu alguma coisa? – perguntou minha mãe. Em tom de brincadeira.

    Achei engraçado como minha mãe se referia aos meus alunos, mas não entrei em polêmica.

    – O bando? – perguntei, comprando a brincadeira – São jovens bem espertos. Muitos deles têm futuro. Hoje, uma das alunas conversou comigo; infelizmente está preocupada e sem muita esperança.

    – Pudera! – disse minha mãe indignada - com tantas notícias ruins que nós vemos na TV e escutamos no rádio, difícil é não ficar deprimido.

    – Pois é – concordei – ela me contou de um vizinho dela que morreu em um assalto.

    – Isso está ficando cada dia mais normal – continuou minha mãe, ainda indignada. – Acho que é a impunidade. Não tem punição para nada neste país.

    – Ainda mais se for menor de idade – concordei. – Há coisas que não dá para entender.

    – Bem– disse minha mãe, tentando mudar de assunto, que é mesmo desagradável. – Fiz a carne de soja com o molho que você gosta. Tem arroz e salada. Vê se se alimenta. Você acorda cedo e chega tarde. Nesses lanches da faculdade só tem porcaria.

    – Tá bom, mãe, pode deixar! – disse eu, querendo interromper o sermão – tem alguma novidade?

    – Não, nada de mais – disse ela. – Ah! Hoje tem uma reunião no centro espírita. Vou chegar mais tarde, tá?

    – Certo, mas tome cuidado na volta. Devo chegar lá pela meia-noite. Se eu chegasse antes eu iria lhe encontrar – respondi, preocupado.

    – Tudo bem. Eu volto com a Esmeralda. Deus nos protege! – disse minha mãe, um tanto animada.

    – Mesmo assim, não facilite – falei, sério.

    – E a Glaucia, está bem? – perguntou ela – faz tempo que não a vejo...

    – Está bem, sim. Vou dar uma passada na casa dela antes de ir para a faculdade. Ela quer uma ajuda com o computador dela.

    – Tá certo. Dê um abraço para ela – disse minha mãe – Diga para ela vir aqui no domingo.

    – Tudo bem – respondi – eu verei com ela.

    – Leve um agasalho, vi na previsão do tempo que vai esfriar à noite.

    – Pode deixar. Vou levar, sim.

    – Tem outra coisa, meu filho, estou preocupada com você. De uns tempos para cá, você anda mais quieto, tem respondido com frases mais curtas, fala com algumas ironias. Está tudo bem com você? – perguntou minha mãe, em um tom sério e preocupado. – Tem alguma coisa para me contar?

    Sem ter certeza do que falar, e para não preocupar minha mãe, decidi desconversar. Talvez um dia eu converse com ela sobre algumas coisas que tenho visto ultimamente, mas tive a impressão de que o momento não era o apropriado.

    – Não, mãe – disse, tentando desconversar – na verdade, são os problemas corriqueiros, do dia a dia. Não precisa ficar preocupada.

    Passaram-se alguns minutos de silêncio e percebi que ela estava com um semblante triste. Perguntei o que a estava aborrecendo (como se eu não soubesse a resposta).

    – Sabe, Cesar, a saída de seu pai desta casa me deixou muito triste. Ele alegrava a todos, sempre tocando aquele violão, com os amigos vagabundos dele, mas que, no fundo, era gente boa. Às vezes, me culpo muito por ele ter nos deixado.

    – Eu também sinto falta das bagunças que ele e os amigos dele faziam – disse eu, tentando relembrar daqueles dias – aqueles sábados passavam tão rápido. Eu ia dormir tarde da noite e acordava no dia seguinte bem contente, ele me divertia muito. Mas, não se culpe. Era para ser assim.

    – Ah, filho, você sempre tentando simplificar as coisas. Eu preocupada com o mundo invisível e ele se divertindo tanto no mundo visível. Nossas diferenças passaram a ser tão grandes! Deveria ter percebido que eu o estava perdendo para a Alice, tão divertida e despreocupada.

    – Não se culpe, mãe – falei, tentando consolá-la – o que importa é que você tente ser feliz, levar a vida de uma maneira suave. Não foi uma, não foram duas vezes que vi o pai chegando alcoolizado em casa.

    – Isso, em parte, era por causa da decepção do nosso casamento. Ele dizia que eu não era a mesma pessoa depois que passei a frequentar o Centro Espírita.

    – Ele deveria tentar te entender, mãe. Se não conseguiu era por que as coisas já não estavam boas há muito tempo.

    – Mas o que importa agora é que eu tenho você e sua irmã comigo. Vocês alegram meu dia!

    – Pode ser, mas procure fazer as coisas que você gosta. Nós já estamos bem crescidinhos e, um dia, vamos deixar o ninho – respondi, sério.

    – Você, eu acho que logo se casa, mas a Erica, francamente, com aquele tonto do Osvaldo...

    – Ah, ela é que deve saber. Bem, eu vou arrumar minhas coisas para sair. O almoço e a conversa estavam ótimos – disse-lhe eu, apressado.

    – Tudo bem. Deixe a louça que eu lavo.

    – Obrigado, mãe. De novo, cuidado na volta, hein?

    – Pode deixar, eu sei me cuidar.

    – Já vou, então. Depois nos falamos – disse, voltando ao meu quarto.

    Separei caderno, canetas e lapiseiras, o tablet e um pen drive que eu usaria para ajudar a Glaucia com o computador. Ela diz que fez odontologia para não ter de usar a informática, que era coisa de maluco. E eu sempre digo que é o maluco aqui que sempre salva a normalzinha das encrencas. Peguei o celular e me lembrei da aluna, Eliana, e de nossa conversa da manhã. Dei-me conta de que agora estou aqui; num instante tudo pode mudar de maneira tão drástica e tão estranha. Coloquei tudo na mochila e me despedi de minha mãe, indo a pé para a casa da minha namorada a apenas três quarteirões da minha.

    No caminho, fiquei pensando em Alice, a nova companheira de meu pai. Apesar de aparentemente ter sido uma das causas da separação dos meus pais, ela é uma boa pessoa. Não os vejo muito, mas sei que meu pai teve suas razões para a separação e parece estar feliz. Nos últimos anos, minha mãe se tornou uma pessoa um pouco difícil, um tanto pessimista e muito ligada às reuniões espíritas. Não sei até que ponto isto pode prejudicá-la, ou beneficiá-la.

    Desde que se separaram, há aproximadamente dois anos, meu pai e a nova companheira dele foram poucas vezes a nossa casa. Apesar de tudo, os três mantinham uma relação cordial. Eu procurei não me intrometer; acho que eles devem se entender sem minha interferência; devem saber o que estão fazendo.

    Chegando à casa de Glaucia, minha namorada, já há três anos, bati à porta e sua mãe, dona Luiza, me recebeu.

    – Oi, Cesar. Tudo bem? Glaucia me disse que você viria hoje para ajudá-la com o computador. Parece que travou de novo.

    – Parece que sim, dona Luiza – respondi, sorrindo – ela não me explicou direito, mas acho que não deve ser nada grave.

    – Acho que não é mesmo. Você aceita alguma coisa? Um café, uma água...

    – Não precisa, dona Luiza. Obrigado. Talvez mais tarde.

    – Tudo bem. Glaucia está lá em cima, no escritório.

    – Obrigado. Até mais, dona Luiza.

    – Até. Se depois quiser um café, me avise.

    – Certo. Obrigado mais uma vez.

    Subi as escadas do sobrado e fui ao escritório, onde encontrei Glaucia já me esperando.

    – Oi amor! Que bom que você chegou! – disse Glaucia, recebendo-me com um longo beijo.

    – Interesseira... – disse eu, sorrindo – brincadeirinha. Tudo bem?

    – Tudo, menos esta porcaria deste computador. Acho que pegou vírus. Nem liga direito.

    – Tá bom, deixe-me ver, mas, vou avisando que minha hora é cara.

    – Hmm. Penso em algumas formas de pagamento – disse Glaucia, com um sorriso malicioso.

    – Safadinha. Vamos ver o que acontece aqui.

    Depois de alguns minutos, eu percebi que era mesmo vírus. Passei os programas para corrigir o problema e, alguns minutos depois, o computador estava funcionando normalmente.

    – Já te disse para não ir clicando em tudo sem ler antes – disse, sério – tem muito picareta na Internet, mais ainda nas redes sociais.

    – Tá bom, mas agora está tudo certo? – perguntou ela, aflita.

    – Sim. Pode usar normalmente. Por sorte não foi nada de mais – respondi.

    – Hmmm, meu gênio da Informática. O que eu faria sem você?

    – Espero que pouca coisa. Quero você comigo para sempre. –disse, carinhoso.

    – Pretendo atender a esse pedido – falou Glaucia, após um breve suspiro.

    – Quanto ao pagamento do meu serviço...  – falei, com um sorriso.

    Ficamos abraçados e conversando amenidades até o final da tarde; falamos sobre os problemas do dia a dia, nossos planos para o casamento, que deve acontecer depois que eu me formar; ela me falou das amigas dela que estão procurando estágio na mesma empresa que ela está e quer ajudá-las, indicando-as para a chefia dela. Assim nós passamos aqueles momentos, juntos.

    A hora de sair e ir à faculdade chegou bem rápido. É interessante como o tempo parece passar mais rápido quando estamos nos lugares e com as pessoas que nos sentimos bem. Peguei minhas coisas e me despedi de Glaucia.

    – Está de pé nosso cinema no sábado? – perguntei.

    – Está sim. Vou correr com os trabalhos da pós-graduação para ficar sossegada no final de semana. Boa aula! – desejou-me ela.

    – Tá bom. Depois nos falamos – disse eu, despedindo-me.

    Segui para o ponto de ônibus ali perto e logo chegou esse que me deixa perto da faculdade. Sentei no banco do fundo. Estava vazio, o que me deu oportunidade para começar a ler um e-book no tablet.

    De repente, ouço uma gritaria na parte da frente. Dois assaltantes, pareciam ser menores de idade, um deles com uma arma na mão e bastante nervoso, talvez drogado, exigia tudo o que os passageiros e o cobrador tinham em dinheiro, celulares e tudo que pudesse ter valor. Fiquei observando, antevendo que certamente eu seria um dos assaltados daquele ônibus.

    – Na moral, passa tudo aí tio. Vai rapidão. Senão te mato.

    Em instantes, uma viatura da polícia passa perto e fecha o ônibus, parando bem à frente. Um dos policiais, falando alto e com uma porção de palavrões, tenta intimidar os bandidos. O clima fica tenso. Um deles atira em direção aos policiais. A reação é violenta. No final, um dos menores leva um tiro no pescoço e cai imediatamente, desacordado, e o outro sai ferido no braço. Dois passageiros também são baleados. Um deles parecia em estado bem grave.

    Há estilhaços de vidro por todo o lado. Pessoas chorando, apavoradas. Mais uma vez, eu me lembrei da minha aluna na manhã de hoje. Por sorte, nada me aconteceu. Mal sabia eu que não era, nem de longe, questão de sorte. E, eu saberia o porquê mais tarde.

    Fomos à delegacia prestar depoimento; o delegado nos disse que seria rápido e aproveitou para nos dizer que um dos passageiros morrera a caminho do hospital, assim como um dos menores assaltantes. Houve gente chorando, revoltada, indignada com o estado de coisas que nos aterrorizava todos os dias. O menor que sobreviveu, será apreendido, como costumam dizer. Não deverá ficar muito tempo na instituição. Os policiais, aqueles que nos defenderam, passarão por investigação, pois houve morte em confronto. E, a vida segue. Eu disse ao escrivão tudo que eu vi e rapidamente fui liberado.

    Apesar de tudo, resolvi ir à faculdade. Estranho como ficamos entorpecidos e passamos a achar normais acontecimentos tão surreais e violentos.

    No caminho, relembrando os acontecimentos, não havia atentado para um fato curioso. Relembrei de, à minha esquerda, ter visto uma espécie de luz verde clara, pela janela, que me acompanhou, ao que parece, desde que entrei naquele ônibus.

    Não dei mais muita atenção ao fato. Cheguei à penúltima aula, uma que particularmente me interessava muito. Além da matéria em si, metodologia de desenvolvimento de sistemas, o professor, de ascendência árabe, tem uma visão bastante peculiar e interessante dos fatos que vivemos atualmente e, algumas vezes, toma alguns minutos da aula para nos falar sobre o que ele chama de a rede profunda e notícias que jamais veremos na mídia regular. Eu o chamo de Mestre Chammas. Admiro-o muito. Naquela noite, no final da aula, ele disse:

    – Em relação à programação procedural, a Programação Orientada a Objetos tem muitas vantagens, pois o código é frequentemente reaproveitado, poupando esforços ao programador. Sempre procurem desenvolver seus sistemas sob esse conceito, pois, além da rapidez no desenvolvimento, é muito mais fácil realizar uma programação visando à segurança, que quase sempre é negligenciada. Além disso, sempre documentem seu código, mesmo que seja somente você que esteja a programar, o que não é mais tão comum, pois as empresas têm equipes de desenvolvimento; muitos trabalhando em um único projeto; se algum dia, às vezes anos mais tarde, precisar melhorar seu programa, você não terá de fazer tanto esforço para lembrar como foi desenvolvido determinado algoritmo, a função de certas variáveis e a finalidade daquele trecho de código.

    A aula transcorria muito bem. Mestre Chammas sempre conseguia cativar a turma, que, geralmente, se dava bem nas provas. De repente, ele concluiu o assunto do dia e, aproveitando-se que falara em segurança, começou a falar um pouco mais sobre as redes do submundo, uma Internet que não se encontrava numa busca comum. Dizia:

    – Sabiam que existem até assassinatos encomendados pela Deep Web? Que pode ser comprado de tudo: armas, drogas, material ilícito, enfim, toda sorte de coisas proibidas? E, que existem vídeos que são comercializados sobre assassinatos, pessoas escolhidas ao acaso, que são mortas, algumas com requintes de crueldade?

    Existem informações que poderiam gerar guerras civis, tumultos de toda ordem, mas principalmente, a derrubada de muitos conceitos e crenças que se pensam serem verdadeiros. Se a população tivesse contato com um por cento do que se sabe nesse submundo, haveria uma mudança radical nos rumos da humanidade. O site de buscas que vocês estão acostumados a utilizar rastreia somente um por cento da rede. Os outros noventa e nove não são para os simples mortais.

    Aquilo tudo que o Mestre Chammas comentou tinha muito a ver com o que me atormentava desde há algum tempo. As peças começavam a se encaixar. Marcelo, um colega que eu considero como um amigo, chamou-me de lado e falou:

    – Nossa cara, quanta viagem! Paranoia pura!

    – Não sei não – discordei – eu tenho a impressão de que há muitas coisas que não sabemos, tem muita manipulação nas informações. Isso desde sempre – disse eu, um pouco apreensivo.

    – Poxa, até você, Cesar? Por que você diz isso? – perguntou Marcelo, questionando o que acabara de ouvir.

    Para evitar polêmica, limitei-me a um comentário sem maiores pretensões:

    – Se eu contar eu vou ter de te matar. Então, é melhor deixar quieto.

    Rimos um pouco e passamos a discutir sobre o Trabalho de Conclusão de Curso, que faltavam menos de seis meses para o entregarmos, aproveitando o intervalo da penúltima para a última aula, que era sobre linguagens de programação.

    Os cinquenta minutos da aula passaram rápidos e sem problemas para mim, que gosto muito do tema, também.

    O retorno para casa, após um dia bastante complicado, para dizer o mínimo, foi tranquilo; o ônibus estava cheio e fiquei em pé por um bom tempo. Com isso, prestei bastante atenção nas ruas que fazem parte do caminho para casa.

    Fico me perguntando, com frequência, o que se passa na cabeça das pessoas, muitas vezes atarefadas, correndo de um lado para o outro, às vezes, sem tempo sequer

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