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Cronoanatomias De Meus Encantos
Cronoanatomias De Meus Encantos
Cronoanatomias De Meus Encantos
Ebook216 pages1 hour

Cronoanatomias De Meus Encantos

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About this ebook

Cronoanatomias de meus encantos é um apanhado das crônicas do autor, que espelham muitas de suas inquietações sobre o cotidiano. Os encantos do autor são reflexões havidas a partir de suas leituras, suas vivências e suas dúvidas. Misto de filosofia e literatura, as crônicas buscam um diálogo com o leitor a partir do chamamento à perplexidade.
LanguagePortuguês
Release dateMar 8, 2010
Cronoanatomias De Meus Encantos

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    Cronoanatomias De Meus Encantos - Claudionor Aparecido Ritondale

    CRONOANATOMIAS DE MEUS ENCANTOS

    Crônicas

    Claudionor Aparecido Ritondale

    2009

    CRONOANATOMIAS DE MEUS ENCANTOS

    Crônicas

    Claudionor Aparecido Ritondale

    2009

    SUMÁRIO

    SEI LÁ

    9

    MEU CURRICULUM VITAE

    11

    DOIS MUNDOS NO MESMO LUGAR

    15

    VERSÕES E PROSINHAS DE TANTO DAR

    17

    TENTO DAR

    22

    UM ESCRITOR NÃO CONSAGRADO, OU QUE PAREÇA JAMAIS VIR

    A SÊ-LO, AOS OLHOS DA CRÍTICA

    25

    CONSELHOS PARA UM JOVEM ESCRITOR

    27

    ESTATUTO DA PERFEIÇÃO

    29

    OBSERVAÇÕES DE COTIDIANAS VIAGENS DE METRÔ

    33

    ONDE?

    35

    REVELAÇÕES DE UM ECTOPLASMA

    41

    DEZ COISAS QUE LEVEI ANOS PARA REAPRENDER

    45

    MINHA CRÔNICA DO TAMANHO DE UMA GOTA

    47

    O MUNDO PRÓXIMO E O DISTANTE

    49

    O ANALISTA DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO NUMA

    GRANDE EMPRESA

    55

    ÉTICA, RARA FLOR?

    59

    DIVERSIDADE

    61

    RECOLHENDO FRAGMENTOS DA BUROCRACIA

    63

    ADMINISTRAÇÃO DO TEMPO OU DA FELICIDADE NO TEMPO?

    67

    CRÔNICA DA APOSENTADORIA ANUNCIADA

    69

    DÚVIDA

    75

    NÃO É UMA SIMPLES TROCA DE LETRAS

    77

    CHARLES CONRAD JÚNIOR FOI O PRIMEIRO?

    85

    APELO

    89

    A CONVICÇÃO SOBRE UMA EFEMÉRIDE

    93

    REALIDADES

    95

    O MELHOR DE UM CRONISTA, AGORA QUE ELE SE FOI

    99

    SUPERSTIÇÕES

    101

    ENRIQUECER DE SOLIDÃO

    107

    AMIGO SECRETO, LAÇOS INVISÍVEIS

    111

    CATEDRAIS DA ALMA

    113

    IDEIAS, CRÔNICAS E NADA

    117

    FELICIDADES

    121

    UM POUCO DO QUE É O AUTOR E DO QUE PRODUZIU

    125

    LIVROS E PARTICIPAÇÕES MAIS IMPORTANTES DE

    CLAUDIONOR RITONDALE

    130

    SEI LÁ

    O famoso – entre os do meio literário (quantos serão?) –

    bloqueio de escritor cercou-me. Se famoso, não é inédito.

    Drummond sentiu-o e explicitou-o no poema em que contemplava o

    papel branco sem saber o que escrever, por não conseguir fazer as

    palavras saírem do estado de dicionário à espera de virarem

    escritos, como ele dizia. Outros também tiveram algo assim, talvez

    por isso inventaram a metalinguagem, pois, se não tinham sobre o

    que falar, falavam do fato de não ter o que falar, daí não falavam de

    nada, quer dizer, falavam, sim, de sua falta do que falar, o que não

    é rigorosamente o nada, mas algo que significa o nada, ou seja,

    falavam do nada, embora estivessem falando de algo, justamente o

    nada: entenderam alguma coisa?

    Assim, na falta absoluta de assunto, reflito sobre ser

    cronista, algo para os poucos que se atrevem a refletir sobre o

    cotidiano e filar uns tostões dos donos de jornal, com o que ajudam

    a sustentar-se, pobres herdeiros do duro ofício de escrever em

    terras brasileiras. Um crítico afirmou, em entrevista a um repórter

    global, destes que asseguram a si mesmos o direito de comandar

    programas de televisão que se dizem culturais, que o Brasil não

    possuía mais escritores em prosa, ou seja, novelistas, contistas e,

    principalmente, romancistas; os escritores tinham desaparecido,

    hoje só havia no Brasil cronistas.

    É como dizer que crônica não é literatura, os demais gêneros

    (se é que existe tanto rigor na delimitação de gêneros, hoje em dia)

    é que são. E se surgirem crônicas de altíssimo nível, maravilhando o

    mundo? Mas será que não existe poesia, teatro, literatura infantil,

    novelas, contos e romances dignos de constar na grande (o que

    realmente é isto? quem determina?) literatura, no Brasil, hoje?

    Façamos o seguinte: como estou sem assunto, depois que caí

    na perplexidade diante de comentário tão genérico e desprovido de

    racionalidade, procuremos o caminho para a literatura. Vejamos

    uns grandes temas: fim do socialismo real; globalização das

    relações humanas; aumento da violência até em cidades rurais do

    Amazonas com população majoritariamente de índios; desemprego

    em contraste com a maior riqueza jamais vista dos países mais ricos

    do mundo; superpopulação humana convivendo com a situação

    irônica de ver quem está empregado trabalhando cada vez mais (se

    9

    existe tanta gente, para que trabalhar tanto?); imensa tecnologia ao

    lado de grandes quantidades de tempo nos ambientes de trabalho...

    Arrebatar, não apenas persuadir, deve ser o objetivo da arte,

    diria um teórico latino da Antiguidade (conhecido como Longino,

    embora há quem diga que não se sabe se o nome dele era esse). Há

    arrebatamento possível nestes nossos tempos de tanta informação,

    grande obviedade e pouco incremento de solução a tantos

    problemas

    que

    agora

    conhecemos

    por

    tantos

    canais

    ultracompetentes de divulgação?

    À falta de assunto, uma proposta: seguir a linha do texto,

    divagar, não se fiar em julgamentos anteriores ao texto, percorrer

    visceralmente o cotidiano, fonte de tudo, base da crônica, do

    poema, da novela, do ritual de fazer arte da palavra, que a crônica

    sem assunto festeja, agora, achando-se afinal nela mesma: a

    palavra, mesmo que vazia, mesmo que ela falte fazendo ver o vazio

    que ela traz quando falta, mesmo que ela seja apenas a palavra

    vazio, arrancada de um dicionário para (quem sabe?) preencher-

    se pelas vizinhas palavras, carregar-se de sentido para quantas

    vidas procurarem sentir-se vivas ao ler um texto, mesmo que sem

    assunto, num jornal qualquer, de um escritor aliviando o peso de

    um cotidiano feito de tantos grandes temas, em formas as mais

    insólitas, mas que apenas nos afoga na prisão da falta de assunto.

    Salvemos os cronistas, reconheçamos todos os que escrevem, viva

    a palavra, mesmo na ausência, porque não há vida sem palavra!

    Pronto, fiz uma crônica!

    10

    MEU CURRICULUM VITAE

    O resumo de minhas últimas experiências de vida, trabalhada

    – e como! – pode e deve iniciar-se com meus últimos acessos de

    riso, que foram exatamente há um minuto. Porém, nem sempre –

    esse é um de meus defeitos – consigo rolar de rir.

    Repito braçadas ao nadar, tal o prazer da descoberta de fazer

    o novo e repeti-lo, entendendo o significado sempre renovado do

    novamente, não como uma redundância, no mau sentido, mas

    como nova realização.

    Tive muitas vezes que chorar até dormir, para meu conforto

    e dos que acompanhavam minha tristeza, também para relaxar meu

    rosto desfigurado, que só diminuiu sua angústia após um sono

    reparador.

    As coceguinhas nos meus irmãozinhos renderam-me muitos

    dividendos, os mais preciosos deles foram as várias interrupções de

    choros de criança.

    Todas as vezes que a luz acabava, as velas sofriam para ser

    acesas, e eu sofria por queimar-me ao tentar mantê-las acesas, ou

    tentar apagá-las.

    Chiclete? Masquei de monte, tentei e consegui fazer bolas,

    mas as melecas do rosto não escondiam meus vexames de menino

    irrequieto, eterno menino que não me esqueci de tão significativos

    movimentos.

    Tentei ser bruxo de brincadeira e introspectivamente falei

    com todos os espelhos de casa – superstição é coisa de gente

    pequena, então eu sou bem pequenino.

    Quis virar bombeiro, mágico, equilibrista, até astronauta em

    nossa terra, que não tem programa espacial – mas eu lá sabia

    disso! (também eu queria ir para um mundo mágico só meu, onde

    ser astronauta era possibilidade cotidiana).

    Brinquei de me esconder dos vizinhos, atrás das limpas

    cortinas de minha mãe, que, enfurecida, conseguia fazer-me o favor

    de apontar aos meus perseguidores os pés para fora da cortina.

    Imprudente sempre fui com meus trotes por telefone – ai! –

    e meus banhos de chuva, tal qual um artista maluco de cinema,

    rodopiando de ser feliz.

    Roubar beijo é tão bom!

    11

    Mas, amigo, aquelas confissões que tu me fizeste, eu

    também repeti, meio igualzinho, de minha parte, a ti, lembra-te?

    Doído foi ver-te sofrer por sentires-te pequeno num mundo que te

    oferece a chance de ser tão grande quanto tu és para mim.

    Sofri de amar errado, peguei atalho sem fim certo, ando pelo

    desconhecido como quem caminha por caminhos da consciência do

    futuro, único tempo e lugar para onde se deve e se pode ir.

    Raspar fundo de tacho é bom, principalmente se o doce de

    goiaba estiver com aquele gostinho de fundo e finalzinho, uhn!

    Não me lembro de quando foi a última vez que me cortei

    tentando fazer barba, porque me decidi por manter minha

    vintenária barba e porque, afinal, ela me envelhece um pouquinho,

    dá-me um ar de menos garoto.

    Chorei ao lembrar, quando ouvia a música nostálgica cantada

    por uma de nossas musas da canção, um cara que morreu na

    faculdade, pobre jovem que sonhava com um mundo de liberdade

    que não viu.

    Quando quis esquecer gente, vi a missão quase impossível

    que é.

    Busquei estrelas no meu teto de zinco, trepei em árvore para

    roubar fruta, caí de escada perto de cachorros pouco amistosos, eu

    que amo os cães, ai, doeu bem fundo!

    Passei várias vezes pela morte, bem de pertinho que morri

    de medo, então foi como se morresse um pouquinho.

    Jurei eternamente, escrevi pichações, chorei no banheiro,

    fugi e voltei, recriei meu instante com magia e sem magia.

    Andei sem rumo, chateado da vida, chutando pedrinhas,

    vigiando estrelas, sentinela da solidão.

    Acudi doentes e chorões, corri para tentar salvar vidas, mas

    nem sempre com sucesso.

    Curti a solidão na multidão, o pôr do sol acima do

    monumento-relógio da faculdade, a piscina preguiçosa do clube, o

    uísque que me adormeceu o ânimo, a cidade do mirante mais alto,

    que não acolhia o sonho mais simples.

    Tive medo de ladrão, de escuro e de sorriso, fiquei irado,

    estressado, natimorto de amor, renasci no sorriso de um bebê.

    Se acordei no meio da noite e fui chato, peço desculpas pelo

    medo de levantar ou de voltar para a cama.

    Corri descalço, que prazer!

    12

    Consegui, sim, eu consegui, gritar de felicidade, muitas

    vezes, na minha vida!

    Quis e consegui roubar rosas daquele cobiçado jardim lindo,

    deslumbrante como a pessoa a quem eu as entreguei.

    As paixões vieram, nem todas para sempre, nem totalmente.

    Vi a lua ceder o lugarzinho no céu para o sol, não sem antes

    vê-la dividir a noite em dia, ladeando com o sol no espaço de meu

    sorriso ao contemplá-los.

    Chorei tantas partidas, vivi grandes chegadas: a razão de

    tanto movimento nunca descobri.

    A emoção sempre foi meu maior mérito em tantas fotografias

    presenciadas em minha vida; afinal, o coração é a última coisa que

    para num ser humano.

    Se um formulário triste e pouco vivido, de tão óbvio, vem

    agora me perguntar de minha experiência, posso gritar de volta:

    sou plantador de alegria, isso serve? Se não servir, posso oferecer

    minha colheita de ilusão de ser feliz: isso, afinal, não é uma

    razoável

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