Cadernos Didáticos de Métodos de Pesquisa Quantitativa em Psicologia
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necessidade de se criar apostilas didáticas de nível de graduação que traduzissem, em uma linguagem simples e acessível, as noções e os conceitos básicos referentes ao estudo dos métodos quantitativos de pesquisa no âmbito da Psicologia. Muitos livros-textos considerados referências clássicas e tradicionais em metodologia de pesquisa quantitativa podem apresentar o conteúdo de forma bastante complexa e de difícil compreensão por parte de alunos iniciantes no curso de Psicologia. Nesse sentido, os textos aqui reunidos podem auxiliar o trabalho do docente que ministra esses conteúdos, bem como facilitar o primeiro contato dos alunos com os conceitos desse campo.
Não obstante, cabe destacar que o conteúdo didático do presente livro não substitui um aprofundamento posterior da temática por meio da consulta a referências clássicas e atuais sobre metodologia de pesquisa quantitativa.
A presente obra, portanto, visa a contribuir com a disponibilização de material didático com linguagem acessível a alunos e docentes que ministram disciplinas referentes a métodos quantitativos de pesquisa nos cursos de Psicologia. Além disso, aponta a possibilidade de sua utilização enquanto recurso de contato inicial com os conceitos nele expostos.
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Cadernos Didáticos de Métodos de Pesquisa Quantitativa em Psicologia - Lucas Cordeiro Freitas
Cadernos Didáticos
de Métodos de Pesquisa
Quantitativa em Psicologia
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2022 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis n.os 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Lucas Cordeiro Freitas
Marina Bandeira
(org.)
Cadernos Didáticos
de Métodos de Pesquisa
Quantitativa em Psicologia
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – Código de Financiamento 001.
Sumário
Introdução
Lucas Cordeiro Freitas
Marina Bandeira
Parte I
Métodos quantitativos: importância, tipos de pesquisa, problema de pesquisa e revisão da literatura
Capítulo 1
A importância dos métodos de pesquisa quantitativos para a formaçãoem Psicologia
Lucas Cordeiro Freitas
Mário César Rezende Andrade
Capítulo 2
Tipos de pesquisa
Marina Bandeira
Capítulo 3
Conceituação do problema da pesquisae seu contexto teórico-metodológico
Marina Bandeira
Anexo
Exemplo de Formulação do Problema de Pesquisa
O uso de substâncias e a vitimização por bullying
Yasmin Carli Silva Batista
Capítulo 4
Contexto teórico e empírico: a revisão da literatura
Marina Bandeira
Capítulo 5
Revisão da literatura sobre habilidades sociais e competência social de pacientes com acidente vascular cerebral
Mariana de Almeida Andrade
Lucas Cordeiro Freitas
Parte II
Delineamentos de pesquisa com grupos, validade interna e externa, planificação da pesquisa, métodos de coletae análise de dados
Capítulo 6
Delineamentos de pesquisa com grupos
Marina Bandeira
Capítulo 7
Validade interna, validade externae vieses de uma pesquisa
Marina Bandeira
Capítulo 8
Planificação operacional da pesquisa
Marina Bandeira
Capítulo 9
Definição das variáveis e métodosde coleta de dados
Marina Bandeira
Capítulo 10
Análise De Dados, Cronograma, Orçamento, Pertinênciae Considerações Éticas
Marina Bandeira
Parte III
Delineamentos experimentaiscom sujeito único e suas aplicações
Capítulo 11
Delineamentos experimentaiscom sujeito único
Marina Bandeira
Capítulo 12
Delineamentos individuais de pesquisa: A-B-A e níveis de base múltiplos
Marina Bandeira
Capítulo 13
Delineamentos experimentais individuais e a interpretação causal dos resultados: vieses
Marina Bandeira
Capítulo 14
Aplicação do Condicionamento Operante ao estudo do comportamento humano: Sistema de Fichas
Marina Bandeira
Capítulo 15
Efeito do sistema de fichas sobre o comportamento de acessar um aplicativo de mensagens instantâneas
Alessa Maria Leal Morais
Lucas Cordeiro Freitas
SOBRE OS AUTORES
Introdução
Traduzindo didaticamente noções básicas de métodos quantitativos de pesquisa
Lucas Cordeiro Freitas
Marina Bandeira
Este livro apresenta uma coletânea de textos didáticos que têm sido utilizados nas disciplinas que tratam do estudo e da aplicação dos métodos quantitativos de pesquisa nos cursos de graduação e de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ). A preparação desses textos surgiu da necessidade de se criar, inicialmente, apostilas didáticas de nível de graduação que traduzissem, em uma linguagem simples e acessível, os conceitos e as noções básicas referentes ao estudo dos métodos quantitativos de pesquisa no âmbito da Psicologia.
Muitos livros-textos considerados referências clássicas e tradicionais em metodologia de pesquisa quantitativa podem apresentar o conteúdo de forma bastante complexa e de difícil compreensão por parte de alunos iniciantes no curso de Psicologia. Nesse sentido, os textos aqui reunidos podem auxiliar o trabalho do docente que ministra esses conteúdos, bem como facilitar o primeiro contato dos alunos com os conceitos desse campo. Não obstante, cabe destacar que o conteúdo didático do presente livro não substitui um aprofundamento posterior da temática por meio da consulta a referências clássicas e atuais sobre metodologia de pesquisa quantitativa.
Este livro está dividido em três seções. Na Parte I, composta por cinco capítulos, são discutidos a importância do domínio dos métodos quantitativos na formação do psicólogo, a conceituação dos diferentes tipos de pesquisa, os pressupostos da formulação do problema de pesquisa, os processos de revisão da literatura e um exemplo de revisão de estudos publicados em bases de dados eletrônicas. A Parte II é dedicada aos conceitos relacionados aos delineamentos de pesquisa com grupos, expostos em cinco capítulos, incluindo as noções de notação dos desenhos de pesquisa, validade interna e externa, vieses, planificação operacional, métodos de coleta e de análise de dados. Os cinco últimos capítulos compõem a Parte III, na qual são descritos os principais delineamentos experimentais com sujeito único (N=1), os vieses que podem ocorrer nesses tipos de estudos, bem como a conceituação e as aplicações do Sistema de Fichas como uma possibilidade de intervenção didática utilizando delineamentos individuais em Psicologia.
A presente obra visa a contribuir com a disponibilização de material didático com linguagem acessível a alunos e docentes que ministram disciplinas referentes a métodos quantitativos nos cursos de Psicologia. Além disso, aponta-se a possibilidade de sua utilização enquanto recurso de contato inicial com os conceitos aqui expostos.
Parte I
Métodos quantitativos: importância, tipos de pesquisa, problema de pesquisa e revisão da literatura
Capítulo 1
A importância dos métodos de pesquisa quantitativos para a formação
em Psicologia
Lucas Cordeiro Freitas
Mário César Rezende Andrade
As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia no Brasil (BRASIL, 2011) estabelecem que o conhecimento de procedimentos para a investigação científica e sua articulação com a prática profissional constituem um dos eixos estruturantes da formação na área. A formação em Psicologia pressupõe o conhecimento de instrumentos e estratégias de avaliação e de intervenção, bem como a competência do profissional em selecionar diferentes procedimentos buscando adequá-los a problemas e contextos específicos (BRASIL, 2011).
Dentre as habilidades e competências que devem ser desenvolvidas ao longo da graduação em Psicologia, algumas possuem relação direta com o domínio de métodos de pesquisa, destacando-se as seguintes: (1) identificar, definir e formular questões de investigação científica no campo da Psicologia, vinculando-as a decisões metodológicas quanto à escolha, coleta e análise de dados em projetos de pesquisa
; (2) escolher e utilizar instrumentos e procedimentos de coleta de dados em Psicologia, tendo em vista a sua pertinência
; (3) elaborar relatos científicos, pareceres técnicos, laudos e outras comunicações profissionais, inclusive materiais de divulgação
; (4) utilizar o método experimental, de observação e outros métodos de investigação científica
; (5) utilizar os recursos da matemática, da estatística e da informática para a análise e apresentação de dados e para a preparação das atividades profissionais em Psicologia
(BRASIL, 2011). Nota-se que algumas dessas habilidades e competências relacionam-se ao conhecimento de métodos de pesquisa de forma ampla, e outras relacionam-se mais especificamente aos métodos de pesquisa quantitativos (BRASIL, 2011).
Os cursos de Psicologia no Brasil devem, portanto, ofertar disciplinas e atividades formativas visando ao ensino e à aplicação de conceitos relacionados ao domínio de métodos quantitativos, como, por exemplo: definição de variáveis, unidades de medida, tipos de escalas de medida, delineamentos de pesquisa quantitativos, procedimentos de amostragem, instrumentos e procedimentos de medida/avaliação, conceitos e aplicações de análises estatísticas, validação e normatização de instrumentos psicológicos, dentre outros.
Alguns autores comumente referenciados no ensino dos métodos quantitativos aplicados à Psicologia (BREAKWELL et al., 2011; CAMPBELL; STANLEY, 1979; KAZDIN, 1998; SELLTIZ; WRIGHTSMAN; COOK, 1987; SHAUGHNESSY; ZECHMEISTER; ZECHMEISTER, 2012) salientam a importância do domínio de delineamentos de pesquisa na formação do pesquisador nessa área de conhecimentos. Mais recentemente, movimentos como Práticas Psicológicas Baseadas em Evidências (LEONARDI; MEYER, 2015) têm contribuído para ressaltar a relevância de uma formação acadêmica sólida em métodos de pesquisa em sua articulação com as práticas profissionais do psicólogo. Esse movimento tem origem e se insere em outro anterior e mais abrangente, a Saúde Baseada em Evidências, que preconiza o uso das melhores evidências e conhecimentos científicos disponíveis para orientar as tomadas de decisões na prática das diversas especialidades de cuidado à saúde. Nesse contexto, a prática psicológica se daria com base na interseção entre três domínios principais: (1) o conhecimento das melhores evidências científicas da área de atuação, (2) a experiência e expertise profissional e (3) a consideração das necessidades e características das pessoas que serão alvo da prática do psicólogo (MELNIK; DE SOUZA; DE CARVALHO, 2014). Portanto, tais preceitos contemporâneos convergem com a concepção atual de formação do psicólogo, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais, enfatizando um perfil profissional baseado no domínio da metodologia científica e no seu uso na prática cotidiana, que é alimentada por tal conhecimento e, ao mesmo tempo, o aperfeiçoa.
Entretanto, apesar da importância e da ênfase dada ao conhecimento da metodologia de pesquisa quantitativa na formação em Psicologia, existem alguns desafios e barreiras relevantes para o seu ensino. Primeiramente, destaca-se a diversidade epistemológica e a dificuldade que ainda existe em se conceber a própria Psicologia como ciência. Não obstante, nas últimas décadas, com os vários avanços advindos de pesquisas psicológicas em direção a uma visão mais integrativa, bem como das contribuições do campo das neurociências, tal barreira tem sido cada vez menor (CAMPOS, 2018).
Em segundo lugar, há também uma representação de que os métodos quantitativos e o uso da estatística não se adequariam à formação do psicólogo. Consequentemente, isso pode gerar um desinteresse por parte dos alunos em aprender tais conhecimentos e em visualizar suas aplicações na pesquisa psicológica e na prática profissional. Em contraposição a essa ideia, destaca-se a crescente importância dos conhecimentos quantitativos e dos dados estatísticos principalmente para a orientação de políticas públicas.
Ainda com relação à segunda barreira apontada, salienta-se a relevância da utilização de recursos didáticos e exemplos contextualizados no ensino da metodologia quantitativa, que podem tornar a formação mais realista e coerente com a realidade profissional do psicólogo. Nesse sentido, torna-se necessário também o entendimento, por parte dos docentes, de que o ensino dos métodos quantitativos não consiste unicamente no trabalho com números e procedimentos padronizados, mas, mais do que isso, envolve o desenvolvimento de um pensamento crítico sobre os dados analisados e seu enquadramento em situações contextualizadas (ALBERS, 2017). Desse modo, espera-se que o aluno de Psicologia incorpore esses conhecimentos à sua formação, aprendendo a construir ciência e a analisar a qualidade das informações produzidas (CAMPOS, 2018).
Entende-se que a utilização de materiais didáticos e metodologias de ensino adequadas pode favorecer o desenvolvimento de habilidades e competências relacionadas ao domínio e à aplicação dos métodos quantitativos em Psicologia. Além disso, vislumbra-se que a utilização de uma variedade de recursos incluindo aulas práticas, realização de experimentos e pesquisas empíricas, ensino de análise estatística utilizando softwares computacionais, análise de grandes volumes de dados oriundas de diferentes fontes (big data), dentre outros, pode contribuir para a contextualização do ensino e para uma aprendizagem mais efetiva.
Referências
ALBERS, M. J. Quantitative data analysis in the graduate curriculum. Journal of Technical Writing and Communication, [S. l.], v. 47, n. 2, p. 215-233, 2017.
BRASIL. Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação/ Câmara de Educação Superior. Resolução CNE n.° 5/2011. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia. Brasília, DF, 15 mar. 2011.
BREAKWELL, G. M. et al. Métodos de pesquisa em Psicologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
CAMPBELL, D. T.; STANLEY, J. Delineamentos experimentais e quase-experimentais de pesquisa. São Paulo: EPU/Edusp, 1979.
CAMPOS, L. F. L. Métodos e técnicas de pesquisa em psicologia. 6. ed. Campinas: Alínea, 2018.
KAZDIN, A. E. Research design in clinical psychology. 3. ed. Boston: Allyn & Bacon, 1998.
LEONARDI, J. L.; MEYER, S. B. Prática baseada em evidências em psicologia e a história da busca pelas provas empíricas da eficácia das psicoterapias. Psicologia: Ciência e Profissão, [S. l.], v. 35, n. 4, p. 1139-1156, 2015.
MELNIK, T.; DE SOUZA, W. F.; DE CARVALHO, M. R. A importância da prática da psicologia baseada em evidências: aspectos conceituais, níveis de evidência, mitos e resistências. Revista Costarricense de Psicología, [S. l.], v. 33, n. 2, p. 79-92, 2014.
SELLTIZ, C.; WRIGHTSMAN, L. S.; COOK, S. W. Métodos de pesquisa nas relações sociais V.I – Delineamentos de pesquisa. São Paulo: EPU, 1987.
SHAUGHNESSY, J. J.; ZECHMEISTER, E. B.; ZECHMEISTER, J. S. Metodologia de pesquisa em Psicologia. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
Capítulo 2
Tipos de pesquisa
Marina Bandeira
I – PESQUISA EXPERIMENTAL
A pesquisa experimental visa identificar relações causais entre duas variáveis, por meio do método experimental. Esse método implica em três procedimentos básicos:
1. VARIAR A CAUSA (VI): Provocar deliberadamente variações na ocorrência de uma variável (VI) para verificar se ela é a causa de algum efeito em outra variável (VD). Para se provocar essas variações, nós podemos utilizar um mesmo grupo de sujeitos e nele introduzirmos nossa VI. Em seguida, a retiramos para verificar se sua presença produz um efeito e sua ausência anula esse efeito na VD. Variar ou manipular variáveis significa dispor situações em que a VI está presente e situações em que ela está ausente. Em seguida, compará-las.
Uma outra maneira de provocar variações na VI é utilizando dois grupos de sujeitos. Em um grupo, nós provocamos a presença da VI e em outro grupo nós a deixamos ausente. Assim, podemos verificar se a sua presença em um grupo provoca um efeito e a sua ausência no outro grupo não produz o efeito.
Quando podemos provar que a presença de uma variável provoca um efeito e que sua ausência é acompanhada da ausência desse efeito, estamos então obtendo uma prova científica de que a VI é a causa do efeito que estamos estudando.
2. CONTROLAR VARIÁVEIS INTERFERENTES: Para provarmos cientificamente que a VI é a variável responsável pelo efeito que observamos na VD, precisamos nos certificar de que não há outras variáveis presentes que poderiam também ser a causa desse efeito. Ou seja, precisamos provar que é realmente a VI a causa mais provável do nosso fenômeno e não outra variável espúria.
Para isso, precisamos manter constantes outras variáveis que poderiam interferir com o fenômeno. Ou seja, precisamos controlar as demais variáveis ou isolar seus efeitos, no momento da introdução da VI pelo experimentador. A pesquisa experimental permite o controle prévio dessas variáveis pelo fato de que é o experimentador que introduz a VI.
Para controlar essas variáveis espúrias, pode-se proceder por meio da distribuição aleatória dos sujeitos aos grupos, o que serve para distribuir igualmente os erros provocados pelas variáveis dos sujeitos para um e outro grupo. Uma outra maneira de controlar as variáveis interferentes é igualar os dois grupos com relação às variáveis que acreditamos ser capazes de interferir nos resultados.
O método experimental possibilita maior controle de variáveis pelo fato de podermos fazer isso antes da introdução da VI.
3. MEDIR O EFEITO: Além de variar a causa (VI) e manter constantes ou controlar as variáveis interferentes, o método experimental inclui também medir objetivamente, de maneira fidedigna e válida, o efeito da VI sobre a VD. Ou seja, precisamos medir o fenômeno que estamos estudando com algum instrumento de medida válido e fidedigno para verificarmos se houve realmente o efeito estudado. Temos, portanto, que medir a VD.
II – PESQUISA CORRELACIONAL
Muitas vezes nós queremos verificar se há alguma relação entre duas variáveis, mas por alguma razão não podemos provocar variações na nossa VI para verificar seu efeito sobre a VD. Nesse caso, não podemos fazer pesquisa experimental.
Algumas vezes isso não é possível por motivos éticos. Por exemplo, se queremos saber qual é o efeito da queimadura grave (VI) sobre a autoimagem e a autoestima de crianças (VD), é óbvio que a VI não será provocada pelo experimentador. Este irá selecionar crianças que possuam queimaduras e vai medir sua VD, ou seja, o grau de autoestima.
Outras vezes, não se trata de motivos éticos. Às vezes, não se pode provocar variações na VI porque estamos estudando características genéticas ou de personalidade, as quais não se consegue variar. Isso ocorre, por exemplo, quando queremos verificar se há uma relação entre os tipos de personalidade e doenças cardiovasculares. Algumas pesquisas investigaram, por exemplo, se pessoas com personalidade do tipo A
apresentavam mais frequentemente problemas cardiovasculares. Nesses casos, precisamos fazer pesquisa do tipo correlacional. Segundo Selltiz et al. (1987), esse tipo de pesquisa inclui: 1) estudos em que se faz a comparação de dois ou mais grupos naturais, sem manipulação de variáveis, ou 2) estudos que envolvem a correlação entre duas variáveis contínuas de um único grupo de sujeitos. Esse tipo de pesquisa se caracteriza pelo seguinte procedimento:
Não há variação deliberada ou manipulação da VI. O experimentador aproveita as variações naturais da VI.
Como não é o experimentador que introduz a VI, ele não pode efetuar o controle prévio das variáveis interferentes. Ou seja, a VI ocorreu naturalmente sem controle de variáveis. O máximo que o experimentador pode fazer é selecionar sujeitos para compor os grupos de sua pesquisa, de modo que eles se igualem com relação a algumas variáveis. Por exemplo, ele poderá selecionar um grupo de crianças com queimaduras e um grupo de crianças sem queimaduras, ambos de idade, escolaridade, classe social etc. semelhantes. Esse procedimento é uma forma de igualar os grupos a posteriori, ou seja, depois que a causa já ocorreu, e não antes, como ocorre na pesquisa experimental.
O pesquisador apenas mede as variações que ele considera como possíveis efeitos da ocorrência natural da VI. Por exemplo, ele pode medir o grau de autoestima dos dois grupos de crianças, com ou sem queimaduras, e verificar se há diferença entre eles quanto à autoestima, se o grupo com queimaduras apresenta um grau significativamente menor de autoestima do que o outro grupo. O pesquisador pode, ainda, verificar a correlação entre duas variáveis contínuas em um mesmo grupo de sujeitos. Nesse caso, ele deve apenas medir as duas variáveis que ele supõe serem correlacionadas, tal como a quantidade de exercícios físicos realizados por um grupo de pessoas e a sua pressão sanguínea e seu ritmo cardíaco, para verificar a correlação entre essas duas variáveis.
Uma desvantagem da pesquisa correlacional é que, algumas vezes, quando observamos uma correlação entre duas variáveis, não podemos determinar a direção dessa causalidade. Será que VI provocou VD, ou é o contrário, VD é que é a causa da VI? Como não foi o pesquisador que introduziu ou variou a VI, não há condições de saber se ela é a causa da VD ou se é o efeito de VD. Campbell e Stanley (1978) apresentaram um exemplo esclarecedor sobre esse problema. Segundo esses autores, se queremos saber se há uma relação entre a qualidade da escola e o desempenho escolar dos alunos, podemos medir a qualidade de várias escolas e o desempenho médio dos alunos de cada uma. Em seguida, podemos verificar se há uma correlação positiva entre essas duas variáveis. Se observarmos uma correlação,