Dignidade da pessoa humana e o direito das crianças e dos adolescentes
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Dignidade da pessoa humana e o direito das crianças e dos adolescentes - Evilázio Francisco Borges Teixeira
Chanceler
Dom Jaime Spengler
Reitor
Evilázio Teixeira
Vice-Reitor
Manuir José Mentges
CONSELHO EDITORIAL
Presidente
Carlos Eduardo Lobo e Silva
Editor-Chefe
Luciano Aronne de Abreu
Adelar Fochezatto
Antonio Carlos Hohlfeldt
Cláudia Musa Fay
Gleny T. Duro Guimarães
Helder Gordim da Silveira
Lívia Haygert Pithan
Lucia Maria Martins Giraffa
Maria Eunice Moreira
Maria Martha Campos
Norman Roland Madarasz
Walter F. de Azevedo Jr.
Evilázio Francisco Borges Teixeira
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O DIREITO DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES
logoEdipucrsPorto Alegre, 2021
© EDIPUCRS 2021
CAPA Thiara Speth
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Maria Fernanda Fuscaldo
REVISÃO DE TEXTO Gaia Revisão Textual
Edição revisada segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Este livro conta com um ambiente virtual, em que você terá acesso gratuito a conteúdos exclusivos. Acesse o site e confira!
Logo-EDIPUCRSEditora Universitária da PUCRS
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Porto Alegre - RS - Brasil
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E-mail: edipucrs@pucrs.br
Site: www.pucrs.br/edipucrs
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
T266d Teixeira, Evilázio Francisco Borges
Dignidade da pessoa humana e o direito das crianças e dos
adolescentes [recurso eletrônico] / Evilázio Francisco Borges
Teixeira. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS,
2021.
1 Recurso on-line (137 p.)
Modo de Acesso:
ISBN 978-65-5623-119-8
1. Dignidade humana. 2. Crianças. 3. Adolescentes. 4.
Direitos humanos. I. Título.
CDD 3. ed. Dóris 342.1157
Anamaria Ferreira – CRB-10/1494
Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
ABREVIATURAS E SIGLAS
Sumário
Capa
Conselho Editorial
Folha de Rosto
Créditos
ABREVIATURAS E SIGLAS
PREFÁCIO
Referência
INTRODUÇÃO
1 A pessoa humana e sua dignidade
1.1 O conceito de pessoa
1.1.1 A pessoa na Antiguidade
1.1.2 A pessoa no Medievo
1.1.3 A pessoa na Modernidade
1.2 A dignidade humana
1.2.1 O conceito de dignidade no Renascimento
1.2.2 O conceito de dignidade na Era Moderna
1.2.3 A dignidade e a natureza humana
1.2.4 A contribuição religiosa ao conceito de dignidade humana
1.2.5 Dignidade – um conceito inútil?
1.2.6 Dignidade e direitos humanos
2 A criança como sujeito de direitos
2.1 A evolução histórica do direito da infância
2.2 A infância: um conceito tardio, mas nunca tarde
2.3 A Convenção das Nações Unidas sobre os direitos da criança
2.4 Os direitos fundamentais da criança e do adolescente à luz da Doutrina da Proteção Integral
2.5 A Doutrina da Proteção Integral
2.6 O direito à convivência familiar e comunitária
2.7 A criança vítima da violência
2.8 A violência sexual contra a criança
3 A evolução do direito da criança e do adolescente
3.1 O Código Civil de 1916
3.2 Os avanços da Constituição Federal de 1988
3.3 O Estatuto da Criança e do Adolescente
3.4 Os conselhos dos direitos da criança e do adolescente
3.5 O Código Civil de 2002
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
EDIPUCRS
PREFÁCIO
Com muita satisfação, apresento a extraordinária obra Dignidade da pessoa humana e o direito das crianças e dos adolescentes. Hoje se fala partout da dignidade
, que se tornou um conceito onipresente no Direito e na Filosofia, porém, quando se pergunta o que ela significa, parece repetir-se a situação de Santo Agostinho ao ser indagado, no Livro XI das Confissões, sobre o que é o tempo: se não me perguntam, eu sei; se me perguntam, não sei explicar
. Parafraseando o doutor hiponense, inquire-se no presente livro: quid est dignitas?
Ao consultar a jurisprudência dos tribunais brasileiros, constata-se ser um conceito assaz difundido, mas utilizado muito confusamente. Causa espécie, assim, que haja tanta insegurança acerca de uma noção que se constitui num dos fundamentos
do Estado Democrático de Direito.
Lançando magistralmente luz sobre essa problemática, numa perspectiva sistemática e histórica – no domínio da história dos conceitos (Begriffsgeschichte) –, o Prof. Dr. Ir. Evilázio Francisco Borges Teixeira, Reitor da PUCRS, mostra que a dignidade da pessoa humana se origina no contexto teológico, passa ao filosófico e ingressa no jurídico. Ele o faz com notória acribia, visto que possui a formação necessária para tal empreendimento: é graduado em Teologia, Filosofia e Direito, além de ser mestre e doutor nas duas primeiras áreas, em renomadas universidades romanas.
No relato veterotestamentário, o homem e a mulher são criados à imagem
e semelhança
de Deus (cf. Gn 1, 27). Essa perícope pode ser considerada como uma teologia da dignidade
(Ulrich Barth) avant la lettre. O ser humano possui um inestimável valor por ser imago Dei, imagem
, estátua
de Deus (a Septuaginta emprega o vocábulo eivkw,n – eikón: ícone). Por essa razão, é merecedor de respeito e proteção. Desrespeitar a pessoa humana equivale a espezinhar o próprio Deus. Ressalte-se que, ao se falar em pessoa
, utiliza-se igualmente um conceito de procedência teológica, oriundo das discussões cristológicas e trinitárias dos primeiros séculos do cristianismo, o que resta evidenciado ex magistro pelo autor.
A noção de dignidade desloca-se, num segundo momento, para o âmbito filosófico, como Ir. Evilázio Teixeira demonstra com muita propriedade, em consonância com a dicção de Habermas (2007, p. 125-126):
A tradução da ideia de que o homem é imagem de Deus para a ideia da dignidade de todos os homens, a ser respeitada de modo igual e incondicionado, constitui uma destas traduções salvadoras. Ela expõe o conteúdo de conceitos bíblicos para um público geral de crentes de outras confissões e para não crentes, ultrapassando, por conseguinte, os limites de uma comunidade religiosa particular.
A dignidade, portanto, mediante um processo de secularização, passa do ambiente teológico para a exaltação do ser humano na filosofia platônica (semelhança a Deus
– o`moi,wsij qew|/ – no Teeteto) e a dignitas filosófica de Cícero e Pico della Mirandola, até chegar à famosa formulação kantiana, segundo a qual o ser humano não tem preço (Preis), mas, sim, dignidade (Würde), não podendo, por conseguinte, ser instrumentalizado: a pessoa humana não é mero meio (Mittel), mas sempre um fim em si mesmo (Zweck).
Num terceiro momento, já no século XX, o conceito de dignidade ingressa em várias constituições: a Lei Fundamental Alemã, de 1949, exempli gratia, principia com a afirmação lapidar: A dignidade do ser humano (Würde des Menschen) é inviolável
, e a Constituição Federal Brasileira, de 1988, menciona, em seu art. 1, a dignidade da pessoa humana
; em ambos os casos, a dignidade é enfatizada em períodos subsequentes ao aviltamento do ser humano, ocorrido, respectivamente, no nazismo e no regime militar.
Na segunda parte da obra, o autor, com grande sensibilidade para os pequenos e vulneráveis, apresenta as implicações da noção da dignidade para a proteção das crianças e dos adolescentes, cuja integridade física e psíquica é amiúde violada (trabalho infantil, violência sexual etc.). Chama a atenção para o fato de a pessoa humana merecer uma salvaguarda jurídica de sua dignidade, especialmente na infância e adolescência, períodos decisivos no desenvolvimento humano, indicando, para isso, documentos do Direito Internacional Público e do Direito pátrio, com especial destaque ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
Neste livro, evidencia-se a singular competência do autor: guiado por notável formação e admirável erudição (manifesta nos vários idiomas que domina), Ir. Evilázio Teixeira oferece uma contribuição inestimável a esse debate num livro que se tornará leitura obrigatória para aqueles que se ocupam com essa temática. Por essas razões, estou convicto de que se trata aqui, usando a expressão de Gadamer, de uma inequívoca ampliação de horizonte
(Horizonterweiterung) para estudiosos do Direito, da Filosofia e da Teologia.
Prof. Dr. Draiton Gonzaga de Souza
Decano da Escola de Humanidades da PUCRS
Referência
HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007.
INTRODUÇÃO
Esta obra tem por objetivo refletir sobre o tema da dignidade da pessoa humana, princípio fundante da Carta Magna da República do Brasil, à luz do direito da Criança e do Adolescente. Nos últimos anos, sobretudo com o avanço das ciências da vida, da biotecnologia e da bioética, o termo dignidade da pessoa humana
vem sendo questionado como sendo impreciso e, na interpretação de alguns autores, considerado como inútil
. Numa perspectiva histórica, a sociedade sempre se preocupou com a dignidade humana, mas, paradoxalmente, no século XXI, o ser humano continua sendo agredido em sua dignidade. Se, de um lado, há violação à dignidade, de outro, crescem o sentimento e os esforços em sua defesa. É preciso rememorar que os avanços têm sido fruto da dor física e do sofrimento moral como resultados de surtos de violências, mutilações, torturas, massacres coletivos, enfim, de situações aviltantes que fizeram nascer consciências e exigências de novas regras de respeito a uma vida digna para todos os seres humanos continuarem sendo a razão de ser da sociedade e da nossa Constituição Republicana, baseada na construção do Estado e do Direito.
O conceito de dignidade humana encontra seus fundamentos na filosofia ocidental. Apesar de os gregos não terem abordado diretamente essa noção, suas ideias tiveram grande influência na civilização do Ocidente, de modo especial, pelo conceito de Paideia (educação), enquanto formação geral que tem como finalidade construir o homem como homem e cidadão. Para Platão (427-347 a.C.), Paideia é a essência de toda educação, é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito, semelhante aos deuses, tendo a justiça como fundamento.
Igualmente, os romanos deram uma grande contribuição ao processo civilizatório do Ocidente, a partir da ideia do bom senso, da virtude e da prudência, concebendo e praticando o Direito como a arte do bom e do justo. Porém, a maior contribuição é oriunda da concepção judaico-cristã. A doutrina cristã concebe o homem, em si mesmo, o valor digno por excelência, na sua condição de imagem e semelhança de Deus, possuidor de um núcleo indestrutível de prerrogativas que o Estado deve reconhecer.
Com o advento da filosofia moderna, sobretudo com Kant (1724-1804), a dignidade é definida como tudo aquilo que não tem preço, uma vez que, no reino dos fins, tudo tem ou um preço