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Reconstruindo São Paulo: Desenvolvimento Econômico, Transformações Urbanas, Novos Centros
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Ebook385 pages4 hours

Reconstruindo São Paulo: Desenvolvimento Econômico, Transformações Urbanas, Novos Centros

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Estuda-se, no trabalho abordado neste livro, o processo de transformação urbana que tem como causa as mudanças no perfil econômico das cidades, em especial as que recaem sobre as atividades de serviço e reestruturação nos meios de produção. Mais especificamente, analisa-se nesta obra a correlação intrínseca entre o desenvolvimento econômico e a transformação urbana, quanto aos fatores que levam a investimentos em infraestrutura voltados a dotar as cidades de condições específicas, para amparar e ampliar suas próprias bases econômicas e reverter o melhor uso-fruto da riqueza em melhoria da qualidade de vida para a população. Em São Paulo, mais especificamente, foram significativas as transformações com reflexo na produção da cidade ao longo da transição de sua economia, de agrícola cafeeira para industrial, de parque de empresas multinacionais até a cidade global, contextualizando-se, neste trabalho, os conceitos envolvidos no processo de construção e reconstrução da própria cidade, com ênfase na formação de novos centros de negócio, evidenciando-se, neste processo, a evolução de sua estrutura viária e mobilidade urbana.
LanguagePortuguês
Release dateNov 14, 2019
ISBN9788547338602
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    Reconstruindo São Paulo - Henrique Dinis

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    A todos aqueles cujas ideias, pensamentos, experiências, influenciaram-me e reorientam-me rumo ao conhecimento; especialmente à minha família, aos amigos, aos colegas de profissão, aos professores, aos alunos, cada um a seu modo a motivar-me nesta busca incessante e fascinante pelo mundo das realizações.

    PREFÁCIO

    Este livro constitui importante contribuição para a compreensão e debate do desenvolvimento recente da cidade de São Paulo, sob o ponto de vista das relações entre o crescimento econômico e o desenvolvimento urbano, que resultaram na formação e consolidação de novos centros de negócios.

    Este relevante trabalho é produto do aprofundamento e extensão da tese de doutorado orientada por mim e apresentada junto à pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, denominada Continuidade e Ruptura nos Padrões de Localização do Terciário Superior no Setor Sudoeste de São Paulo.

    A UPM teve papel fundamental e decisivo na formação do autor deste livro. Em primeiro lugar, Henrique Dinis nela graduou-se em Engenharia Civil em 1976. Mais tarde, já maduro, obteve o mestrado, ao fim do período de estudos de 1999 e 2002, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Nadia Somekh, com a dissertação O Sistema Viário de São Paulo, Evolução e Repercussões na Produção da Cidade.

    Outro evento que também se destaca em sua formação é a especialização em Construção de Pontes, realizada em 1979, na Japan International Cooperation Agency. Essa especialidade acompanhou Dinis ao longo de um primeiro estágio de sua vida profissional, que no todo envolve uma longa e profícua atividade de ensino e atuação técnica, vindo a se especializar posteriormente em sistemas viários e de transportes. Parte relevante dessa atuação, ele realizou na Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), numa séria carreira profissional de docência e pesquisa, que desenvolve até a atualidade, como professor adjunto. Também nessa instituição, coordenou o curso de pós-graduação lato sensu Gerenciamento de Empreendimentos na Construção Civil, entre 2005 a 2011, além do curso de graduação em Engenharia Civil, de 2011 a 2012. Na área técnica, sua atuação profissional envolve projetos de infraestrutura, transportes, obras viárias, desenvolvimento urbano e urbanização.

    Avaliando seu livro, posso afirmar que Dinis demonstra vivência, erudição, além da capacidade de escrever com precisão. A ele reputo a categoria de pesquisador dedicado e maduro, que alcança, com sucesso, cuidadoso documentário da dinâmica das questões econômicas e urbanas, no horizonte temporal estudado. Seu grande mérito é não se perder em minúcias ou detalhes desnecessários. Essa atitude é própria de quem domina a complexidade das questões envolvidas, resultando numa posição ao mesmo tempo panorâmica e potente dos fatos.

    Considero que a metodologia de análise empregada permite a devida exposição do conhecimento e a interpretação das intricadas e ricas relações sociais, econômicas e espaciais da problemática enfrentada. As bases teóricas utilizadas, apesar de heterodoxas, são consistentes e justificáveis. O resultado alcançado por esse hercúleo esforço do pesquisador solitário aponta conhecimentos sistemáticos de grande valia para estudos e avaliações da dinâmica urbana da cidade de São Paulo, como expresso de forma sintética e prosaica nos próximos parágrafos, destacando, em minha opinião, pontos altos e de maior interesse pessoal.

    Assim, o complexo percurso das centralidades, que ocorre hoje com grande dinamismo e velocidade, possui fundamentos numa cidade que durante seus três primeiros séculos pouco cresceu em termos territoriais e demográficos, mas que já possuía um papel estratégico único no Brasil ainda colônia. Nessa etapa, o primeiro centro era localizado na colina histórica, norteado pelo triângulo das ordens religiosas. Abrigava comércio e serviços essenciais para as entradas e bandeiras que adentravam no sertão bravio ou singravam os Rios Tiete e Paraíba.

    No final do século XIX, um rápido crescimento físico e demográfico acomete São Paulo, resultante da operação de uma nova economia de exportação – a cafeeira, que transforma radicalmente a sua estrutura urbana. O sistema ferroviário revoluciona, então, o transporte de mercadorias, aprofundando o papel protagonista do Centro tradicional. O Centro continua a ser remodelado adotando modelos e tecnologias que colocavam a cidade em sincronia com as mais modernas do mundo. Casas comerciais e financeiras pontuam as principais ruas e avenidas desse espaço promissor. A reestruturação urbana e do sistema viário acompanham na medida do possível o adensamento e o crescimento da cidade.

    O Plano de Avenidas do Eng. Prestes Maia, em 1930, volta-se à modernização da cidade e a prepara para o seu intenso crescimento ulterior, dando uma sobrevida de pelo menos mais duas décadas de hegemonia, evitando provavelmente uma possível fragmentação e dispersão urbana, de difícil avaliação, mas de evidente interesse hipotético destacado no livro.

    Na sequência, a afirmação crescente da função industrial, iniciada nos princípios do século XX, transformou a cidade de São Paulo, gradativamente, no maior centro fabril do país, trazendo novos desafios a serem resolvidos. Para tanto, destacam-se os estudos sistemáticos feitos sobre os projetos das represas Billings e Guarapiranga, além da ocupação e urbanização das margens dos Rios Tiete e Pinheiros, bem como os diversos estudos técnicos desenvolvidos, como o Relatório Moses e o Sagmacs.

    Continuando, no contexto do desenvolvimento do início da segunda década do século XX surgiu uma nova centralidade – a Avenida Paulista. Nela, rapidamente forma-se e consolida-se a espacialização do desenvolvimentismo, deslocando-se para lá as atividades centrais mais nobres. Também, naquela época, a dimensão metropolitana foi se afirmando e os documentos de planos de planejamento integrado de então dão cada vez maior relevância ao fato. Entre vários destaca: o Plano Urbanístico Básico (PUB), o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI), o Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado (PMDI), o do Metrô, os dos Anéis Rodoviário e Ferroviário e outros que norteiam o desenvolvimento urbanístico ulterior.

    Também possui interesse particular o estudo realizado dos programas de obras viárias desenvolvidos pela Prefeitura Municipal de São Paulo. Eles estabelecem a prática da engenharia municipal e a real expansão urbana da cidade. De sua atuação afirma-se mais um novo centro na década de 1970 – a Avenida Faria Lima, em pleno milagre brasileiro.

    Com a crise decorrente do choque do petróleo na década de 1980, apesar do arrefecimento da expansão do terciário, reafirma gradativamente vários novos centros de negócios como: Pinheiros, Itaim, Berrini, Chácara Santo Antonio e outros, que constituem a inovação no padrão locacional do terciário superior, cada vez mais descentralizado e independente. Por outro lado, a deterioração do Centro Histórico acelera essa nova dinâmica imobiliária de São Paulo como cidade global.

    Dr. Roberto Righi

    Professor titular da Universidade Presbiteriana Mackenzie

    APRESENTAÇÃO

    O crescimento econômico de um país induz ao desenvolvimento das cidades, por ampliar as atividades nelas exercidas. Sua influência sobre a dinâmica da renovação do espaço urbano, em grandes centros urbanos, ocorre como necessidade de reestruturar os meios de produção, visando maior produtividade e competitividade. Esse fenômeno, em todo o mundo, tornou-se mais intenso a partir da década de 1970, quando a economia mundial assume maior flexibilidade e dinamismo, características que se intensificaram com a globalização, a partir da década de 1980. Ocorreu, então, uma verdadeira revolução tecnológica, com reflexos na informática, nos meios de comunicação e nos transportes. Para dar solução à necessidade de reconversão industrial que se processava, houve o deslocamento de grandes indústrias para o interior, na maior parte ao longo de rodovias, mantendo-se, no entanto, os núcleos de decisão empresarial nos grandes centros urbanos, visando alojar essas empresas, ocorrendo então transformações que levaram ao surgimento de novos centros de negócio, processo este de que trata este trabalho.

    A questão da formação ou ampliação dos centros de negócio relaciona-se à estrutura urbana das cidades e com o desempenho da economia, segundo condicionantes bem identificáveis, como exemplo, mediante ações promovidas pelo poder público municipal orientando transformações urbanas; motivações econômicas; busca por melhores padrões edilícios ou localizações mais privilegiadas, de melhor qualidade ambiental, que tenham já sido submetidas a um processo de desenvolvimento urbano. Percebe-se, ao longo desta obra, que, na formação do espaço intraurbano, há sempre uma relação unívoca entre crescimento econômico e desenvolvimento urbano.

    Para as cidades brasileiras essa relação desempenho econômico e desenvolvimento urbano é determinante, tendo em vista que o ritmo de crescimento da economia no país é pouco homogêneo, intercalando-se entre períodos de grande desempenho e outros de crises ou estagnação. Assim, há pouco sucesso nas políticas de planejamento, no sentido de se alcançar desenvolvimento urbano de forma mais contínua e controlada.

    Verifica-se, ao longo da exposição, que o desenvolvimento urbano foi mais intenso em períodos específicos, quando se identificou grandes progressos urbanísticos e sociais, como decorrência de períodos de grande desempenho econômico. Verifica-se que a dinâmica da renovação de seu espaço urbano ocorreu por um processo que se iniciou com a ocupação do território, para fim residencial ou industrial, seguindo-se, em um segundo momento, pela renovação urbana nas regiões de maior valor, visando a verticalização para fins residenciais ou polarizações de negócio. Em um terceiro momento, áreas vagas ou em processo de deterioração foram reabilitadas para a instalação de centralidades de negócio e uso residencial. Também, se identifica cinco períodos em que o desenvolvimento urbano foi mais intenso, todos relacionados ao desempenho econômico. Em cada um desses períodos, houve a formação de importantes centralidades de negócios.

    Correlacionando esses períodos econômicos com o desenvolvimento urbano e surgimento de centralidades, pode-se citar, inicialmente, a era Vargas, entre 1930 a 1945, como decorrência do sucesso de sua política industrial, com a formação do Centro Novo, em torno da Praça da República; segue-se com o governo de Juscelino Kubitschek, que deu ênfase à indústria automobilística e metal-mecânica, cujo palco foi a região metropolitana de São Paulo, coincidindo com a instalação da centralidade da Paulista, a partir de 1960; a seguir, já em outro momento, com o sucesso das políticas econômicas do regime militar, com significativo aumento do PIB, já no início da década de 1970, instalou-se a centralidade da Faria Lima; a partir da década de 1980, o perfil econômico brasileiro passa por uma grande transformação, esgotando-se o modelo anterior, que vinha mergulhando o país em uma grande crise de improdutividade pela impossibilidade de renovação tecnológica, também marcado por altos índices inflacionários. Para se adaptar a essa nova realidade, as empresas tiveram que otimizar seus gastos e focar seus investimentos no setor produtivo. Surge, então, a centralidade Berrini, que atendia a esses objetivos, pelos baixos custos dos empreendimentos; por fim, em um último estágio, diante de um novo modelo econômico, o Plano Real, a partir da década de 1990, o país assume uma postura mais liberal na economia e inicia-se um processo de transformação que culminou com a inserção da cidade de São Paulo no rol das cidades globalizadas, com um grande incremento das atividades voltadas ao Setor Terciário Superior, desenvolvendo-se, então, acompanhando a Av. Nações Unidas, ao longo do Rio Pinheiros, o que se pode chamar de um novo Centro de São Paulo, interligando e expandido as centralidades que haviam já se consagrado anteriormente e atraindo para essa região da cidade outras atividades, como comércio, culturais e de lazer.

    Este trabalho apresenta, por meio da evidência de conceitos, econômicos e urbanísticos, as peculiaridades da evolução histórica que levou São Paulo, de uma economia cafeicultora, para uma cidade industrial, centro da maior metrópole da América do Sul e cidade global.

    Sumário

    INTRODUÇÃO 17

    A COLINA HISTÓRICA – O PRIMEIRO CENTRO DE

    NEGÓCIOS 35

    Conformação inicial da cidade 36

    Primeiro surto de urbanização 42

    A remodelação do Centro 62

    A CONSOLIDAÇÃO DO CENTRO 81

    O Plano de Avenidas 82

    A Consolidação do Centro Expandido 92

    DÉCADAS DE 30 E 40 E AS NOVAS FRONTEIRAS DA CIDADE 97

    Canalização do Rio Pinheiros e os Limites da Região Sul 99

    Canalização do Rio Tietê e os limites ao norte 106

    Formação da Malha Viária Urbana nas Margens do Rio Pinheiros 110

    DA ECONOMIA CAFEEIRA À METRÓPOLE INDUSTRIAL 115

    Transformações Econômicas e Sociais Após a Segunda Guerra Mundial 117

    Novas Fronteiras Territoriais e os Planos Viários da Década de 1950 121

    O plano de metas de JK e seus reflexos sobre a economia da Cidade 126

    UMA NOVA CENTRALIDADE – A AVENIDA PAULISTA 133

    Antecedentes – O surgimento da avenida Paulista 133

    Paulista – Uma Nova Centralidade de Negócios 138

    A CONSOLIDAÇÃO DA ESTRUTURA URBANA DA CIDADE 147

    Novos Rumos para o Desenvolvimento Urbano – Década de 1960 150

    A Estrutura Urbana que Prevaleceu na Cidade 157

    Uma nova centralidade – Av. Brigadeiro Faria Lima 166

    A CRISE DA DÉCADA DE 1980 E SUA REPERCUSSÃO NA

    PRODUÇÃO DA CIDADE 171

    A EXPANSÃO GEOGRÁFICA DA REGIÃO SUDOESTE 181

    Av. Eng. Luís Carlos Berrini – Mais uma Centralidade de Negócios 184

    Núcleo de Negócios Chácara Santo Antônio 187

    A PERDA DE PRESTÍGIO DO CENTRO HISTÓRICO 193

    SÃO PAULO CIDADE GLOBAL 199

    O modelo econômico que transformou São Paulo em uma cidade global 204

    A cidade global e a nova visão em planejamento urbano 209

    A CONSOLIDAÇÃO DAS CENTRALIDADES DE NEGÓCIOS

    NA AV. NAÇÕES UNIDAS 223

    Nova Faria Lima e Funchal – A Integração da Faria Lima com as Demais Centralidades 224

    Juscelino Kubitschek e a consolidação do bairro Itaim 228

    Berrini e Chucre Zaidan – A consagração da Av. Nações Unidas 231

    NOVOS CENTROS – PAULISTA E MARGINAL PINHEIROS 249

    CONSIDERAÇÕES FINAIS 259

    REFERÊNCIAS 267

    INTRODUÇÃO

    As cidades estão em constantes transformações, em decorrência de vários fatores, como fenômenos sociais, crescimento populacional, expansão de suas bases econômicas, ou processos urbanos que induzam a tais transformações, como meios de transporte, formação de novos valores imobiliários, defasagem do padrão de seus edifícios, deterioração da estrutura urbana, dentre outros fatores. Vários foram os autores que estudaram os processos de transformação urbana ao longo dos séculos XIX e XX, típicos de cidades que foram submetidas a um grande crescimento nos períodos correspondentes. A partir de determinados padrões de urbanização pré-estabelecidos, alguns desses autores identificaram fenômenos urbanísticos relacionados ao crescimento populacional e expansão de atividades produtivas e econômicas, com reflexos no contexto social e espacial, estabelecendo assim, tais padrões. Por exemplo, em 1842, o geógrafo alemão J. G. Kohl¹ formulou um modelo representando um esquema anelar de segregação em torno de um centro, no qual generalizava a maneira como os grupos sociais estavam dispostos nas cidades da Europa oriental, evidenciando a elite junto ao Centro, em razão das limitações de mobilidade então existentes. As classes menos favorecidas, localizavam-se na periferia. Já E. W. Burguess (1924), ao estudar as cidades norte-americanas da década de 1920, estabeleceu um modelo, no qual se generalizava um padrão de segregação residencial adverso, em que as classes populares residiam no Centro e as elites, na periferia da cidade, em áreas de maiores amenidades. Como consequência desse processo, identificou que as áreas residenciais localizadas no Centro tornavam-se desvalorizadas, resultando em um processo de deterioração urbana. De forma intermediária, na evolução da questão, em 1939, H. Hoyt (1939) apresentou também um modelo de ocupação, em que a segregação espacial assumia setores axiais, a partir do Centro. Em seu modelo, haveria um setor principal, ocupado pelas elites, com origem no Centro e irradiando-se para perímetros mais periféricos. Ladeando esse setor principal, estariam localizados setores ocupados pelas classes de média renda e, diametralmente oposto, encontrar-se-iam as classes de baixa renda. A cidade de São Paulo, a exemplo, se desenvolveu segundo um padrão de urbanização semelhante a esse, tendo como linha divisória entre as classes sociais, a ferrovia, então Santos-Jundiaí, que atravessa a cidade diametralmente, localizando-se à Oeste, o setor principal, com o Centro e bairros de elite, e a leste, além da ferrovia, as classes mais baixas, como pode ser observado na imagem esquemática da Figura 1. No Rio de Janeiro, por sua vez, o setor principal se desenvolveu ao longo da orla marítima, a partir do Centro e, na direção oposta, ao longo da Av. Brasil, principal via de acesso à cidade, se localizaram as classes populares.

    FIGURA 1 – ESQUEMA DO PADRÃO DE URBANIZAÇÃO ASSUMIDO NA CIDADE DE SÃO PAULO NO FINAL DO SÉCULO XIX, A PARTIR DE SEGREGAÇÃO ESPACIAL SEGUNDO SETORES AXIAIS

    FONTE: adaptado do Google Earth

    Nas cidades latino-americanas, de forma geral, podem ser observados os três padrões citados, podendo conviver entre si, na configuração do espaço urbano, de forma parcial ou isoladamente, em seus efeitos temporais sobre a cidade, caracterizando-se sempre um único Centro como a origem do padrão de urbanização. Neste trabalho, dá-se a interpretação de Centro, como sendo a área mais antiga da formação de uma cidade, que a ela convergem os principais fluxos e concentram-se as atividades administrativas, comerciais e empresariais, assim como, de área urbana central, os bairros de uso misto em torno de Centro, que concentram diversidade de serviços, comércio e oportunidades, que permitem sua identificação como tal (BRASIL, 2005).

    Segundo Yujnovsky (1971), a cidade latino-americana passou por três períodos. O primeiro, do século XVI, até por volta de 1850, período colonial, em que se assemelhou ao padrão estabelecido por J. G. Kohl, em que as elites residiam no centro, referência bem válida também para a cidade de São Paulo, até essa data. No período seguinte, até 1930, com o crescimento da economia e seus reflexos sociais e espaciais sobre a cidade, emerge uma classe média e firmam-se as classes dominantes. Estas, com as novas condições favoráveis de mobilidade surgidas, em função do bonde e automóvel, deslocam-se para novas áreas residenciais mais afastadas do Centro. Com o patrimônio edificado deixado para trás, as correntes migratórias tendem a convergir para o Centro, ocupando os velhos edifícios, que são transformados em cortiços. Verifica-se, no caso de São Paulo, que esse tipo de ocupação do Centro ocorreu, mas foi transitória, pelo fato das atividades econômicas terem ocupado em grande parte as áreas centrais, diante do grande crescimento econômico que a cidade vivenciou a partir do final do século XIX. Por fim, no período a seguir, inicia-se o processo de periferização, áreas ocupadas pelas classes de baixa renda, por meio de loteamentos populares e de autoconstrução, nas áreas de periferia, que apresentam indícios de degradação ambiental e, em sentido oposto, a implantação de loteamentos de alto padrão, também afastados do Centro, mas em regiões de maior valor ambiental e paisagístico, processo este também característico na cidade de São Paulo.

    São interessantes, também, para essa contextualização, as pesquisas efetuadas por Amato (1970), sobre o surgimento de bairros de alto poder aquisitivo afastados do Centro em cidades hispano-americanas, que tiveram grande crescimento a partir do século XX. Segundo o autor, ao analisar as cidades de Bogotá, Lima, Quito e Santiago, verificou que havia alguns quesitos que foram sempre atendidos na localização nesses bairros de alto padrão: acessibilidade – os locais apresentavam todos, boas condições de acesso com o antigo centro; boa vizinhança – os locais se mostraram distantes de bairros populares ou industriais e boa conformação topográfica – os locais se localizavam em regiões favoráveis à ocupação, com boas condições de salubridade e significativos valores paisagísticos, padrão este que se estabelece na formação de setores de alta renda, como os identificados por H. Hoyt. Soma-se aos quesitos citados por Amato, ainda mais um, não relacionado, certamente, por ter sido óbvio para a questão que formulava, qual seja, a disponibilidade de terras a baixo custo, sem a qual não se formariam novos bairros. Em São Paulo e Rio de Janeiro, em função do vertiginoso crescimento populacional vivenciado ao longo do século XX, verifica-se que esse padrão foi dominante nas primeiras décadas, revertendo-se então esse processo de ocupação, com o adensamento de bairros já consolidados, a partir de sua verticalização.

    Identificam-se, também, de forma característica, no processo de transformação das grandes cidades em todo o

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