A escola
By Paulo Chitas
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Paulo Chitas
Paulo Chitas, jornalista e professor de jornalismo, tem 47 anos e é coautor das obras Portugal: Os Números e Portugal e a Europa: Os números.
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A escola - Paulo Chitas
Nota introdutória
Procurando nas minhas memórias mais antigas, julgo que a ideia deste livro começou numa conversa com o António Araújo e o António Barreto sobre textos que retratassem como é Portugal hoje. O impulso para o fazer foi, contudo, um convite direto do diretor desta coleção para o escrever. Com a amabilidade e gentileza que eu e muitos lhe reconhecemos, António Araújo deu-me carta-branca para escolher o tema. A educação foi logo a minha primeira proposta.
Em fevereiro de 2012, ao serviço da revista VISÃO, visitei pela primeira vez a Escola Secundária Rainha Santa Isabel, em Estremoz. Fi-lo para conhecer um serviço público de excelência. Saí de lá convencido que tinha encontrado um grupo excecional de profissionais que engendraram uma solução para um problema sério com os recursos, poucos, que tinham à mão. Como julgo que alguém disse, nada impede uma ideia madura de fazer o seu caminho – e em Estremoz, desde o início da década passada, uma ideia poderosa mudou o panorama da escola. Ainda pensei incluir outras escolas no meu texto, conhecer e relatar o que se passa noutros estabelecimentos de ensino. Talvez numa grande cidade. Desisti quando comecei a visitar com mais frequência a escola de Estremoz e comecei a falar com os seus protagonistas.
Ao longo do trabalho, decidi que devia deixar as vozes dos alunos e dos pais serem ouvidas. Se pudesse, teria transcrito na íntegra algumas conversas com alunos do 7º ano, as que mais me fascinaram. Não foi o que aconteceu, mas grande parte do meu texto, como o leitor perceberá, é devedor a essas longas conversas que tive com alguns estudantes e os seus pais.
A salvaguarda da identidade de menores faz parte das regras deontológicas do jornalismo, a minha profissão. Por isso, neste livro os menores ouvidos são apresentados através de nomes fictícios. Aos pais com quem falei também prometi reserva, para que as conversas pudessem ser menos constritas – por essa razão, mudei-lhes o nome.
Fiz mais de uma dezena de visitas a Estremoz, durante mais de um ano. Gravei várias horas de conversas. Visitei a cidade com alguma minúcia, embora ainda haja ruelas esconsas por descobrir. Espero que esse labor transpareça no texto e que o leitor o considere interessante.
O Meio
Há umas laranjeiras sem laranjas no pátio da escola. É vulgar acontecer no Alentejo, onde as árvores, habitualmente circunscritas a pomares, servem também para decorar as ruas, que sombreiam nos dias inclementes do estio. Não estamos na época de as ver carregadas, ou de flores brancas ou de frutos luzidios: estão sem os sinais de vida que abundam nos corredores, nas salas de aulas, no refeitório e no bar da Escola Secundária Rainha Santa Isabel.
O edifício fica numa zona de expansão de Estremoz, na parte norte da cidade, fora das muralhas da secular localidade do distrito de Évora. Por perto há umas moradias, um bairro residencial mas também uma bomba de gasolina e superfícies comerciais. Está integrada numa área de serviços e de comércio, perto do Euromarché e dos seus parques de estacionamento, mas suficientemente próxima da Porta de Santa Catarina, uma das entradas para o burgo antigo. Entre o presente e o passado.
Aqui as ruas são largas. Há árvores a ladeá-las e várias zonas de estacionamento, nas imediações da escola. Na Rua Professor Egas Moniz fica o portão principal do estabelecimento de ensino. Do lado de fora da vedação há uns passeios largos, alguns usados pelos alunos para se juntarem com os amigos e fumarem um cigarro, já que tal é interdito no interior da escola.
Passado o gradeamento, uma rampa, protegida do sol e da chuva, conduz à zona onde se encontram as laranjeiras, uma espécie de antecâmara exterior do edifício principal. No interior, um átrio distribui por três pisos e dezenas de salas os 1200 a 1300 alunos, do terceiro ciclo e do secundário, que todos os anos aqui têm aulas. Nos períodos diurnos, os alunos são miúdos ou adolescentes mas, à noite, há ensino para adultos. A partir do pátio tem-se acesso a um outro edifício que alberga o ginásio e o auditório, principal sala de reuniões da comunidade escolar.
O edifício é de 1962, tendo a escola sido transferida para aqui dois anos depois (Américo Thomaz, o presidente da República de então, veio à inauguração), abandonando as instalações da atual Pousada de Portugal, entre muros, na zona histórica e nobre da cidade. No ano de 2009 sofreu obras profundas, realizadas pelo Estado através da empresa Parque Escolar, nas quais foram investidos cerca de 13 milhões de euros. «Quando fui aqui colocado, em 1997-98, a escola era muito diferente da de hoje. Em termos físicos e de funcionamento. Estava organizada de outra forma. Nos anos 90, já com mais de 30 anos, alguns dos espaços estavam degradados», testemunha Carlos Salema, 42 anos, diretor da escola.
Façamos uma pausa para o apresentar. Carlos Salema licenciou-se em estudos Portugueses-Ingleses, na Universidade Autónoma. Natural de Estremoz, planeava aqui regressar mas antes, como grande parte dos professores, teve de andar de escola em escola até obter o lugar que almejava. A profissionalização foi feita numa escola da margem sul do Tejo, no Laranjeiro. Também deu aulas no estabelecimento prisional de Évora e noutras escolas do Alentejo: Vila Viçosa, Fronteira e Cuba. «Saltitei de escola em escola mas durante pouco tempo, só três, quatro anos. Sou daqui de Estremoz e fui também aqui aluno, na escola. Voltei enquanto professor. Sempre foi a escola onde me quis