Morrer Em Dia Útil Nunca É A Mesma Coisa
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Morrer Em Dia Útil Nunca É A Mesma Coisa - Rodrigo Darini Valente
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
MORRER EM DIA ÚTIL...
...NUNCA É A MESMA
COISA
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
SOBRE O AUTOR
Nascido em São Paulo em 1978, é Licenciado em Letras e Pós-
Graduado em Dialética da Língua Portuguesa. Seus trabalhos
são:
- O Papa Brasileiro: Num belo dia do ano de 2042, atendo ao
telefone e fico sabendo, assim, de supetão: eu havia sido
escolhido o novo Sumo Pontífice da Igreja Católica. O detalhe:
nunca fiz parte do clero; então, como foi possível que eu, um
mero funcionário público às vésperas da aposentadoria
tivesse sido eleito pelo conclave?
É isso que você descobrirá em O Papa Brasileiro
.
- O Evangelho de Khanagem: Após passar por uma situação
de quase morte, comecei a imaginar, tomando como base o
modo de pensar judaico-cristão, haver toda uma burocracia
celestial, em que um Arcanjo cuidaria do reenvio de almas
daqueles que já morreram. O problema, entretanto, é que a
raça humana não é bem a preferida de nosso protagonista,
que luta para sempre lhes dar um destino não tão nobre.
As histórias do Arcanjo Khanagem não são para todos.
Para aproveitar completamente esse universo, o leitor tem de
se despir do manto religioso que estipula castigos eternos a
críticas e zombarias; da visão de medo e vingança que as
religiões impõem; do preconceito contra quem ousa levantar
a voz contra elas. Sem isso em mente, os textos parecerão
apenas mais um escárnio blasfêmico e nada mais.
A maior parte deste trabalho é inédita. Nele, o Arcanjo
Khanagem trata da criação do universo, dos seres celestiais e
dos orgânicos - aqueles de quem ele adora judiar. Na segunda
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
parte do livro, há a coletânea das melhores histórias do site:
http://khanagem.blogspot.com.br.
- Liber Mortis: Trata-se de 22 contos (o último,
propositalmente, encontra-se em branco) que fazem refletir
sobre os aspectos da morte, e, consequentemente, sobre a
vida. Embora seja um tema mórbido e evitado por muitas
pessoas, vem balancear a atual onda do tudo azul
que
muitos livros retratam (autoajuda, manual do pai, manual da
mãe etc.). É uma obra, considero, para REFLEXÃO.
- Miscelâneas Linguísticas: Esta é uma obra para quem gosta
de estudar a Língua, seus aspectos, mudanças e fenômenos.
- A Vela Sacra: Luca, um garoto de nossa dimensão, é levado
por Gimmos, representante de um mundo mágico e perigoso,
para encontrar a Vela Sacra, um objeto divino que trará paz
àqueles reinos. A missão não é tão fácil, pois ainda têm de
enfrentar as artimanhas de Zhark, um poderoso demônio que
também almeja a posse de tal item. Entre lutas, dragões, elfos
e magias, o garoto consegue realizar sua tão importante
missão (entretanto, o verdadeiro final é inesperado e dá
margem à dupla interpretação).
- As Aventuras de Cantão e Carminha: Variadas histórias de
Cantão e Carminha - O casal sem noção. São 13 episódios em
que eles vivem confusões nos mais variados lugares: seja no
restaurante, na farmácia ou no velório, até chegarem ao
extremo de viajarem para o futuro (sem antes dar uma
passada pela Divina Comédia de Dante).
- A Escolha de Gisele: Daniel e Gisele. Um casal de jovens
namorados que tinha tudo para ser feliz. Mas o destino, como
um grande e intrometido vilão, não permitiu isso: Daniel
começou a se viciar em drogas, causando grande sofrimento a
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
seus pais e, principalmente, a sua namorada, pois esta deveria
escolher entre salvar a vida de seu amor ou arriscar-se num
outro relacionamento amoroso ainda mais incerto do que o
anterior.
- O Cavaleiro Razar e os Medalhões de Chamak: História de
um Cavaleiro que tem a missão de salvar o reino do terrível
demônio Kebin.
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
LICENÇA DA SANTA & GERAL INQUISIÇÃO
Vi por mandado da santa & geral inquisição estes
contos de Rodrigo Darini Valente, dos valerosos feitos que o
Autor narrou, e não achey nelles cousa algűa escandalosa nem
contrária â fe & bõs custumes. Toda via como isto he Poesia &
fingimento, & o Autor como poeta, não pretende mais que
ornar o estilo Poetico. E por isso me pareceo o liuro digno de
se imprimir, & o Autor mostra nelle muito engenho & muita
erudição nas sciencias humanas. Em fe do qual assiney aqui.
- Frei Bertholameu Ferreira
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
ÍNDICE
Prefácio
Morrer em dia útil nunca é a mesma coisa
Um Avião Caiu no Centro de São Paulo
Lágrimas além do universo
O Vendedor de Amendoins
Se Cobrir, Vira Circo
Brigado você!
A fuga
A roupa
O ônibus filosófico
Quarentão Apaixonado
A culpa é do professor!
Um pedido inesperado
A Fortuna de Bianco
O Grito Primordial
O Mago Ozzado
O Golpe do Século
Sempre uma nova manhã
No Meio de Nós
O Campeão
O cofre e o destino
Chapeuzinho Vermelho Desconstruída
A Sociedade Filocrática
A Greve
A Praça do Adeus
Você vai me perdoar?
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
Prefácio
Por que eu, um anônimo, insisto em escrever?
Assim como o fogo precisa de combustível para continuar
vivo, quente e sóbrio, aquele que escreve também carece de
alguns elementos motivacionais para manter suas mãos nos
teclados e a cabeça nas nuvens de outras dimensões.
Assim como um músico precisa da atenção da plateia, aquele
que escreve deve sempre ter a certeza de que suas palavras
encontrarão abrigo nas almas e corações de seus leitores.
Assim como um esportista precisa da vibração da torcida,
aquele que escreve precisa das visões adversativas de quem
não concorda com aquelas palavras.
Assim como um escultor precisa das feições de dúvidas
daqueles que tentam compreender suas obras, quem escreve
também espera os olhares curiosos que passeiam por suas
linhas e parágrafos.
Assim como um youtuber adolescente tem apoio de grandes
editoras para lançar sua biografia
, aquele que escreve (de
verdade) também precisa de muito apoio para não pular do
32º.
Mas, voltando à pergunta: por que eu, um anônimo, insisto em
escrever? Se minhas contas estiverem certas, este é o 11º
livro que escrevo.
Eu, que não tenho apoio de empresa nenhuma.
De editora nenhuma.
De conhecido nenhum.
Por que insisto?
Essa é uma ótima pergunta. Se souber, me avisa.
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
Ansiosos do mundo, uni-vos!
Não tem coisa pior para uma pessoa que sofre de ansiedade
do que escrever um romance. É sério! Você tem que encher
linguiça, inventar enredos lentos, encher os cenários e
personagens com detalhamento de características e ações. Ao
escrever uma sucessão de linhas como esta:
Suzana entrou no quarto às duas e meia da manhã, ainda
abalada por tudo aquilo que o diretor de finanças lhe contara.
Hoje o dia foi péssimo; tudo tão atribulado, que ela mal teve
tempo de tomar um cappuccino duplo, o que adorava fazer às
terças, quintas e sábados, sempre após o almoço. O contrato de
sua empresa com os novos clientes deu certo, o que significava
mais trabalho e mais noites em claro como essa. Sem o marido,
claro, que se aventurava em algum lugar remoto com a
desculpa de estar fazendo um retiro espiritual para
empresários. Deitou-se após o banho e passou hidratante em
todo o corpo, sem antes tomar uma xícara de chá bem quente.
Apagou as luzes e dormiu.
O escritor ansioso sofre mais do que a coitada da Suzana, que,
neste momento, deve estar levando altos chifres do marido. A
ansiedade faz com que ele tenha vontade de pegar esse tipo
de personagem pelo pescoço e dizer "vai, desgraça, só fala que
você tava com o saco cheio de tudo e vai dormir!"
Deveria ser lei: gente ansiosa só pode escrever contos. Tá, vou
ser bonzinho. Gente ansiosa também só poderia ler contos.
Não tem coisa melhor do que ser contista!
Se você escreveu 20 páginas: sem problemas, é um conto.
Se você escreveu 10 páginas: é só um conto. Bacana.
Se você escreveu só 5 linhas: que bom, um conto!
E ninguém te julga. São pequenas as chances de aparecer
aquele intelectual, sentado às dez e meia da manhã, em dia de
semana, num café gourmet de Pinheiros, dizendo: "Nossa, que
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
história sem profundidade! Adoro quando o autor expõe o
âmago da alma do eu-lírico-parnasiano-subjetivo-holístico do
personagem, mas aqui não tem nada disso!"
Afinal de contas, é só um conto.
E quem conta um conto... pode sofrer de ansiedade!
Boa leitura!
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
Morrer em dia útil nunca é a mesma coisa
" Saiba que te odeio. Queria ver você sofrendo muito, de tal
forma que a morte ser-lhe-ia um alívio! "
- O que acha, Paulo?
- Achei um pouco clichê. Isso de colocar a morte como um mal
menor para um sofrimento em primeiro plano... não sei se
ainda cola.
- Mas quem vai reparar nisso? Quem vai analisar por esse
ângulo?
- Você perguntou minha opinião, e...
- Sim, e o senhor anticlichê entrou em ação!
- Bom, então vamos embora e até amanhã pensamos nessa
frase finalizadora.
A estreia da peça Morrer em dia útil nunca é a mesma coisa
aconteceria dali a dois dias. Um monólogo, segundo seus
criadores, "sobre a existência e não existência do eu-mórbido
em relação ao tudo", seja lá o que isso quisesse dizer. O que
colocar na última fala é o que lhes trazia a maior dúvida do
roteiro:
- Se ele não quer clichê, que acabemos a peça na penúltima
frase, então! – pensou Leonardo. E tentava, na frente do
espelho:
- Saiba que te odeio! Saiba que te odeio! Saiba... que eu te
odeio!
Repetia à exaustão, imaginando como seria a reação do
público em cada entonação, em cada alteração na sua
respiração ou na nuance de cada palavra dada.
-
SAIBA
QUE...
EU
TE
ODEEEEIOOOOOOOO!!!
HAHAHAHAHAHAHA! – tentando colocar uma risada
maquiavélica ao final.
- Risada ao final? Será um clichê? Bem capaz de o Paulo me
encher o saco com isso. Ô, sujeito chato! – analisava.
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
- Já sei! E se o final da peça fosse algo inesperado? Algo meio
louco e sem sentido? Como se o personagem começasse a
divagar sobre...
Um ovo!
Imagine que, de repente, eu tivesse que falar sobre um ovo!
Assim, do nada, de forma despreparada. O que eu diria dele?
Poderia dizer que não tem pontas, em geral é liso e pode ter
uma meia-dúzia de cores.
Que, se fosse gigante (e, quando digo gigante, é gigante
MESMO!), poderia ser usado como o escorregador mais
divertido do mundo! Pois imagine-se subindo uma longa escada
– se tiver preguiça, basta imaginar uma escada rolante – e,
chegando lá em cima, sentir a bunda roçando naquela firme e
frágil superfície.
Imagine que essa firme e frágil superfície quebre! A melecância
que infestaria aquele lugar!
Mas, voltando aos ovos tradicionais: podem ser de galinha,
pato, jacaré e até de aranha! Podem ser de chocolate, os meus
preferidos!
Amado por confeiteiros e odiados por veganos, o ovo nunca é
uma unanimidade, seja no omelete ou na gemada.
O ovo é como minha alma. Quebradiço e sustentador. Mas, se
fica lá, jogado por muito tempo e sem ninguém usar, denuncia
facilmente sua podridão.
- BRAVO! – grita um espectador da plateia!
- GENIAL! – grita outro!
Seguem-se então vários minutos de aplausos calorosos.
Leonardo não consegue esconder a emoção, enquanto
lágrimas correm por seu rosto.
- Eles aprovaram! Aprovaram! – repetia a si mesmo, baixinho.
Minutos depois, no camarim:
- E então, Paulo? Gostou do final?
- É... foi bom.
Morrer em Dia Útil Nunca é a Mesma Coisa
Rodrigo Darini Valente
- Foi bom? Só isso?
- Ué, o que esperava que eu dissesse?
- Não sei, mas você deve ter percebido que o público adorou!
- Leonardo, lembre-se: um público bem domesticado adora
tudo! Essa gente não tem noção do que é a verdadeira arte!
- Você não quer me ensinar o que é arte, não é, Paulo?
Paulo permaneceu em silêncio, deixando Leonardo ainda mais
apreensivo.
- Não é, Paulo? – insistiu Leonardo.
- Você está muito nervoso. Vou comer alguma coisa e depois
nos falamos.
Era típico do Paulo esse comportamento. Ele atiçava até onde
não mais podia e, quando a situação se tornava