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Adolescentes: as suas vidas, o seu futuro
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Adolescentes: as suas vidas, o seu futuro
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Adolescentes: as suas vidas, o seu futuro

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Amamo‐los, estranhamo‐los, queremos apoiá‐los e compreendê‐los. Mas que sabemos nós, adultos, sobre os adolescentes, as suas vidas e o seu entendimento do mundo? Os adolescentes têm características que os unem como grupo e outras que os individualizam. São fruto do tempo em que vivem, mas traçam os seus próprios percursos, diferenciadores. Eliminados os lugares‐comuns que os banalizam, como podemos encará‐los com simultâneas consistência e flexibilidade? Este livro dirige‐se a pais, educadores, técnicos de saúde e adultos em geral, aos quais fornece ideias‐chave úteis, após explorar as questões centrais da adolescência: a relação com o corpo, a tecnologia e o lazer, a tomada de decisões, os consumos, os laços familiares e com a escola, os amigos, os conflitos, os amores, as expectativas. Escrito durante a pandemia COVID‐19, considera já o seu impacto no dia‐a‐dia dos adolescentes.
LanguagePortuguês
Release dateSep 25, 2020
ISBN9789899004306
Adolescentes: as suas vidas, o seu futuro
Author

Margarida Gaspar de Matos

Margarida Gaspar de Matos é Psicóloga Clínica e da Saúde. Psicoterapeuta. Professora Catedrática da Universidade de Lisboa na Faculdade de Motricidade Humana. Coordenadora do “G2 — Supportive Environments” do ISAMB (Instituto de Saúde Ambiental/Faculdade de Medicina de Lisboa/Universidade de Lisboa. Membro da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) e Coordenadora do Board Promotion & Prevention da EFPA pela OPP. Coordenadora Nacional do Estudo da OMS, HBSC (Health Behaviour in School Aged Children).

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    Adolescentes - Margarida Gaspar de Matos

    Prefácio

    Mesmo sendo psicóloga, especialista na área da saúde e do desenvolvimento da criança e do adolescente, e considerando­-me muito feliz e identificada com o meu papel de mãe, nada me preparou, o suficiente, para viver, sentir e crescer com filhos adolescentes.

    Ser mãe e pai envolve a vinculação, amor incondicional, orgulho infinito, mas também medo, angústia e impotência.

    A relação que estabelecemos com os nossos filhos é única, faz­-nos crescer, faz­-nos querer ser pessoas melhores; é um privilégio ver e crescer com os filhos, mas essa experiência traz­-nos desafios diários e existenciais.

    A parentalidade é um processo no qual deveremos fazer, tendencialmente, o nosso melhor, sem nunca esquecermos que, além de mães e pais, também somos pessoas, companheiros/as, profissionais, amigos, etc.

    A chegada à adolescência dos nossos filhos vem preenchida com a sua infância, portanto, desde cedo, é importante que os pais considerem os filhos como pessoas com gostos, sonhos e escolhas por vezes diferentes dos seus.

    A leitura do livro Adolescentes: As suas vidas, o seu futuro remete­-nos para a complexidade e multidimensionalidade do crescimento e desenvolvimento do adolescente a vários níveis: (1) em termos temporais, com o impacto do seu passado, presente e futuro; (2) em termos dos seus múltiplos contextos, família, escola e sociedade; (3) em termos das suas relações mais ou menos próximas com os pais, professores, amigos e outros membros da sociedade; e ainda, (4) nesta situação muito particular, no confronto com situações extraordinárias em termos de saúde pública, como, por exemplo, a vivência da pandemia da Covid­-19.

    O livro remete­-nos para a reflexão sobre a adolescência e a situação de vida em que se encontram os pais quando os seus filhos percorrem esta etapa. Após terem ultrapassado todas as supostas desafiantes fases anteriores, nada os prepara para esse momento que surge tão abruptamente, quase que de um dia para o outro. Os pais querem fazer as «coisas bem» e deparam­-se com dificuldades a nível da comunicação, da empatia e da compreensão mútua. Deparam­-se com dilemas, tais como proteger e deixar crescer, promover a expressão emocional e a opinião e sentir­-se respeitado, conseguir ser suficientemente atraente e interessante para ser capaz de realizar atividades com os filhos, e iniciar, retomar ou intensificar atividades pessoais e do casal, a par com a parentalidade.

    Ao longo da leitura do livro apercebemo­-nos de que o caminho será promover relações pais­-filhos flexíveis, baseadas em afetos sólidos onde «o amor está sempre», e alicerçadas numa comunicação honesta, com regras estabelecidas em conjunto, com consequências firmes e consistentes.

    As situações de conflito e de tensão serão (quase sempre) inevitáveis, e a relação deve ir sendo construída nos e pelos momentos bons. Pode­-se dizer que temos uma reserva de momentos positivos, de afetos, de seguranças que foram sendo construídos, ao longo da vida, com os filhos. Esse conteúdo será fundamental para lidar e gerir os momentos mais complicados e de maior dúvida e incerteza, e na maior parte dos casos irá resultar numa relação forte duradora, positiva e sustentável.

    Os pais têm o seu (muito importante) papel no desenvolvimento dos filhos adolescentes, no entanto, o livro salienta a importância de outros membros da família (como os avós e os irmãos), dos amigos e, especialmente nesta fase do par sexual, dos professores e de toda a sociedade global de informação e comunicação.

    Neste período da vida, o adolescente enfrenta tarefas hercúleas, como rever a sua vida e o seu eu, compreender e lidar com as alterações do seu corpo, dos seus pensamentos, das suas expectativas e das suas emoções. E ainda rever a sua relação com os pais no sentido da autonomização, bem como a relação com os pares e o desenvolvimento psicossexual. Com Adolescentes: As suas vidas, o seu futuro vamos compreender os diversos comportamentos de saúde e de risco relevantes para os adolescentes, salientando a relação com o ecrã e o papel deste no seu modo de vida, nas suas relações, na ocupação do tempo livre e no modo como aquele condiciona e/ou potencializa a disponibilidade para outras aprendizagens e atividades.

    Escrito durante o período inédito de isolamento social associado à pandemia Covid­-19, Adolescentes: As suas vidas, o seu futuro reflete sobre o impacto desta situação no dia a dia dos adolescentes, apresenta pistas de ação para fazer face aos desafios acrescidos que esta situação de saúde pública trouxe à sociedade e às famílias, assim como reflete acerca das implicações futuras no desenvolvimento destes adolescentes. E propõe ainda estratégias para aproveitar esta situação transformando­-a num desafio e numa oportunidade de crescimento para a família.

    Por último, este ensaio apresenta ideias relevantes e úteis para pais e educadores que os podem apoiar no acompanhamento do período da adolescência dos filhos e educandos com abertura, afeto, consistência, e resiliência, sempre no sentido de participar e contribuir para a construção de pessoas felizes, saudáveis, autónomas, curiosas e responsáveis.

    Tânia Gaspar

    Psicóloga clínica e da saúde

    Professora na Universidade Lusíada de Lisboa

    Introdução

    Mais um livro sobre adolescentes?

    Quando comecei a falar deste novo projeto, deste livro – Adolescentes: As suas vidas, o seu futuro –, recebi, de imediato, diversas perguntas, todas muito relevantes e organizadoras para mim. (Obrigada a todos os que me desafiam diariamente.)

    «Mas vais escrever um livro para quem?», perguntavam­-me.

    Para adolescentes?

    «Os adolescentes não leem!» (Afirmação algo injusta porque eles, na realidade, até leem muito, mas provavelmente não muitos livros; leem outro tipo de informação, sobretudo online…)

    Para pais?

    «Os pais de adolescentes não têm a serenidade nem o tempo para ler, e quando estão atrapalhados com os filhos, querem é soluções para os problemas dos adolescentes.»

    Para profissionais de educação, saúde, desporto e justiça?

    «O que mais há são livros sobre adolescentes. O que se vai conseguir dizer de novo?»

    Bom, não se pode dizer que tenha sido um começo animador, mas foi excelente para me fazer pensar.

    Então, declaração de intenções: este é um livro sobre adolescentes, pensado para a população em geral, para pessoas que convivem com adolescentes, pessoas que têm curiosidade em relação aos adolescentes, pessoas que têm questões a entender sobre a sua própria adolescência.

    Fala­-se genericamente em «adolescentes», mas, na realidade, é importante distinguir entre a entrada na adolescência e o final da adolescência. Neste livro vou centrar­-me sobretudo naquele período dos 10­-14 anos, que antes acontecia aos 14­-16 anos. Vou centrar­-me naquele período em que os filhos começam a estranhar os pais (e vice­-versa), num processo que muitas das vezes se desenrola bem, mas que comporta sempre aliciantes desafios para todos os envolvidos. Espero que este livro ajude a entender esse período desafiante da vida e o modo como a adolescência fica associada às condições do seu tempo, século após século.

    Inadvertidamente, tive esta mesma constatação quando fui apanhada, a meio da sua redação, por toda a situação de distanciamento social, de apelo ao isolamento físico em casa, com todos os desafios que, no verão passado, nem sonhávamos que nos iam inundar a todos.

    Na realidade, os adolescentes são, por um lado, produtos do seu tempo, no que se diferenciam dos adolescentes de outras décadas e no que se assemelham aos adolescentes contemporâneos. Por outro, são produtos da sua própria construção, no que se diferenciam uns dos outros dentro de uma mesma cultura e dentro de um mesmo tempo.

    Há diferenças genéticas, biológicas ou ambientais, mas dessas pouco vamos falar aqui. Algumas são material de base pouco prático para desencadear ações transformadoras (alterar ou desativar genes vai sendo cada vez mais possível, mas não é nada prático como estratégia de mudança de comportamentos, ou como estratégia de saúde pública dirigida à população); outras diferenças são isso mesmo, acidentes, imponderáveis.

    O descontrolo que ocorre após estes imponderáveis apenas pode ser minorado com medidas de promoção de competências e motivações transformadoras, capazes de melhor nos fazer querer e conseguir lidar com a diversidade e a mudança.

    Voltando à nossa tão familiar Covid­-19, não a previmos, nem previmos o impacto que teria sobre as nossas vidas. Antes de ela aparecer, era, pois, de difícil prevenção. Mas agora que entrou nas nossas vidas, a nossa competência de motivação transformadora poderá recriar oportunidades de proteção e minimização dos danos.

    Espero que este trabalho ajude a elevar a discussão sobre os adolescentes, as suas vidas e o seu futuro a um patamar que inclua fatores pessoais, familiares, sociais; que inclua (como os Ingleses costumam dizer) uma perspetiva tanto da floresta como das árvores, e da interação entre as árvores e a floresta, como ainda os fatores planetários e as políticas públicas.

    Espero ainda que ajude a afastar do debate sobre os adolescentes os lugares­-comuns que banalizam esse período da vida, como generalizações, por exemplo, de que os adolescentes são todos todos iguais, colando­-lhes frequentemente adjetivações menos abonatórias, como bizarros, incompreensíveis, insuportáveis, apáticos, mal­-educados, mimados.

    Adultos e jovens têm, em geral (e desde que há registos históricos, não é coisa nova), alguma tendência para incompreensões cruzadas que os levam a atuar como grupos de antagonistas em vez de aliados na vida. As culpas aparecem amiúde atribuídas aos outros, aos que não somos nós, dando origem a um diálogo com alguma animosidade e sem apelos à coesão intergeracional.

    Clarifiquemos que é baixa a probabilidade de encontrarmos algum adjetivo que sirva para homogeneizar toda a população deste grupo, como aliás de qualquer grupo: em rigor, frases como «os adolescentes são todos…» (ou os bebés, as crianças, os adolescentes, os adultos, as mulheres, os idosos, os migrantes, os ricos, os pobres, os religiosos, os desportistas…) têm uma elevada probabilidade de ser falsas.

    Em geral, como dizia há anos um professor meu, as frases começadas por «sempre», «nunca», «todos» e «ninguém» apresentam uma elevada probabilidade de ser falsas.

    Também qualquer característica que seja verdadeira para todos os membros de um grupo tem grande probabilidade de ser disparate. Se afirmarmos que «todos os adolescentes são sempre X», o que poderemos escrever em vez do X que não seja um grande disparate? E o mesmo com a frase: «Nenhum adolescente é X.»

    Estas generalizações, opondo um grupo «de dentro» com um grupo «de fora», são muitas vezes usadas na manipulação da opinião pública e servem para clivar, para diminuir a nossa coesão social e o nosso sentido de convergência. Muitas vezes porque dessa clivagem emerge um poder mais forte que se impõe e que «dá jeito».

    Este livro dirige­-se à população adulta «sem outra especificação», e vou fazer os possíveis para que, se os pais deixarem este livro perdido lá por casa, os adolescentes o folheiem e fiquem a saber que o livro existe e que o podem consultar, se tiverem tempo ou dúvidas, mesmo que o façam meio às escondidas.

    Os adolescentes têm dúvidas, mas às vezes não lhes dá jeito falar com os pais, às vezes não têm muita confiança nas informações que ouvem dos amigos ou que encontram na internet. Enfim, provavelmente não irão ler este livro todo de seguida, mas poderão consultar algumas partes que lhes interessem, de vez em

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