Antologia Por Ética

ANTOLOGIA POR

ÉTICA

CLAUDIONOR

APARECIDO RITONDALE

São Paulo

2012

ANTOLOGIA POR

ÉTICA

CLAUDIONOR

APARECIDO RITONDALE

São Paulo

2012

Sumário

APRESENTANDO O LIVRO A PARTIR DO

TÍTULO ....................................................................... 9

SITUAÇÕES MORAIS E LEGAIS ......................... 17

CULPADOS SOMOS TODOS? .............................. 25

O SABER NÃO MUDOU DE OBJETIVO ............. 33

ESTATUTO DA PERFEIÇÃO: A ARTE DE

MODELAR A VIDA ................................................ 43

SOBRE ÉTICA EMPRESARIAL ........................... 53

PENSAMENTO DE FOUCAULT SOBRE A

DIVERSIDADE ........................................................ 57

AÇÃO AFIRMATIVA: A QUESTÃO DAS COTAS

.................................................................................... 65

O CÓDIGO DE ÉTICA DE UMA INSTITUIÇÃO

PRIVADA DE ENSINO .......................................... 77

A FELICIDADE NUM FUTURO QUE COMEÇA

AGORA ................................................................... 133

DESAFIOS EM UM MUNDO EM CONSTANTE

MUDANÇA DE VALORES ................................... 149

ALGO ALÉM DAS MENSAGENS DA INTERNET

.................................................................................. 169

BREVE REFLEXÃO SOBRE O TEMPO ............ 175

UM POUCO DO AUTOR E DO QUE PRODUZIU

ATÉ HOJE .............................................................. 177

PEQUENA APRESENTAÇÃO DE MEUS LIVROS

PUBLICADOS ........................................................ 185

ética Verb. atualizado

(é.ti.ca) Fil.

sf.

1 Parte da filosofia que trata das questões e dos

preceitos que se relacionam aos valores morais e à

conduta humana.

2 Conjunto de princípios, normas e regras que

devem ser seguidos para que se estabeleça um

comportamento moral exemplar.

[F.: Do gr. ethiké, pelo lat. ethica.]

[Dicionário contemporâneo da língua portuguesa

Caldas Aulete

Francisco J. Caldas Aulete/Antonio Lopes dos

Santos Valente

Edição brasileira original: Hamílcar de Garcia,

2012]

Antologia por ética

Apresentando o livro

a partir do título

Meu objetivo foi propor questões

sobre ética, que considero uma das

matérias mais difíceis de tratar, porque não

consigo entender a imensa diversidade de

posições que o ser humano consegue ter

diante de problemas que lhe ocorrem ou

das mais diferentes situações humanas.

A primeira semente para o livro pode

ter ocorrido a mim quando ouvi algo sobre

ética vindo de uma pessoa que conheci

muito rapidamente e que tinha a

localização de sua casa muito próxima à

minha residência. Dizia ela ser professora

de ética numa faculdade – era essa sua

profissão. O que me intrigou foi o fato de

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Antologia por ética

que ela teve algumas reclamações sobre

uma reforma que eu fazia em minha

residência, dentro do horário permitido por

lei. Havia incômodo certamente, mas as

coisas estavam sendo feitas segundo o que

era possível em termos legais, nada além

disso, tanto naquilo que se referia a

barulhos quanto no que dizia respeito a

horários de início e término dos trabalhos.

Curiosamente, uma das pessoas de

sua

casa

costuma

fazer

barulhos

estridentes nos horários mais inadequados,

ou seja, fora dos limites previstos em lei,

como, por exemplo, soltar fogos de artifício

às duas horas da manhã, às 11 horas da

noite, além de que da casa dessa

professora é muito comum ouvirem-se

xingamentos e tratamentos agressivos

entre seus moradores, com palavras que,

ao menos pelo que se espera de uma

professora universitária de ética, não são

das mais abonadoras. Gritos são muito

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Antologia por ética

comuns, nos mais diversos horários,

inclusive os compreendidos fora dos limites

legais para barulho.

Além disso, ela confessou-me que

autorizou a construção irregular no terreno

de sua casa de um anexo e, para que

pudesse usufruir da edificação, subornou

um agente público. Não achei isso nada

interessante

para

uma

professora

universitária de ética.

Não bastassem essas situações, há

muito vaivém de pessoas na casa dela, nos

mais diversos horários, com cenas comuns

de carros buzinando à porta, gente

gritando da rua para a casa e da casa para a

rua, algo muito pouco civilizado. A

vizinhança comenta muito mal sobre essas

cenas desagradáveis.

Não vou me alongar na descrição das

pessoas da casa da professora universitária

de ética, mas comecei a ver, a partir dessas

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Antologia por ética

constatações ruidosas, um pouco do

comportamento de muita gente, inclusive o

meu, em diversas situações, para verificar a

observância de princípios e a coerência

com os mesmos.

A discussão sobre ética e moral é

algo meio espinhoso. Cheguei a assistir a

um filme sobre a vida do enciclopedista

francês Diderot que, a certa altura, fazia

considerações sobre ética e moral.

Segundo o filme, Diderot teria feito constar

em sua Enciclopédia, para o verbete

moral apenas o sinônimo ética, e para

o verbete ética apenas o sinônimo

moral.

Uma das curiosidades sobre esse

filme era seu nome: O Libertino (Le

Libertin). O filme tematiza justamente o

conceito de ética, pois Diderot estaria à

caça da melhor descrição para ética.

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Antologia por ética

A noção que me trouxe o livro,

associado ao título, foi a inevitável

associação que pude fazer de ética com

liberdade.

A primeira ideia sobre ética que

posso expor a qualquer pessoa que queira

ler meu livro é a de uma inevitável

aproximação com regras. E a ideia de

liberdade é a de oposição frontal a

qualquer aprisionamento, sendo que um

deles é o que se tem pelas regras.

Viver sem regras estabelecidas pode

significar liberdade total? Ética é conduzir-

se por algum tipo de regra ou algum

conjunto de regras? Quem tem autoridade

para emanar regras? Por que elas existem?

É possível que não existam regras?

Essas e outras questões podem ser

suscitadas e não me cabe, neste momento,

responder a nenhuma delas, ainda. Talvez

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Antologia por ética

eu também não consiga responder

satisfatoriamente a nenhuma delas.

A proposta principal do livro é a de

criar textos que busquem a noção de ética.

O caminho a ser percorrido é o mesmo que

o anunciado no filme sobre Diderot, que,

aliás, é uma comédia.

Denominei Antologia por ética

porque pensei na ideia de seleção que

sempre fazemos ao compilar ideias, seja

para um livro, seja para qualquer coisa que

façamos. Há sempre, na linguagem, a

seleção, não se pode aleatoriamente

discorrer sobre qualquer coisa sem algum

tipo

de

escolha,

ou

não

haverá

comunicação possível. A antologia poderia

ser vista como conjunto de textos de vários

autores, mas não foi minha intenção

coletar algo dos outros, copiando-lhes

trechos ou conjuntos mais completos de

ideias. Pensei em projetar minhas próprias

ideias, que também surgem a partir do

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Antologia por ética

convívio com muitas outras pessoas. A

condição de serem elas voltadas à ética

recebeu a denominação de por ética,

num jogo com a comum palavra poética,

que se vê associada frequentemente com a

palavra antologia. O nome surgiu-me

num sarau de poetas do qual participei e

que não me encantou, em virtude de ter

sido dada muito pouca ênfase ao trabalho

dos poetas, em detrimento de discursos

com nítida propensão de divulgarem-se

ideias políticas dos organizadores. A

antologia seria um pedido por ética, feito

não por um filósofo, mas por alguém que

pretende ter para si a condição de poeta.

Espero ter alcançado um pouco este

objetivo de provocar reflexões.

São Paulo (SP), janeiro de 2010

Claudionor Aparecido Ritondale

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Antologia por ética

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Antologia por ética

Situações morais e

legais

Não tenho a intenção de expor

comportamentos

que

considero

reprováveis de pessoas que eventualmente

se aproximam de mim, mas nem sempre é

possível evitar produzir textos de situações

próximas. Um caso curioso aconteceu-me e

partiu de algo que pode ser visto