Entre a tela e o asfalto: experiências com aplicativos de ônibus em São Paulo

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

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© 2022 Bruno Grandchamp Rodilha. Foi feito o depósito legal.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri / PUC-SP

Rodilha, Bruno Grandchamp Entre a tela e o asfalto : experiências com aplicativos de ônibus em São Paulo / Bruno Grandchamp Rodilha. - São Paulo : EDUC, 2022.

    Bibliografia

    Originalmente Dissertação de Mestrado, 2020 - PUC-SP Programa de Estudos Pós-Graduados em Teccnologias da Inteligência e Design Digital, sob o título : Experiências da mobilidade : o uso de aplicativos de ônibus na cidade de São Paulo.

    1. Recurso on-line: ePub

    ISBN 978-65-87387-94-9

Disponível para ler em: todas as mídias eletrônicas.

Acesso restrito: http://pucsp.br/educ

Disponível no formato impresso: Rodilha, Bruno Grandchamp Entre a tela e o asfalto : experiências com aplicativos de ônibus em São Paulo / Bruno Grandchamp Rodilha. - São Paulo : EDUC, 2022. ISBN 978-65-87387-82-6.

1. Cidades e vilas - Influência das inovações tecnlógicas. 2. Transporte urbano - São Paulo (SP). 3. Ônibus - Linhas - São Paulo (SP). 4. Aplicativos móveis. I. Título

CDD 388.4

307.7

521.6

Bibliotecária: Carmen Prates Valls – CRB 8a./556

EDUC – Editora da PUC-SP

Direção

Thiago Pacheco Ferreira

Produção Editorial

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Revisão

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Editoração Eletrônica

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Capa e Imagem de capa

Bruno Grandchamp Rodilha

Administração e Vendas

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Em memória de Ramon Rodilha,

que dirigiu por essas ruas por mais de 60 anos.

Um olhar fenomenológico sobre os aplicativos de mobilidade

por Marcus Bastos

O livro Entre a tela e o asfalto: experiências com aplicativos de ônibus em São Paulo, de Bruno Grandchamp Rodilha, aborda um tema de grande importância para o entendimento do cenário atual das cidades. A experiência da mobilidade urbana é observada de um ponto de vista que vem ganhando espaço na bibliografia recente, o uso dos aplicativos que auxiliam os deslocamentos pela cidade. Rodilha propõe um recorte que traz duas novidades, ao enfocar os aplicativos que auxiliam os trajetos de ônibus e abordar o tema a partir da experiência do usuário. Dessa forma, contribui para enriquecer um debate que vem ganhando densidade entre os especialistas, na medida em que os processos de sobreposição entre estruturas físicas e virtuais se tornam cada vez mais complexos.

Entre a tela e o asfalto percorre as questões a que se propõe de forma ampla e diversificada, combinando num mesmo texto a precisão das análises numéricas e as leituras críticas dos objetos de estudo, com o tom mais abstrato da reflexão conceitual. Os dois modos de trabalhar se misturam de forma integrada, num texto bem escrito, capaz de envolver o leitor nos meandros dos temas que aborda com fluidez. Um aspecto da escrita a ser destacado é o modo como ela integra olhares de diversas áreas, da antropologia à crônica, propondo um percurso prazeroso pelos desafios que o deslocamento de ônibus por grandes cidades representa. Mas o aspecto formal não é a principal qualidade do livro, que propõe conceitos férteis para pensar a experiência com aplicativos para além dos limites mais formais da usabilidade.

O ponto de partida do texto é uma reflexão sobre a cidade, levando em conta como a migração dos homens do campo para o ambiente urbano vai reconfigurar seus hábitos. Ao tratar do tema, o texto destaca o papel da informação nas rotinas dos habitantes dos grandes centros, algo importante para demonstrar como, mesmo antes do surgimento dos computadores e redes, já havia uma presença intensa de dados, o que sempre foi uma característica constitutiva da urbe. O texto explica que essas informações estavam muitas vezes ligadas aos processos de orientação das pessoas pelas ruas e avenidas pelas quais circulavam, em processos que antecedem os aplicativos, e cuja grande diferença é seu caráter fixo na arquitetura.

Diante dessa diferença, o autor explica que mudanças entram em cena com os processos de digitalização da vida, que em seu entendimento proporciona experiências completamente diferentes das oferecidas pelos ambientes físicos. Levando em conta a natureza pós-massiva dos territórios informacionais que surgem no contemporâneo, o texto permite olhar para uma outra cidade, que ainda é uma cidade dos processos monetários, mas também é uma cidade dos fluxos em rede. Para Rodilha, o essencial, nesse processo, é a coexistência entre o físico e o virtual, que resulta na malha complexa que vai permitir os novos modos de orientação pelo espaço urbano.

O problema da informação também é tratado com ênfase, e a partir desse momento o texto começa a se aproximar de forma mais explícita dos problemas ligados ao deslocamento por ônibus pela cidade. A informação no espaço urbano assume uma multiplicidade de facetas, desde sua existência em estruturas arquitetônicas fixas, construídas e/ou implementadas como forma de apoio à orientação espacial, ao vagar pela configuração quadriculada das ruas e avenidas que se propagam dos centros às periferias. A essa altura, surgem os importantes conceitos de pre-trip, on-trip e end-trip, que decupam o percurso nos momentos anterior, em andamento e posterior, cada um com suas particularidades em termos dos tipos de informação que proporcionam e demandam e das decisões que o cidadão em deslocamento precisa tomar para concluir sua chegada ao destino.

O livro também aborda a mobilidade na cidade de São Paulo, partindo de um relato sobre a formação da cidade, e especialmente o surgimento do transporte público em suas ruas. O texto identifica o momento em que acontece a escolha, na maior parte da América Latina, pelo modal rodoviário, que vai ser definidor do modo como a circulação se organiza nessas cidades. A opção pelo modal rodoviário está diretamente relacionada à escolha do ônibus como o principal meio de transporte coletivo em São Paulo. É um resultado da expansão da indústria automobilística, associado a opções urbanísticas que vão definindo a face da cidade.

Um aspecto desse processo que é central ao tema do livro é abordado quando o texto trata das inconsistências nos projetos informacionais dos diferentes modais de transporte público em São Paulo, como consequência da não integração entre as diferentes redes que oferecem serviços de deslocamento pela cidade. O descaso com a dimensão informacional dos meios de transporte urbanos é um reflexo de uma política de pouca valorização do design e da arquitetura na esfera pública, assim como o pouco cuidado com as leis regulatórias. Curiosamente, o surgimento dos aplicativos, que geralmente são serviços privados, vai reconfigurar esse cenário de formas que seria difícil ter antecipado antes da implementação das tecnologias digitais na vida contemporânea. Todavia, por mais que os aplicativos representem uma melhora significativa no acesso à informação sobre transporte, eles não são uma política pública. O acesso aos aplicativos só é possível por meio de celulares com recursos sofisticados e acesso à Internet, portanto excluindo parte da população de seus benefícios.

Entre a tela e o asfalto também aprofunda temas ligados ao universo do design, em trecho do livro em que surgem os dois conceitos centrais da pesquisa, entre-tela e além-tela. Ao tratar dessas duas relações, a primeira na esfera da interface entre usuário e dispositivo, a segunda na interface entre usuário e contexto, o texto encontra uma forma mais complexa de lidar com a presença dos dispositivos móveis na esfera pública. Esse conjunto de relações está mais ligado ao entendimento da cidade como um ambiente por onde o corpo transita e vive experiências que não podem ser compreendidas sem um mergulho pelo entrelaçamento complexo entre os mundos interior e exterior do indivíduo. Ao invocar esses conceitos, Rodilha trata de relações, o que faz toda a diferença.

A essa altura, o texto torna explícita sua principal contribuição para o tema, que é o entendimento fenomenológico da presença do corpo munido de