Os Incêndios florestais em Portugal
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António Bento-Gonçalves
António Bento Gonçalves é Professor do Departamento de Geografia (UMinho) e Investigador do CECS (Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade), sendo atualmente Diretor da Licenciatura em Proteção Civil e Gestão do Território (UMinho) e Presidente da Associação Portuguesa de Geógrafos (APG). A sua atividade científica centra-se nos incêndios florestais, riscos naturais e processos erosivos.
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Os Incêndios florestais em Portugal - António Bento-Gonçalves
Lista de abreviaturas
AFN — Autoridade Florestal Nacional
AGIF — Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais
ANEPC — Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil
ANPC — Autoridade Nacional de Proteção Civil
APIF — Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais
BIFF — Brigadas de Investigação de Fogos Florestais
CEFF Municipais — Comissões Municipais Especializadas em Fogos Florestais
CNEFF — Comissão Nacional Especializada de Fogos Florestais
CEE — Comunidade Económica Europeia
CNPCE — Conselho Nacional de Planeamento Civil de Emergência
CNF — Conselho Nacional de Reflorestação
DGRF — Direção-Geral dos Recursos Florestais
FFP — Fundo Florestal Permanente
GEIS — Grupo Especial de Intervenção e Socorro
GNR — Guarda Nacional Republicana
GPI — Grupo de Primeira Intervenção
GTF — Gabinetes Técnicos Florestais
ICN — Instituto de Conservação da Natureza
ICNB — Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade
ICNF — Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas
IFADAP — Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e Pescas
PPF — Plano de Povoamento Florestal
PREMAC — Plano de Redução e Melhoria da Administração Central
PDM — Plano Diretor Municipal
PNDFCI — Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios
PNGIFR — Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais
PROF — Planos Regionais de Ordenamento Florestal
PSP — Polícia de Segurança Pública
PRACE — Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado
SGIFR — Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais
SNB — Serviço Nacional de Bombeiros
SNBPC — Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil
SNPC — Serviço Nacional de Protecção Civil
Preâmbulo
Os incêndios são uma componente fundamental no sistema terrestre e são parte integrante de alguns ecossistemas, constituindo um fator essencial para o seu funcionamento.
Atualmente, nalguns climas, os incêndios florestais são um fenómeno natural, mas a grande parte é causada pela atividade humana e apenas uma muito pequena percentagem tem origem natural, sendo relativamente reduzido o número dos que correspondem a grandes/megaincêndios florestais, responsáveis pela maioria dos prejuízos e das vítimas mortais.
Com efeito, trata-se de um problema global e recorrente, e o seu estudo é difícil e complexo, atendendo ao elevado número de variáveis naturais e antrópicas que para ele contribuem, direta e indiretamente.
Se a ação humana, quer por negligência quer de forma intencional, é fulcral para o deflagrar de incêndios, o desordenamento do território e a falta de gestão das áreas florestais, a par das dinâmicas demográficas, do clima, do relevo e da eficácia do combate e da primeira intervenção, são algumas das variáveis fundamentais na explicação da intensidade e da dimensão que alguns incêndios atingem.
Nos últimos anos, ocorreram em diversas partes do mundo incêndios de proporções/consequências significativas. Estes eventos, muito complexos no que se refere a tamanho, intensidade, resistência ao controlo e severidade, começaram a ser chamados de megaincêndios ou incêndios extremos em várias partes do mundo. Efetivamente, estes incêndios são muitas vezes extraordinários, pela dimensão que adquirem, mas sobretudo pela importância dos seus impactes.
Também os incêndios que ocorrem em territórios onde as áreas urbanas estão em contacto e interagem com as áreas florestais, ou seja, as interfaces urbano-florestais, são cada vez mais frequentes, intensos e destruidores.
Nas últimas décadas, em vários países, com destaque para a Austrália, o Canadá ou os Estados Unidos da América, mas também em alguns países do sul da Europa Mediterrânea, os incêndios florestais, em áreas de interface urbano-florestais, têm afetado grandes superfícies, sendo responsáveis pela perda de vidas humanas e causando grandes prejuízos, com graves consequências ecológicas, sociais e económicas, pondo, definitivamente, a questão dos incêndios florestais nas interfaces urbano-florestais na vanguarda das preocupações públicas, políticas e científicas.
O nosso país reúne as condições para se poder afirmar que possui um «piroambiente» (Pyne, 2006), dado que junta às caraterísticas mediterrâneas, que conjugam a época quente com a época seca, a feição atlântica, que lhe permite uma elevada produtividade vegetal. No entanto, fica principalmente a dever-se à desestruturação do mundo rural, ao desordenamento do território, à falta de gestão florestal, num contexto onde existe um predomínio das monoculturas de eucalipto e de pinheiro-bravo (a norte do Tejo), e a uma profunda falta de educação florestal, razão pela qual Portugal apresenta anualmente extensas áreas ardidas e uma das mais elevadas taxas de ignições a nível mundial, num contexto de tendência positiva para o acréscimo, tanto do número e da dimensão dos «grandes incêndios» como, especialmente, da sua capacidade