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Integração Curricular E Currículo Disciplinar
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Integração Curricular E Currículo Disciplinar

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A centralidade da discussão a que se propõe este livro ata-se no fato de que sendo o currículo um campo em constante problematização do conhecimento é, pois, por natureza uma arena de grandes conflitos, de importantes rupturas, mas também de consensos tecidos/construídos sobretudo quando se engendra em um contexto secularmente organizado pelo ethos e pela ética disciplinares uma proposta/política de integração curricular como meio de nos questionarmos qual é o conhecimento mais valioso (?). Este livro se propõe a discutir/revelar as políticas e práticas que são engendradas pelos atores curriculares a fim de que propostas de organização curricular de perspectiva integrada ocupem espaço no cotidiano escolar e alimentem a chama que mantem viva a discussão a certa do conhecimento mais valioso.
LanguagePortuguês
Release dateOct 4, 2017
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    Integração Curricular E Currículo Disciplinar - Surama Beatriz Bandeira Rebouças

    Prefácio

    Se um trabalho académico é um diálogo árduo e fechado entre o investigador e o seu supervisor, de acordo com regras que as instituições vão criando, um livro é um desafio que se o autor coloca em aberto ao leitor, sem qualquer tipo de condições.

    Como autora do livro Integração Curricular e Currículo Disciplinar: um diálogo possível, criativo e inovador, Surama Beatriz Bandeira Rebouças colocar o leitor perante desafios no âmbito do conhecimento curricular, lançando pontes bem sustentadas, pela pesquisa que realizou, de um diálogo profundo, mas também criativo e inovador, sobre a questão identitária dos Estudos Curriculares: qual é o conhecimento mais valioso?

    É em torno desta questão que a autora provoca um diálogo, ao mesmo tempo de rutura e de consenso, sobre a organização curricular, colocando em debate o currículo estruturado em disciplinas, que tem sido a base da sua construção tradicional nas escolas, e o currículo integrado, naquilo que, nas ideias do sociólogo britânico Basil Bernstein, é designado, respetivamente, currículo mosaico e currículo integrado.

    Decorrente da profundidade do debate teórico, com recurso a dados de pesquisa realizada, a confrontação entre as tipologias de organização do currículo ganha ainda mais acuidade perante as atuais políticas educativas e curriculares, ditadas por padrões transacionais, e baseadas quer no reforço do currículo nacional, ressignificado nas suas designações oficiais, quer na implementação de uma avaliação estandardizada. A uniformidade ganha, assim, terreno e a abordagem curricular baseada em resultados e padrões torna-se numa quase solução miraculosa.

    A leitura deste livro torna-se, por isso, fundamental, não só pelas ideias que são convocadas para o texto, com uma diversidade de argumentos, mas também pela oportunidade da sua discussão na sociedade brasileira.

    José A. Pacheco

    Professor Catedrático

    Universidade do Minho

    Durante a minha itinerância, de estudante e professora, tenho ouvido/lido que a organização curricular disciplinar é um dos mais fortes e centrais dispositivos que dificultam a entrada, nos cenários escolares, de outras abordagens curriculares. Submissos a este argumento, alguns professores se colocam contrários às disciplinas, alegando que os conteúdos empacotados em disciplinas estanques torna difícil aos alunos fazerem um link entre os conteúdos das diferentes disciplinas, e menos ainda, fazer uma interconexão entre os conteúdos disciplinares e o mundo contemporâneo. Ainda ressaltam as dificuldades para realizarem um trabalho mais colaborativo e integrativo, que contribua para diminuir a distância entre o que é trabalhado nas diferentes comunidades disciplinares e o cotidiano dos alunos. Pois, assim, buscam formar jovens mais competentes para viverem neste mundo globalizado, que requer cada vez mais, de cada um de nós, o diálogo entre os diferentes saberes para a compreensão do que acontece a nossa volta.

    O discurso mais frequente entre os professores, para a não realização de uma prática integrativa, repousa no argumento de que não há tempo para a realização de atividades fora do trabalho com os conteúdos propostos para cada disciplina. Em outras palavras, tem sido difícil fazer qualquer coisa fora dos limites disciplinares que se constroem nos contextos escolares.

    Em cenários assim, tão comuns na maioria das Escolas da Rede Pública Estadual de Salvador, parece difícil pensarmos em uma forma de organização curricular diferente das que encontramos. As amarras que prendem e separam as disciplinas nos deixam a impressão de estarmos atados a um problema de difícil solução. Uma estratégia de superação desse problema pode se orientar, portanto, pela elaboração de currículos que incluam a interconexão com saberes de diferentes comunidades disciplinares, requerendo uma organização curricular que permita que sujeitos e conteúdos disciplinares dialoguem de forma diferente da proposta que a vigente matriz curricular sugere.

    E foi movida, inicialmente, por esta inquietação que percebi na Unidade Escolar, que escolhi para desenvolver meus estudos de doutoramento, iniciativas de um fazer curricular integrativo, frequentemente sob a forma de projetos interdisciplinares, multidisciplinares ou em outros desenhos, como gincanas, olimpíadas e projetos de acolhimento, mas sempre perspectivando a integração disciplinar.

    Vale ressaltar que os projetos notadamente são pensados como possibilidades de uma nova organização do trabalho pedagógico, que permita aos estudantes uma nova apreensão dos saberes, não mais marcada pela absoluta compartimentalização estanque das disciplinas. Em outras palavras, permite a comunicação entre as comunidades disciplinares, nos contextos escolares implicados em reduzir o isolamento entre as diferentes disciplinas curriculares, procurando agrupá-las num todo mais amplo. Sem que para isso se identifique movimentos em direção à superação das disciplinas escolares ou mesmo a diminuição de seu poder na seleção e na organização do conhecimento escolar. Encontramos, sim, a organização curricular centrada nas disciplinas escolares, mesmo quando propostas de currículo integrado são desenvolvidas e/ou valorizadas.

    Nesse contexto, há décadas que Kelly (1981) nos alerta que uma sociedade em constante mudança, como a que vivemos na contemporaneidade, criará inevitavelmente novas bases para a organização do conhecimento, e estas exigirão que as formas tradicionais de organização, sejam de assuntos ou de disciplinas, se alterem continuamente para fazer face às necessidades em mudança.

    Contudo, percebo também que nos currículos escolares a disciplinarização, que permeia a educação há muitos séculos, não reflete apenas a compartimentalização dos saberes, mas está embutida aí a questão do poder e do controle que a matriz disciplinar exerce sobre aluno e professor. Por esse caminho, a capacidade das propostas de possível integração curricular conseguir se instituir ou não nos contextos escolares também precisa ser analisada a partir do foco nas relações de controle e poder que constituem e são constituídos no processo de organização do conhecimento escolar.

    No entanto, se destacarmos a exclusão de uma sobre a outra, desconsideraremos as propostas de integração presentes nos fazeres escolares, apesar da teorização curricular imperar. Emergiu daí a necessidade de percebermos o currículo como atos de currículo para compreendermos de que maneira os professores da Escola Básica produzem o currículo integrado nos contextos escolares. Como as práticas de currículo integrado e o currículo disciplinar dialogam nas práticas escolares? Esta foi uma das questões que nortearam e movimentaram a pesquisa que resultou neste livro.

    Dentre estes discursos, defendo neste estudo que os atos de currículo manifestos nesta investigação pelos atores sociais são identificados a partir das obras de Macedo (2008, 2010, 2011, 2013), que destaca o caráter relacional e construcionista do currículo, sobretudo quando declara que:

    Os atos de currículo fazem parte da práxis formativa, trazem o sentido de não encerrar a formação num fenômeno exterodeterminado pela mecânica curricular e suas palavras de ordem, por consequência, não vislumbram os formandos e outros atores/autores da formação como meros atendentes de demandas educacionais, tão pouco aplicadores de modelos e padrões pedagógicos (MACEDO,2010, p.35).

    Por este caminho, o autor, além de realçar a construção social do currículo pelas ações dos sujeitos que movimentam e fazem a escola acontecer como espaço socioeducacional, dinamiza o entendimento de atos de currículo expressando-o em dois registros - o epistemológico e o conceitual - quando destaca que:

    A potência práxica do conceito de atos de currículo implicado à formação é, ao mesmo tempo, uma maneira de resolução epistemológica e pedagógica para compreendermos a relação profundamente imbricada entre currículo e formação, bem como um modo de empoderar/radicalizar, em termos acionalistas e de forma multirreferencial, o conceito de currículo, como uma pauta vinculada aos âmbitos da intimidade e do bem comum socialmente referenciado (MACEDO, 2011, p. 108).

    Esta noção de atos de currículo se expressa como um conceito muito forte, visto que aponta-nos para a possibilidade do currículo transgredir ao oficial. É aqui que o currículo acontece e a gente não vê (corredores da escola, bochicho na sala dos professores, balcão da cantina etc.). É onde se instituem as contradições, onde encontramos as bifurcações, as ambivalências. E ainda com este autor, podemos dizer: "[...] nesses espaços-tempos saberes são criados e recriados [...] e é com esses atores sociais, teóricos profanos do seu cotidiano, suas necessidades concretas e demandas socioeducacionais que currículos devem ser trabalhados para serem pertinentes e relevantes" (MACEDO, 2013, p.34).

    Assim, olho com interesse e me movimento na direção de uma compreensão destas relações que engendram os atos de currículo integrado tecidos na organização curricular das práticas escolares da Educação Básica. Por assim dizer, é possível pensar que estes atos de currículo tecem os fazeres escolares e, embora não estejam propriamente vinculados ao foco na dimensão compreensiva das relações de poder associadas ao currículo disciplinar, propõem formas de integração curricular, pautadas em propostas possíveis de serem realizadas nas escolas.

    Defendo neste livro que há um diálogo possível entre a organização do currículo disciplinar e a integração curricular, que enfraquece o dualismo excludente, ou a disciplina ou a integração. Em vez disso, matiza estes discursos para que as propostas de integração curricular se relacionem com a força simbólica da matriz disciplinar e produza um fazer pedagógico criativo e inovador.

    Vale ressaltar que o processo de desenvolvimento do currículo integrado traz em si as políticas de sentido tecidas no contexto escolar pelos atores curriculares que, cotidianamente, vivem e sentem a Escola e, portanto, são eles que

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