Homo Habitus
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Homo Habitus - Décio Marcellino
Para tentar causar o mínimo de confusão, organizei este livro da seguinte maneira:
No Capítulo 1 – Os Hábitos
, vamos tentar definir, de forma prática e simples, o que significa um hábito e como os hábitos funcionam. Depois ampliaremos o conhecimento sobre os hábitos nos demais capítulos.
No Capítulo 2 – O Hábito mais importante
, como o próprio nome diz, conversaremos sobre nosso hábito mais importante e talvez o menos valorizado, e veremos o que o cortisol – o hormônio do stress - tem a ver com isso. Neste capítulo você aprenderá um exercício para praticar o hábito mais importante.
No Capítulo 3 – Hábitos no correto e no bom, refletiremos sobre os hábitos sob o ponto de vista das metáforas de Nilton Bonder (2010, 2011), um rabino judeu, que nos traz os conhecimentos da cabala.
No Capítulo 4 – Hábitos dos generosos e dos egoístas, analisaremos os hábitos sob o ponto de vista de uma teoria de Flávio Gikotavi (2009, 2014).
No Capítulo 5 – Tempo ao invés de promessas, começaremos a trabalhar a inclusão do tempo, para a geração e criação de hábitos saudáveis.
No Capítulo 6 – Hábitos e administração do tempo, ligaremos os nossos hábitos aos nossos objetivos e você terá contato com uma ferramenta para efetivamente mudar seus hábitos e criar alguns novos e saudáveis, de uma forma um pouco diferente da convencional.
No Capítulo 7 – Mitote, voltaremos à reflexão, agora sobre nossos programas mentais, nossos paradigmas, do ponto de vista da filosofia tolteca, divulgada por Don Miguel Ruiz (2010).
No Capítulo 8 – Hábito de refletir, a proposta é que a reflexão se torne o próprio hábito. Um hábito que coloca em evidência os demais, possibilitando a mudança e a assunção de hábitos saudáveis.
No Capítulo 9 – Forma e conteúdo, ampliaremos nossa reflexão sobre os hábitos, dividindo nossas ações em forma e conteúdo.
No Capítulo 10 – Começando devagar, a partir de um foco, pensaremos em começar as mudanças estabelecendo um hábito saudável principal ou angular, a partir do qual outros hábitos serão estabelecidos automaticamente.
No Capítulo 11 – Vício, o hábito destruidor, olharemos para o pior dos hábitos, aquele que é destruidor e nos domina, o vício.
No Capítulo 12 – O que gera compromisso, aprenderemos sobre os fatores que geram compromisso com o objetivo de não nos subordinamos a compromissos ruins, estabelecidos pelos outros, mas também a assumirmos compromissos de manutenção de hábitos saudáveis.
No Capítulo 13 – Hábitos em fluxo, faremos uma ligação dos hábitos com a felicidade, dentro das teorias de Mihaly (2004, 2005), Maturana (2001) e Antonio Damásio (2000, 2003), além de contribuições buscadas em Peter Senge (1997, 2005) e Dalmiro Bustos (1990).
No Capítulo 14 – O seu pensamento é seu?, faremos uma reflexão sobre nossos pensamentos sob a visão de David Bohm (2007). Se vamos cultivar hábitos com base no que pensamos, será necessário analisar de onde vêm nossos pensamentos.
No Capítulo 15 – Hábitos X longevidade, abordaremos, dentro da neurociência, algumas conclusões de uma pesquisa que desenvolvo sobre a atividade física e a geração intencional de neurotransmissores e neurotrofinas no cérebro.
No Capítulo 16 – Hábitos e Representações Sociais, Conversaremos sobre como incorporamos como nossos, conceitos e ideias de um grupo ou de uma cultura.
Finalmente, no Capítulo 17 – Hábitos nos grupos, abordaremos as rotinas, que são os hábitos organizacionais, e refletiremos sobre nossas relações em grupo com uma metáfora.
1 - Os Hábitos
"Se você sabe o que está fazendo você pode fazer diferente,
Se você sabe o que está fazendo você pode fazer o que quer."
Dr. Moshe Feldenkrais
Neste capítulo, tentaremos definir o que é um hábito e como os hábitos funcionam. Isso, de maneira prática e leve, para que possamos pensar em nossos próprios hábitos, pois todo o objetivo deste livro é permitir uma reflexão mais aprofundada sobre eles e, a partir daí, obter um maior controle sobre os que nos parecem sadios e que desejamos manter ou adquirir e a eliminação ou troca daqueles indesejados.
Ficarei muito feliz e recompensado se você, ao ler este livro, conseguir acrescentar algum novo conhecimento, mas também se puder refletir e organizar de uma melhor forma os conhecimentos que já possui. Faça isso com leveza e pense que quando estamos no caminho, nossa atenção está no objetivo, quando chegamos ao objetivo, ele já não nos satisfaz e buscamos um novo. Colocamo-nos novamente no caminho. Considere a jornada de uma vida inteira: ao chegarmos no objetivo, o que mais gostaríamos seria poder estar no caminho, vivendo-o em fluxo
, como nos diria Mihaly (2004, 2005). Há um capítulo chamado Hábitos em fluxo
se desejar ter já a definição.
Becker (2015, p. 44 e 45) explica que:
[…] o homem molda para si mesmo um mundo governável: ele se lança à ação sem usar de crítica, sem pensar. Aceita a programação ditada pela sua cultura, que lhe diz para onde ele deva olhar; não se apossa do mundo com uma única mordida, como faria um gigante, mas em pequenos pedaços mastigáveis, como faz um castor. Usa todos os tipos de técnicas, que chamamos de defesa do caráter
: aprende a não se expor, a não se destacar; aprende a inserir-se no jogo dos poderes externos, tanto de pessoas concretas como de coisas e ordens de sua cultura. O resultado é que ele passa a existir na imaginada infalibilidade do mundo que o cerca. Ele não precisa ter medo quando seus pés estão fincados com solidez e sua vida está mapeada em um labirinto pronto para ser usado. Tudo o que tem que fazer é lançar-se à frente, em um estilo compulsivo de impetuosidade, aos hábitos do mundo
que a criança aprende e no qual vive mais tarde como uma espécie de penosa equanimidade – a estranha capacidade de viver o momento e ignorar e esquecer
, como disse James. […]
O que significa um Hábito
Hábito é algo que se repete e que fazemos no piloto automático, sem pensar, ou sobre o qual até pensamos, mas não conseguimos controlar. Como a não-ação também é ação
, não podemos esquecer que o não-fazer, o deixar para depois, o procrastinar, acaba se constituindo num dos principais hábitos em nossa vida. Em outras palavras, o que deixamos de fazer é tão ou mais importante do que aquilo que fazemos. E deixamos de fazer para repetir aquilo que já fazemos, para reforçarmos nossa identidade.
Podemos cultivar, inconscientemente, hábitos bons ou ruins. Numa visão psicanalítica, como nos ensina Násio (2013), podemos repetir os mesmos comportamentos bem-sucedidos e isso será considerado algo saudável, ou podemos repetir compulsivamente os mesmos erros e os mesmos comportamentos de fracasso. A questão é que, de uma forma ou de outra, sempre estaremos nos repetindo.
Diante de alguma situação, parece que programas são disparados automaticamente na nossa mente e reagimos sempre da mesma maneira. Nem mesmo aquelas pessoas que mudam o tempo todo, e se vangloriam disso, percebem que a mudança, no seu caso, é um hábito. Não conseguem permanecer nem dois minutos no mesmo local ou fazendo a mesma coisa. Podemos ter certa compulsão, e fazermos sempre a mesma coisa, mesmo que não tenha sentido, mas também podemos nos mover pelo impulso, neste caso não dominamos nossa ansiedade, nossa condição ou necessidade de esperar ou de ficarmos parados.
Também há as pessoas que dizem estar numa busca, experimentam coisas novas e praticam aquilo que lhes é ensinado. Falo de fórmulas, terapias alternativas e passos para algo. A questão se estabelece quando essa busca se torna a única forma de conseguirem viver. São alienadas pelo processo sem perceberem, vão acumulando e misturando fórmulas mágicas
sem explicação científica, indefinidamente. E sempre há quem saiba se aproveitar disso monetariamente.
Como eu disse antes, nas empresas os hábitos se traduzem em rotinas e, quando nos posicionamos como clientes, fornecedores ou consultores organizacionais podemos perceber claramente as ações e também as não-ações que se repetem, mesmo quando inócuas ou destrutivas, porque de fora todos enxergam, só quem está dentro não percebe, portanto, não consegue mudar.
Também podemos considerar como hábitos, certas formas de pensar, que irão nos levar sempre pelos mesmos caminhos em decisões e comportamentos. Esta é uma condição mais sutil, porque aqueles que pensam antes de agir, não percebem que os pensamentos não são necessariamente seus. Vamos falar disso no Capítulo O seu pensamento é seu?
.
Hábitos definem a forma como vivemos nosso cotidiano. Não posso deixar de citar alguns conceitos emitidos por Agnes Heller (1982), pensadora marxista húngara, trazidos por Patto (1999, p. 170-181), para que possamos incorporá-los a nossa reflexão. Heller tem uma proposta de mudar a vida
nas sociedades atuais, que vê como marcadas pela exploração econômica e pela dominação cultural. De alguma forma estou descontextualizando Heller, mas faço isso com a consciência bastante tranquila de que tudo o que citarei é de extrema importância aos nossos hábitos.
Para Patto (1999, p. 168), Heller:
[...] revê a utopia marxista da sociedade sem Estado e sem produção de mercadorias e defende a tese segundo a qual, no século XX, não é mais possível pensar na extinção do Estado e no desaparecimento da produção de mercadorias. A questão agora é outra: que Estado queremos construir e que tipo de produção de mercadorias queremos implantar.
Talvez você estranhe eu estar falando de Estado e produção, mas isso ficará mais claro a seguir. Dentre os conceitos que quero citar, está o de vida cotidiana em geral
. Heller (1972; 1975) explica que toda vida cotidiana é heterogênea quanto ao conteúdo, hierárquica quanto à importância atribuída às atividades, espontânea com as ações se dando de