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A Democracia Local em Portugal
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A Democracia Local em Portugal

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A democracia local é muito mais do que a eleição periódica de câmaras municipais, juntas de freguesia e respectivos presidentes. É também muito mais do que a expressão da vontade das maiorias. Só conhecendo a sua estrutura e o lugar que nela ocupam os cidadãos é possível perceber por que constitui o espelho da democracia a nível nacional. O presente ensaio aborda, apelando à reflexão crítica dos leitores, a noção e a evolução histórica da democracia local desde o século XIX, o papel que os cidadãos nela devem desempenhar, a organização e o funcionamento dos municípios e das freguesias, o impasse na criação de regiões administrativas, o associativismo autárquico e o significado das entidades intermunicipais.
Veja o vídeo de apresentação da obra em youtu.be/BwIhaZ2HFtQ
LanguagePortuguês
Release dateAug 17, 2021
ISBN9789899064362
A Democracia Local em Portugal
Author

António Cândido Oliveira

António Cândido de Oliveira é professor catedrático jubilado da Escola de Direito da Universidade do Minho. Presidente da Direcção da Associação de Estudos de Direito Regional e Local. Director da revista Questões Atuais de Direito Local, da Revista das Assembleias Municipais e dos Eleitos Locais e da Revista das Freguesias.

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    A Democracia Local em Portugal - António Cândido Oliveira

    Introdução

    A ideia de que a democracia local é fundamentalmente a eleição periódica de presidentes de câmara municipal e de presidentes de junta de freguesia está muito divulgada, mas é pobre e perigosa.

    É pobre porque a reduz a um campeonato de vencedores e vencidos, ficando os vencedores senhores do poder local por quatro anos e os vencidos à espera de próximas eleições. É perigosa porque afasta os cidadãos de uma prática regular da democracia, tornando­-os mais súbditos do que cidadãos e, assim, facilmente capturáveis por outras formas de governo local e mesmo nacional.

    Acresce que uma tal concepção ofusca a riqueza da democracia local devidamente vivida, envolvendo, em cada comunidade local, um largo número de cidadãos, eleitores e eleitos, num diálogo centrado no bom governo das comunidades em que se inserem e que se estende no tempo, não ficando limitado ao período eleitoral.

    Os eleitores dispõem de um conjunto amplo de direitos que são também deveres e que lembram o que eles efectivamente são: donos do poder exercido a nível local, sendo os eleitos apenas os seus representantes.

    Os eleitos, por sua vez, dispõem igualmente de um conjunto amplo de direitos e deveres resultantes das eleições que possibilita o bom exercício das suas competências e não permite que fiquem reféns de um presidente de câmara ou de freguesia.

    A democracia local vai ainda mais longe e permite que os cidadãos (eleitores e eleitos) se interroguem sobre todos os aspectos da vida local e mesmo nacional que se prendem não só com as eleições e os sistemas eleitorais, mas também com a organização do poder a nível local, as atribuições e as competências que os entes locais devem prosseguir, os problemas e os anseios das comunidades locais, a relação com o poder central e tantos outros.

    *

    A democracia local tem sido objecto da minha atenção desde há cerca de duas décadas. Para além de vários artigos, alguns bem recentes, publiquei, em 2005, o livro A Democracia Local – Aspectos Jurídicos, que está muito presente nesta obra, acompanhando­-a em algumas passagens, mas tendo inteira autonomia.

    Procura­-se dar uma informação sobre a democracia local em Portugal tal como é vivida depois da Constituição da República de 1976, mas não é um manual, constituindo antes um apelo à reflexão e à acção, procurando desenvolver a cultura cívica e política dos cidadãos.

    *

    Agradeço a colaboração que me foi prestada na revisão do texto pelas licenciadas em Direito Ana Rita Prata e Paula Azevedo.

    Expresso também a minha gratidão à Associação de Estudos de Direito Regional e Local, associação privada sem fins lucrativos, com sede em Braga mas de âmbito nacional, que me tem permitido, através dos seus associados, dos membros dos conselhos de redacção e dos colaboradores das suas revistas aprofundar o conhecimento sobre as autarquias locais e, dentro destas, o tema de que trata este livro.

    À Fundação Francisco Manuel dos Santos agradeço a oportunidade de fazer chegar esta perspectiva da democracia local ao grande público, continuando a prestar um bom serviço aos cidadãos. Recordo a propósito do tema deste ensaio uma das últimas entrevistas do seu fundador, Alexandre Soares dos Santos, que recomendava veementemente aos presidentes de câmara a realização de uma prestação de contas mensal da actividade desenvolvida perante os munícipes.

    A democracia local: noção e evolução histórica

    Noção

    A democracia local, entendendo­-se por tal, numa primeira aproximação, o direito de os cidadãos elegerem os seus representantes nas comunidades locais em que se integram para cuidarem dos respectivos problemas, não surgiu de repente e muito menos com esta denominação, que hoje está largamente acolhida na Europa e não só.

    Encontramos o seu início em Portugal, de acordo com o padrão político­-jurídico actual, na Revolução Liberal de 1820, com a designação de descentralização e com momentos altos e baixos ao longo do século XIX e nas duas primeiras décadas do século XX. Vamos encontrar os momentos mais altos deste percurso nos Códigos Administrativos de 1836 (Passos Manuel), de 1878 (Rodrigues Sampaio) e na I República (Constituição de 1911 e legislação subsequente de 1913 e 1916), e os mais baixos na reforma administrativa de Mouzinho da Silveira (1832) e nos Códigos Administrativos de 1842 (Costa Cabral) e 1896 (João Franco). No período do Estado Novo, a democracia local não tem lugar, ressurgindo apenas com a Constituição de 1976 e nas subsequentes primeiras eleições locais de Dezembro desse mesmo ano.

    Nas eleições de 12 de Dezembro de 1976, pela primeira vez em Portugal, todos os cidadãos, homens e mulheres com mais de 18 anos e capacidade de entendimento, devidamente recenseados através de um procedimento muito fácil, puderam exercer o direito de voto para escolher os seus representantes nos municípios e nas freguesias onde estavam recenseados, em eleições livres com ampla apresentação de listas e boa participação

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