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Homohistória
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Ebook329 pages1 hour

Homohistória

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Este livro trata da divulgação das referências a homossexualidade, focando-se, como parte de uma coleção, apenas na Antiguidade Oriental.
LanguagePortuguês
Release dateMar 16, 2017
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    Homohistória - Lenin Campos Soares

    [1]

    [2]

    [3]

    Lenin Campos Soares

    HOMOHISTÓRIA:

    Antiguidade Oriental

    Natal – RN

    2015

    [4]

    _________________________

    S655 Soares, Lenin Campos

    Homohistória: Antiguidade oriental/ Lenin

    Campos Soares. - Natal, RN: LCS, São Paulo:

    Clube do Autor, 2015

    ISBN nº

    1. História. 2. História da Antiguidade Oriental.

    3. Homoerotismo. 4. Mesopotâmia. 5. Egito. 6.

    Índia. 7. China. 8. Pérsia. 9. Israel. 10. Fenícia.

    11. Hititas. I.Soares, Lenin Campos II.Titulo.

    CDD

    CDU 94(3):055-3

    _____________________________________________

    [5]

    Sumário

    Introdução …....................................................... 09

    Alexandre Não É Gay: homoerotismo e

    homossexualismo, a historicidade de um conceito

    Mesopotâmia …...................................................33

    O Amor de Gilgamesh

    As Leís Assírias

    O Manual de Summa Alu

    Os Abençoados de Inanna

    Os Servos de Ishtar

    Egito ….................................................................47

    A Contenda de Hórus e Seth

    A Pirâmide de Unas

    O Livro dos Mortos

    As Máximas de Ptah-Hotep

    O Faraó e o General

    O Amante Misterioso de Akhenaton

    A Tumba dos Amantes

    O Papiro de Turim

    Índia …..................................................................70

    A Natureza e o Rigveda

    As Virgens do Manu Smriti

    Os Vinte Tipos de Panda

    O Livro do Desejo

    [6]

    As Formas dos Deuses

    O Terceiro Gênero

    O Filho de Duas Rainhas

    A Menina Criada Como Menino

    Os Dançarinos do Deva

    Os Amores de Krishna

    O Amor de Aruna e Surya

    Os Prostitutos da Mãe de Todos

    China …................................................................105

    O Pêssego Mordido

    A Manga do Imperador

    A Dualidade Taoísta

    O País das Mulheres

    Os Amantes dos Xian

    Os Estuprados por Dragões

    O Deus Coelho

    O Exemplo de Long Yang

    A Árvore do Travesseiro Compartilhado

    O Rosto de Jade

    Os Conselhos dos Homens Bonitos

    O Vento Sul

    O Favorito do Tigre de Pedra

    Pérsia …..............................................................150

    Os Homens e os Meninos

    Bagoas, o Príncipe dos Eunucos.

    Os Homens de Confiança de Ciro

    As Respostas de Ahura-Mazda

    As Leis Contra os Demônios

    Arimã e o Nascimento do Mal

    Israel …..............................................................171

    [7]

    A Destruição de Sodoma e Gomorra

    A Guerra Contra Gibeá

    O Código de Santidade do Levítico

    Os Cães Cananeus

    Os Eunucos do Deuteronômio

    O Amor de Davi e Jonatas

    A Imagem dos Filisteus

    O Carinho de Daniel e Ashpenaz

    O Incesto de Noé e Cam

    A Devoção de Rute à Naomi

    Fenícia …......................................................….213

    O Senhor das Mulheres

    Os Servos do Rei

    A Poesia de Cartago

    Meleagro e Seus Ratinhos

    Os Sacerdotes de Astarté

    Hatii …............................................................ 235

    Os Filhos Estuprados

    Os Rituais Para ser Homem

    As Cartas de Amarna

    Bibliografia

    [8]

    [9]

    INTRODUÇÃO

    Alexandre não é gay!

    homoerotismo e homossexualismo, a historicidade

    de um conceito.1

    O historiador sempre escreveu por

    prazer e para dar prazer aos outros.

    Georges Duby

    Tencionamos aqui discutir a emergência do

    conceito de Homossexualismo e observar se seus usos

    são adequados à História, principalmente pensando

    se pode ser aplicado ao passado, diante de tantos

    trabalhos que têm utilizado o termo. O uso deste

    conceito é comum em História. Livros como o de

    Kenneth J. Dover, A homossexualidade na Grécia

    antiga (1978) ou o livro de Colin Spencer,

    Homossexualidade: uma história (1995), além de um

    capítulo no livro de N. Vrissimtzis, Amor, sexo e

    casamento na Grécia Antiga (2002), dedicado a

    Homossexualidade feminina; e artigos publicados em

    revistas especializadas em História como o artigo de

    Philippe Áries, Reflexões sobre a história da

    homossexualidade (1979-1980) ou de Rachel Correia

    Lima Reis, Homossexualidade e política nas comédias

    1

    Este capítulo foi primeiramente publicado na revista

    ArtCiência.

    [10]

    de Aristófanes (2002) 2 demonstram que o emprego

    da expressão Homossexualismo/Homossexualidade é

    bem comum, todavia nem sempre com a atenção que

    o emprego de tais concepções necessita.

    Para tanto, dividimos esta introdução em três

    partes. Primeiramente nos voltaremos a pensar como

    o corpo se tornou espaço de poder, sobretudo nos

    séculos XVIII e XIX, como o corpo foi controlado,

    reprimido ou evidenciado, e como tal poder cria uma

    sexualidade; em seguida nos deteremos na formação

    de

    identidades

    a

    partir

    da

    sexualidade,

    principalmente no século XIX, quando surge a palavra

    Homossexualismo; e após estas considerações,

    proporemos

    a

    observação

    destes

    conceitos

    contemporâneos para a Antiguidade, tentando

    responder se existiram homossexuais no mundo

    antigo.

    O sexo e o gládio.

    As pesquisas sobre o sexo e a sexualidade

    foram introduzidas na ciência histórica a partir da

    década de 1960, dentro das discussões originadas

    pelos movimentos feminista e homossexual e da

    revolução sexual que se inicia neste período 3, mas

    2

    DOVER, Kenneth. A homossexualidade na Grécia

    antiga, ARIES, Philippe. Reflexões sobre a história da

    homossexualidade In: Sexualidades Ocidentais, SPENCER,

    Colin. Homossexualidade: uma história, VRISSIMTZIS, N.

    Amor, sexo e casamento, REIS, Rachel Correia Lima,

    Homossexualidade e política nas comédias de Aristófanes In:

    Hélade.

    3

    ENGEL, Magali. História e sexualidade.

    [11]

    tomou impulso após a introdução de novos objetos

    de pesquisa com a chamada Nova História no meio

    historiográfico, a partir da historiografia francesa e

    depois disseminada em boa parte do Ocidente, em

    diversos graus. Autores como Jacques Le Goff, Michel

    de Certeau, Georges Duby e Emmanule Le Roy

    Ladurie, entre outros, passaram a pensar a produção

    histórica (seus métodos, objetos e problemas) numa

    escala maior. E coisas que antes eram desprezados

    pelos historiadores - não possuíam uma História –

    passaram a ter um papel importante em várias de

    suas intrigas, utilizando a expressão de Paul Veyne.

    Ganharam, então, o status de objeto. Tornaram-se

    dignos de observação. "O amor, a paixão, o corpo, o

    desejo, as emoções, a doença, a loucura, enfim,

    novos temas ou antigos objetos vistos através de

    novos olhares" 4.

    No livro Faire de l’histoire, organizado por

    Jacques Le Goff e publicado na França em 1974 5,

    como uma tentativa de sistematização das idéias que

    a Nova História tinha proposto, o corpo ganha um

    capitulo na terceira parte do livro. Ele é

    problematizado. Funda-se o corpo como objeto

    histórico. De autoria de Jacques Revel e Jean-Pierre

    Peter, e com o título: O corpo: o homem doente e sua

    história, logo nas primeiras linhas do artigo somos

    advertidos: "Vivemos sem possibilidade de refletir

    sobre as aventuras de nosso próprio corpo. Sua

    evidência familiar e enganadora determina-lhe uma

    topografia positiva (diz-se natural), que, por sua vez,

    4

    Idem. p. 297.

    5

    Este livro foi publicado no Brasil com o título

    História, em 1995.

    [12]

    nos substitui o pensável" 6 . Ou seja, somos avisados

    que o corpo foi considerado um objeto exclusivo das

    ciências naturais e, como tal, não possuía uma

    História, pois suas leis existiam desde "o início dos

    tempos". Não mudavam porque eram naturais. Não

    havia o que mudar. Mudar as leis do corpo faria com

    que ele parasse de funcionar. E como sem mudanças,

    não há História. Não havia História do corpo.

    Concomitantemente, as discussões sobre

    gênero, incitadas pelo movimento feminista, criaram

    discussões sobre o local da mulher e do homem na

    sociedade e, a partir daí, a discussão dirigiu-se a como

    seus corpos são controlados e, sobretudo, como se

    dão as relações entre estes corpos. O corpo então se

    torna um espaço em que o poder age. O corpo

    feminino controlado pelos homens, o corpo infantil

    controlado/suprimido pela família, ou mesmo o corpo

    social controlado pelo Estado 7.

    É então em meio a este campo de pesquisa

    que as pesquisas sobre o Homossexualismo vão

    surgir. Os homossexuais que, na década de 1960,

    "formam hoje um grupo coerente, por certo ainda

    marginal, mas que tomou consciência de uma espécie

    de identidade: ele reivindica direitos contra uma

    sociedade dominante que ainda não o aceita" 8, como

    afirma Philippe Áries, iniciam um processo de

    reivindicação de seu direito a uma História. Estas

    pesquisas pretendem encontrar o Homossexualismo

    nos recantos mais antigos da História humana numa

    6

    REVEL, Jacques, PETER, Jean-Pierre. O corpo: o

    homem doente e sua história. p. 141.

    7

    ARIÈS, Philippe. Op.cit.

    8

    Idem. p. 77.

    [13]

    tentativa pueril, é verdade, de perdoar as ações do

    presente encontrando-as no passado. Tal produção

    torna-se panfletária – pretendendo provar que

    homens importantes da História foram homossexuais

    – e cria uma idéia, para dizer menos, anacrônica sobre

    as relações sexuais e amorosas entre pessoas de

    mesmo gênero. Tentando justificar e legitimar as

    ações do presente, exatamente o oposto do que a

    produção feminista tem construído 9, esta produção

    lança o Homossexualismo ao passado. De acordo com

    Foucault, "uma de suas primeiras preocupações, em

    todo caso, foi a de assumir um corpo e uma

    sexualidade – de garantir para si a força, a

    perenidade, a proliferação secular deste corpo

    através da organização de um dispositivo de

    sexualidade" 10. Entendendo-se sexualidade como

    todo discurso sobre o sexo e o corpo, discurso esse

    que foi construído a partir do século XVIII e, se

    firmou, no século XIX.

    Neste momento se introduz uma verdadeira

    revolução por causa da produção do pensador

    francês Michel Foucault sobre o sexo e a sexualidade,

    que não foi, definitivamente, como diz Magali Engel,

    aceita sem causar polêmica no meio acadêmico 11 .

    9

    A produção feminista pretende desconstruir o

    controle masculino sobre as mulheres, muitas vezes tentando

    provar um matriarcado (que atualmente tem sido demonstrado

    muito mais um mito feminista do que uma realidade) ou

    simplesmente pescando grandes mulheres pela História para

    provar a capacidade feminina.

    10

    FOUCAULT, Michel. História da sexualidade:

    vontade de saber. p.118.

    11

    ENGEL, Magali. Op.cit.

    [14]

    "As teses que impulsionaram a história da

    sexualidade de Michel Foucault são desenvolvidas em

    torno de um eixo básico: a constatação daquilo que

    atravessa os tempos e os lugares e a busca incansável

    no sentido de desvendar o significado mais profundo

    daquilo que aparentemente permanece" 12. Destarte,

    podemos entender que ele quis construir uma

    história da sexualidade como experiência, e por isso

    acabou por concentrar-se na construção de discursos

    sobre o sexo, única forma que considerava o sexo

    acessível, pois em História é um tanto impossível, por

    mais que seja interessante uma história do cotidiano

    do sexo, ter acesso as infindáveis experiências

    sexuais humanas.

    Segundo o referido autor, no inicio do século

    XVIII um discurso sobre o sexo começou a se formar.

    Foi, a partir deste século, que dispositivos, antes

    inexistentes, começam a se formar para controlar o

    sexo. Todavia ao contrário da maioria das pesquisas

    sobre a sexualidade, Foucault negou-se a acreditar

    que somente existissem dispositivos repressores do

    sexo 13. Essa recusa a uma hipótese puramente

    12

    Idem. p. 302.

    13

    "Não digo que a interdição do sexo é uma ilusão; e

    sim que a ilusão está em fazer dessa interdição o elemento

    fundamental e constituinte a partir do qual se poderia escrever

    a história do que foi dito do sexo a partir da Idade Moderna.

    Todos esses elementos negativos – proibições, recusas,

    censuras, negações – que a hipótese repressiva agrupa num

    grande mecanismo central destinado a dizer não, sem dúvida,

    são somente peças que têm uma função local e tática numa

    colocação discursiva, numa técnica de poder, numa vontade

    de saber que estão longe de se reduzirem a isso".

    (FOUCAULT, M. Idem. p. 17).

    [15]

    repressiva para pensar o sexo foi duramente criticada

    por toda a produção que pensou a sexualidade a

    partir da década de 1960. Para Foucault surgem

    dispositivos que deixam o sexo e o corpo em

    evidência para então permitir o controle sobre

    ambos. É no nível do discurso que estes dispositivos

    funcionam. E é a esse discurso que ele chama de

    sexualidade.

    A sexualidade então é o conjunto de

    dispositivos discursivos que controlam ou capturam o

    sexo e o corpo. Estes dispositivos vão variar

    dependendo da época – apresenta-se uma forma no

    século XVIII, enquanto outra forma é encontrada no

    século XIX – e dependendo também dos objetivos

    mais imediatos que se tem para controlar o sexo e o

    corpo. Seguindo a linha de raciocínio de Michel

    Foucault, para o setecentos, graças à evolução do

    Capitalismo, tem-se como objetivo o controle do

    corpo e do sexo que envolvia diretamente o controle

    da reprodução do Proletariado, para garantir a

    manutenção

    da

    mão-de-obra

    e

    evitar

    a

    superpopulação. Para o século XIX, a sexualidade

    objetivava a diferenciação entre o povo e a burguesia

    da mesma forma que o sangue diferia os nobres do

    povo e dos burgueses no século anterior 14. Em

    ambos os casos, tudo se resume a uma questão de

    poder. Poder oriundo de uma classe dominante 15.

    14

    FOUCAULT, M. Op.cit.

    15

    No senso comum e mesmo muitas vezes entre as

    ciências humanas é muito comum entendermos que o poder é

    sempre oriundo de uma classe dominante, contudo isto

    necessariamente não acontece. Na Microfísica do Poder,

    Foucault explica que o poder está disseminado em todas as

    [16]

    Para

    cada

    objetivo,

    estratégias

    bem

    específicas eram utilizadas. Para alguns momentos a

    sexualidade criou uma polícia de enunciados, em

    que são definidos a vizibilidade e a dizibilidade

    discursiva, ou seja, quando se pode falar sobre o sexo

    e quando se deve calar. Uns discursos são proibidos

    de falar. Tabus são criados. Entre pais e filhos, entre

    professores e alunos, entre patrões e empregados,

    lugares onde não pode haver sexualidade. Não se

    pode nem falar sobre ele. Mas podemos falar em

    "censura sobre o sexo? Pelo contrário, constituiu-se

    uma aparelhagem para produzir discursos sobre o

    sexo, cada vez mais discursos, susceptíveis de

    funcionar e de serem efeito de sua própria

    economia" 16. Muitos tipos de discursos são

    estimulados a falar sobre o Sexo. Estes (outros) tipos

    de discurso têm acesso livre a ele. A confissão

    católica, por exemplo, é incentivada, pois ao falar

    sobre os seus desejos íntimos para outro, um padre,

    este outro tem a chance de controlar o desejo,

    reorientá-lo e modificá-lo. Diários íntimos também

    são incentivados a falar, contar sua vida íntima

    permite que haja um controle sobre a privacidade

    recém-criada da Modernidade. Mas a grande

    liberdade, falando do século XVIII exclusivamente

    classes sociais. Quando, por exemplo, uma classe se impõe

    sobre outra, ambas estão ligadas por relações de poder.

    Tanto o dominante em suas estratégias para garantir a

    dominação, quanto o dominado ao se relacionar com essa

    dominação. Para Foucault, nenhum grupo social age

    passivamente. Todos têm ações bem claras para equilibrar

    este poder social.

    16

    FOUCAULT, M. Op.cit. p.26.

    [17]

    agora, quem obtém é a ciência, uma sexologia

    incipiente tem o direito de falar e esta pode formular

    sobre o sexo "um discurso que não seja unicamente o

    da moral, mas da racionalidade" 17. A ciência, que por

    causa do discurso iluminista da Razão ganha o status

    de detentora da verdade, passa não simplesmente a

    demarcar o que é lícito ou ilícito sobre o sexo, ela

    pretende geri-lo, administrá-lo, e fazer funcionar um

    sexo que levará o homem a um estado evolucionário

    superior. Planta-se a semente da eugenia.

    A ciência dirá que o Estado deve interferir na

    vida da população. Intervir para garantir que a

    Humanidade mantenha-se adiante em seu caminho

    evolucionário. Manter a pureza da raça através de

    políticas que evitem a miscigenação ou através do

    controle do ato sexual. Uma forma se tornará

    correta, a que vai gerar "bons e saudáveis filhos para

    a Cidade". A ciência então se voltará primeiramente

    aos problemas entre o Sexo e a reprodução. Através

    da ciência, a sociedade afirmará que seu futuro

    depende de como as ações individuais sobre o Sexo

    se dão. Condutas sexuais estéreis serão banidas

    (comportamentos infantis, a sodomia 18) e o

    comportamento sexual do casal, que gera uma

    família numerosa, será o objeto das políticas públicas.

    O Estado demonstrará seu poder sobre o

    sexo criando leis para controlá-lo, o que não quer

    dizer que sejam leis contra o sexo. Leis proibindo o

    contato sexual entre homens ou entre adultos e

    crianças e entre irmãos, ou mesmo leis regulando

    17

    Idem. p. 27.

    18

    Que se entende aqui por qualquer tipo de relação

    sexual sem função reprodutiva.

    [18]

    como deve se dar o relacionamento entre homens e

    mulheres, definindo, por exemplo, a partir de que

    idade é lícito casar-se. Não são leis que

    necessariamente oprimem o sexo, elas apenas

    estabelecem como ele deve se dar.

    A negação da repressão sexual pura e simples

    – em que o poder simplesmente proíbe de cima e a

    população, sem reações, obedece –, todavia não é

    uma asserção muito nova. Psicanalistas já tratam dela

    há muito tempo, pois se recusam a acreditar na idéia

    de uma energia rebelde a subjugar que apenas a Lei

    pode controlar. Para eles, o desejo e a lei (ou o poder

    como diz Foucault) se articulam de uma forma mais

    complexa, a lei não impõe de cima o que o desejo

    deve desejar (perdão pelo jogo de palavras), segundo

    a psicanálise este processo é muito mais complexo do

    que se imagina. A lei não pode reprimir o desejo,

    porque é a lei que cria o desejo. Após a criação da lei

    que surge um padrão correto a ser seguido – a lei cria

    um desejo –, e, ao mesmo tempo, a lei quando

    aplicada cria uma espécie de contra-lei, porque

    havendo a lei existem pessoas que insistem em fugir

    a ela. E a lei, ou o poder, se fortalece nessas pessoas

    que o negam, pois ganha poder ao agir contra sua

    negação. E como afirma Foucault, "não se escapa

    nunca ao poder, que ele sempre está lá e constitui até

    o que se tenta lhe opor" 19. Em outras palavras, o

    desejo não é uma lei natural, não é algo intrínseco ao

    ser humano. Ele é uma construção social, que a partir

    do poder de um

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