Memórias De Um Sargento De Polícia
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Memórias De Um Sargento De Polícia - Dario Cordeiro Da Rocha
São as maiores casas e as árvores mais altas que os
deuses derrubam com raios e trovões, porque os deuses
amam opor-se ao que é maior que o resto. Eles não
suportam o orgulho em ninguém, a não ser neles mesmos.
Heródoto
Este livro é dedicado a todos os que,
por quase duas décadas,
acreditaram que ele seria escrito.
Deixo registrado meu agradecimento a Elisângela pela leitura dos originais e pelas muitas sugestões.
Esta é uma obra de ficção e total fruto da imaginação do autor, salvo as referências literárias, devidamente identificadas, e algumas localidades, utilizadas para dar maior verosimilhança à narrativa. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, fatos ou situações da vida real é mera coincidência.
Nota inical com explicações, agradecimento e desculpas
Caro leitor, se você chegou até aqui, é justo eu esclarecer que este livro foi escrito para atender a uma máxima que li, ainda garoto, a qual dizia que um homem está realizado quando tem um filho, planta uma árvore e escreve um livro. Conforme fui amadurecendo, entendi o que o autor quis dizer, pois ao ter um filho ele garante que sua herança genética se perpetue, ao plantar uma árvore o homem está garantindo a subsistência desse filho e, escrevendo um livro, ele relega ao filho todo o conhecimento que amealhou ao longo de sua própria existência. Isso posto, passei anos dizendo aos meus colegas que, um dia, escreveria um livro para completar a trilogia da vida
, uma vez que já tivera dois filhos e plantara muitas árvores e agora, quando aqui cheguei, descobri que há inúmeros percalços para completar o pacote. Na verdade, tudo se resume em dinheiro, isto é, em quanto você quer investir e no quanto espera ganhar. Por se tratar de um sonho de uma vida toda não havia o interesse no lucro, restando os gastos com a editora, razão pela qual resolvi publicar um livro simples, sem recorrer aos trabalhos de um profissional para montar a capa, diagramação, revisão, inscrição ISBN (basicamente um registro da obra na Biblioteca Nacional), projeto gráfico e outras coisas, o que encarecem por demais o produto. Assim, publicando a descoberto
, consegui fazer acontecer pelo menor preço que consegui, mas é claro que sem o filtro de toda a gama de profissionais envolvidos na publicação de um livro algo deve ter escapado do meu controle (obrigatoriamente, algo tem que ter passado batido), uma ou outra coisa deve ter deixado a desejar. E por essas eventuais coisas fica aqui meu pedido de desculpas, além, é claro, do meu muito obrigado por você acreditar e tornar este momento possível.
ÍNDICE
nota inicial ………………....….4
prólogo…………………..…….11
meus motivos e minha inspiração...14
eu tive um sonho………...…….21
bandeirantes azul………....…...26
a ofensa…………………..……29
chicão………………………….30
falta de sinceridade…………....33
o posto da ragueb……………...39
um dia no ptm………………....44
os churrascos da 5ª companhia..47
reminiscências…………………49
arredondadas………………......49
os fins justificam os meios?… ..56
o mercenário…………………..59
eu tava assistindo tevê…… …61
o pedido esdrúxulo…………....64
outro sonho daqueles
…..…...66
peixe ……………………….....69
no clube nikkey…………….…74
acredite……………………......76
firma forte – diretoria ………...78
hotel califórnia …………….....79
o cara que me conhecia …...….81
um dia de treinamento ……….82
o elogio do promotor ………....85
o feto, o lixo, o funk ……….....88
o cara, a menininha, a cama ….89
fernando ……………………....91
o corsa vermelho ……………..93
cena de sangue e drogas ……...96
torralvo …………………….....99
um ensaio sobre os ataques ou cale a boca, márcia ..102
cnh falsificada, com sílvio …...107
o ht da pm ……………………108
só para militares ……………...111
rodrigues ………………….….115
hoje viajei de novo ……….….116
igual ao noticiário das dezoito .119
o novo comandante ………….123
nota falsa …………………….125
encontros com a morte ………126
o cara di menor
……...…….128
o feudo ……………………….131
o parto …………………….….131
barreto…………………....…..138
feliz natal ………………….....139
o uno vermelho ……………....140
o triste fim do galego e de alguns dos seus amiguinhos …...143
eu e o pcc …………………,…144
codinome pdo ……………..….148
o irmão com a cnh falsa …..….150
pirata …………………..……..151
este mundo é pequeno …..…....153
o senhor do anel ………..…….156
o famoso racionais ……...……160
albino élcio na cdhu _ recordações ….162
overdose (ou algo assim) …….163
robin hood …………………,,,.165
ataques do pcc …….……..…..168
com paulo gerson …….…..….169
meu irmão …………....…..….171
na cabeça do sargento ou a reunião das estrelas ….173
jônatas …………………….…181
reencontro na zero hora……....181
no estande de tiro………. ..183
no mundo do juiz dredd……...185
confiança…. ou casa de caboclo? ….188
o doublê da nelson carneiro ………..190
Deus deu a vida………...…….195
o dia do bi mundial ……....…..197
here is the place ……………...200
a caixinha
dos carros roubados .….201
louca caminhada tiradentes a fora ….203
o negociador (outra) …….,,….205
a caixinha ……………,,….….209
as catrefas …………….…,,….211
no 54 …………...…….…,,….213
fábula moderna ………,,….…215
amor de mãe ……………,,….219
aguiar e sanches e enoque e kátia .....221
o miserável maldito …….…,,.224
golzinho, com a elaine …,,.….227
voyage preto – o primeiro doublê….228
os aprendizes de feiticeiro ………...229
a mulher do polícia ……..…..230
sebastião ………………...…..231
preciso parar com o chá ….....234
um dia na vida do sargento ….236
only another dream ……...….240
mano rogério …………...…...245
o soldado moisés ou craaaaash, craaaaaash ...250
referências literárias e musicais……………..254
PRÓLOGO
Meu nome é Dario Cordeiro da Rocha e estas não são minhas memórias, aliás, desde o início quero que meu leitor fique ciente que não fui eu quem escreveu este livro, eu apenas fui o cara designado para publicá-lo. Na verdade, a narrativa toda foi redigida pelo meu tio, que também se chamava Dario, e como ele chegou aos fatos aqui narrados, mesmo após todos esses anos, é algo meio mal explicado tanto para mim quanto para qualquer um da minha família. Na verdade, mesmo, este prólogo nem precisaria existir, mas eu queria explicar o ANTES que aparece no título do livro, senti a necessidade de dizer alguma coisa ao leitor antes de jogá-lo diretamente na estória contada pelo meu tio, tipo, sei lá, pelo menos pra você saber que o cara morreu e aí minha tia me chamou e me disse que ele tinha deixado umas coisas pra mim, e eu fui buscar as tais coisas imaginando que seriam ferramentas, qualquer coisa assim, e então me deparei com uma caixa cheia de livros, gibis, jogos e, por baixo de tudo, havia uma caixa de sapatos com dinheiro e os originais deste livro, com as instruções para a publicação e tudo o mais. E foi isso o que aconteceu, de forma resumida, e aqui estamos nós, mas quero que fique bem claro que eu nem de longe acredito em uma só linha das coisas que ele escreveu, pois elas desafiam minha sanidade. Aliás, depois de ler o livro, acho que ninguém, em sã consciência, acreditará. Ainda mais que, ainda hoje, o Estadão publicou uma matéria dizendo que na cidade de São Paulo, de cada 100 crimes violentos, apenas 3 são solucionados. E ainda acrescentaram que nos primeiros seis meses do ano ao menos três Distritos Policiais da capital ainda não prenderam nenhuma pessoa sequer! Ora, se em seis meses uma delegacia com sei lá quantos funcionários ainda não prendeu ninguém, como é que alguém vai acreditar nos escritos do meu pobre tio Dario (que Deus o tenha em bom lugar), nos quais ele reporta a história de um policial que prendeu dezenas de ladrões, estupradores, assassinos, usuários e traficantes de drogas, além de ladrões de carros e receptadores. E esse meu tio, é necessário esclarecer, era pedreiro, trabalhava em construção civil, da sua profissão entendia tudo, mas de polícia, ao contrário, é líquido e certo que ele não entendia nada, logo ele se baseou somente no que o tal policial teria lhe contado para escrever seus casos. Francamente… Mas, para não encher mais linguiça com coisas sem importância, deixa eu encerrar este prólogo e deixar que você mesmo leia e julgue por si mesmo. E assim, caro leitor, eis aí…
AS MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE POLÍCIA,
conforme escritas por meu tio DARIO (IN MEMORIAM)
MEUS MOTIVOS E MINHA INSPIRAÇÃO
Este livro fala principalmente de sonhos, sonhos que tive por um certo período. Vou confessar ao meu leitor que nunca fui policial, mas eu sempre quis ser um. Desde pequeno, quando minha mãe me perguntava o que eu seria ao crescer, eu dizia que queria ser soldado, porém minha altura e minha condição física nunca o permitiram e acabei me conformando com isso, meu trabalho como pedreiro sempre me deu o suficiente para uma vida honesta. Então, de repente, oriundo de um município irreal chamado Nova São Paulo apareceu o Sargento Cordeiro e tudo mudou, minha vida mergulhou numa Steampunk surreal, por mais redundante que isso possa parecer, afinal de contas uma Steampunk já é uma estória na qual a realidade é totalmente alterada, reescrita, subvertida. O meu primeiro contato com ele, com seu estranho mundo e suas viagens entre os universos paralelos se deu de uma forma que não tem como explicar para meu leitor neste livro e ficará para outra oportunidade, apenas vou adiantar que no início ele sempre me aparecia esporadicamente em sonhos normais e depois, pouco a pouco, eu pude perceber que os sonhos foram mudando de tonalidade, ficando cada vez mais reais, tipo... Matrix. É claro que isso me deixou meio pirado, nessa época eu tomava uma caneca de chá do Santo Daime antes de dormir e até diminuí a dose, achando que tava ficando meio chapado, mas aí já era tarde, com o chá de ayahuasca ou não os sonhos se intensificaram, e comecei a me lembrar nitidamente deles, até que, por último, eu já estava literalmente sonhando acordado. Paralelamente e sem explicação coerente, comecei a desenvolver um gosto estranho por artigos militares, cara, eu cheguei a comprar um coturno!!, imagine a surpresa da Vera Lúcia, minha esposa, quando cheguei em casa com um coturno. Nem vou contar a reação dos meus filhos e dos amigos, enfim, como eu já disse, é tudo uma longa história e não é o meu objetivo contá-la aqui. O que posso dizer é que a certa altura, dormindo ou acordado, eu via o Sargento Cordeiro e até... putz, pode parecer loucura, mas eu..., bem..., eu pensava e agia como se realmente fosse ele. Bem, se até hoje não consigo falar do negócio com franqueza, pois temo falar bobagens, então imagino a resistência do leitor em aceitar numa boa que, por um certo tempo, eu era um sargento da polícia em tempo integral (já me disseram que era somente na minha cabeça, mas essa é uma explicação muito simplória, eu simplesmente não acredito que era assim, era real demais, era insano, era... maravilhoso). Para facilitar, acho que é melhor o leitor assistir aquele filme que ganhou uma pá de estatuetas, Avatar, e isso ficará mais fácil de aceitar, ou, no caso dos mais antigos, será lembrar do Billy Batson, que se transformava no Capitão Marvel e vice-versa. O que eu sei é que ele surgiu, e mudou minha vidinha medíocre. E nossa relação ficará melhor se você me fizer um favor e não ficar perguntando coisas que eu também não compreendo, que não consigo explicar. Cara, como vou explicar a forma como, de repente, me via como um sargento da polícia militarizada, trabalhando numa viatura na Cidade Tiradentes? E como vou explicar que eu, que não entendo nada de armas, de repente soubesse manusear pistolas, revólveres, metralhadoras e até fuzis? Também ficará para outra oportunidade a explicação dos universos paralelos, assim como o fato de que, embora em dimensões diferentes, as mesmas cidades possuam características semelhantes, bem como as pessoas, mas nada é totalmente igual. Eu acho que, quase sempre, estarei falando da Tiradentes da Nova São Paulo, não a da terra matriz
, que é como chamo a realidade como a conhecemos, enquanto que eu via as outras, como posso dizer, de forma meio confusa... nublada? Para meu leitor entender bem essa ideia de universos paralelos, eu aconselho que leia a Torre Negra, do Stephen King, e tudo ficará mais compreensível após a leitura de suas colossais 4.500 páginas. Como é que se passa de um universo para o outro, isso o Capitão Kirk nos mostrou quando éramos pequenos, e desde então isso não é segredo para ninguém, assim como para tele transportar-se de um local para outro basta ter os equipamentos existentes em Neuromancer, de Gibbins, ou aqueles que aparecem nos episódios de Fringe, ou fazer como o personagem Shadow de Deuses Americanos faz, ou simplesmente ter a mente bastante fértil, sei lá. Ah, e se você não sacar nada de universos paralelos nos meus escritos já vou pedindo desculpas desde já, afinal eu tinha uma coisa em mente quando comecei a escrever e, com o passar do tempo, a coisa foi tomando outra forma, as águas se turvaram, bem antes de ir parar numa ala psiquiátrica minha mente já estava meio down, pra baixo, e de repente eu era eu e, em seguida, era o Sargento, aí os textos se misturaram, algumas vezes eu escrevia em primeira pessoa, às vezes em terceira, às vezes via as coisas em tempo real
, às vezes em tempo pretérito, às vezes de forma clara, às vezes eu me sentia atrás de uma cortina de fumaça, sei lá, se ficou mais confuso do que imagino me desculpem a confusão, pulem este trecho. No início eu me empolguei, além de escrever eu comecei a contar as coisas que via para minha família e meus amigos, confesso que me dava o maior prazer ver aqueles paga pau
reunidos e eu contando as coisas que o sargento fazia, e então alguém disse que aquilo não era normal e aconselharam minha esposa a marcar uma consulta com um psiquiatra no Hospital do Mandaqui, e o pior de tudo é que ela comprou a ideia, como se me achasse mesmo meio desequilibrado, sei lá. Depois de ela muito insistir, e se meu leitor morar com alguém sabe como que é isso, esse blá, blá, blá contínuo na sua cabeça, chega uma hora que você cede para não brigar, enfim, para acabar com aquele eterno falatório eu cedi, e no Mandaqui fui atendido por um médico super legal, o doutor Paulo, o qual me diagnosticou como um cara normal, com um pequeno distúrbio chamado Síndrome de Munchausen ou qualquer coisa assim, receitou-me um remédio chamado Fluoxetina e me mandou pra casa. Vocês precisavam ver a cara de todo mundo na casa da minha tia, lá na Rua Aburá, quando a Lú relatou para eles o que o médico dissera. Depois disso eu estive outras vezes no Mandaqui, sempre depois de muita insistência dela, e em duas ocasiões cheguei até a ficar internado, aliás, isso aconteceu por eu pegar um médico chato, porém nas duas vezes, quando o doutor Paulo apareceu, ele me deu alta na hora, dizendo algo tipo esse paciente é mais normal que certos médicos que trabalham aqui
, meu, aquele médico era demais, um verdadeiro brother. Para fechar, depois de vários meses tomando direto o chá (e que período maravilhoso, o sargento tava presente 24 horas na minha mente!!!), acho que minha esposa se saturou das coisas e me levou novamente ao Mandaqui. No hospital, descobrimos que o doutor Paulo não trabalhava mais lá e fui atendido por um médico maldito, o cara nem me deu chance de explicar as coisas direito e já me diagnosticou como um indivíduo cujas percepções da realidade foram suprimidas em prol de um contínuo estado de alucinação, possivelmente provocado pela ingestão de substância altamente alucinógena concomitantemente com fluoxetina
, o que acabou por se transformar numa internação para um processo de desintoxicação, como se eu fosse um drogado. Por coincidência, ou não, as viagens
com o Sargento Cordeiro cessaram, e me vi tão perdido quanto um cachorro quando cai da mudança, desnorteado, vazio... Foi horrível, leitor, eu estava tão acostumado com sua presença
que caí num sério quadro de depressão, não via a hora de sair do Mandaqui para tomar uma dose de chá para reativar as visões, mas quando eu tive alta e voltei para casa, por mais que eu ingerisse a ayahuasca nunca mais o sargento voltou. Confesso que perdi a vontade de viver e a coisa só não chegou a um caso extremo devido a um lance que ocorreu através da internet,