Ao Toque De Um Olhar
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Book preview
Ao Toque De Um Olhar - Cacilda Tanagino
[ 2 ]
Clube de Autores Publicações S/A
CNPJ: 16.779.786/0001-27
Rua Otto Boehm, 48 Sala 08,
América - Joinville/SC.
CEP 89201-700
http://www.clubedeautores.com.br/
[ 3 ]
CACILDA TANAGINO
AO TOQUE DE UM
OLHAR
1ª Edição
2016
[ 4 ]
Título original: Ao toque de um olhar.
Diagramação:Thiago Carvalho
Design de capa: Cildinha_may
Imagem: licença:CCO Public Domain/FAQ
www.pixabay.com
Revisão: www.ortografa.com
Publicação Eletrônica: Clube de Autores Publicaçãoes S/A.
1ª Edição
2016
Contatos com o autor : tanaginoc@gmail.com
©2016 by cacilda Tanagino
Todos os direitos reservados ao autor.
Proíbida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios.
Todos os livros no Clube de autores são de responsabilidade editorial e legal
dos usuários que os publicam, sendo o papel do site exclusivamente de permitir
a publicação e de comercializar e entregar as obras adquiridas pelos leitores.
Atendimento e venda direta ao leitor:
https://www.clubedeautores.com.br
Esta é uma obra de ficção, nomes e situações ocasionalmente podem levar o
leitor a fazer algumas comparações, todavia, apesar de algumas semelhanças
com o cotidiano, os personagens encontrados nesta história são apenas alusões a
pessoas reais e nenhuma das situações e personalidades aqui encontradas
refletem a realidade; esta é apenas uma criação de propriedade intelectual do
autor, não são descrições da vida real. Esta obra contém cenas de sexo
explícito, a leitura não é aconselhada a menor de 16 anos, salvo a supervisão
de um responsável. Esta obra não tem o intuito de ofender crenças e tão pouco
fazer apologia ao sexo sem-compromisso. Mediante a este aviso à autora exime
de qualquer responsabilidade de ofensa ou mesmo de mudança de
comportamento de alguns leitores.
[ 5 ]
Nota da autora
Olá meus queridos leitores, novamente estou aqui, sonhando com
vocês mais uma história de amor. Quando idealizei este projeto pensei
exclusivamente em vocês, principalmente nas pessoas que desde o primeiro livro,
vem acompanhando meus passos. Como nos outros livros, esta história também
se passa nos Estados Unidos, o motivo para que seja assim, não é por falta de
nacionalidade, mas retratar outros horizontes é uma liberdade que cabe apenas
aqueles que sonham. Este projeto vem contar a vocês a história de Demétrius e
Charlie. Demétrius e Charlie viveram um romance ardente ainda na
adolescência, porém, mesmo apaixonado Demétrius abandonou Charlie para
realizar seu projeto de se tornar um homem público. O tempo passou, ele se
tornou um renomado promotor de justiça, mesmo com sua vida conturbada pelo
trabalho as nuances de Charlie assombravam os sonhos de Demétrius, o peso
na consciência não deixava ele em paz, até que em uma tarde, em um tribunal
na Califórnia os dois voltam novamente a se ver. E o mundo de Demétrius
desmoronou. A garota de cabelos vermelhos ainda era dona de seu coração,
Charlie havia se tornado uma mulher. Uma mulher linda e cheia de
propósitos, e para o desespero de Demétrius descobrira que ela era uma mulher
casada. Demétrius precisava lutar novamente para conquistar o coração de
Charlie, mas um segredo afastava Charlie de sua vida. Ele não iria descansar
enquanto não soubesse que segredo era aquele. Por outro lado, Charlie ainda
amava Demétrius, mas o sofrimento que ele causou em sua vida não podia ser
apagado apenas com um sorriso, ela queria fazê-lo sofrer, porém seu coração
novamente a traiu. Ao ser beijada por Demétrius descobriu que não poderia
viver sem o calor que emanava daquele homem. Ela precisava respirar
novamente o mesmo ar que ele. Mas o segredo que guardava a sete chaves não
poderia lhe ser revelado, a não ser que uma manobra do destino viesse mudar
totalmente a história para os dois. O toque de um olhar revela um romance
ardente cheio de controvérsias e contratempos, dois personagens fortes que lutam
por suas ideias paralelamente ao amor que sente um pelo outro.
[ 6 ]
"Nada neste mundo nem no outro, pode nos separar. O tempo é
sempre curto demais para quem precisa dele, só que para os amantes ele dura
para sempre. Não pense separadamente nesta e na próxima vida, pois uma dá
para a outra a partida." Rumi.
[ 7 ]
A você, por ser esta pessoa
linda, que sempre me faz sorrir nas horas em que quero chorar. Meu querido e
eterno amor.
[ 8 ]
Prólogo
Q uando cheguei a Great Falls em Montana, tinha apenas dez anos, não
sabia da existência desta cidade e tão pouco conhecia a história de meu pai,
muito menos imaginava que poderia existir em algum lugar do meu passado a
existência de um pai. O pai que nunca conheci e que falecera muito antes de
minha mãe supor que estava grávida. Chegamos à pequena cidade para
ficarmos apenas um mês, mas um mês se tornou um ano e um ano se tornou
dez e quando percebemos já estávamos mais do que enraizados na pequena
Great Falls. Muitas coisas na minha vida mudaram depois que viemos viver
com meu avô. Antes disso, minha mãe e eu vivíamos mudando de um lado
para o outro, sem-muita parada. Infelizmente, ela tinha o dedo podre para a
escolha de seus parceiros. Todos, dos quais me lembro, eram sempre violentos e
beberrões. Ela vivia com os olhos e os lábios inchados devido aos maus tratos
que recebia de seus parceiros. Isso perdurou por toda minha infância até que
um belo dia, depois de brigar violentamente com seu parceiro número seis ou
sete, ela decidiu fugir, saímos apenas com a roupa do corpo e as economias que
ela conseguiu guardar para alguma emergência, como essa. Então, viajamos
por uns cinco dias cortando o estado; em algum momento da viagem chegamos
a dormir no relento como também alimentávamos apenas nas paradas que
encontrávamos pelo caminho. Por incrível que apareça não me encontrava
triste, estava aliviada, minha mãe havia tomado uma atitude, finalmente
estava cumprindo com a palavra dada a mim tantas vezes. Ao fugirmos
descobri um novo sentimento brotar em meu coração, descobri que podia ter
esperanças.
Antes de chegarmos ao rancho de meu avô em 1983, morávamos em um
pequeno trailer, onde tinha uma divisória de compensado que separava minha
pequena cama de minha mãe. Tínhamos um pequeno banheiro que consistia
em um vaso sanitário e um chuveiro, não existia um lavatório para lavarmos o
rosto e escovar os dentes. Isto? Bem, fazíamos, isto do lado de fora do trailer,
no mesmo lugar onde minha mãe lavava a roupa e as panelas. Pensar nisso é
Ao toque de um olhar- Cacilda Tanagino
deprimente, mas para mim era uma situação normal, minha infância foi em
meio a total pobreza. A nossa sala e a nossa cozinha eram o mesmo
ambiente; digo isso, porque tínhamos uma pequena mesa que ficava embaixo
da janela, a televisão ficava em uma prateleira acima da janela do lado da
mesa; em frente à mesa se encontrava o pequeno fogão de duas bocas, além dos
poucos talheres e vasilhas, haviam quatro bancos que ficavam em torno da
mesa vermelha. Eu odiava a cor daquele trailer, por fora era todo encardido,
por causa da ferrugem e por dentro, além da cor vermelha, tinha um
revestimento de parede que imitava madeira. No verão, quase morríamos de
calor e no inverno, bem, nem preciso dizer, você pode imaginar o quanto era
gelado. O aquecedor vivia quebrado, contávamos com as fogueiras externas que
Billy fazia para assar seus pedaços desprezíveis de carne. Mas era minha casa,
morava ali com minha mãe e de alguma maneira ela queria que aquele lugar
fosse legal e habitável.
Uma das desvantagens de se morar em uma cidade pequena é justamente
não ter onde trabalhar, pois as opções são.... Como posso dizer.... Precárias?
Hum! .... Insuportáveis, seria um termo mais adequado para caracterizar o
serviço de uma garçonete, auxiliar de cozinha ou mesmo auxiliar de agentes de
coleta seletiva; salvo aqueles que resolvem terminar o secundário para se
casarem ou nem terminarem, como aconteceu com minha mãe. Ela trabalhava
como estoquista em um empório agrícola, o dinheiro não era muito, mas dava
para sobrevivermos. Enquanto viajávamos, para passar o tempo, ela me
relatava algumas coisas sobre a história de amor que teve com meu pai. E
para vocês compreenderem a minha vida terei que lhes contar um pouco do que
ela me contou...
Ela se casou com meu pai aos dezesseis anos, ele era, três anos mais velho
que ela. Conheceram-se na infância, a paixão nasceu mutuamente. Ela me
contou entre lágrimas que adorava os domingos, pois era o momento de vê-lo na
igreja, ela fazia parte do coral, e do altar ficava olhando para ele. O menino de
cabelos vermelhos e o rosto cor de ferrugem. Os olhos pareciam duas grandes
esmeraldas de tão verdes que eram, ela ficava hipnotizada cada vez que ele a
olhava. Essas características peculiares dele foram passadas para mim; filho de
um rancheiro, criador de cavalos, morava em uma grande propriedade, embora,
10
Ao toque de um olhar- Cacilda Tanagino
fosse uma família abastada da pequena cidade, eles não eram arrogantes e
muito menos orgulhosos, tratavam a todos com muito carinho e respeito.
O tempo foi passando, e a aproximação entre eles foi inevitável, viviam
juntos, faziam tudo juntos, e num final de tarde, depois de cavalgarem,
acabaram cedendo à vontade e a curiosidade, dando vazão ao desejo, e uma vez
só não era o bastante para quem estava com os hormônios a flor da pele. Com
isso, não demorou muito para os planos de meus avós irem por água baixo,
duas famílias extremamente recatadas e religiosas não podiam deixar os dois
jovens se amando pelas pradarias e cachoeiras, não houve jeito, tiveram que
fazer o casamento dos dois jovens adolescentes. Meu pai era um proeminente
caubói, aprendera montar ainda na tenra idade, o que fez jus a sua ascensão
profissional, tornou-se um dos mais jovens campeões de rodeio pelo estado de
Montana. Mas sua destreza e seus vários prêmios não o impediram de cair
violentamente no alambrado e diante de centenas de olhos partira dessa vida
deixando minha mãe sozinha. A partir daquele momento nada mais foi
perfeito. A dor foi tão grande que ela juntou seus pertences e foi se embora de
Great Falls para nunca mais voltar. Três meses depois de sua partida se
descobriu grávida, numa tarde fria do mês de dezembro cheguei ao mundo. E
agora estávamos juntas rumo a sua cidade natal onde tudo começou.
No final da tarde de junho, chegamos em Great Falls, não descemos na
cidade, descemos alguns quilômetros antes, na estrada que dava acesso ao
rancho de meu avô, receosa, minha mãe caminhava em silêncio, suas passadas
fortes pelo chão empoeirado da estrada durou uns quinze minutos, ou talvez
mais um pouco, quando já estava preste a lhe dizer que estava cansada avistei
uma casa enorme de madeira sobre uma grande rocha arredondada, a casa era
acolhedora, porém, parecia que estava abandonada. As janelas estavam
empoeiradas e alguns vidros quebrados, a porta também estava fora do lugar, à
impressão que se tinha era que alguém chutara a porta com toda violência do
mundo, um arrepio percorreu meu corpo. Acreditei muito cedo na palavra
esperança. Apertei a mão de minha mãe demonstrando meu pavor, porém ela
se manteve firme, e sorriu para me dar conforto, então ela chamou pelo nome
que supus ser de meu avô:
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Ao toque de um olhar- Cacilda Tanagino
— Mitchel! Mitchel! - Minha mãe chamou mais alto enquanto seguia o
entorno da casa.
— Ei Mitchel! Onde você está?
— Quem chama? Eu... – Em nossa frente estava um velho sisudo e
desconfiado olhando em direção a minha mãe. A impressão que tive que ele
não acreditava no que seus os olhos estavam vendo, mas depois de alguns
instantes de hesitação, ele percebeu que a mulher a sua frente era a viúva de
seu filho. Então com uma voz grave e rabugenta perguntou com aspereza: —
O que é que você quer por aqui? Meu coração disparou. Minha mãe também
tremia, então, ela olhou para o homem de tez pálida, seu olhar era melancólico
e profundamente desbotado, cabelos brancos e feições amarrotadas. Eu o olhei
com receio, estava vestido com um macacão jeans, e uma camisa xadrez, seu
chapéu estava amassado e muito empoeirado, trazia um cigarro na boca, e
nenhuma paciência no olhar.
— Mitchel, me perdoe por aparecer assim sem avisar.... Eu.... Eu não
tinha para onde ir.... Pensei em você, não está me reconhecendo???? - O velho
nos olhava, com desconfiança, porém minha mãe continuava: — Sou eu.
Audrey.... Não está me reconhecendo? -O velho levou um tempo para
responder, ainda nos observando quase desacreditando no que via, então depois
de uns minutos de suspense ele respondeu inquisidoramente a minha mãe:
— Audrey. Depois deste tempo todo de ausência. Não quero acreditar,
que você resolveu aparecer do nada em minha casa. Mas meus olhos estão me
mostrando.... É você mesmo.... Por onde você andou? Por que você foi
embora? Sua dor não era menos ou mais que a minha? Eu perdi meu único
filho, minha dor ainda está aqui - ele bateu no peito com força -, estou ainda
mais dilacerado com o passar dos anos. Você foi muito egoísta ao partir.
Fiquei muito magoado com sua atitude. Mas agora que está aqui, não sei o
que lhe dizer. As coisas por aqui ficaram muito ruins depois que Charlie se
foi... E depois teve a Charlotte, ela não suportou ver minha dor e a minha
bebida e como você partiu sem dizer nada.... Agora ela está casada com outro
morando no Canadá. Ele concluiu, enquanto me olhava, me analisando.
Então algo nos olhos dele iluminou e ele perguntou quase que em desespero por
ouvir a resposta. — Quem é esta menina? Não vai me dizer que ela é sua
12
Ao toque de um olhar- Cacilda Tanagino
filha? Minha mãe olhou para ele e depois olhou para mim, e em seguida lhe
respondeu:
— Ela é nossa Mitchel. Ela é filha de Charlie.
— Filha de Charlie, mas como? Você não nos disse nada. Você estava
grávida e ficou em silêncio, talvez se tivesse dito a história poderia ter sido
diferente para todos nós. Foi-se e a levou de nós? Por quê? E agora aparece
assim. O que você ainda quer de mim? Já não tenho riqueza, nem sou mais o
grande criador de cavalos. Olha a sua volta, está tudo destruído. Não tenho
força para tocar a propriedade, e que dirá mantê-la aqui. Ele olhou para ela
não com raiva, mas com muita mágoa, e com certeza ao olhá-la no rosto viu os
hematomas no canto dos olhos e no queixo.
— É muito complicado. Não fique zangado comigo e nem me condene pelo
meu silêncio, eu também... só fui saber que estava grávida um tempo depois
que parti. Depois não pude voltar, porquê nunca tinha dinheiro o suficiente.
— E agora você tem? Agora? Depois destes anos todos, você me aparece
aqui desfigurada com uma menina que eu nem sei se posso realmente ter
certeza que é minha neta. Você sabe o que está me pedindo Audrey?
Explodiu o velho.
— Perdoe-me, jamais quis magoar você ou qualquer outra pessoa na
minha vida, mas como você também fui condenada, também fiquei sem-
Charlie, também perdi o sentido da minha vida até que descobri que carregava
em meu ventre um pedaço da única pessoa que me fez feliz.
Aquelas palavras devem ter sido um murro no estomago do meu avô, pois
ele ficou mais pálido e com o chapéu em torno das mãos tremulas se dirigiu a
mim:
— Como é seu nome menina? Ele me perguntou ainda com aspereza na
voz e eu lhe respondi:
— Meu nome é Charlie Robson.
— Charlie? Mas isso é inapropriado para uma menina.
— Na verdade meu nome é Charlotte, mas minha mãe me chama de
Charlie desde pequena.
Ele sorriu, de repente aquele velho rabugento transformou a face
amarrotada em um sorriso quase igual ao meu. E eu amei aquele sorriso.
13
Ao toque de um olhar- Cacilda Tanagino
— Qual a sua idade Charlie?
— Tenho 10 anos.
— Também chamávamos sua avó de Charlie. É... Gostei muito de seu
nome. E desamarrando os entraves do primeiro encontro com minha mãe, ele
relaxou e estendeu as mãos em direção à porta de entrada da casa. —
Venham. Vocês devem estar exaustas. Audrey; não sei quais são os seus
planos para o futuro, se é que você tenha feito algum, mas quero que saiba que
aqui é seu lugar, sempre foi, fique quanto tempo quiser. A casa não está muito
bem, depois que Charlie partiu, desgostei de tudo. Vendi os cavalos. Minha
mulher foi embora... Bom.... Enfim, chega de histórias. Vamos! Venham....
Podem ficar no quarto que foi de Charlie, acho que é o único lugar da casa que
ainda está intacto. E foi assim que tudo começou...
Os anos passaram. Em pouco tempo minha mãe fez com que a casa se
tornasse habitável novamente, um mês depois de nossa chegada, ela já havia
arrumado emprego na cidade e eu havia me matriculado na escola. Na medida
em que crescia ia fazendo amigos e me tornando popular entre eles, meu avô
aos poucos foi adquirido confiança e com a ajuda de alguns amigos voltou a
criar cavalos meses depois de nossa chegada minha mãe encontrou-se com Greg,
ele era o xerife da cidade, os dois começaram um relacionamento tão logo já
estavam morando juntos, meu avô o conhecia, a chegada de Greg no rancho foi
algo muito positivo pois, ele tornou-se um forte aliado de meu avô na criação
dos cavalos, então fui para o ensino secundário. Já no primeiro dia de aula
conheci Demétrius, o arremessador de ouro do nosso time de beisebol.
Durante meses curti uma paixão secreta por ele, até que um dia ele me viu
na equipe de torcida. E secretamente começamos a trocar torpedos e logo em
seguida já estávamos cavalgando pelas planícies de nossas terras. Como eu, ele
adorava cavalgar, por ele teria se tornado um caubói, mas seu pai não
permitiu, queria que ele fosse um político. Mas enquanto isso não acontecia
aproveitávamos o nosso tempo. O tempo que passou muito depressa, então veio
à formatura e consequentemente a vaga tão sonhada em Harvard saiu para
Demétrius, ele ficou maravilhado com a sorte que teve, posso dizer que nunca
tinha visto tanto entusiasmo assim, que acabei aceitando seu convite para ir ao
14
Ao toque de um olhar- Cacilda Tanagino
baile de formatura, se eu soubesse tudo que iria acontecer depois daquele dia
jamais teria aceitado seu convite.
Na noite da formatura, depois de alguns ponches batizados com vodca, não
resisti aos seus apelos e me entreguei, sem-nenhuma reserva, sem-
nenhum encantamento deixei me levar. Entreguei minha virgindade em uma
bandeja de prata bem embaixo do palco, encostada na parede dura e áspera,
com um barulho ensurdecedor da música. Sem romance, sem-luz de vela, sem-
champanhe, mas estávamos bem, estávamos apaixonados, apaixonados? Não!
Corrigindo: Eu estava apaixonada. Eu sabia o que estava fazendo. E ele?
Bem... Depois de me deixar em casa, todo constrangido por termos ido além do
necessário, ele me beijou apressadamente e saiu quase que correndo de perto da
minha casa, mais tarde um torpedo de agradecimento surgiu em meu celular:
Obrigado Charlie, nunca vou esquecer essa noite
. Apenas um beijo e
nenhum adeus. Partiu sem fazer promessas. Não chorei, não me desesperei,
porém, fiquei realmente arrasada, quando descobri que a nossa noite havia me
deixado grávida, não por mim, mas por aquela criança que não tinha sido
planejada, não tinha sido amada. E nem esperada. Gerada por dois
adolescentes sem juízo e com grandes sonhos para o futuro, um futuro pelo qual
não havia lugar para aquele pequeno ser. Fiquei desorientada no princípio,
aquela novidade me tirou o chão e pela primeira vez na vida pude avaliar os
sentimentos de minha mãe ao se deparar, grávida de mim.
Decidi procurar por ele, mas vão consegui comunicar-me. Tentei falar com o
pai dele, também não tive nenhum sucesso. Depois daquela noite de formatura,
nunca mais o vi e tão pouco tive notícias. Por conta disso, minha família
tomou todas as providências a respeito de minha gravidez, decidiram que eu
deveria ter o bebê, decidiram que eu me afastaria da escola até ele nascer e
depois retornaria para meus estudos, noites exaustivas de conversas e
preparação, então numa noite fria, estava eu sentada em frente à lareira da
grande sala, meu avô sentado em sua poltrona de costume, olhou para mim e
me fez prometer que jamais deveria dizer a alguém quem era o pai de meu
bebê, este segredo estaria solenemente guardado dentro daquela sala. Assim,
ainda duvidando da minha própria vontade, prometi ao meu avô que teria
15
Ao toque de um olhar- Cacilda Tanagino
meu filho e que continuaria com meus estudos, mesmo sem ter certeza do que
realmente queria, cumpri com minha palavra.
Anos mais tarde, depois de formada, comecei a trabalhar para um
escritório na Califórnia, então numa tarde de correria entre departamentos e
cartórios eu vi Demétrius, eu o reconheci quase que imediatamente, ele estava
acompanhado de uma morena estonteante entrando na sala ao lado de onde eu
estava, pela primeira vez na minha vida senti-me pequena, escondi-me, e fiquei
observando no homem que ele havia se transformado, ele mantinha o mesmo
rosto da adolescência, porém os traços agora eram mais fortes e definidos,
estava mais forte, sua aparência era notadamente a de um homem decidido e de
sucesso, ele emanava uma força que fazia qualquer mulher rastejar aos pés
dele. Fiquei imaginando inúmeras coisas, mas aí o vi sorrindo, e vi quando ele
colocou a mão estrategicamente nas pernas da acompanhante, vi bem a mesma
malícia que me seduziu anos atrás. Quis morrer, foi muito dolorido vê-lo se
derretendo com outra. Então, depois de tantos anos, pela primeira vez chorei
por causa daquele homem, coloquei para fora toda minha raiva, minhas
mágoas. Lágrimas quentes lavaram meu rosto. "Como fui tola e inocente.
Como pude imaginar que entre nós havia amor.... Acreditei nas palavras de
Demétrius cegamente. E tudo que ele fez, foi apenas um jogo de sedução. Um
jogo sujo e cruel". Fiquei assim por um tempo, mais tarde depois de secar
minhas lágrimas decidi que precisava voltar para a casa, aquela cidade se
tornara insuportável, o ar me sufocava, o brilho me ofuscava, o ar me lembrava
do perfume da mulher que ocupava um lugar que poderia ser meu. Precisava
voltar.
Afinal, minha família estava em casa esperando por mim, e meu filho
também, embora não o tenha criado, minha mãe e meu avô cuidaram da
educação dele e desde a tenra idade sempre o fizeram saber da importância de
minha existência na vida dele. Então, todas as férias, todos os feriados, meu
destino era Montana para ficar junto de meu bebê. Desde pequeno, meu filho
sempre foi muito amoroso e meigo, sempre se dirigiu a mim por mãe, isso
sempre me fez muito feliz. Talvez, a existência de meu filho tenha sido a
razão de meu empenho na área profissional e também pessoal. Então, decidida
a ir para casa fui para o aeroporto de Sacramento. Já estava no saguão de
16
Ao toque de um olhar- Cacilda Tanagino
embarque, quando fui surpreendida por Edmund S’inclair, ofegante ele veio
até mim e me impediu de embarcar.
— Charlotte! Graças a Deus te encontrei.
— Edmund? O que faz aqui? Você não havia embarcado para o Caribe?
— Eu ia, porém, resolvi ligar para seu escritório então me disseram que
você estava partindo. Eu não poderia deixar você partir sem antes lhe dizer o
que preciso. Por favor, ouça-me e se você ainda achar que precisa ir embora.
Eu vou entender, mas não deixarei de lutar por você.
— Edmund... Não seja precipitado, você tem seus compromissos com o
País, sei que você ama o que faz...
— Mas amo muito mais você. E se para ficar com você é preciso desistir de
meus sonhos, eu declaro a ti neste instante que desisto em nome do amor que
lhe tenho. Abro mão de minha carreira militar, mas por favor não vá, quero
ficar com você, quero ser seu marido.
— Edmund... Eu.... Não sei o que dizer. Você me pegou de surpresa.
Eu...
— Não diga nada. Apenas aceite. Charlotte Robson aceita ser minha
esposa para que eu possa te amar e te respeitar, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, todos os dias de minha vida.
Olhei para aqueles olhos profundos, aquele rosto marcado por um vinco no
meio da testa e então olhei para suas mãos. Alguns segundos ou um pouco
mais que isso, me fez pensar naquela situação. O que significava viver com
Edmund? Ele sempre foi tudo aquilo que nunca pensei em ter. Melhor
dizendo, pensei em ter sim, mas com outra pessoa, de amigo querido se tornou
o melhor dos amantes. O conheci no final da faculdade, ele ainda era um jovem
aspirante-oficial
da Força Aérea, tinha o porte atlético, braços e pernas bem
torneadas por músculos firmes, não era muito alto, tinha menos de 1,80m.
Louro e de olhos escuros, tez muito clara, tão clara que o sol não o bronzeava
o deixava vermelho igual a um tomate, mas Edmund possuía uma qualidade
que eu amava, aqueles olhos negros que me olhavam profundamente cada vez
que me encontrava transmitiam paz, segurança e confiança, três qualidades
que meu avô sempre me dizia que devia encontrar nas pessoas, as outras coisas
17
Ao toque de um olhar- Cacilda Tanagino
seriam complementos, mas a principal era a honestidade. E Edmund era
muito honesto em tudo que fazia.
Quando ele chegou em mim no aeroporto, pensei que estivesse brincando,
então, ele me mostrou o anel, fiquei sem respirar por segundos.... Quanto
tempo, estávamos juntos? Não conseguia me lembrar, nunca falamos de
namoro e muito menos de formalizar nossa relação. Ali estava ele emocionado
e com os olhos marejados me pedindo em casamento. Respirei
profundamente ante aquela decisão. Pensei em Demétrius e vi que ele era um
sonho de adolescente que não voltaria jamais. Pensei no meu filho e em meu
avô, o sonho dele era que eu tivesse uma família. Que eu tivesse um marido
para cuidar de mim, e outros filhos para encher aquele rancho de alegria.
Coitadinho de meu avô, ele sempre quis a minha felicidade.
Olhei para aqueles olhos negros, profundos como a noite e as minhas
dúvidas se dissiparam no momento em que aquele meio sorriso me aqueceu. —
Sim! Eu me caso com você. Aceitei o pedido. E dias depois, estávamos no
rancho em Montana oficializando meu sim diante de minha família e da
família de Edmund, foram os meses mais felizes de minha vida, mas nada é
para sempre, antes do natal viajamos para a Europa, e depois de um logo
passeio pelas ruas de Andaluzia, fomos surpreendidos com um telefonema na
noite, novamente fora convocado para o Afeganistão. Já tinha um tempo que
ele vinha se esquivando de voltar para aquele inferno, mas não tinha como
mudar as decisões de seus superiores. Então, voltamos para casa. Ele arrumou
seus pertences em um grande saco de viagem tipicamente usado pelos militares e
com o sorriso mais lindo pediu para eu não me preocupar com nada, que
mesmo distante estaria cuidando de