Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

"Sou ex-presidiária! E agora?"
"Sou ex-presidiária! E agora?"
"Sou ex-presidiária! E agora?"
Ebook228 pages2 hours

"Sou ex-presidiária! E agora?"

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

"Sou ex-presidiária! E agora? Um estudo sobre as narrativas de egressas da Penitenciária Feminina Consuelo Nasser" apresenta os resultados de uma escuta de mulheres egressas da Penitenciária Feminina Consuelo Nasser (PFCN). As discussões gravitaram em torno das opressões de raça, gênero, classe, sexualidade e suas interseccionalidades, bem como das particularidades da criminalidade e encarceramento feminino. Foram explorados os efeitos da prisão nas narrativas das egressas da PFCN a fim de traçar elementos de avaliação crítica relativos às formas de produção e reprodução de relações opressoras e excludentes, e também emancipatórias e inclusivas, identificadas a partir dos enunciados das egressas. Foi buscado o sentido das narrativas informadas pelos enunciados, tomando como referência a necessidade de efetivação dos direitos humanos.
LanguagePortuguês
Release dateAug 24, 2022
ISBN9786525248714
"Sou ex-presidiária! E agora?"

Related to "Sou ex-presidiária! E agora?"

Related ebooks

Social Science For You

View More

Related articles

Reviews for "Sou ex-presidiária! E agora?"

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    "Sou ex-presidiária! E agora?" - Kamilla Santos da Silva

    capaExpedienteRostoCréditos

    É o poder, aceita porque dói menos

    De longe falam alto, mas de perto tão pequenos

    Se afogam no próprio veneno, tão ingênuos

    Se a carapuça serve, falo mesmo

    E eu cobro quem me deve

    É o poder, o mundo é de quem faz

    Realidade assusta todos tão normais

    Viu? Falei

    Depois não vem dizer que eu não avisei

    Só não vem dizer que não. Só não vem dizer que não. Só não vem dizer que não

    Sociedade em choque, eu vim pra incomodar

    Aqui o santo é forte, é melhor se acostumar

    Quem foi que disse que isso aqui não era pra mim

    Se equivocou

    Fui eu quem criei, vivi, escolhi, me descobri

    E agora aqui estou

    Não aceito cheque, já te aviso: não me teste

    Se merece, então não pede pra fazer algo que preste

    Quem é ligeiro investe, não só fala, também veste

    Juiz de internet caga se espalhando feito peste

    Se não tá no meu lugar então não fale, meu, não fale

    Se for fazer pela metade não vale, não vale

    Eu vivo com doses de só Deus que sabe, o resto ninguém sabe

    Quebro tudo pra que todos se calem

    Quem vem, só quem tem coragem vai

    Já falei que quem nasceu pra ser do topo nunca cai

    O medo é de quem, hein?

    Olha quem ficou pra trás

    E a vida segue, segue e o tempo não volta mais

    É o poder o mundo é de quem faz

    Realidade assusta todos tão normais

    Viu? Falei

    Depois não vem dizer que eu não avisei

    Só não vem dizer que não. Só não vem dizer que não. Só não vem dizer que não

    Eles não sabem o que dizem

    Não aguenta então não fica

    Eles não sabem o que dizem

    Não aguenta então não fica

    Se tem uma coisa que me irrita é ver bocas malditas

    Dizendo mentiras sobre minha vida

    Coisas que eu nem vivi ainda, eita!

    Frustrados, pirados na cola, já perdi a hora

    Preciso ir embora, alguém me espera lá fora, me deixe

    Música: É o poder

    Letra: Tropkillaz

    Intérprete: KarolConka

    AGRADECIMENTOS

    Essas páginas expressam um ciclo de trabalho árduo, renúncias, crises existenciais seguidas de longas noites em claro a chorar, de ansiedade, de muita raiva, mas também de aprendizados, de superação, muito amor e muita força em prol de uma sociedade mais justa e igualitária.

    E como tudo o que fiz na vida, esse trabalho não seria possível sem o amor, a energia e o apoio de muita gente, por isso tenho aqui o prazer e o dever de agradecê-las.

    Gratidão ao meu eu-superior que tenho certeza me guiou durante todo o processo com o amor e a luz que fui merecedora.

    À minha tão querida orientadora Prof.ª Dr.ª Luciana de Oliveira Dias por ser tanto! Por me acolher e conduzir esse processo com tanto amor, sensibilidade, atenção, confiança, rigor teórico-metodológico e ético-político, sou grata por tudo que me ensinou; sem você esse sonho não seria concreto, sou grata por seu apoio intelectual e emocional, por acreditar no meu potencial, pela paciência e estímulo. Que bom que nossos caminhos e trajetórias se cruzaram... Seguimos juntas, minha querida!

    À Prof.ª Dr.ª Vilma de Fátima Machado por toda compreensão e atenção que teve comigo, eu aprendi muito com você.

    À Prof.ª Dr.ª Helena Esser dos Reis que compreendeu minhas demandas em meio à burocracia acadêmica e com amor propôs caminhos possíveis à conclusão desse trabalho.

    Ao Prof. Dr. Ricardo Barbosa de Lima por conceder asilo acadêmico para o exercício pleno da solidão e liberdade durante o processo de finalização desse trabalho.

    Às Professoras. Dr.ª Franciele Silva Cardoso e Dr.ª Michele Cunha Franco pelas contribuições valiosas e incentivos na ocasião da banca de qualificação desse trabalho.

    À Prof.ª Dr.ª Vera Regina Rodrigues da Silva por aceitar o convite para participar da minha banca de defesa. Obrigada!

    Ao Prof. Dr. Waldemir Rosa por prontamente aceitar participar da minha banca de defesa. Obrigada!

    Ao Dr. Haroldo Caetano, que na ocasião da banca de qualificação do projeto de pesquisa contribuiu para a retirada da venda dos meus olhos me fazendo enxergar o potencial e o lugar da pesquisa na minha vida.

    Ao Celso por tanta paciência, dedicação, cuidado e atenção.

    A todo corpo discente, docente e técnico do NDH/PPGIDH casa que me acolheu e faz parte da continuidade da minha formação acadêmica, profissional e pessoal.

    A todas as rosas do Coletivo Rosa Parks, pelos momentos de acolhimento e das mais diversas trocas.

    À minha irmã Lisianne por segurar na minha mão, por cuidar tão bem de mim, me ouvir, me apoiar, entender minhas ausências, minhas crises e principalmente por não desistir de mim...eu sei que não foi fácil! Gratidão, pretinha!

    Às minhas companheiras, Yasmim e Vanessa, que, em alguns momentos, dividiram o lar comigo e sempre traziam leveza aos dias com palavras de incentivo e força para concretização desse sonho.

    À querida Lizia, com quem tive o prazer de cruzar na primeira tentativa de inserção no PPGIDH e até hoje está na minha vida, um espelho de mulher preta e acadêmica.

    À Camila Nunes, um ser de luz e amor, incentivadora para o início dessa empreitada, companheira nas horas de angústia e trabalho árduo (mesmo em Pirenópolis rs). Obrigada por acreditar junto comigo.

    À minha querida amiga Anelisa, por sonhar junto comigo uma sociedade mais justa em que o cárcere não seja a solução para as questões sociais. Obrigada pela força, ensinamentos jurídicos e torcida para a concretização dessa dissertação. Seguimos juntas por um mundo melhor.

    À minha amada Jorlene Amaral que me ajudou a ressignificar esse momento e enfrentá-lo de frente com todas as bênçãos e aprendizados que me trouxe. Um presente, amada!

    Aos melhores colegas, da melhor turma de mestrado que eu poderia ter, por tantas trocas teóricas e de vida, festas, lanches, churrascos, happy hours; casamo-nos, vimos filhos nascerem, o Brasil ser eliminado da copa... muita coisa acontece em dois anos e meio! Gratidão pela companhia Gabriel, Juliana, Renato, Karen, Carol, Rafa, Camila Melo, Mirella, Hilana, Maria Marta, Marden, Pedro, Marcos, Ana Luíza, Tiago e Ilana.

    De forma especial a todas as mulheres que me permitiram ouvi-las e recontar suas trajetórias.

    À minha sempre amiga Dr.ª Carla Francisca dos Santos Cruz pelas trocas acadêmicas e torcida nesse processo.

    Às companheiras de instituição Jaina, Carol, Ana Paula, Lara, Sherloma, Vanessa e Odete pela torcida e incentivos.

    Aos meus queridos do I love Paris e Família TJGO, Pollyanna, Thamires, Erica, Lis, Karol, Marina, Lucilene, Gustavo, Lisianne, Letícia, Fernanda, Fábio, Cláudio, Dorivânia, Amanda, Genoclécia, Rosângela e Cesinha pela admiração, torcida e notebook. Muito obrigada!

    À minha avó Nivalda (in memoriam) que sei que vela por mim.

    Às minhas tias Vera Lúcia e Maria de Lourdes que sempre contribuíram para o desenvolvimento da minha educação formal e informal.

    Aos meus pais, a quem eu devo toda honra e mérito dessa conquista e sou grata pela maior herança que podiam me deixar que é a Educação. Vocês que desde sempre acreditaram e investiram em mim e entenderam minhas ausências nesses dois anos. Amo e honro vocês.

    A todos de quem meu coração se lembra e direta ou indiretamente contribuíram para este trabalho a minha gratidão.

    Ubuntu!

    LISTA DE SIGLAS

    ELUCIDÁRIO

    ¹

    B.O - palavra usada para designar problemas na unidade prisional.

    Bacú - palavra usada como sinônimo de revista.

    Cadeia - palavra usada como sinônimo de pena/condenação.

    Caguetar - palavra usada para designar o ato de contar algo que deveria ficar em segredo.

    Casa - palavra usada para designar a cela.

    Cobal - palavra usada para designar o conjunto de mantimentos e itens de higiene fornecido às presas por seus familiares e/ou comprado por elas. A cobal é uma atividade rotineira que acontece uma vez por semana. Existe uma lista do que pode e do que não pode compor a cobal.

    Comando - palavra que se refere a presa que é líder na prisão.

    Convívio - palavra que se refere ao relacionamento interpessoal entre as reeducandas.

    Contenda - palavra usada para designar briga.

    Corre – palavra usada para designar a realização de ilícitos penais.

    Favelão - palavra usada para designar festas na unidade prisional.

    Linchamento - palavra usada para designar a decisão coletiva de gerar graves violências contra alguém.

    Pecúlio - parte do salário das presas que é depositado em uma conta para ser sacado após a sua saída do cárcere.

    Rádio - palavra usada para designar aparelho celular.

    Sistema Jurídico Punitivo - todas as instâncias envolvidas na investigação, processamento e custódia estatal: polícia, Ministério Público, Poder Judiciário e Secretaria de Administração Penitenciária.

    Tampado - palavra usada para designar que os Agentes de Segurança Prisional suspeitam de atitudes consideradas erradas na Unidade Prisional.

    Vender cela - ação de vender a cela que foi beneficiada pela presa que está em liberdade. Em geral, as presas equipam as celas e realizam benfeitorias com a dificuldade de serem autorizadas essas ações quando saem, vendem a cela para quem continua encarcerada.

    Xepa - palavra usada para designar a alimentação fornecida pela administração penitenciária.


    1 Os neologismos, as expressões e gírias particulares da obra

    PREFÁCIO

    Prefaciar este livro envolve a aceitação de me manifestar acerca de duas categorias de pensamento, propostas e desenvolvidas por duas mulheres negras que despertam minha admiração. A primeira categoria à qual me refiro é a de escrevivência, cunhada pela mineira Conceição Evaristo e a segunda categoria é a de dororidade, elaborada pela carioca Vilma Piedade. Acessar este livro de autoria da sergipana Kamilla Santos da Silva nos coloca em contato com a concepção de escrevivência, que nos permite ocupar um lugar de um eu coletivo, ao mesmo tempo em que nos coloca também em contato com a noção de dororidade, que aciona em nós uma empatia/irmandade característica das mulheres negras.

    Ao estudar as trajetórias que são informadas pelas narrativas de mulheres negras egressas do sistema penitenciário, a autora desta obra desenclausura e textualiza histórias de vida que precisam ser tornadas públicas para que todo um processo de mudanças, em direção à realização de justiça social, seja disparado. O que podem ser encontradas neste manuscrito são escrevivências de um cotidiano no cárcere e de lembranças de violências e violações de direitos que foram narradas à pesquisadora, defensora dos direitos humanos e realizadora desta escrita de um eu coletivo e de um nós mulheres negras.

    A escrevivência, enfatiza Conceição Evaristo, compõe uma estratégia política e discursiva de resistência que informa sobre a urgente necessidade de promoção de reparação às violências que são denunciadas. A escrevivência permite o reconhecimento de uma imensa coletividade refletida em uma escrita que diz sobre a maior parte da população brasileira que experimenta vivências comuns em termos de similaridades em suas manifestações. Importante destacar que essas experiências comuns resultam de um trauma herdado do período de dominação colonial que implanta o racismo como sistema de opressão. O racismo é também responsável pela instituição de cruéis hierarquizações e desigualdades sociais que aprisionam a população negra em perversas estruturas inferiorizantes, ao mesmo tempo em que produzem privilégios ao segmento hegemônico.

    As narrativas das mulheres negras egressas do sistema penitenciário informam também sobre o que Vilma Piedade nomeia como dororidade. A dororidade nasce como categoria conceitual capaz de expressar sobre uma dor cunhada com a escravidão de pessoas africanas e afrodescendentes durante o domínio colonial. A dororidade contém a dor causada pelo racismo. E o racismo é estrutural porque conta com um conjunto de práticas que são institucionais e históricas, mas também socioculturais e interpessoais, que organizam as relações e interações sociais de maneira hierarquizada e violentamente prejudicial à população negra. E como acentua enfaticamente Vilma Piedade: o racismo mata.

    A dor, que ocupa o lugar de prefixo em sororidade (noção elaborada por um feminismo hegemônico para expressar a solidariedade entre mulheres), atribui significado para a dororidade que passa a comunicar sobre aquela dimensão que aproxima e irmana uma mulher negra a outra mulher negra. A dororidade, desta forma, provoca uma poderosa aproximação entre mulheres negras e transmuta todas aquelas experiências de dor e sofrimento em importantes instrumentos de luta, uma luta com poder de cura, uma luta que empodera, uma

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1