Por que a alegria? - Premium
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Nestas páginas animadoras, o autor mostra que a alegria é muito mais que um direito: é um dever, que tem suas raízes no amor. Trata-se mesmo de um bem espiritual, um fruto que nasce na alma daquele que ama e que procura constantemente estampar um sorriso no próprio rosto, no rosto do próximo e no de Deus.
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Por que a alegria? - Premium - Pius-Aimone Reggio
Prólogo
O cristão precisa da alegria mais do que ninguém. A tristeza é nociva para todos, mas para ele é funesta. Este foi o motivo que me levou a escrever estas páginas.
A alegria de que aqui se trata não é uma alegria qualquer. Não é aquela que facilmente se confunde com o prazer. Embora seja correto afirmar que, no homem, o prazer se faz acompanhar de uma certa alegria, a alegria bem entendida é de natureza espiritual, ao passo que o prazer é de natureza sensorial: a alegria procede de um juízo da razão, ao passo que o prazer decorre de uma sensação. Há até alegrias que não são sensíveis, e que, portanto, não são acompanhadas de prazer e vibram apenas no mais íntimo do espírito: alegrias do pensamento e da contemplação, da entrega própria aos outros e do sacrifício. A alegria de que falaremos aqui faz parte destas últimas.
É uma das mais espirituais dentre as alegrias espirituais, uma alegria profunda, mais profunda que a dor profunda, e que só se encontra na profundidade. É capaz de subsistir no meio de todo o gênero de provas e mesmo de amarguras. É uma alegria da eternidade que anseia pela eternidade; que dá testemunho da grandeza do homem e da liberdade inerente à sua natureza, pois se mostra capaz de elevar-se acima do momento presente, por mais difícil que este possa ser. É aquela alegria que os Apóstolos experimentavam de cada vez que tinham de sofrer alguma coisa em nome de Jesus¹, e que dá asas ao cristão, esse ser inevitavelmente provado. Em resumo, trata-se da alegria que é própria da natureza da Encarnação, da alegria que nasceu com Cristo e que, como o amor, é mais forte que a morte.
Por que a alegria?
Temos de convencer-nos de que a alegria é sobretudo uma das nossas maiores obrigações.
Em primeiro lugar, é uma obrigação para com Deus, pois Ele nos criou para a alegria, fez de nós criaturas alegres e a nossa alegria é o primeiro tributo que lhe devemos prestar, a maneira mais simples e sincera de lhe demonstrarmos que temos consciência dos dons da natureza e da graça e que estamos agradecidos por eles. Quando alguém nos oferece um presente, a retribuição que espera de nós consiste menos no nosso agradecimento do que na nossa alegria, e é esta que o faz sentir-se realmente recompensado. Passa-se exatamente o mesmo nas nossas relações com Deus, e por isso devemos alegrar-nos com tudo o que Ele nos dá.
Além disso, a alegria é uma obrigação para com Deus porque constitui a melhor prova da Sua «verdade». A nossa alegria, com efeito, dá testemunho, por si mesma, de que o nosso Deus é o Deus vivo e verdadeiro. Os homens precisam de provas para crer, e não há melhor prova que a alegria do cristão. É tanto ou mais convincente que o amor. O amor pode enganar, mas a alegria – e refiro-me, naturalmente, à alegria profunda e inabalável – não engana. Só o que é verdadeiro e autêntico tem o poder de proporcionar semelhante alegria, e aquilo que proporciona alegria traz consigo a segura garantia da sua verdade. O Deus do Evangelho proporciona alegria? Esta é a questão. «Os salvos teriam de parecer mais salvos para fazer-me acreditar no seu Salvador», dizia Nietzsche. Através da alegria – e somente através dela – parecemos salvos, de modo que a alegria é uma obrigação para com Deus.
Também é uma obrigação para com o próximo. Todos os nossos deveres para com o próximo podem ser resumidos nesta frase simples: proporcionar alegria. São Paulo dizia: Levai uns as cargas dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo (Gl 6, 2). O que significa levar a carga de outro? Significa tentar fazer-lhe a vida mais leve, isto é, proporcionar-lhe alegria, pois esta traz precisamente uma sensação de alívio. A alegria dá-nos vontade de dançar, mas não se pode dançar com um fardo às costas. Facilitemos, pois, a alegria aos outros.
E não descuidemos as pequenas alegrias, aquelas que, apesar de serem as mais simples e de parecerem insignificantes,