Remotas Lembranças
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Book preview
Remotas Lembranças - Geisielle Couto
REMOTAS LEMBRANÇAS
Geisielle Couto
Foto Capa Roberta Lorrayte Couto Oliveira Autopublicação
Geisielle Couto
1ª Edição
Uberaba, 2020
Este livro é dedicado a todos aqueles que se lançam na vida tirando de todos os momentos um aprendizado, resgatando de todos os sofrimentos a força para viver intensamente. Em especial minha filha Ana Beatriz, que me ensina a cada momento o quanto a vida é um milagre.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus que me enviou a inspiração para este livro através de sonhos reveladores e sinais surpreendentes.
Agradeço a meu amado marido, Elio, por sempre me incentivar a seguir meus sonhos e se lançar ao meu lado em minhas aventuras.
À minha irmã, Kellen, primeira leitora das primeiras linhas desse livro, seu entusiasmo por descobrir os destinos desses personagens e o desfecho dessa história me incentivou decisivamente para concluir essa obra.
Prefácio
Remotas lembranças nasceu de dois sonhos muito reais e marcantes. Senti a necessidade de coloca-los no papel na tentativa de entendê-los, mas não consegui parar de escrever sobre
aqueles
personagens
que
conseguia
sentir
tão
intensamente suas emoções. Por isso tenho um grande carinho por cada um deles e procuro fazer entender as explicações por suas ações tão controvérsias.
Flávia é uma jovem do início do século vinte, com uma vida
relativamente
normal.
Sua
tranquilidade
e
seu
relacionamento com sua irmã gêmea sofre grande impacto ao conhecer Carlos. Esse relacionamento proibido e conturbado gera graves consequências. Sua visão sobre a vida muda drasticamente quando se encontra no plano espiritual, onde recorda acontecimentos importantes do passado. Recebe uma nova chance de se redimir dos erros do passado reencarnando com as pessoas que pode ter prejudicado. Nesse romance cheio de tragédias e superação a morte não é o fim.
5
Capítulo 1
Era uma noite linda, com estrelas salpicando a escuridão em uma pintura que transbordava tranquilidade e sedução, a lua nos banhava com uma luz incandescente, em pura harmonia com todo o cenário a sua volta. Meus olhares, contudo deixavam passar desapercebido todo aquele esplendor, se voltando para a tormenta que se encontrava minha história.
Fui obrigada a acompanhar minha irmã e seu namorado até a praça que ficava perto da nossa casa. Até aquele dia, nunca tinha ido em um passeio tão incômodo e demorado como aquele.
Ele a abraçava, mas era para mim que olhava. Seus olhos ardiam em minha direção... suas mãos visivelmente suadas e trêmulas, por vezes esbarravam em meu braço como que sem querer, mas... a cada vez que se repetia me convencia que era de propósito. Também estava trêmula e molhada de um suor frio e ardente ao mesmo tempo. Não conseguia entender meus sentimentos e muito menos os dele. Minha irmã demonstrava indiferença com a situação, ignorava o que não podíamos disfarçar. Em alguns instantes parecia até gostar de nos ver sofrendo para nos controlar e abafar o que sentíamos. Não havia ainda vivido, naquela existência, situação tão embaraçosa como aquela. Mal sabia eu que era a primeira de muitas que viriam pela frente.
Éramos irmãs gêmeas idênticas por fora, mas por dentro não nos parecíamos tanto assim. Helena, mais velha cinco minutos, era extrovertida, vivia cercada por amigos e amigas.
Rapazes a cortejavam, alguns até pareciam implorar por sua atenção. Ela não era acostumada a perder. Sempre conseguia tudo o que almejava, as pessoas ficavam fascinadas tamanha sua alegria que transbordava por seu sorriso cativante. Se preocupava em se casar com um bom partido e cuidar dos filhos.
Eu sempre fui mais quieta, não tinha tanta facilidade em me relacionar com as pessoas, acho que não tinha muito a oferecer e acabava sendo vista como a irmã sem graça da Helena. Preferia ficar com meus livros, gostava de estudar, aprender, descobrir coisas novas e, um dia, quem sabe ser lembrada por alguma realização nascida dessa paixão. Após o colégio iniciei, então, um curso para ser professora.
Apesar das diferenças éramos muito próximas, conversávamos sobre vários assuntos, rapazes, festas, moda.
Desde criança nossa mãe nos vestia igual e, quando passamos a escolher nossas roupas, continuamos com o ritual. Nossa família, tradicional do início do século vinte, gostava de exibir a perfeição que a sociedade exigia. Eu e Helena nos acostumamos com isso e entramos nesse jogo pregado e incentivado pelas famílias parecidas com a nossa.
Íamos a diversas festas, com pessoas elegantes, educadas, bonitas, onde as moças procuravam os rapazes tidos como melhores pretendentes e os rapazes cortejavam as moças conhecidas por serem de uma boa família. Helena, como sempre, era disputada e gostava disso. Eu não era muito procurada pelos rapazes, mas os que Helena notava aproximação, logo procurava distanciá-los com alguma
desculpa. Seu ciúme esteve presente desde que éramos crianças.
A ideia de que outra pessoa pudesse ser mais importante para mim do que ela parecia a assustar. Isso não me incomodava, até porque não tinha mesmo muita facilidade em me relacionar com as pessoas e acabava gostando de não precisar me esforçar para mudar isso.
Em uma dessas festas que conheci Carlos. Helena estava do outro lado do salão muito entretida com um belo rapaz que a cortejava há algum tempo, não notou quando Carlos se aproximou de mim. Eu, como sempre, estava sentada apreciando a boa música e admirando os casais que dançavam lindamente na pista de dança. Ele se sentou ao meu lado e me disse:
- Uma moça tão linda não pode só ficar olhando. Dança comigo?
- Eu não sei dançar. Prefiro ficar olhando – Respondi.
- Não tem segredo, permita-me te mostrar. Sou um ótimo par, se você discordar disso pode voltar a se sentar. – Disse ele abrindo um sorriso impossível de ser rejeitado.
Pela primeira vez não consegui dizer não a ele. Ele me envolveu pela cintura, aproximando meu corpo ao dele, de forma que conseguia sentir sua respiração. Me conduziu lindamente pela pista de dança, ali em teus braços a música parecia mais intensa e os passos de dança leves e fáceis.
Durante aquela dança conversamos sobre tantas coisas... o que gostávamos, o que nos divertia e o quanto aquela sociedade de aparências nos incomodava. Meu desejo era que aquela música nunca acabasse mas, infelizmente, acabou. Não havíamos nem mesmo dito nossos nomes, mas parecia que nos conhecíamos há
séculos. Ouvi então meu nome. Helena havia me visto abraçada àquele belo rapaz e me chamava do outro lado do salão. Disse então a Carlos que precisava ir, sem dar a chance de nos apresentar como devia, pois Helena dizia que nosso pai nos estava esperando na porta do salão.
Saímos e, não havia ninguém a nossa espera, era novamente uma desculpa para me afastar de um pretendente.
Tinha entendido o que Helena havia feito mas preferi não iniciar uma discussão. Ficamos esperando nosso pai ainda por cerca de meia hora.
Os dias seguiram e aquele sorriso aparecia em meus sonhos, meus pensamentos e crescia o desejo de vê-lo novamente. Mas como? Até que o reencontro aconteceu, de forma como eu nunca imaginei que aconteceria.
Notei que Helena estava distante aqueles dias, não conversávamos como antes. Foi em uma tarde de sábado que soube que seu novo namorado jantaria conosco aquela noite.
Achei estranho, já que éramos confidentes e ela não me contou nada, a notícia foi dada por nossa mãe, Raquel. Como de costume, nos arrumamos iguais, mesmas roupas e cabelo.
Estávamos reunidos na sala de visita quando a campanhinha tocou e Helena foi atender. Era seu namorado e, para minha surpresa, era o rapaz dono daquele belo sorriso que conheci no baile dias atrás. Helena então o apresentou, seu nome era Carlos e tamanho foi também seu espanto quando foi apresentado a mim. Fixou seus olhos nos meus e parecia um tanto quanto atordoado, sem saber o que dizer ou como agir. Helena o guiou até o sofá e sentou-se a seu lado. Eu não sabia o que pensar, apenas permaneci estática durante todo o jantar, sem entender
bem o que estava acontecendo. Carlos não falou muito, parecia também sem entender muita coisa do que estava acontecendo.
Finalmente acabou o jantar e Carlos apressou-se para ir embora, parecia querer fugir dali o quanto antes. Fomos para o quarto e perguntei a Helena como havia conhecido Carlos e foi quando ela me contou:
- Fui até o mercado comprar algumas coisas que a mamãe havia pedido, foi quando o encontrei na rua e ele me abordou. Perguntou meu nome e começamos a conversar. Ele é tão lindo não é?
- Claro, é sim. – Tive que concordar.
Entendi o que havia acontecido. Ele a viu e pensou que era eu. No dia em que nos conhecemos ele não ouviu meu nome quando Helena me chamou, tampouco conseguiu ver que minha irmã era idêntica à mim. Trágica confusão que, infelizmente, era tarde para se desfazer.
No dia seguinte Carlos voltou à nossa casa e pediu nosso pai permissão para levar Helena até a praça que havia perto de nossa casa. Nosso pai deu a permissão mas pediu que eu os acompanhasse. Naquela noite ele parecia querer entender a situação, mal conversou com ela, parecia querer conversar comigo, mas não tivemos oportunidade, afinal era ela a namorada. Nos dias que se seguiram ele não voltou a nossa casa e Helena já começava a se preocupar com seu desaparecimento.
Diante da situação e do sentimento proibido que me fazia ter pensamentos insanos, me ocupei com os estudos, o único refúgio que me valia naquele momento. Certo dia, voltava para a
casa no fim da tarde, após um dia de estudos intensos na casa de uma amiga, quando me deparei com Carlos me esperando na rua, perto da minha casa, estava decidido a conversar comigo a sós. Tentei fugir mas não queria e não me esforcei para isso. Ele queria saber de meus sentimentos... se o que ele via em meus olhos era verdade. Foi quando disse a ele:
- Naquele dia, na festa, me arrependi muito de não ter dito meu nome. Afinal, perdi a chance de evitar uma confusão muito desagradável.
Foi quando ele, finalmente, entendeu o que havia acontecido.
- Então foi isso... eu vi Helena na rua, pensei que fosse você e me aproximei. Como fui tolo! Não a encontrava naqueles olhos mas... achei que talvez fosse por causa do pouco que havíamos nos falado. Quando cheguei na sua casa, naquele dia, fiquei espantado com tamanha semelhança entre vocês duas.