A Ilusão De Estrelado
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A Ilusão De Estrelado - Fabiana Tarnowsky
Fabiana Tarnowsky
A ILUSÃO DE ESTRELADO
1ª edição
BLUMENAU
2019
***************
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1: PRESA AO PASSADO ..... 4
CAPÍTULO 2: JULIA MENDES ..... 8
CAPÍTULO 3: O PASSADO VOLTA, DE NOVO! ..... 11
CAPÍTULO 4: TRAIDORES DO REINO ..... 28
CAPITULO 5: NOVA EU ..... 39
CAPÍTULO 6: NO MORRO, O AMOR. ..... 82
CAPÍTULO 7: ILUSÃO? ..... 90
CAPÍTULO 8: JORGE, O MAGO. ..... 103
CAPÍTULO 9: COROAÇÃO ..... 122
CAPÍTULO 10: SEQUESTRO E TRAIÇÃO ..... 175
CAPITULO 11:SEGREDO DAS MASMORRAS ..... 189
CAPÍTULO 12: CASAMENTO REAL? ..... 209
***************
CAPÍTULO 1: PRESA AO PASSADO
Ouço o trotar dos cavalos e, para meu desespero, estão próximos. Meu coração não sossega um só instante. Continuo a correr, mesmo sentindo minhas forças se esvaírem a cada novo passo.
Neste momento, me recordo das corridas com meus amigos durante a infância, que desperdicei por preguiça ou porque papai não permitia.
— Ai! Ai! Quem dera pudesse voltar no tempo.... Mas, pare de pensar nisso, Julia. CORRA!
Para meu azar, tropecei. Tentei levantar, rapidamente, mas senti o bafo dos cavalos ao meu lado. Ergui minhas mãos sobre a cabeça e disse, frustrada:
— Está bem! Vocês me pegaram!
Aqueles homens, sem nenhum pingo de educação, me seguraram pelos joelhos e me jogaram em cima de um cavalo, que por sinal, era fabuloso. Sua cor era branca como as nuvens do céu e a crina, escura como uma noite sem lua. Era esplêndido, nunca vira um animal como aquele. Novamente fui obrigada a fugir de meus pensamentos e tentei focar no que diziam.
Infelizmente, só pude escutar uma palavra ou outra, pois os homens distintos
, além de educados
, eram bastante
faladores
. Ou seja, a única coisa que consegui ouvir foi:
— Levem-na ao esconderijo, ganharemos muito dinheiro!
Bom, a má notícia é que fui sequestrada. A boa é que sei para onde me levarão. É... Pensando bem, não sei se a segunda pode ser considerada boa, mas em todos os casos...
Enquanto cavalgava, bem desconfortavelmente, sobre o lindo animal, uma sensação estranha de que algo aconteceria me invadiu. Não sei explicar o que era, como era, mas senti no meu âmago que emoções estavam vindo a galope.
— Nossa, que trocadilho ruim, hein, Julia? — Disse em voz baixa, para tentar acalmar os meus pensamentos.
Foi então que, durante um pulo do Alazão
(sim, já havia até dado um nome para ele), vi um homem encapuzado, montado em um cavalo cor de marfim. Fiquei um tempo a admirar o animal e nem percebi que já estava cercada por vários desses homens encapuzados.
Meus educados
sequestradores desceram às pressas de seus cavalos, empunharam logo suas espadas e começaram a lutar, incansavelmente. Confesso que, naquele momento, daria tudo para observar essa luta, com uma boa pipoca (emoções à flor da pele, meus caros!).
Quando derrotados, meus sequestradores permaneceram prostrados no chão, gemendo de dor. Não senti nada ao vê-los assim. Quem mandou também?
O líder encapuzado, com seu corcel marfim, se aproximou de mim. Olhei em volta e notei o quanto respeitavam esse homem. Desci, com dificuldade, de meu cavalo e ele fez o mesmo.
Queria agradecer o ato corajoso e heroico, mas ele apenas estendeu uma corda e amarrou minhas mãos. Por fim, entendi. Estava sendo raptada novamente...
Pude sentir minha raiva navegando pelo meu corpo. A sensação era a mesma de quando alguém come algo que você deixou guardado na geladeira, sabem? Pois é!
Tive vontade de dar um belo tapa nesse homem! Não acreditei! Enfim.... Lá vamos nós, de novo! Subi no meu Alazão e segui — obrigada — a tropa.
Minha cabeça estava imersa em pensamentos, como sempre, mas ela logo despertou, assim que ouvi gritos. O que será agora? Pensei.
Tentei colocar meu Alazão mais a frente possível, mas o encapuzado líder me barrou. Porém, consegui enxergar algo entre os cavalos: eram selvagens.
Para minha sorte, ou azar, já os conhecia de histórias que papai contava. Pensei que eram lendas, mas ao ver as caraterísticas físicas e certos detalhes, tive certeza de que se tratavam de canibais.
Lá estava eu, outra vez, cercada pelo perigo! Eu só posso ter um imã para isso, porque não é possível!
Os meus sequestradores já haviam descido dos cavalos e estavam a minha volta, prontos para o ataque, que não demorou a começar!
Neste momento, tremia dos pés à cabeça. Até Alazão, coitado, também estava temeroso.
Ao ver que estávamos perdendo — não que estivesse torcendo por meus sequestradores número dois —, tentei me desvencilhar das cordas o mais rápido que pude, mas era impossível. Em um ato de coragem (até me surpreendi comigo mesma) tomei as rédeas do meu cavalo, mesmo presa, e fugi, galopando, sem olhar para trás.
De repente, um som familiar me despertou e ouvi o relógio gritar sem parar.
Sentei-me na cama, ainda a mil por hora.
— Não acredito que isso tudo foi apenas um sonho....
Pensando bem, ainda bem! Nem sei montar em um cavalo!
Levantei, suspirei e fui me aprontar para trabalhar.
*********
CAPÍTULO 2: JULIA MENDES
Meu nome é Julia Mendes. Tenho 26 anos. Sou bem sonhadora (avoada), porém determinada na mesma proporção.
Gosto de observar as coisas, participar de algo útil, enfim, fazer a diferença (entrevista completada com sucesso. Faltou somente a parte do que posso agregar à empresa).
Trabalho na biblioteca da minha cidade, Estrelado. Aqui parece tudo tão pacato, às vezes. Podemos enxergar até um feno voando na rua. É bem emocionante!
De vez em quando, acontecem reuniões, onde trabalho, para discutir tudo relacionado a cidade, ou até coisas que não tem nada a ver, como a quantidade de barulho que o cão de seu João emite ao ver pessoas (cada coisa!).
Apesar disso, adoro trabalhar na biblioteca. Amo livros e sei exatamente o que cada pessoa precisa ler, naquele momento. Nem sei como, só sinto as vibrações
. Como costuma dizer minha melhor amiga, Jaque: sou uma vidente dos livros.
Ah, já ia me esquecendo de falar sobre Jaque. Na verdade, Jaqueline para os desconhecidos e, principalmente, para o ex, atual dela, Lucimar. Vira e mexe brigam, mas sempre voltam, aí brigam de novo. Francamente, já perdi a conta de quantas vezes eles viveram essa situação. Quando brigados, ela fica com um bico do tamanho de um flamingo (podem apostar).
Ele não pode nem chegar perto. No fim, é muito divertido ver esses dois. É parecido com novela mexicana.
Ele pega na mão dela, ela permanece com o rosto virado e com o bico. Lucimar beija a mão de Jaque e entrega uma pequena borboleta (sua paixão) entre os dedos e, lá está o sorriso, de novo! Então, tudo fica bem...
Ela é uma figura, sempre ri de tudo e todos. Trabalha comigo e posso afirmar que deixa o ambiente mais leve com seus perfeccionismos exagerados. Um conselho de amigo: nunca deixem um livro na fileira errada. Ela descobre e te fuzila, ao menos, um mês inteiro com seus olhos penetrantes de jabuticaba madura. Já fiz o teste, não queiram saber a sensação.
Mas, acreditem, até irritada ela consegue ser engraçada. Eu a amo muito, principalmente, seus cachos comportados (acho que muito mais por isso).
Eu, quase uma albina de tão branca, com meu cabelo indefinido e extremamente rebelde, fico estagnada quando Jaque aparece. Eu não sei o que ela coloca naquele cabelo, mas toda vez parece que ela saiu direto de um comercial de shampoo para ir trabalhar. Tenho que conter minha baba, às vezes. Apesar de saber da minha apreciação por seu cabelo, essa chata não me dá a receita, só fala que não tem segredo (sei, um dia descubro, com toda certeza).
Bem, moro sozinha, em um pequeno apartamento, próximo (muito) à igreja de Estrelado. Quando alguém morre, sou a primeira a saber, porque a altura do sino, dá exatamente na janela do meu quarto. Azar? Nem sei, mas confesso que já acostumei. Ouço o sino, rezo pela alma e adormeço novamente.
O ruim mesmo é no dia de finados! Aqui eles têm o costume de bater o sino para cada pessoa que morreu naquele ano. É, nesse dia, especificamente, eu não durmo.
Apesar de ter uma vida relativamente tranquila, na verdade, muito tranquila, sinto que a cada dia que passa, estou mais próxima a meu destino. Posso estar louca, mas sei que algo especial me aguarda e não, não é aquele bolo de chocolate que deixei na geladeira, é algo único e extraordinário.
***************
CAPÍTULO 3: O PASSADO VOLTA, DE NOVO!
O sonho que tive ficou na minha cabeça durante todo o dia. Nunca um sonho me pareceu tão realista como aquele. Só de pensar já me arrepio toda!
Contei à Jaque, claro! Ela, engraçada que só, falou apenas que se algum dia eu fosse para o passado, que não se esquecesse de levar itens de emergência, como lanterna, calças jeans e comida pronta.
Tentei continuar com minha rotina de arrumar e organizar os livros, até que, de repente, ouvi o relinchar de cavalos. Meu coração quase saltou para fora! Gritei o mais alto que pude e Jaque veio ao meu socorro, desesperada.
— Menina, o que houve? Caiu? Algum livro te engoliu o dedo?
— Você não está ouvindo? O barulho de cavalos? —
Perguntei-lhe agoniada.
— Venha cá, querida! Esse sonho mexeu com você mesmo, né?
Só consegui dizer um sim
bem baixinho.
Mais calma (também, depois dos três litros de água com açúcar que Jaque me deu) decidi ir tomar um ar. Segui até a porta de entrada, mas percebi que ela não estava mais no local de sempre. Agora, oficialmente, estava ficando louca.
Cadê a porta? Pensei. Continuei a andar, agora em outra direção, mas confesso que não estava reconhecendo nada daquele local. O desespero me atacou fundo.
O local era um grande salão, nunca vira algo assim. Havia seis pilastras que sustentavam o teto e este era todo decorado com vitrais coloridos. Uma coisa linda e impensável, até difícil de descrever. No fundo, duas fontes imponentes, prostravam água até o teto. O local era tão bem planejado que quem via de longe, tinha impressão que o salão dançava.
Gritei por Jaque, por Monique, a minha chefa e ninguém respondia. Respirei fundo, sentei próximo à fonte e aguardei algum sinal de vida (torcendo para não ser de outro mundo).
Minha barriga roncou e ecoou em todo o grande salão.
Por sorte, minha bolsa estava comigo e, como precavida que sou, havia umas barrinhas de cereal nela. Estava na segunda barra de cereal, quando ouvi passos. Gelei e, imediatamente, me escondi atrás da fonte.
Vi passar por mim uma senhora com roupa de empregada, com cara ranzinza e passos muito, muito apressados. Ela gritava o nome de uma mulher. Ao ouvir de quem se tratava, fiquei imóvel (sentia, naquele momento, que precisava daquelas sacolas de papel para respirar urgentemente).
— Vossa Alteza, Juliana, onde estais, vós?
Saí de trás da fonte, com cara de não sei o que estou fazendo aqui
. A empregada, apenas me encarou com olhar de desdenho, pegou minha mão delicadamente e me fez a seguir por corredores intermináveis.
No caminho, tentei argumentar com ela, afirmando que meu nome é Julia, não Juliana. Que houve um grande mal-entendido, que nunca estive aqui e tal, mas a mulher nem se
importou. Continuou segurando minha mão e andando como um cavalo: sempre com a cabeça para frente.
Cheguei à frente de uma porta alta, sabem porta de casa de rico? Pois é! Mas ela possuía traços medievais. As maçanetas eram dois círculos (tão tradicional), mas havia muitos detalhes que o circundava. Era fabuloso! Fiquei algum tempo parada, só observando os detalhes em ferro e suas formas.
Mesmo depois de admirar por algum tempo, minha boca não estava mais aberta de espanto, porque eu não era a múmia.
Ao entrar no quarto, uma palavra saiu, sem querer, de minha boca:
— Uau!
A empregada fitou-me, mas fingiu não dar importância.
Depois pediu educadamente que trocasse as minhas vestes
(é, nesses termos mesmo) e consegui, nem que por um segundo, observar um olhar intrigado nela. Reparei, também, que ela estranhou completamente as minhas roupas, porém, não esboçou uma só palavra.
Vesti um vestido magnífico. Ele continha pérolas verdadeiras (sim, sem a senhora ver, mordi as joias e confirmei).
Olhei-me no espelho e nem acreditei no que vi: uma jovem dama, da idade média, em seu vestido cor bege e traços avermelhados, que combinavam perfeitamente com as pérolas.
Queria ficar mais uma hora lá a me observar, mas a empregada, de nome Rose (sim, consegui fazê-la falar) disse que tínhamos que ir. Tentei, pela enésima vez — sem sucesso!
— falar com ela. Então, o jeito foi segui-la novamente e tentar pedir ajuda quando chegasse ao local, seja lá onde fosse.
Andamos alguns metros e chegamos a outro salão. Este era rodeado de grandes janelas, por onde pude observar a lua, com toda sua plenitude. Eu me forcei a parar de observar a paisagem e me concentrar no que estava acontecendo lá.
Havia muitas pessoas, todas trajadas elegantemente.
Riam e tomavam vinho, a torto e a direito. As mulheres eram recatadas, porém no olhar, a malícia se instaurava. Os homens, também, estavam bem vestidos. Possuíam roupas diferentes, a meu ver, e falavam sem parar sobre coisas que eu não entendia.
Ao ver essa cena — que apelidei carinhosamente de nobres sendo nobres — quis sair à francesa. Dei uns passos para trás e acabei tropeçando em um homem, muito garboso, por sinal.
— Desculpe, sou um pouco desatenta, às vezes! — Disse envergonhada.
— Juliana, vós estais bem? — Ele perguntou-me com os olhos mais curiosos e intensos que já vi.
Ao olhar em seus olhos, algo me disse internamente, que poderia confiar nele, portanto, falei:
— Senhor! Preciso de ajuda! — Falei com tom de voz mais baixo.
Naquela hora ele me encarou mais ainda. Não pude controlar, minha face ficou levemente ruborizada.
— Vós, chamando-me de Senhor? Vosso prometido?
Falei a vós, anteriormente, que podemos ser informais, um com o outro — ele pegou minha mão delicadamente e a beijou. De novo tive que disfarçar meu rubor.
— Você não entendeu, eu...eu... não sou a Juliana! —
Minha voz ecoou pelo salão todo, agora, todos olhavam para mim.
Meu futuro marido
disse algumas palavras, que apaziguaram a situação. Em um minuto, ninguém nos observava mais (ainda bem).
Ele me examinou
de cima até