Desbravando o Sistema Solar: Saturno pelas Lentes da Cassini-Huygens

PREFÁCIO

Ao nascer, o ser humano percebe o mundo de uma forma simples e direta. Apenas o que vê com os olhos, ouve com os ouvidos e sente com o olfato, o paladar e o tato fazem parte de seu universo. Percebe, assim, inicialmente, apenas as pessoas e o ambiente que o cercam. Ao crescer e olhar para o céu, percebe também o Sol, a Lua e alguns pontos brilhantes, as estrelas. Os planetas são confundidos com as estrelas nessa percepção. São, como as estrelas, apenas pontos luminosos no céu. É assim que o ser humano percebe o cosmo com os seus olhos. E isso basta! Mas, será que, realmente, essa percepção basta à curiosidade do ser humano? A história mostra que a percepção mais simples e direta da natureza nunca foi suficiente para aplacar a curiosidade humana.

A mente humana, para tentar saciar essa curiosidade, simulou voos pelo cosmo, construindo ideias e modelos que pudessem explicar o que via no céu, mas não entendia. Voar, no entanto, não é uma característica inata do ser humano, mas foi adquirida de forma artificial, por meio de artefatos engenhosos, graças ao seu intelecto. Ao adquirir tal capacidade, foi capaz de se aventurar na atmosfera terrestre. Depois, foi capaz de construir outros artefatos que o ajudaram a explorar a natureza para além da atmosfera terrestre e que revelaram detalhes do cosmo que os sentidos primários do ser humano não são capazes de mostrar. Assim, o ser humano começou a sonhar em conquistar o espaço para além das cercanias da Terra. Chegou à Lua e sonhou alcançar outros planetas. Mas, mesmo sem levar seres humanos a bordo, artefatos, como a sonda planetária Cassini-Huygens, já singraram a imensidão do Sistema Solar e mostraram belezas fenomenais. Essa missão teve uma vida útil de 20 anos, sendo 13 dedicados à exploração de Saturno e suas luas.

Escrito por Fernando Henrique Martins e José Leonardo Ferreira, dois entusiastas das ciências espaciais, esse livro leva, de maneira instigante, o leitor a uma viagem pelo Sistema Solar com a sonda planetária Cassini-Huygens, mais especificamente a Saturno, que é um dos pontos brilhantes que o ser humano percebe no céu. E mostra algumas das fantásticas descobertas que essa sonda espacial foi capaz de fazer, cujos sensores se somaram aos olhos do ser humano para ampliar o entendimento humano acerca do Sistema Solar. Essa sonda revelou detalhes de Saturno que nunca haviam sido observados a partir da Terra. Até mesmo os voos da imaginação humana não foram capazes de idealizar as maravilhas escondidas nesse planeta.

Saturno é o planeta do Sistema Solar que tem o maior número de satélites naturais. São 82 luas. Para os olhos do ser humano, porém, esse planeta e suas 82 luas são vistos, juntos, apenas como um único ponto no céu. Entre essas luas, está Titã, o único satélite natural de um planeta do Sistema Solar com atmosfera rica em metano, que, em muitos aspectos, mostra similaridade com os primórdios da Terra. Aliás, Titã apresenta outras semelhanças com a Terra, como rios, mares e chuva, algo que não é observado em outros corpos do Sistema Solar. Outra lua interessante de Saturno é Encélado, que tem água líquida a pouca profundidade de sua superfície. Ou seja, são detalhes incríveis sobre o conjunto composto por Saturno e suas luas que foram revelados pela sonda Cassini-Huygens e que são mostrados nesse livro. Quando seu combustível se exauriu, essa espaçonave, para evitar que as luas de Saturno pudessem ser contaminadas, já que podem abrigar condições para a existência de vida, foi enviada a uma viagem sem volta rumo a Saturno, em 2017, sendo destruída pela atmosfera desse planeta.

Com certeza, Desbravando o Sistema Solar: Saturno pelas Lentes da Cassini-Huygens trata-se de uma obra importante para todos aqueles interessados em aprender sobre a natureza, que engloba o que o ser humano percebe aqui na Terra com os seus sentidos e se estende por todo o cosmo, o que inclui, obviamente, Saturno e suas luas, um dos pontos brilhantes que ele vê no céu...

Boa leitura!

Thyrso Villela

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE

Universidade de Brasília – UnB

SUMÁRIO

Capa

Folha de Rosto

Créditos

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1 – SATURNO E SUAS LUAS GELADAS: ANTES DE CASSINI

1.1 SATURNO

1.2 TITÃ: A MAIOR LUA DE SATURNO

1.3 LUA EXTERIOR GELADA: ENCÉLADO

CAPÍTULO 2 – A MISSÃO CASSINI

2.1 PRINCIPAIS OBJETIVOS CIENTÍFICOS DA MISSÃO CASSINI

2.2 LINHA DO TEMPO

2.3 GRAND FINALE

CAPÍTULO 3 – A SONDA CASSINI-HUYGENS

3.1 A ESPAÇONAVE CASSINI

3.1.1 Sensoriamento Remoto no Óptico

3.1.2 Sensoriamento Remoto no Rádio

3.1.3 Instrumentos de Campo e de Partículas

3.2 SONDA ESPACIAL HUYGENS

CAPÍTULO 4 – AS DESCOBERTAS DA MISSÃO CASSINI-HUYGENS

4.1 SATURNO

4.2 TITÃ APÓS CASSINI

4.3 ENCÉLADO PÓS-CASSINI

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Landmarks

Capa

Folha de Rosto

Página de Créditos

Sumário

Bibliografia

INTRODUÇÃO

Quando se observa o planeta Saturno (Figura I.1) e algumas de suas luas através de um telescópio, não se imagina que este sistema seja dinâmico e apresente alguma atividade. Contudo, ao se fazer uma reflexão sobre o próprio movimento da Lua em torno da Terra, pode-se especular sobre alguma atividade no sistema de Saturno e, assim, se questionar quais mecanismos que poderiam ocorrer neste mundo tão distante de nós. Embora Saturno esteja a aproximadamente a uma distância de 9 UA (cerca de 1277 milhões de km) da Terra, essa escala de distância nada se compara à vastidão do Universo e explorar este sistema começa a se tornar um sonho possível. Este planeta peculiar é bastante interessante pelo fato de possuir anéis e luas tão grandes que se não estivessem próximas de Saturno, seriam elas mesmas outros planetas do Sistema Solar. Os anéis e algumas das maiores luas deste planeta são visíveis quando observados por um telescópio newtoniano comum mesmo a distâncias imensas, mas isso não é suficiente. Queremos chegar mais perto!

Figura I.1 – Planeta seis. Esta é uma imagem obtida pelo instrumento ISS da Cassini no visível quando a espaçonave estava localizada a uma distância de 2,3 milhões de quilômetros de distância do planeta. Do lado esquerdo da imagem,