Meu Caso Com O Coronavirus
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Meu Caso Com O Coronavirus - Jonas Viana De Oliveira
MEU CASO COM O CORONAVIRUS
Jonas Viana de Oliveira
Este livro eu dedico à minha companheira de todas as horas, Cleide, que me proporciona muitas alegrias e conquistas na vida.
SUMÁRIO
Solteiro novamente
Navegar é preciso
Faltou carteira de vacinação
Pornografia na recepção
Morri três vezes e continuei vivo
Bandeira LGBT
Poliglota em Londres
Carga ilícita em Milão
Farofada na terra de Julieta
Perdidos em Roma
Roubando trem em Berlim
Cordilheiras dos Andes: pneu estourado
Dois dólares por uma banana em Las Vegas
Finalmente conheceríamos Fátima
A endemia se inicia. A gente se prepara
Lisboa exuberante e proibida
Voltando e sofrendo um golpe
Uma embaixada nos abraçando
Tentando ser turista em Rabat
Marrakech logo ali
Qual a origem desse voo?
Ansiedade à flor da pele
São Paulo, São Paulo
Finalmente, ficar sem fazer nada em casa
A grande perda
RODAPÉ
Que souvenir trazer das viagens
Passagem mais barata ou passagem reembolsável
Alugar carro num país e devolver no outro. É vantagem?
Viajar de classe executiva. Bom demais!!!
O empresário pernambucano
A tragédia pode ser maior!
Um dia volto ao Marrocos
Agradecer é preciso
Solteiro Novamente
Solteiro novamente! Sempre sonhei com isso. Aliás, todos sonhamos com isso desde quando nos casamos. Significa que quando se atinge novamente esse status você passou por todas as incumbências que lhe foram atribuídas quando você se casou. Praticamente não existe mais nada a ser construído em sua vida. Daí para frente é apenas manutenção daquilo que foi feito até então.
Cada um aproveita a solteirice recém adquirida da maneira que idealizou a vida toda. Uns querem pescar, outros querem ler, tem os que preferem ir atrás de luxuria, também tem aqueles que arrumam outros trabalhos para fazer e um grupo importante decide viajar, dentre tantas opções que se apresentam. Para cada uma dessas escolhas o solteiro tem que determinar as companhias que irão lhe seguir. Quem é de mal com a vida, normalmente escolhe aquelas opções onde são obrigados a abandonar a pessoa que o acompanhou até o momento e o ajudou a ser o que é, a construir tudo o que tem e a conquistar todos os degraus galgados até então. Já o de bem com a vida, decide que vai viver a solteirice adquirida, junto com a pessoa que o ajudou a atravessar todo o percurso até atingir de novo esse status, que o fará, como sempre fez, viver a etapa mais interessante da sua vida. Eu decidi, desde sempre, viver esta nova solteirice, com a pessoa que sempre esteve ao meu lado, nos momentos bons e nos momentos ruins da minha vida e aproveitar com ela a delícia de poder chegar nesta idade e sentir as bençãos de Deus, por ter lutado tantas lutas, vencendo umas e perdendo outras, mas sempre tirando a essência de cada uma.
Para realizar isso, então, achei que viajar é o melhor que se pode fazer. Seja, com outras pessoas ou sozinhos, mas sempre estaremos juntos nas viagens por esse mundo afora que, procuramos fazer dentro das nossas possibilidades econômicas.
Fiquei solteiro novamente quando meu filho mais novo se casou e abandonou um casal de velhos à sua própria sorte neste mundão de meu Deus e, como não sabíamos o que nos esperava nesse novo cenário, tivemos que inventar nosso próprio modo de viver, caminhar com nossas próprias pernas e tentar novos e desconhecidos caminhos. Foi aí que as viagens surgiram como a mais interessante das opções para que pudéssemos caminhar por aí tendo alguns objetivos e conhecendo possibilidades incríveis.
Lógico que a gente não vive só viajando, isso seria impossível por diversos motivos. Além, é claro, da questão econômica, pois viajar não é barato, tem as questões relacionadas com as outras atividades que não podemos abandonar. Afinal de contas, apesar de solteiros ainda somos pais e, essa fase da vida traz também consigo a beleza de sermos avós. Junte-se a isso, o fato de termos os amigos que devemos cultivá-los também, pois será com eles que vamos nos encontrar para contar os nossos causos
, inclusive das viagens que fazemos.
Nas questões financeiras, está mais ou menos tacitamente combinado entre mim e minha esposa que estaremos sempre pagando despesa com viagem, a passada ou a próxima. Assim, sempre teremos um motivo para dirigir qualquer recurso que a gente puder obter. A lógica é do tipo assim: temos um apartamento para morar, um carro para nos levar onde quisermos ir, um plano de saúde para curar nossas doenças, um seguro de vida para pagar as dívidas que ficarem quando a gente se for e um salário para sobreviver. O resto é resto. A partir deste raciocínio, tudo o que a gente ganha é para investir em viagens.
Por outro lado, com relação às outras questões, a gente procura calibrar nossas viagens de forma que não atrapalhe nossa convivência com os amigos, com os netos e com as atividades na nossa comunidade paroquial, o que é muito importante. Por isso, sempre que vamos planejar uma viagem, primeiro vemos todos os compromissos que temos com os aniversários de filhos, noras, genro e netos, depois os compromissos com nossos grupos da paróquia, já que participamos da pastoral familiar e acompanhamos um grupo de jovens. Depois dessas datas mapeadas, planejamos nossas viagens e tocamos o barco.
A última viagem, fizemos quase que desafiando um inimigo invisível que estava fazendo vítimas no mundo todo: o novo coronavírus, que provoca a doença que recebeu o nome de COVID-19. Foram tantas situações que vivemos nesta última viagem que decidi colocar isso em forma de livro e vou aproveitar para narrar um pouco das viagens que fizemos pelo mundo afora. A ideia não é fazer um roteiro de viagem para ninguém, isso eu deixo para os especialistas, mas sim contar os casos inusitados acontecidos nessas aventuras, as saias justas que vivemos, os dilemas que tivemos que enfrentar em certos casos e, enfim, mostrar como um casal de velhos pode se mover muito bem por aí, deixando por aqui um bando de filhos em desespero.
Além de contar muitas das viagens que fiz, aproveitei para narrar a perda que tive recentemente e que, por causa da pandemia, atingiu proporções inesperadas.
Sinceramente, espero que todos gostem da leitura e que esses escritos sirvam para incentivar mais solteiros como eu e minha esposa a viver a vida com o objetivo de morrer vivos.
Navegar é preciso
Viajar acho que sempre esteve no plano de todo mundo desde os primórdios dos tempos. Não à toa que o homem começa a se desenvolver pra valer, depois que descobre outros lugares onde pode continuar existindo. Deve ser essa ânsia por viajar que fez o homem descobrir novos mundos, novos povos e novos horizontes. Ou seja, chegamos até aqui porque todo mundo gosta de viajar.
Minha percepção sobre isso é que as viagens me fazem muito bem. Diria até que sou uma pessoa diferente depois que decidi viver meio que para viajar pelo mundo, lembrando que o Brasil também é mundo. Há de se fazer esta ressalva porque, não muito raro, quando as pessoas me perguntam qual a próxima viagem que vou fazer e eu respondo que é para algum lugar do Brasil, as pessoas desdenham, chegando até a ficarem decepcionadas por eu não estar fazendo uma viagem para algum outro país.
Nosso país tem muitos lugares interessantes para serem visitados e, de vez em quando programo alguma viagem interna e sempre foram viagens que me trouxeram muita satisfação em fazê-las. Entretanto, talvez pela facilidade das comunicações, dos costumes e pelo fato de saber que são lugares que sempre estão à mão, essas viagens são sempre cobertas pela normalidade
, pois é muito difícil acontecer alguma coisa que possa deixar a gente em situação estranha. Ou seja, não são viagens que guardam muitas histórias para se contar. Mas, insisto, muitos lugares no Brasil são dignos de serem visitados. Alguns já os visitei e outros continuam no meu cardápio de lugares para conhecer antes de morrer.
É muito bom viajar e conhecer lugares impressionantes e tão desconhecido que, em alguns casos, nem o Google consegue saber que existe, como aconteceu em uma viagem que fizemos à Itália e fomos visitar alguém em Torino. Quando lançamos a localização no GPS, fomos levados para um lugar esmo tão insólito que, no Brasil, seria muito perigoso estar ali. Só percebemos que o GPS não sabia do local, quando já estávamos no lugar e que ali não tinha saída.
Faltou carteira de vacinação
Normalmente quando tiro minhas férias, eu e minha esposa vamos visitar nossos parentes que moram no Sul do país. Minha mãe morava em uma cidade e minha sogra mora em outra, além disso temos vários irmãos que moram em diversas cidades da região. Então, para visitar o maior número de parentes possível, aproveitamos as férias, que normalmente acontece no final do ano.
Meu processo de solteirice aconteceu em duas etapas: a primeira quando casou o filho mais velho e a segunda, quando casou o filho mais novo. Quando o filho mais velho se casou, tirei minhas férias no meio do ano para ser possível dar um apoio logístico para o casamento e poder acolher todos os amigos e parentes que vieram para o evento.
Terminado o casamento, tinha alguns dias de férias ainda e conversei com minha esposa para fazermos uma viagem que, pelo fato de termos encontrado com todos os parentes no casamento do filho, não precisava ser para o Sul, poderia ser para outro lugar qualquer. Acabei convencendo minha esposa de irmos visitar o Peru, que fica logo ali e tem lugares maravilhosos para serem visitados.
A minha ideia era chegar até Machu Picchu, lugar que sempre povoou meu pensamento, desde minha adolescência. Lógico que o Peru é um país com imensas possibilidades turísticas, mas para essa viagem, me contentei em chegar até a cidade perdida dos Incas. Deixaria para outra oportunidade, conhecer o restante do país.
É bom abrir uns parêntesis para falar um pouco de geografia. A cidade perdida dos Incas, na verdade uma cidadela construída por essa civilização, fica em uma cidade peruana chamada Machu Picchu Pueblo, também conhecida como Águas Calientes. Para acessar a cidade histórica, chamada simplesmente de Machu Picchu, você deve chegar no povoado de Águas Calientes e pegar um ônibus, ou fazer o percurso a pé, através de uma montanha íngreme que o veículo vai ziguezagueando por uma estrada muito estreita, até chegar à porta de entrada da cidade antiga dos Incas. Lógico que aqueles que escolhem fazer o percurso a pé, muitos loucos fazem isso, encurta a distância, mas aumenta as dificuldades para chegar no mesmo lugar.
Esse complexo turístico, Machu Picchu, Machu Picchu Pueblo (Águas Calientes), fica na região de Cusco. O Peru é dividido em vinte e cinco regiões, mais a capital, parecido com a divisão brasileira, onde existem vinte e seis Estados, mais o Distrito Federal. É meio confuso para os brasileiros, mas é mais ou menos assim: as regiões, que antes eram chamados de departamentos, são compostas de províncias e cada província é composta de várias cidades (povoados). Machu Picchu Pueblo fica na Região de Cusco, na província de Convenção. A cidade de Cusco fica na província de mesmo nome. Confundiu mais ainda, vamos fazer um paralelo com o Brasil. Vamos imaginar que a Grande São Paulo fosse uma Província e que o Estado de São Paulo fosse uma Região. Então, teríamos que a cidade de São Paulo, que é a capital, fica na província de São Paulo e na região de São Paulo. Supondo que se quer ir para uma localidade no interior de São Paulo, Marília, por exemplo, você estaria dentro da região de São Paulo, mas não estaria mais dentro da província de São Paulo. Voltando ao Peru, a Região de Cusco, tem uma província chamada Cusco, onde está uma cidade chamada Cusco, que é a capital da região. Machu Picchu Pueblo fica numa província chamada Convenção, que pertence à Região de Cusco. Foi o máximo que consegui para tentar fazer o leitor entender a divisão geopolítica do Peru.
Fechando os parêntesis, para chegar até a cidade perdida dos Incas (Machu Picchu), era necessário chegar até Machu Picchu Pueblo (Águas Calientes) e de onde moro até lá, tem que passar primeiro por Cusco.
Daqui até Cusco são quase mil e seiscentos quilômetros. Só para chegar à divisa Brasil-Peru é necessário percorrer mais de oitocentos quilômetros de uma estrada esburacada, como muitas que se tem por esse Brasil afora.
Mas, como nosso objetivo era conhecer o Machu Picchu, saímos de nossa cidade num possante Fiesta, ano/modelo 2005/2006, motor de mil cilindradas e setenta e três cavalos de força. Esse veículo deveria nos levar até Cusco. Detalhe: Machu Picchu fica no topo da cordilheira dos andes.
Nosso objetivo era exploratório e neste sentido fomos primeiro para a capital do Acre, Rio Branco, lugar que também não conhecíamos. Dali saímos em direção ao Peru, mas, como já era um horário um pouco avançado, em função de termos tido um problema em Brasiléia, isso nos obrigou a ficar mais uma noite no Brasil, para não correr o risco de chegar num país desconhecido à noite e, além da barreira da comunicação, era necessário considerar que não tínhamos reservado hotel em lugar nenhum.
A última cidade que ficamos no Brasil chama-se Assis Brasil, que à época,