Afrodisia
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Afrodisia - Deise Zandoná Flores
AFRODISIA
do Olimpo ao Infinito
DEISE ZANDONÁ FLORES
Copyright © 2020 Deise Zandoná Flores
Todos os direitos reservados.
ISBN: 978-65-00-08180-0
DEDICATÓRIA
À mais bela dentre as mais belas, à luz maior de todas luzes, de cujos pés nascem flores e perfumes, Afrodite Urânia, Douta Professora das Escadas e Rainha Coroada das Ascensões...
O postulante ao teu Amor, o iniciado nas Tuas Artes empreende uma ardente busca por Ti, das margens de sua existência até o Centro do Mundo, almejando beber da fonte de Tuas virtudes e, através destas, resgatar a si próprio dos limites da matéria para ascender ao vislumbre, de soslaio, do infinito e da imortalidade. Tua magnitude é menos o aquecimento do desejo do que a saciedade de união, Eros, entre o material e o celestial, através de um casamento, cuja imagem-filha espelhada nas águas primordiais é a virgem e áurea Harmonia.
Aprende, pois, ó intelecto (mens), diz Dorneus, a exercer em relação ao próprio corpo o amor (charitatem) que se interessa pelos outros, moderando as tendências vãs dele, de modo que ele esteja pronto a te acompanhar em tudo.
Para que isto aconteça, hei de esforçar-me para que ele juntamente comigo beba da fonte da força (virtus) e para que, depois que os dois se tornarem um só, acheis a vossa paz na união. Vai, ó corpo, a esta fonte para beber juntamente com o intelecto até à saciedade para que no futuro já não tenhas sede de novidades. Oh! efeito admirável da fonte, que de dois faz um, e faz as pazes entre os inimigos. A fonte do amor (amoris) pode fazer do espírito e da alma o intelecto (mentem), mas aqui ela faz do intelecto e do corpo o homem uno (virum unum).
(DORNEUS, via Carl Jung)
LISTA DE POEMAS
MATER POETICA
GRAÇAS
FLAMINGO
OLHOS DE ADÔNIS
PULSAR
ENCARCERADO
VINHO MÍSTICO
MAR SILENTE
ESQUECIDA ASCENDÊNCIA
ARMAS DEPOSTAS
FLOR DE LARANJEIRA
BARCO DAS MEMÓRIAS
PRECES E MONÇÕES
MÍMESE
UNICÓRNIO
ANUNCIAÇÃO
SINTONIA
O QUEÍSMO DE UM DRAMA DIVINO
IMPERDOÁVEL
PRECE A UM TECELÃO
ANTES DE O SOL CHEGAR AO TOPO
CALDEIRÃO
EXORTAÇÃO
C’EST LA VIE
ENGAVETADO
BRIO
O CAMINHO DO SANTO
PÃO
BARCA
O HOMEM DENTRO DO HOMEM
MÚSICO
RITO
EGRESSO
NASCERÁ DE NÓS
IMENSO E IMENSURÁVEL
CONTEMPLAÇÃO
FLOR DE AGOSTO
CANTO
HORIZONTE
CONTAGIOSO
CÁLICE
SEDA
GRUTA E FAROL
PARTITURA
MISTÉRIO
ALTAR DA EFEMERIDADE
O ADVENTO DO INFINITO
ONDE MORAM AS ESTAÇÕES
CONVERSÃO
MANDALA
PROLE DAS HORAS
ALTAR
SACERDÓCIO
VIAJANTE DOS RELEVOS
TRIUNFO
DUNA
VENTOS
NO VENTRE DA ROTINA
SILÊNCIOS
MEL E VINHO
ATMOSFERA DE ENCONTRO
DOCE DESASTRE
NOME
TAJ MAHAL
INTOXICAÇÃO
ENSOLARADOS
ESPELHO DE EROS
DIREÇÃO
METRÔNOMO
DECORAÇÃO
PAVÃO ÁUREO
ESTRANHO TAMBOR
ARDILOSA CONSPIRAÇÃO
ENCANTAMENTO
FEIRA DE ENCANTOS E ENCANTAMENTOS
O NOIVADO DA ALMA E DO ESPÍRITO
MATRIMÔNIO SAGRADO
CONCEPÇÃO
QUATRO
VIOLÊNCIA DIVINA
NINAR O SONHO
ASAS
SEDE DE IMPOSSÍVEL
O SONHO DOS SONHOS
PALAVRAS ABRASADAS
MALDIÇÃO
TORQUE
MEIO-DIA
O ÊXTASE DO ARTISTA
PARADOXA
O REI ESTÁ MORTO
ESPETÁCULO
POEMAS
MATER POETICA
Nem a sombra da minha mão ainda toca o véu de Maia.
Meus pés seguiram por uma estrada arenosa,
e toda a veia rugosa da inverdade já não alcança
o meu coração talhado pelo tempo.
Cheguei a um ponto de curvatura, um novo princípio,
uma iniciação ou um meio para um renascimento,
tal como em um rito antigo: no labirinto enfrentando as feras, tornando-me mais uma delas, a reviver o mito do eterno retorno.
Não é tanto um círculo quanto um náutilo,
uma espiral que sempre se dobra, sequiosa,
sobre o próprio centro, apenas para ampliar a sua órbita.
Às vezes, vejo-me na borda da galáxia, a abandonar
o curso primevo e arcaico, para mergulhar
no ventre de uma escuridão que já não me transforma.
Procuro a explosão de uma supernova para expandir-me,
coruscante, sobre uma massa leve e gasosa,
a colorir o espaço, imitando as cores,
o movimento, os sentimentos, as dores,
as curvas e as formas de uma vida biológica.
Vejo-me a me precipitar rumo ao infinito,
alcançando a borda que separa
a matéria bruta da transcendência áurea.
Sou eu a pedra, o monólito ou o segredo
de uma caverna anímica e arcaica,
que conduz a noiva, a Mística Primeva
ao casamento com o Discurso da Ciência.
Faço arte de uma forma científica
ou ciência de uma forma artística?
Toma-me, não o coração, a vida!
Queria fazer uma Poesia nobre e alta,
que fosse uma lágrima de júbilo e alegria
a escorrer pela face divina. E, destarte, rasgar,
ampliar, nutrir, arar e florir o terreno das almas...
Mas a sombra da minha mão já não toca o véu de Maia.
E, como qualquer coisa menos sublime do que ordinária,
como qualquer ser moldado da argila, eu também serei esquecida.
E não importa! Eu só quero abrir a porta de uma alma,
que me faça querer mil vezes voltar à Terra, para
mesmo de mim esquecida, reencontrá-la
e imitar, em miniatura empobrecida, a cosmogonia.
Repetir mais um Adão e uma Eva,
a experimentar o corolário de uma queda
e, desta feita, gerar muitas filhas Poesias.
Mas isso é só uma megalomania onírica,
menos tempo e alma,
do que efeito do silêncio da madrugada.
Quero circundar o mundo e a galáxia,
para me ver tão ínfima e pequena;
de todos os meus sonhos, minoria,
sendo menor do que um sulco da sabedoria
- o desenho da eternidade na face divina -,
muito menor que a pretensão da lágrima de alegria celestina.
Dedico-me apenas a cultivar a honra e a tentar fazer-me digna, pela dor de um ventre fértil e prenhe de poesia,
desta filiação, do merecimento do amor do singular
astro-rei que habita o meu coração, e da compaixão de Deus.
E porque nem a sombra da minha mão alcança o véu de Maia,
que eu vislumbro, através do lusco-fusco trêmulo
da minha insciência, a minha autêntica e insuspeita natureza: não sou mãe da Poesia; sou filha, ou quiçá, xamã ou sacerdotisa.
Ela me toma num arrebatamento extático,
vencendo, de assalto, o sono e o cansaço.
E, pela força mágica da sarça ardente, revela-me
tal filiação ou menos: uma tutoria ou mero apadrinhamento.
Não sou eu o ventre prenhe de Poesia. Sou cativa,
por Ela, raptada da falsa consciência de minha soberania.
Ela dispõe da minha mão e engenho,
ao preço da insônia, da mania e da exaustão.
Tal é a Poesia: é mais que poesia. É profecia,
epifania, hierofania; é lágrima divina de amor e alegria,
ou a Presença de uma Deusa pagã Venusiana.
Há coisa mais sublime, terna e genuína
do que chamar de Mãe a Poesia?
GRAÇAS
Ah, Filha de Uranos, como és bela!
Por onde passas, as Tuas doces pegadas
formam tapetes de flores nas cores
de uma onírica e perfumada aquarela!
Diva dourada, quantos de fato sabem...
... que todo o amor humano de Ti é só uma parte?
... que Teu riso gracioso e suave brota da beleza
de Tua sublime