Crônicas Espíritas
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Crônicas Espíritas - Lindberg Garcia
Crônicas Espíritas
Lindberg Garcia
Belo Horizonte 2021
Minas Gerais
Índice
Dedicatória e Agradecimentos – 7
Conhecendo o Autor – 8
Apresentação – 10
Uma Realidade – 14
O Advento de O Livro dos Espíritos – 15
A leitura de O Livro dos Espíritos – 21
O Auto de Fé de Barcelona – 25
Evolução – 30
As Leis Morais – 35
Fé e Oração – 39
A Tempestade da COVID 19 – 48
A Visita de Divaldo em Araxá – 53
O Espiritismo e os Cultos Afro-brasileiros – 57
Família, Escola de Almas – 64
O Fluir da Eternidade / Parte I – 70
O Fluir da Eternidade / Parte II – 76
O Outro Lado da Moeda – 82
O Perdão – 88
Pátria Amada – 94
Que Fazeis de Especial? - 99
Reforma Íntima – 105
Superstições e Crendices / Parte I – 109
Superstições e Crendices / Parte II – 115
O Centro Espírita Francisco Caixeta – 126
Vida Futura – 132
A Perfeição é Possível? – 139
Flagelos Sociais – O Tabagismo – 146
Flagelos Sociais – O Alcoolismo – 154
O Martírio dos Anjos – 164
Aborto – Um Crime Hediondo – 173
Uma Prece – 184
Palestras Realizadas pelo Autor – 187
Dedicatória
Dedico essa coletânea de crônicas às pessoas de mente aberta que gostariam de conhecer o enfoque da Doutrina Espírita, para os problemas humanos que desfiam a racionalidade do ser inteligente na sociedade em que vive.
Agradecimentos
Agradeço à minha esposa Maria José, minha querida Zezé, e os amados filhos, Rodolfo e Leandro, que me apoiaram e incentivaram a escrever sobre minha experiência como palestrante da Doutrina Espírita, nos vários Centros Espíritas de Belo Horizonte e cidades do interior.
Meus agradecimentos ao artista plástico Fernando Pereira, vencedor do 6º Salão de Humor na categoria Caricatura em 1988, que tão bem soube captar a imagem idealizada para ilustrar a capa do livro Crônicas Espíritas.
Agradeço a todas as casas espíritas que me confiaram nesses últimos trinta e cinco anos, a tarefa de expositor da Doutrina Espírita, sem o que não poderia recolher o manancial de conhecimento para apresentar, em forma de livro a presente coletânea de, Crônicas Espíritas.
Conhecendo O Autor
O autor, Lindberg R. Garcia, nasceu em uma fazenda denominada Santa Maria, no distrito do mesmo nome, no Município de Conquista, na Região do Triângulo Mineiro, no Estado de Minas Gerais. Recebeu na pia batismal o nome de Lindberg, assim mesmo, sem o h
do original. O sobrenome Garcia, veio-lhe do avô paterno, um imigrante espanhol. Viveu parte de sua infância no meio rural, onde permaneceu até próximo dos sete anos de idade, vindo sua família a radicar-se em Araxá, uma conhecida cidade balneária do Estado de Minas Gerais. Ali viveu toda a sua meninice e parte de sua juventude. Em 1972, graduou-se em Ciências Econômicas pelo Instituto Universitário Moura Lacerda, em Ribeirão Preto/SP. Em 1974, em virtude de ter sido nomeado funcionário público, na função de economista pelo, à época, Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais, veio a radicar-se na capital do Estado, onde reside até os dias de hoje. Iniciou-se nas letras com o livro, O Anjo Down, a história de seu filho caçula portador da síndrome da trissomia do cromossomo 21. A seguir vieram os livros, Memórias ao Vento, Causos Que a Vida Conta, Chauffeurs de Araxá – De Volta ao Passado, Memórias de um Radialista, editados pelo Clube de Autores, e o romance O Migrante, este editado pela Amazon.
O autor, veio de uma família que professava a religião Espírita. Seu primeiro contato com a referida religião, deu-se em sua adolescência, quando o pai levou-o e ao irmão, à assistirem uma palestra do tribuno Divaldo Franco, realizada em Araxá. Posteriormente, quando estudante do Colégio Jesus Cristo, naquela cidade, foi convidado por um colega e amigo, Miltinho Nolli, a participar da campanha do quilo e do encontro de jovens do Centro Espírita Caminheiros do Bem. Sua iniciação como expositor da Doutrina Espírita, transcorreu no ano de 1982, quando participou do Curso de Expositores Espíritas, promovido pelo Centro Oriente, do Grupo Scheila, ministrado e coordenado por Gil Restani e sua esposa Eunice. Gil Restani, foi seu grande incentivador como palestrante espírita. O autor realizou sua primeira palesta no ano de 1984, na Fraternidade Espírita Irmão Glacus, da Rua Henrique Gorceix, no Bairro Padre Eustáquio, em Belo Horizonte, tendo por tema, O Perdão. O convite para a palestra fora-lhe feito por um colega que participou com ele do referido curso, Luiz Eduardo, tarefeiro na referida Fraternidade.
A partir daquele distante ano, assumiu a tarefa de expositor e palestrante nos vários Centros Espíritas de Belo Horizonte e cidades do interior do Estado. As exposições realizadas no ano de 1984, até 1993, não arroladas devido ao extravio dos respectivos registros. A partir do ano de 1994, até 2019, realizou 925 palestras, cujos títulos e locais constam do presente livro. No ano de 2020, afastou-se da tarefa de expositor, passando a elaborar estudos doutrinários em forma de crônicas, algumas delas publicadas pelo jornal, Folha Espírita Francisco Caixeta, da cidade Araxá – MG. Crônicas Espíritas, traz ao leitor temas do cotidiano do ser encarnado, analisados sob a ótica da Doutrina Espírita. Boa Leitura.
Apresentação
Crônicas Espíritas, nasceu das reflexões de minha experiência nos últimos 35 anos como expositor da Doutrina Espírita. Os temas aqui abordados, foram analisados sob a ótica desta doutrina consoladora. O presente livro não tem a pretensão de arrebanhar adeptos ao espiritismo, pois procura tão somente despertar o leitor para as realidades da vida face aos problemas existenciais do ser encarnado, seja ele homem ou mulher. Crônicas Espíritas é um livro dedicado a espíritas e não espíritas, sobretudo aqueles de mente aberta, sem ideias preconcebidas, talvez oriundas do dogmatismo religioso. Que cada um, à luz da razão, tire as suas conclusões sobre os problemas que afligem a sociedade dos nossos tempos.
É muito natural, que o espírito encarnado ao sentir o pulsar da vida, se aflija ao perceber o contraste existente na sociedade em que vive. Dentre tantas inquietações se pergunta, de onde vim, onde estou e para onde vou. Sua ansiedade se acentua com o que se passa à sua volta. Não consegue assimilar a diversidade do stratus social, onde a miserabilidade de muitos convive ao lado da opulência de poucos. Sua angústia se acentua quando compreende não ser mero espectador do teatro da vida e se descobre participante de um drama existencial que o deprime e o atormenta. E ele sofre, procura pela razão de haver tanta dor ao seu derredor. Se inquieta ao se deparar com as dissintonias, saúde e doença, riqueza e pobreza, não compreende a razão de ser das morbidades congênitas, as deformidades físicas, o fausto das mansões ao lado das moradias miseráveis, das cafuas, das palafitas, e não menos comum, pessoas que a miserabilidade lhes roubou a própria identidade, vivendo embaixo de viadutos, marquises de prédios urbanos e até de pontes. Estarrecido, desconhece a razão de tantas diferenças no curto espaço da existência terrena, um átimo de tempo na eternidade. Esse estado de coisas se lhe parece absurdo e muita vez o leva a blasfemar contra a justiça Divina ao se perguntar;
– Por que meu Deus?
E o ser inteligente da criação se atemoriza pelo destino inexorável da morte, seria o nada, o vazio, a escuridão eterna? Então, procura a felicidade à qualquer custo, o gozo dos bens materiais, a corrida atrás de riquezas, a procura de projeção social, tenta saciar-se no luxo e nos prazeres sensuais, assim creem os niilistas, aproveitem o máximo, pois a vida é curta
, repetem convictos. Há ainda os panteístas, aqueles que acreditam que o espírito ao encarnar é extraído do todo universal, individualizando-se como homem ou mulher durante sua experiência de vida na Terra, e por ocasião da morte, volta ao todo Universal.
Ora, a razão nos leva à não aceitar, quer a tese materialista, como a panteísta, por não responderem aos princípios ético-morais da vida. A primeira, pelo que o nada não existe, a segunda, que após a morte, ao retornar à massa comum, ao todo universal, perde a sua individualidade, e por consequência, o aniquilamento do seu eu psíquico, ou seja, é como se nunca tivesse existido.
Há também o dogmatismo religioso, que prega ser a alma independente do corpo material, criada por ocasião do seu nascimento, sobrevivendo após a morte e, diferentemente das teses materialistas e panteístas, conserva sua individualidade após a passagem pelo túmulo, sofrendo ela as consequências dos seus atos, bons ou maus, quando de sua vida na matéria. Se pecador e injusto, estaria condenado eternamente às agruras do fogo do inferno. Contrariamente, se sua existência terrena for a dos justos, irá para o paraíso gozar a presença de Deus. Contudo, esta é uma crença que deixa ao limbo – tomo emprestado o vocábulo dogmático – uma série de anomalias que vê ao seu redor e muita vez, sendo ela atingida por morbidades congênitas, por deficiências físicas, pelas síndromes de várias espécies, a anencefalia, os natimortos. Se a alma criada imortal, como no dogmatismo religioso, por ocasião do seu nascimento, após a morte do corpo, que ela ocupou em vida, qual o destino das que não tiveram a oportunidade de praticar o bem e nem fizeram o mal? Para onde iriam elas? Para o céu, se nada fizeram para merecê-lo, mas também não se lhes cabe o castigo do inferno, pois que não praticaram nenhum mal. São respostas que o dogmatismo religioso não consegue alcançar perante a realidade dos fatos, na breve experiência de vida do ser na Terra.
Recorramos agora à Doutrina Espírita e o véu entre os dois mundos se levantará. Não mais o maravilhoso e o fantástico, eis que as sombras da ignorância são iluminadas pela luz da candeia, finalmente colocada sobre o alqueire. A Terra recebe em 18 de abril de 1857, a edição de O Livro dos Espíritos, o Consolador prometido por Jesus. Sua leitura, não só, nos conclama à redenção moral, como também esclarece as tribulações e vicissitudes do espírito em sua caminhada evolutiva. Ajuda-nos a desenvolver uma fé raciocinada, fundamentada na razão, submetida ao crivo da inteligência. Esclarece que somos filhos de um único Pai, a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, que o espírito é independente da matéria, criado simples e ignorante e sujeito a lei do progresso. Aqueles que praticam as leis divinas, evolvem mais celeremente, outros que delas se afastam, ou as descuram, têm a oportunidade de resgatarem seus erros em um novo corpo na matéria pela ação da lei natural da vida, a reencarnação. Que o progresso é indefinido e depende exclusivamente da ação do espírito em suas vidas sucessivas, não só no seu aperfeiçoamento, mas também o do semelhante, enquanto está a caminho com ele. Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial
, conclama Jesus em Mateus, Cap. V, v. 48. Não que se pretenda que o espírito atinja a perfeição divina, mas que tenha a perfeição como método de aperfeiçoamento. Não é sem razão, que Kardec, ao inquirir os Espíritos instrutores, "Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?", recebe como resposta uma palavra com apenas cinco letras, mas profunda em sua significação e ensinamento: Jesus
.
A perfeição predita pelo Cristo de Deus, conforme vamos encontrar Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (Capítulo XVII, item 2), deve ser, contudo, entendida no sentido da perfeição relativa, a de que a humanidade é suscetível e que mais se aproxima da Divindade. Na parte final da resposta à Questão 540, em O Livro dos Espíritos, está explícita essa realidade, destino cósmico de todos nós espíritos imortais, ei-la: "É assim que tudo serve, que tudo se encandeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo (grifo nosso). Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode apreender em seu conjunto".
Os estudos que compõem O Livro dos Espíritos, apresentado sob a forma de crônicas, procura abordar problemas do ser, do destino e da dor, sob a ótica espírita, "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir incessantemente, tal é a lei", conforme consta do aforismo insculpido no dolmem de Allan Kardec no histórico Cemitério de Père-Lachaise, em Paris. A reencarnação, é uma lei natural, em que a mente psíquica do eu eviterno, renasce em um novo corpo, onde a justiça divina lhe oferece nova oportunidade de redenção e aprendizado, segundo o piso moral em que se situe. Esta é a lei da vida, a lei natural, a lei divina palingenésica a que todos estamos inexoravelmente submetidos, creiamos ou não creiamos nela. Graças a Deus.
Uma Realidade
O espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo. Ele nos mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É essa relação que o Cristo alude em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que ele disse permaneceu ininteligível ou falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil. (…), porque é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma multidão imensurável de intermediários. É, de certa maneira, um ser coletivo, formado pelo conjunto dos seres do mundo espiritual, cada um dos quais traz o tributo de suas luzes aos homens, para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte que espera. (…) Ele é, pois, a obra do Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra
.
(O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. I – itens 5, 6 e 7)
O Advento de O Livro dos Espíritos
Que é O Livro dos Espíritos? Por que lê-lo? Qual a perenidade de seus ensinamentos? Qual a sua missão? Que outros livros seguiram-se ao O Livro dos Espíritos? É preciso conhecê-lo para ser profitente da Doutrina Espírita? Assim, busquemos esclarecer às inquirições que nos fazem a respeito desse livro magistral, conhecendo um pouco de sua história.
Que é O Livro dos Espíritos? O Livro dos Espíritos, é fruto da Terceira Revelação à Humanidade. Esse livro, procedeu do Mundo Espiritual ditado pelos Espíritos Instrutores, ao Codificador Allan Kardec, através das médiuns, Caroline e Julie Boudin, com 16 e 14 anos, respectivamente, e mais tarde, juntaram-se às referidas médiuns, Celine Japhet, com 18 anos, e Ermance Dufaux, com 14 anos. A 1ª Edição de O Livro dos Espíritos, veio a público em 18 de abril de 1857, lançado no Palais Royal, em Paris. Vamos encontrar, originalmente, na primeira edição de O Livro dos Espíritos, 501 questões. O Codificador apõe, não o seu nome, Hippolite Léon Denizard Rivail, um grande educador e cientista de sua época, discípulo de Johann Heinrich Pestalosi, pedagogo e educador suíço, mas o de Allan Kardec, nome de origem druida que teria tido em uma encarnação anterior, considerando que o livro fora ditado pelos Espíritos Instrutores.
Posteriormente, informa o grande pesquisador espírita, Silvino Canuto de Abreu, que a 2ª Edição Francesa de O Livro dos Espíritos, foi lançada em 1860. Para a sua revisão, Allan Kardec manteve contato com grupos espíritas de cerca de 15 países da Europa e das Américas. Nesta edição é que apareceram 1018 perguntas e respostas, sendo que edições atuais trazem 1019, acréscimo que a Federação Espírita Brasileira, atribui ao Codificador por não ter numerado a pegunta 1011. Assim na prática o livro teria 1019 e não 1018
.
Portanto, o cuidado tomado por Kardec ao consultar grupos espíritas em mais de 15 países na revisão de 1860, bem demonstra a universalidade e a coerência do ensino provindo do Mundo Espiritual. É o que pondera Kardec com relação à verdade inconteste desta doutrina redentora; Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares
.
Por que lê-lo? O Livro dos Espíritos, vem esclarecer ao ser encarnado, respostas às perturbadoras inquietações existenciais, de onde viemos, onde estamos e para onde vamos. O Livro dos Espíritos, qual farol em noite de bruma, vem orientar ao viajor da vida, a evitar quedas nas escuras escarpas dos despenhadeiros do mal. Os problemas do ser, do destino e da dor, passam a ser melhor entendidos e aceitos, mais como responsabilidade individual perante as leis Divinas, do que pela tragédia e a fatalidade orquestrada pelo imponderável. O Livro dos Espíritos, é pois, um manancial de conhecimentos que interessa a todos, é o cristianismo redivivo na sua mais pura expressão, a expressão do amor do Cristo de Deus. É o Consolador Prometido por Jesus, como predito no Evangelho de João, Cap. 16, v.v., 12, e 13, "Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas quando vier aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque