"Sou ex-presidiária! E agora?"
()
About this ebook
Related to "Sou ex-presidiária! E agora?"
Related ebooks
Controle de constitucionalidade estruturante: um desafio à superação das crises do Sistema Democrático Brasileiro Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Princípio da Cooperação e o Jus Postulandi Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAutismo Fora da Caixa: Um Guia Descomplicado para a Família Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTradição e Ruptura: O Brasil e o Regime Internacional de Não Proliferação Nuclear Rating: 5 out of 5 stars5/5Serviços Públicos de Saneamento Básico e Saúde Pública no Brasil Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDiscurso De Ódio, Violência De Gênero E Pornografia: Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsÉtica e cultura policial: um estudo sobre a Guarda Municipal Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDo trauma encarnado à biopatia: a clínica bioenergética do sofrimento orgânico Rating: 5 out of 5 stars5/5A influência do tabagismo passivo na morfologia renal Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Direito à Liberdade de Expressão: O Humor no Estado Democrático de Direito Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsInfância, educação infantil e migrações Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação popular no Brasil: virtudes e contradições da Rede de Educação Cidadã – Recid Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFundamentos para uma teoria da coerência normativa no raciocínio jurídico Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFarmacogenética na psiquiatria: Entendendo os princípios e a aplicabilidade clínica Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsUm Surdo Entre Duas Línguas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEstudo caso-controle: SNP rs6277 do gene DRD2 da dopamina na obesidade pediátrica Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Trabalho do assistente Social na Política de Educação Infantil Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEducação de Surdocegos: Perspectivas e Memórias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPor um Manifesto pela Vida: Histórias Posit(HIV)as de Gays, Mulheres Trans e Travestis Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTeletrabalho nas agências bancárias digitais: os desafios de concretização do direito à saúde do trabalhador Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPedagogia da Terra: As Mulheres da Reforma Agrária na Educação Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDinâmica de grupo x competências na educação: estratégias para auxiliá-lo em suas atividade Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPaternidades: Uma Visão Feminista Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMulheres garis Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA solteirice desvelada: modos de ser e viver como solteira e solteiro em Salvador Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsFEMME'EN'SCÈNE: O Devir Feminista em Audiovisuais Rating: 0 out of 5 stars0 ratings#Presidente2018: A Pré-Campanha Oficial no Facebook Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEntre a rua e o refúgio Rating: 5 out of 5 stars5/5
Social Science For You
Segredos Sexuais Revelados Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDetectando Emoções: Descubra os poderes da linguagem corporal Rating: 4 out of 5 stars4/5A perfumaria ancestral: Aromas naturais no universo feminino Rating: 5 out of 5 stars5/5Um Poder Chamado Persuasão: Estratégias, dicas e explicações Rating: 5 out of 5 stars5/5Um Olhar Junguiano Para o Tarô de Marselha Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsManual das Microexpressões: Há informações que o rosto não esconde Rating: 5 out of 5 stars5/5O livro de ouro da mitologia: Histórias de deuses e heróis Rating: 5 out of 5 stars5/5A Prateleira do Amor: Sobre Mulheres, Homens e Relações Rating: 5 out of 5 stars5/5Tudo sobre o amor: novas perspectivas Rating: 5 out of 5 stars5/5As seis lições Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Manual do Bom Comunicador: Como obter excelência na arte de se comunicar Rating: 5 out of 5 stars5/5O Ocultismo Prático e as Origens do Ritual na Igreja e na Maçonaria Rating: 5 out of 5 stars5/5Apometria: Caminhos para Eficácia Simbólica, Espiritualidade e Saúde Rating: 5 out of 5 stars5/5Verdades que não querem que você saiba Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Bíblia Fora do Armário Rating: 3 out of 5 stars3/5Psicologia Positiva Rating: 5 out of 5 stars5/5A máfia dos mendigos: Como a caridade aumenta a miséria Rating: 2 out of 5 stars2/5Pele negra, máscaras brancas Rating: 5 out of 5 stars5/5A Criação do Patriarcado: História da Opressão das Mulheres pelos Homens Rating: 5 out of 5 stars5/5Mulheres que escolhem demais Rating: 5 out of 5 stars5/5Liderança e linguagem corporal: Técnicas para identificar e aperfeiçoar líderes Rating: 4 out of 5 stars4/5O corpo encantado das ruas Rating: 5 out of 5 stars5/5Fenômenos psicossomáticos: o manejo da transferência Rating: 5 out of 5 stars5/5Seja homem: a masculinidade desmascarada Rating: 5 out of 5 stars5/5O marxismo desmascarado: Da desilusão à destruição Rating: 3 out of 5 stars3/5Quero Ser Empreendedor, E Agora? Rating: 5 out of 5 stars5/5
Reviews for "Sou ex-presidiária! E agora?"
0 ratings0 reviews
Book preview
"Sou ex-presidiária! E agora?" - Kamilla Santos da Silva
É o poder, aceita porque dói menos
De longe falam alto, mas de perto tão pequenos
Se afogam no próprio veneno, tão ingênuos
Se a carapuça serve, falo mesmo
E eu cobro quem me deve
É o poder, o mundo é de quem faz
Realidade assusta todos tão normais
Viu? Falei
Depois não vem dizer que eu não avisei
Só não vem dizer que não. Só não vem dizer que não. Só não vem dizer que não
Sociedade em choque, eu vim pra incomodar
Aqui o santo é forte, é melhor se acostumar
Quem foi que disse que isso aqui não era pra mim
Se equivocou
Fui eu quem criei, vivi, escolhi, me descobri
E agora aqui estou
Não aceito cheque, já te aviso: não me teste
Se merece, então não pede pra fazer algo que preste
Quem é ligeiro investe, não só fala, também veste
Juiz de internet caga se espalhando feito peste
Se não tá no meu lugar então não fale, meu, não fale
Se for fazer pela metade não vale, não vale
Eu vivo com doses de só Deus que sabe, o resto ninguém sabe
Quebro tudo pra que todos se calem
Quem vem, só quem tem coragem vai
Já falei que quem nasceu pra ser do topo nunca cai
O medo é de quem, hein?
Olha quem ficou pra trás
E a vida segue, segue e o tempo não volta mais
É o poder o mundo é de quem faz
Realidade assusta todos tão normais
Viu? Falei
Depois não vem dizer que eu não avisei
Só não vem dizer que não. Só não vem dizer que não. Só não vem dizer que não
Eles não sabem o que dizem
Não aguenta então não fica
Eles não sabem o que dizem
Não aguenta então não fica
Se tem uma coisa que me irrita é ver bocas malditas
Dizendo mentiras sobre minha vida
Coisas que eu nem vivi ainda, eita!
Frustrados, pirados na cola, já perdi a hora
Preciso ir embora, alguém me espera lá fora, me deixe
Música: É o poder
Letra: Tropkillaz
Intérprete: KarolConka
AGRADECIMENTOS
Essas páginas expressam um ciclo de trabalho árduo, renúncias, crises existenciais seguidas de longas noites em claro a chorar, de ansiedade, de muita raiva, mas também de aprendizados, de superação, muito amor e muita força em prol de uma sociedade mais justa e igualitária.
E como tudo o que fiz na vida, esse trabalho não seria possível sem o amor, a energia e o apoio de muita gente, por isso tenho aqui o prazer e o dever de agradecê-las.
Gratidão ao meu eu-superior que tenho certeza me guiou durante todo o processo com o amor e a luz que fui merecedora.
À minha tão querida orientadora Prof.ª Dr.ª Luciana de Oliveira Dias por ser tanto! Por me acolher e conduzir esse processo com tanto amor, sensibilidade, atenção, confiança, rigor teórico-metodológico e ético-político, sou grata por tudo que me ensinou; sem você esse sonho não seria concreto, sou grata por seu apoio intelectual e emocional, por acreditar no meu potencial, pela paciência e estímulo. Que bom que nossos caminhos e trajetórias se cruzaram... Seguimos juntas, minha querida!
À Prof.ª Dr.ª Vilma de Fátima Machado por toda compreensão e atenção que teve comigo, eu aprendi muito com você.
À Prof.ª Dr.ª Helena Esser dos Reis que compreendeu minhas demandas em meio à burocracia acadêmica e com amor propôs caminhos possíveis à conclusão desse trabalho.
Ao Prof. Dr. Ricardo Barbosa de Lima por conceder asilo acadêmico para o exercício pleno da solidão e liberdade durante o processo de finalização desse trabalho.
Às Professoras. Dr.ª Franciele Silva Cardoso e Dr.ª Michele Cunha Franco pelas contribuições valiosas e incentivos na ocasião da banca de qualificação desse trabalho.
À Prof.ª Dr.ª Vera Regina Rodrigues da Silva por aceitar o convite para participar da minha banca de defesa. Obrigada!
Ao Prof. Dr. Waldemir Rosa por prontamente aceitar participar da minha banca de defesa. Obrigada!
Ao Dr. Haroldo Caetano, que na ocasião da banca de qualificação do projeto de pesquisa contribuiu para a retirada da venda dos meus olhos me fazendo enxergar o potencial e o lugar da pesquisa na minha vida.
Ao Celso por tanta paciência, dedicação, cuidado e atenção.
A todo corpo discente, docente e técnico do NDH/PPGIDH casa que me acolheu e faz parte da continuidade da minha formação acadêmica, profissional e pessoal.
A todas as rosas do Coletivo Rosa Parks, pelos momentos de acolhimento e das mais diversas trocas.
À minha irmã Lisianne por segurar na minha mão, por cuidar tão bem de mim, me ouvir, me apoiar, entender minhas ausências, minhas crises e principalmente por não desistir de mim...eu sei que não foi fácil! Gratidão, pretinha!
Às minhas companheiras, Yasmim e Vanessa, que, em alguns momentos, dividiram o lar comigo e sempre traziam leveza aos dias com palavras de incentivo e força para concretização desse sonho.
À querida Lizia, com quem tive o prazer de cruzar na primeira tentativa de inserção no PPGIDH e até hoje está na minha vida, um espelho de mulher preta e acadêmica.
À Camila Nunes, um ser de luz e amor, incentivadora para o início dessa empreitada, companheira nas horas de angústia e trabalho árduo (mesmo em Pirenópolis rs). Obrigada por acreditar junto comigo.
À minha querida amiga Anelisa, por sonhar junto comigo uma sociedade mais justa em que o cárcere não seja a solução para as questões sociais. Obrigada pela força, ensinamentos jurídicos e torcida para a concretização dessa dissertação. Seguimos juntas por um mundo melhor.
À minha amada Jorlene Amaral que me ajudou a ressignificar esse momento e enfrentá-lo de frente com todas as bênçãos e aprendizados que me trouxe. Um presente, amada!
Aos melhores colegas, da melhor turma de mestrado que eu poderia ter, por tantas trocas teóricas e de vida, festas, lanches, churrascos, happy hours; casamo-nos, vimos filhos nascerem, o Brasil ser eliminado da copa... muita coisa acontece em dois anos e meio! Gratidão pela companhia Gabriel, Juliana, Renato, Karen, Carol, Rafa, Camila Melo, Mirella, Hilana, Maria Marta, Marden, Pedro, Marcos, Ana Luíza, Tiago e Ilana.
De forma especial a todas as mulheres que me permitiram ouvi-las e recontar suas trajetórias.
À minha sempre amiga Dr.ª Carla Francisca dos Santos Cruz pelas trocas acadêmicas e torcida nesse processo.
Às companheiras de instituição Jaina, Carol, Ana Paula, Lara, Sherloma, Vanessa e Odete pela torcida e incentivos.
Aos meus queridos do I love Paris
e Família TJGO, Pollyanna, Thamires, Erica, Lis, Karol, Marina, Lucilene, Gustavo, Lisianne, Letícia, Fernanda, Fábio, Cláudio, Dorivânia, Amanda, Genoclécia, Rosângela e Cesinha pela admiração, torcida e notebook. Muito obrigada!
À minha avó Nivalda (in memoriam) que sei que vela por mim.
Às minhas tias Vera Lúcia e Maria de Lourdes que sempre contribuíram para o desenvolvimento da minha educação formal e informal.
Aos meus pais, a quem eu devo toda honra e mérito dessa conquista e sou grata pela maior herança que podiam me deixar que é a Educação. Vocês que desde sempre acreditaram e investiram em mim e entenderam minhas ausências nesses dois anos. Amo e honro vocês.
A todos de quem meu coração se lembra e direta ou indiretamente contribuíram para este trabalho a minha gratidão.
Ubuntu!
LISTA DE SIGLAS
ELUCIDÁRIO
¹
B.O - palavra usada para designar problemas na unidade prisional.
Bacú - palavra usada como sinônimo de revista.
Cadeia - palavra usada como sinônimo de pena/condenação.
Caguetar - palavra usada para designar o ato de contar algo que deveria ficar em segredo.
Casa - palavra usada para designar a cela.
Cobal - palavra usada para designar o conjunto de mantimentos e itens de higiene fornecido às presas por seus familiares e/ou comprado por elas. A cobal é uma atividade rotineira que acontece uma vez por semana. Existe uma lista do que pode e do que não pode compor a cobal.
Comando - palavra que se refere a presa que é líder na prisão.
Convívio - palavra que se refere ao relacionamento interpessoal entre as reeducandas.
Contenda - palavra usada para designar briga.
Corre – palavra usada para designar a realização de ilícitos penais.
Favelão - palavra usada para designar festas na unidade prisional.
Linchamento - palavra usada para designar a decisão coletiva de gerar graves violências contra alguém.
Pecúlio - parte do salário das presas que é depositado em uma conta para ser sacado após a sua saída do cárcere.
Rádio - palavra usada para designar aparelho celular.
Sistema Jurídico Punitivo - todas as instâncias envolvidas na investigação, processamento e custódia estatal: polícia, Ministério Público, Poder Judiciário e Secretaria de Administração Penitenciária.
Tampado - palavra usada para designar que os Agentes de Segurança Prisional suspeitam de atitudes consideradas erradas na Unidade Prisional.
Vender cela - ação de vender a cela que foi beneficiada pela presa que está em liberdade. Em geral, as presas equipam as celas e realizam benfeitorias – com a dificuldade de serem autorizadas essas ações – quando saem, vendem a cela para quem continua encarcerada.
Xepa - palavra usada para designar a alimentação fornecida pela administração penitenciária.
1 Os neologismos, as expressões e gírias particulares da obra
PREFÁCIO
Prefaciar este livro envolve a aceitação de me manifestar acerca de duas categorias de pensamento, propostas e desenvolvidas por duas mulheres negras que despertam minha admiração. A primeira categoria à qual me refiro é a de escrevivência, cunhada pela mineira Conceição Evaristo e a segunda categoria é a de dororidade, elaborada pela carioca Vilma Piedade. Acessar este livro de autoria da sergipana Kamilla Santos da Silva nos coloca em contato com a concepção de escrevivência, que nos permite ocupar um lugar de um eu coletivo, ao mesmo tempo em que nos coloca também em contato com a noção de dororidade, que aciona em nós uma empatia/irmandade característica das mulheres negras.
Ao estudar as trajetórias que são informadas pelas narrativas de mulheres negras egressas do sistema penitenciário, a autora desta obra desenclausura e textualiza histórias de vida que precisam ser tornadas públicas para que todo um processo de mudanças, em direção à realização de justiça social, seja disparado. O que podem ser encontradas neste manuscrito são escrevivências de um cotidiano no cárcere e de lembranças de violências e violações de direitos que foram narradas à pesquisadora, defensora dos direitos humanos e realizadora desta escrita de um eu coletivo e de um nós mulheres negras.
A escrevivência, enfatiza Conceição Evaristo, compõe uma estratégia política e discursiva de resistência que informa sobre a urgente necessidade de promoção de reparação às violências que são denunciadas. A escrevivência permite o reconhecimento de uma imensa coletividade refletida em uma escrita que diz sobre a maior parte da população brasileira que experimenta vivências comuns em termos de similaridades em suas manifestações. Importante destacar que essas experiências comuns resultam de um trauma herdado do período de dominação colonial que implanta o racismo como sistema de opressão. O racismo é também responsável pela instituição de cruéis hierarquizações e desigualdades sociais que aprisionam a população negra em perversas estruturas inferiorizantes, ao mesmo tempo em que produzem privilégios ao segmento hegemônico.
As narrativas das mulheres negras egressas do sistema penitenciário informam também sobre o que Vilma Piedade nomeia como dororidade. A dororidade nasce como categoria conceitual capaz de expressar sobre uma dor cunhada com a escravidão de pessoas africanas e afrodescendentes durante o domínio colonial. A dororidade contém a dor causada pelo racismo. E o racismo é estrutural porque conta com um conjunto de práticas que são institucionais e históricas, mas também socioculturais e interpessoais, que organizam as relações e interações sociais de maneira hierarquizada e violentamente prejudicial à população negra. E como acentua enfaticamente Vilma Piedade: o racismo mata
.
A dor, que ocupa o lugar de prefixo em sororidade (noção elaborada por um feminismo hegemônico para expressar a solidariedade entre mulheres), atribui significado para a dororidade que passa a comunicar sobre aquela dimensão que aproxima e irmana uma mulher negra a outra mulher negra. A dororidade, desta forma, provoca uma poderosa aproximação entre mulheres negras e transmuta todas aquelas experiências de dor e sofrimento em importantes instrumentos de luta, uma luta com poder de cura, uma luta que empodera, uma