Qual é o sentido?
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Qual é o sentido? - Luciano Marques de Jesus
INTRODUÇÃO
A PALAVRA SENTIDO tem várias acepções. Como adjetivo pode significar: que se ofende ou melindra facilmente, suscetível, sensível; que causa pesar; plangente, lamentoso; repassado de mágoa, ressentido, magoado; que está em começo de decomposição, um tanto podre ou estragado
. Como substantivo pode significar: "[fisiologia] faculdade de perceber uma modalidade específica de sensações, que correspondem a órgãos determinados [São cinco os sentidos: tato, visão, audição, paladar e olfato.]; faculdade de sentir ou perceber, de compreender, senso; faculdade de julgar; bom senso, tino; aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação; alvo, fim, propósito; ponto de vista, modo de considerar, aspecto, face; encadeamento coerente de coisas ou fatos, lógica, cabimento; consciência, razão, discernimento (mais us. no pl.); concentração da atividade mental, atenção, pensamento; aplicação dos sentidos para evitar (algo ruim), cuidado, cautela; orientação segundo a qual se efetua um movimento; [filosofia] faculdade de captar determinada classe ou grupo de sensações, estabelecendo um contato intuitivo e imediato com a realidade, assentando dessa maneira os fundamentos empíricos do processo cognitivo; [lexicologia, linguística] cada um dos significados de uma palavra ou locução, acepção; [linguística, lógica] aquilo que uma palavra ou frase podem significar num contexto determinado, significado" (fonte: Dicionário Houaiss).
O sentido que se quer referir aqui é fim, propósito, finalidade. Qual o sentido da vida? Qual seu fim, propósito, finalidade? Tem sentido essa questão? É uma questão plausível ou, ao menos, significativa, interessante, relevante?
Aprendi com o Professor Odone Quadros que a Filosofia é um conhecer pelo sentido. Pelo sentido mais profundo. O mais profundo. Conhecer em busca do sentido mais profundo de tudo, valendo-se unicamente da força natural da nossa mente, da razão. Existem outras formas de descobrir sentido, mas a busca filosófica é uma busca da razão, a razão é o foro no qual as questões são decididas em Filosofia. A Filosofia é a busca do sentido de tudo, nada foge ao conhecimento filosófico, toda realidade esconde um sentido mais profundo. A Filosofia é um conhecimento que reclama atitudes. Conhecer filosoficamente implica viver filosoficamente. Outras buscas de sentido são válidas e legítimas, como a busca da arte (sensibilidade) e da religião (fé), mas são diferentes, de outra ordem.
O sentido passou a ser, então, meu tema. Cultivar a Filosofia como a busca do sentido de tudo e, especialmente, o sentido da vida. Essa perspectiva é teleológica, télos significa sentido, ela supõe que a realidade tenha sentido e é tarefa da Filosofia descortiná-lo. Contrapõe-se à perspectiva niilista, nihil significa nada. A realidade não esconde nenhum sentido. Aliás, para alguns filósofos, o ser humano vem do absurdo, vive uma paixão inútil, e para o absurdo voltará.
Com esse norte teleológico, conheci Viktor Emil Frankl. Médico, neurologista e psiquiatra, doutor em Filosofia, cuja existência, plena e longeva, perseguiu sempre a questão do sentido. Dedicou sua vida a ajudar as pessoas a encontrar sentido em suas vidas. Criou uma Escola de Psicoterapia inspirada por esse tema, a Logoterapia.
O caminho proposto neste estudo inicia-se com o questionamento do sentido da vida na contemporaneidade e as chaves interpretativas do ser humano de Freud e Adler. Em seguida, o relato de Frankl da experiência do campo de concentração. Na sequência, a chave interpretativa de Frankl e sua escola de Psicoterapia. Seguem desdobramentos da problemática do sentido: liberdade e responsabilidade, valores e realização de sentido, possibilidades e necessidades, alguns sintomas de nosso tempo, a ontologia do passado e a questão da juventude e o esclarecimento de alguns mal-entendidos.
A pretensão deste livro é divulgar o pensamento de Frankl e a Logoterapia, provocar a reflexão sobre o sentido da vida, que diz respeito