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O Encontro
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O Encontro

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O encontro: destino, coincidência ou construção O livro conta a história de Rafael, um típico migrante-herói que, apesar de grandes desafios, consegue realizar seus sonhos, entre eles, o de estudar e constituir uma família. E como tudo se encadeia na natureza, o percorrer de todo esse pedregoso caminho acabaria por satisfazer ao caprichoso juiz do tempo. E Rafael, dobrando uma determinada curva do destino, mereceria O encontro de sua vida, a doce realização que lhe fora prometida antes mesmo de nascer. “O destino para Rafael já está estabelecido. É como sair do ponto A e chegar ao ponto de destino B. Para tanto, o caminho de encontros e desencontros não significa que o destino está a sua espera. É preciso desenvolver iniciativas e atitudes, contornar o que não é seu, aprender sobre todas as situações prós e contras, saber lidar com a adversidade e construir o seu próprio caminho de encontro e destino”. Mas será – questionariam uns – que depois de todo o esforço que Rafael demonstrou ao Universo, haveria ainda algo a que fizesse jus? É o que revelará a leitura desta empolgante história!
LanguagePortuguês
Release dateDec 23, 2016
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    O Encontro - Evanilton Rios Alves

    A vinda ao mundo num lugar distante

    Quando Rafael nasceu, já era o sexto filho, sendo que depois nasceram mais seis.

    Gabriel e Ana são os pais. Pessoas extraordinárias, que procuraram fazer o melhor, no que de melhor poderiam e sabiam fazer, mas limitados pelas questões culturais da época e região.

    Os pais de Rafael casaram-se ainda jovens, muito comum na região e, principalmente para a década de trinta, talvez por falta de conhecimento de mundo.

    Gabriel e Ana, ambos de família numerosa e dada à rigidez dos pais, casaram-se, também como solução ou única opção para saírem de casa. Mais ou menos assim, as relações funcionaram para o período e região, que em parte assemelha-se a casamento arranjado.

    Não tinham televisão, moravam numa fazenda com ou algo parecido um sítio. Viviam do que a roça dava de retorno. Quase não conheciam ninguém e, somado a tudo isso, a falta de informação, então ter filho parecia  a coisa sensata para quase todos os casais que tinham esta cultura. Acreditavam que bastava colocar um filho no mundo, oferecer, às vezes em péssimas condições, os alimentos e tudo daria certo.

    A diferença de idade entre os irmãos, com algumas exceções, é de aproximadamente um ano. Quase todos os anos, D. Ana dava à luz um filho.

    No total foram dezesseis filhos de um casal, tipicamente do nordeste, porém quatro infelizmente não sobreviveram a alguns poucos dias, meses e até poucos anos de nascimento.

    Ele nasceu numa simples casa de beira de estrada. Estrada vicinal, de terra, que liga duas cidades e alguns povoados, que só mais tarde foi asfaltada. Nos braços dos pais e irmãos logo foi levado para morar numa pequena fazenda que o pai havia conseguido comprar com a ajuda do avô que já não estava mais entre eles na Terra.

    Os outros seis irmãos mais novos nasceram nesta fazenda, com exceção da Alice, que nasceu já na cidade de Morro Grande.

    Na trajetória de Rafael, irão surgir algumas pessoas importantes, mas como todo bebê e depois criança, não tinha nenhuma visão do que lhe aguardava... Será que tudo já estava determinado em um outro plano? Se em outro plano ele possuía conhecimento, na Terra, aguardava os passos de criança, adolescente, jovem e adulto, para, aos poucos, descobrir o porquê de ter vindo a este mundo.

    A vida, como a de milhares de nordestinos do interior, não era fácil, mas segundo o que veio a saber, quando entendeu um pouco de gente e local, seria até agradável. O pai Gabriel era um fazendeiro até importante na região, pequeno fazendeiro, mas com alguma relevância perante a vizinhança. Dava emprego para alguns moradores ao redor e trabalhava de sol a sol para dar conta da família, especialmente quanto à alimentação. Até então, esta era a única visão de mundo, na verdade do local em que o Rafael vivia.

    Os filhos, de certa forma, foram obrigados a trabalhar para ajudar os pais, quase como uma regra e em muitos casos, desde pequenos (pequenos mesmo) por volta de seis ou sete anos! Geralmente uma atividade simples, mas convertida em uma obrigação.

    Nascido em 1967 no dia primeiro de janeiro, por volta de 1973, Rafael já trabalhava de alguma forma com e para o pai. Muito criança, não tinha noção do que realizava, nem de responsabilidade, mas fazia parte do seu rol de tarefas acompanhar o pai e os outros irmãos em algumas atividades, como por exemplo, carregar pequenos objetos, cuidar de algum animal que não oferecesse perigo, entre outras obrigações. Às vezes até queria compartilhar com tal tarefa, coisa de criança que tem simpatia em acompanhar o pai ou a mãe nas tarefas. Mal sabia que já estava praticando as atividades como uma obrigatoriedade.

    Por falta de conhecimento e cultura, isto era muito comum em muitas famílias, principalmente do nordeste e, ainda hoje, acredita-se que em muitos casos, os pequenos são colocados para trabalhar. Muitos não têm acesso à escola e quando têm, geralmente estas são precárias e não oferecem algo digno para as crianças e adolescentes estudarem e receberem conhecimentos satisfatórios como de direito . Esta situação não é privilégio somente no nordeste do Brasil!

    Entretanto, o pai fazia a criança trabalhar não como forma de castigo, mas acreditava-se, pela ignorância, que seria parte da criação. Isto mesmo, criação e não educação. Parte considerável das famílias agia dessa maneira, os filhos, mesmo os pequenos, tinham que ajudar os pais.

    Todos desconheciam os direitos da criança e do adolescente, ou melhor, nem existiam , pelo menos os legais, e nem os consideravam muito pequenos, fora da idade para trabalhar. Não havia escola rural nas imediações e a cidade do município, Morro Grande, ficava a aproximadamente dezesseis quilômetros de distância do local da fazenda, o que dificultava e até impedia o deslocamento para estudar.

    Rafael, até a juventude, viveu no período de transição de governo militar. Em 1964, golpe militar por Castelo Banco, que governou o país até 1967, ano em que ele nasceu, em primeiro de janeiro. Governo eleito pelo Congresso Nacional, ao assumir o cargo não cumpriu o que defendia, ou seja, declarava uma posição democrática, porém ao começar o governo assumiu a posição autoritária.

    Em seu governo, o presidente Castelo Branco instituiu somente dois partidos, Movimento Democrático Brasileiro (MDB) de oposição, mas com o controle do governo e a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) da situação. Para isso, dissolveu os partidos políticos, o que provocou a cassação de deputados federais e estaduais. Em janeiro de 1967 impõe uma nova Constituição que institucionaliza o regime militar no país. Nesse ano, assume o poder o presidente Costa e Silva, que vai de 1967 a 1969. Foi um período marcado pelas manifestações sociais, especialmente organizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), intensificam-se as greves de operários por algumas regiões do país. Guerrilhas urbanas começam a se organizar, principalmente por jovens, em que até sequestros faziam por parte de tais movimentos. Foi nesse período que ocorreu o AI-5, chamado Ato Institucional número cinco, em resumo, aumentou o poderio militar.

    Claro, Rafael não tinha conhecimento de tais fatos, isso veio mais tarde com os estudos, mas os pais, decerto e assim como a população, passaram por variadas privações. Também pode ser verdade, dada a região e falta de conhecimento, que não sofreram maiores consequências.

    Em 1969, houve um período curto, em que o presidente Costa e Silva foi substituído por uma junta militar, formada por homens do Exército, Marinha e Aeronáutica.  Os grupos de esquerda continuavam com os sequestros, como moeda de troca por presos políticos.

    De 1969 a 1974 ocorre o governo de Emílio Garrastazu Médici. Então Rafael, com sete anos,  já observava algum comportamento, mesmo sem maiores entendimentos. Por exemplo, ouvia o pai falar alguma coisa a respeito, até demonstrando medo quando algum automóvel apontava na entrada da fazenda, especialmente à noite, quando solicitava que os filhos saíssem de casa e se deslocassem para um espaço afastado da residência. Acredita Rafael, que deveria estar atrelado às guerrilhas rurais, tais medos.

    Nesse governo cresce a luta armada e também a repressão. Foi um período de severas censuras. Investigações sobre vários cidadãos ou grupos, prisões e torturas, e presos exilados. Período em que ganham força as guerrilhas rurais.

    Morro Grande, sede do município, é uma cidade pequena, típica do interior e com muitas deficiências em sua estrutura, o que ainda é bem comum, com raríssimas exceções, em pleno século XXI.

    Na região ou ao redor da fazenda, moravam muitas famílias pobres e geralmente com muitos filhos e diversas dificuldades. Havia também a seca que acarretava outros tantos problemas, como a falta de alimentação.

    Os obstáculos eram provenientes das diversas situações: a quantidade de filhos, a falta de chuvas e dificuldades elementares, como a escassez de informação, por conta da ausência de estudos.

    Quando passou a entender algumas situações, Rafael também começou a prestar atenção ao meio em que vivia. A precariedade, a ausência de brincadeiras, por exemplo, essenciais na fase infantil. O que a criança mais precisa além do alimento e do aconchego dos pais, são as brincadeiras, muito ricas para o desenvolvimento físico e mental. Muito disso ele não teve, assim como também não tiveram os irmãos mais velhos e alguns mais jovens.

    Quando criança, ao perceber várias diferenças, inconscientemente, sabia que faltava algo, não tinha o poder de mudar o mundo a sua volta, portanto acabava como os outros irmãos, brincando com o que tinha ao redor e assim dava-se por satisfeito. As brincadeiras eram entre os irmãos, com raras exceções tinha alguma outra criança, filho de amigo do pai.

    Pouco entendia das conversas do pai com algum colega ou amigo, mas Rafael adorava escutar as histórias que contava. Os causos eram interessantes para ele. Seu pai acreditava que o filho não entendia, mas como toda criança, tinha lá seus encantos para entender algo, mesmo sem a magnitude ou alguma profundidade do assunto. Criança curiosa gostava de ouvir os papos, as histórias dos adultos ou pessoas mais velhas, e é assim até hoje. Aprender com os mais velhos, mais experientes. É uma fonte preciosa de informação.

    Rafael percebia que os outros irmãos também, algumas vezes, sentavam para ouvir o pai com um amigo nas conversas, mas com ele era uma constante.

    O pai Gabriel algumas vezes colocava os filhos a sua volta para contar histórias envolvendo geralmente animais, vaqueiros, fazendeiros.

    A mãe Ana também contava causos que os filhos gostavam de ouvir, viajavam por espaços imaginários... Rafael amava sentar para ouvir a mãe contar alguma coisa, dedicada na medida do possível e cheia de amor para com os filhos.

    Para os filhos e especialmente para Rafael, sinalizava como uma forma de aprendizagem, mesmo que de longe, a maneira consciente para aprender. Eram momentos divertidos. Aproveitava-os para fazer algumas viagens, por lugares desconhecidos. Assim ele viajava, já que fisicamente não era algo viável, dado o meio em que vivia. O famoso sonhar acordado, o que geralmente toda criança costuma e adora fazer.

    A mãe contava que, quando os irmãos eram muito pequenos, davam um trabalho e tanto. Pode-se imaginar a quantidade de crianças e todas precisando da ajuda da mãe para quase tudo, mesmo com a colaboração das irmãs mais velhas para o banho, lavar a roupa, alimentar e outros mimos. Mimos! Vamos dizer assim!

    Pela falta de estrutura, boa parte do tempo, as crianças ficavam sem roupas, ou seminuas, especialmente no período do calor ou falta de chuvas. Quando se vestiam, a maior parte eram basicamente roupas feitas com pano de saco, uma espécie de saco para embalar farinha de mandioca. Com raras exceções, tinham algum tecido para fazer certo tipo de roupa e, mesmo assim, não seria para todos, a prioridade era para os mais velhos. As crianças ficavam à vontade primeiro por conta do calor, comum em boa parte do ano; segundo, por falta de condições materiais. Ele tinha lembrança da mãe contando que calça, camisa e sapatos, por exemplo, eram coisas raras e de luxo.

    Assim, como alguns de seus irmãos, calçava algum sapato de um irmão mais velho, isto quando tinha. Por exemplo, havia calçado o sapato do pai e para não ficar com o pé solto, colocava papel para preencher o espaço vazio e dar a ideia de que estava bom e podia, então, comparecer a algum evento, mas isto somente na imaginação de criança! Não seria uma questão de brincadeira, mas porque tinha vontade de ter um sapato.

    Impensável comprar um calçado sabendo que a criança cresce, apesar de que neste caso, poderia passar de um filho para outro, como acontecia com os chinelos. Assim, foram anos e anos, sem que, tanto os irmãos e mesmo ele,  tivessem sapatos e outros apetrechos que fizessem parte das vestimentas.

    A casa na fazenda até que era grande, simples, mas o suficiente para acolher a todos. Imagine como seria, principalmente quando todos estavam em casa numa certa parte do dia, invariavelmente nas refeições e hora de dormir. Afinal, uma família numerosa.

    Camas e mais camas, simples e, em muitos casos, os colchões, quando havia, eram geralmente preenchidos com palhas ou folhas de bananeiras, também poderia ser com outras folhas, como por exemplo, de milho. Muitas vezes, ficava apenas a grade de madeira e a esteira, feita de palha de coqueiro, do chamado coco pequeno.

    A casa, não tinha banheiro, então as necessidades eram feitas no mato ou quintal.

    No período noturno, os pequenos e as mulheres usavam o  pinico. Imagine ter de aguardar o dia amanhecer, pois no escuro, não iriam sair de casa, tinham medo. Então, possivelmente pela situação, alguns problemas de saúde foram adquiridos com a idade, como urinários e outros, talvez...vai saber?...

    Quanto à higiene, imagine pinico no quarto, como fica o odor e bactérias. Por outro lado, as crianças criavam anticorpos com tantas situações desfavoráveis.

    Rafael, não via nem os pais e nem os irmãos com alguma preocupação com a higiene. Somente o poder soberano podia explicar tanta falta de higiene. De certa forma, as crianças, apesar dessa falta de cuidados com a saúde, não apresentavam tantos problemas, pelo menos, nada de grave, ou se ocorriam não eram entendidos assim, por falta de informação.

    A alimentação natural,  por ser proveniente das plantações, e o leite da vaca, eram alimentos fortes, carregados de proteínas e outros nutrientes, criavam anticorpos, pelo menos para o local e época, e seriam suficientes para dar conta de combaterem algumas bactérias.

    A vida dos seus irmãos e pais tinha lá seus encantos, mas não era nada fácil... Quanto à alimentação, tinham o básico para viver, e apesar de todas as circunstâncias adversas, eram bem saudáveis.

    Alguns anos se passaram... Ele nem tinha ideia, mas estava traçado o seu destino.  Nem os pais tinham noção  de qual seria. Rafael, ao nascer, já trazia consigo um campo de atuação ou vocação, mas nem ele sabia e nem quem estava a sua volta. Encontros e desencontros norteiam a sua trajetória.

    O destino é como dois pontos equidistantes. Imaginamos um ponto A. Este representa quem são os pais, os irmãos, local de nascimento e circunstâncias outras... . 

    Para chegar ao ponto B, situações muitas, milhares delas serão apresentadas a Rafael. Tudo que está escrito, programado, é como um mapa para encontrar o tesouro, e vai depender da sua percepção ao olhar para tudo isto, para  então chegar ao seu destino.

    Qual será o destino? O ponto B é o seu destino?

    Mas, quando vai acontecer? e como? Somente o plano superior tem esta informação.

    Rafael está na Terra para cumprir alguma missão nas suas diversas relações.

    Ao nascer no ponto A, para chegar ao ponto B, é como estar em uma terra seca: quando chove, ao encharcar a terra, a água começa a trilhar o seu caminho , mas para isso, vai desviando do que não é pertinente para sobreviver e chegar aonde, de fato, é seu local, que pode ser a casa de alguém, as pequenas represas, riachos, rios. A água sugada pela terra seca, já cumpriu o seu destino, mas grande parte dela terá outro objetivo.

    Acreditar na espiritualidade para compreender elementos que possam justificar as diferenças entre as pessoas. Por que há ricos e pobres? Por que alguns nascem com sérias doenças ou deficiências? Por que tanta injustiça? Procurar entender o mundo que para alguns parece fácil, tudo dá certo; para outros, nem tanto, também vai fazer parte do seu entendimento.

    São muitos os porquês. Então, é preciso procurar explicações sensatas para quase tudo, ou tudo.

    Inconscientemente, já estava determinado o destino? Até que é possível, desde que haja o processo de construção, sendo notório que é peculiar ao indivíduo dar conta de alimentá-lo com os meios pertinentes. O destino valendo-se dos caminhos percorridos e a percorrer, desvia dali, se afasta daqui, fica aqui ou ali, o que de fato pode e deve acontecer em seu percurso.

    No plano superior, em algum lugar, estava descrita alguma situação por que iria passar, algumas vão ter algo de merecimento e serão parte do destino; outras, apenas farão parte como acontecimentos exteriores. Aquelas que fazem parte do seu destino, irão ensinar algo, serão aproveitadas e farão parte do processo para um novo momento. Mas não são as que definirão o destino dele, ainda.

    O tempo de encontro com as facetas do seu destino será uma questão de trabalho para fazer valer as oportunidades em sua volta.

    A infância e as descobertas no tempo

    Rafael, durante a infância e parte da adolescência, sobreviveu a período de chuvas, períodos menos chuvosos e outros de seca, o

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