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Critical art ensemble: a máquina de guerra artística e os arsenais antropotécnicos da revolta
Critical art ensemble: a máquina de guerra artística e os arsenais antropotécnicos da revolta
Critical art ensemble: a máquina de guerra artística e os arsenais antropotécnicos da revolta
Ebook569 pages6 hours

Critical art ensemble: a máquina de guerra artística e os arsenais antropotécnicos da revolta

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No século XX, a arte entrou de vez no campo das lutas políticas e sociais. O futurismo, o dadaísmo, o surrealismo e os situacionistas contribuíram em momentos críticos para as transformações sociais na cultura. Por meio de manifestos, performances, intervenções e imagens, as vanguardas históricas usaram de sua criatividade para produzir uma verdadeira máquina de guerra artística.
Tributário dessa história, o coletivo Critical Art Ensemble (CAE) tem se destacado como um dos expoentes da arte-revolta contemporânea, que busca intervir na esfera pública com uma estética do distúrbio. Por mais de três décadas de existência, o CAE tem promovido sua micropolítica da criação com diversas antropotécnicas inovadoras: teatro recombinante, intervenções moleculares, plágio utópico, desobediência civil eletrônica, instalações e performances como formas de ativismo cultural.
Resultado de uma pesquisa financiada pela Capes, o livro que o leitor tem em mãos apresenta flashes históricos, insights teóricos e conexões com os movimentos de vanguarda artística, mídia tática, resistência eletrônica e bioativismo. Pela primeira vez, a nomadologia da máquina de guerra artística é exposta em termos históricos, sociais e micropolíticos.
Quem se interessa por arte, tecnologia, ativismo e cultura encontrará aqui os componentes para montar sua própria máquina de guerra, seja ela teórica, artística ou cultural.
LanguagePortuguês
Release dateNov 18, 2022
ISBN9786525027500
Critical art ensemble: a máquina de guerra artística e os arsenais antropotécnicos da revolta

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    Book preview

    Critical art ensemble - Lucas Fortunato

    0013914_Lucas_Fortunato_capa.jpg

    Editora Appris Ltda.

    1.ª Edição - Copyright© 2022 do autor

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.

    Catalogação na Fonte

    Elaborado por: Josefina A. S. Guedes

    Bibliotecária CRB 9/870

    Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT

    Editora e Livraria Appris Ltda.

    Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês

    Curitiba/PR – CEP: 80810-002

    Tel. (41) 3156 - 4731

    www.editoraappris.com.br

    Printed in Brazil

    Impresso no Brasil

    Lucas Fortunato

    PREFÁCIO

    Revolta infamiliar

    Quando Sartre afirmou que temos razão em nos revoltar, imprimiu definitivamente um paradigma àqueles que fazem do pensamento e da ação expressões da revolta. Revolver sentidos na cultura e estabelecer novas formas de vida, eis o papel fundamental do sujeito revoltado. Ele se faz portador de um ethos estético, ético, político e filosófico infamiliar (Freud), já que é pelo estranhamento de suas ações que se insurge contra a normalização e conservadorismo da cultura. Sua condição é a do estrangeiro que, agindo como um contemporâneo (Agamben), mesmo assim, não coincide com o seu tempo. É um intempestivo, diria Nietzsche.

    A história é permeada por exemplos de sujeitos infamiliares que definitivamente mudaram seu rumo. Copérnico, Darwin, Marx, Freud não só alteraram a compreensão sobre o que somos, mas também como somos e pensamos a existência. Afinal de contas, a mudança na cosmovisão de que não somos o centro do universo, que somos o homo sapiens demens que evoluiu na história de sua hominização, que somos o homem genérico que carrega em si a condição humana do outro e, por fim, que somos permeados por mecanismos subjetivos do inconsciente e dos sonhos, revolucionou a condição humana na sociedade. A arte, certamente, é a manifestação mais radical sobre a expressão de infamiliares. Relembremos algumas delas.

    Antígona, exemplo de como o estrangeiro deve ser reconhecido dignamente tanto vivo quanto morto. Enfrentar o autoritarismo de Creontes na história é o legado ético e político dessa peça da antiguidade. Quando Antonin Artaud denuncia e quer dar um fim ao juízo de deus, definitivamente se insurge contra a visão normalizadora da religião, da ciência, da política e das artes. Ele nos convida a um exercício da revolta. Outro exemplo paradigmático é Albert Camus, pois foi com esse escritor que aprendemos o conteúdo radical daquele sujeito que se faz revoltado. Sua máxima Eu me revolto, logo existo, estabelece de uma vez por todas a inversão ou diferença com a tradição filosófica cartesiana, que pensa o homem a partir de seu cogito, isto é, do Eu penso, logo existo. A revolta para Camus, portanto, é a capacidade do sujeito afirmar-se quando diz não.

    É nessa direção que transita Critical Art Ensemble: a máquina de guerra artística e os arsenais antropotécnicos da revolta de Lucas Fortunado. O autor cartografa as ações de um grupo de vanguarda que expressa quebra e estranhamento político e estético na atualidade. Sua condição infamiliar é demonstrada por experimentos artísticos, políticos e científicos. Noutros termos, um grupo que expressa uma arte-revolta em seus experimentos, ou conforme Fortunato diz no livro:

    A problematização da arte-revolta, que em si implica pro­cessos de subjetivação, será remetida aos conteúdos críticos produzidos pelo CAE (a tecnologia, a arte, a ciência e o pan­capitalismo), quando então a discussão sobre a resistência vem para o primeiro plano com suas táticas correspondentes ao nível tecnológico atingido pelas atuais sociedades de controle. Assim, cruzando trajetórias que acoplam as caóides do pensamento, ao vincular o pensamento contemporâneo à produção micropolítica do Critical Art Ensemble.

    Como estranho estrangeiro, Lucas Fortunato brinda-nos com uma pesquisa e análise sobre um fragmento estético da cultura. Sua trajetória como músico, pintor, cientista social e filósofo demonstra a competência e consistência sobre o tema.

    Inicialmente tese de doutorado, este livro é um acontecimento inédito já que se constitui no primeiro estudo acadêmico inteiramente dedicado ao Critical Art Ensemble no Brasil e, sem dúvidas, só foi possível dada a trajetória revoltada e infamiliar do autor.

    Assim, leitor e leitora, nos capítulos-passagens da obra somos convidados a conhecer este grupo americano de Nova York como um coletivo no qual sua social practice inaugura uma esfera pública em que o estranho do mundo se expressa.

    Natal, 10 de abril de 2022.

    Alex Galeno

    Professor do Instituto Humanitas

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    A criação, a fecundidade da revolta estão nessa distorção que representa o estilo

    e o tom de uma obra. A arte é uma exigência de impossível à qual se deu forma.

    Quando o grito mais dilacerante encontra a sua linguagem mais firme,

    a revolta satisfaz à sua verdadeira exigência, tirando dessa fidelidade a si mesma uma força de criação. Ainda que isso entre em conflito com os preconceitos da época,

    o maior estilo em arte é a expressão da mais alta revolta.

    Albert Camus, O Homem Revoltado.

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO

    Critical Art Ensemble

    A Tarefa do Pensamento Contemporâneo

    A Questão da Revolta

    A Máquina de Guerra Artística

    Sumário Descritivo

    CAPÍTULO 1

    NOMADOLOGIA DA ARTE-REVOLTA: A MÁQUINA DE GUERRA ARTÍSTICA

    Espectros da Revolta

    A Máquina de Guerra Artística

    Arte e Política

    Acerto de Contas

    Avant-Garde

    O Grito Dadaísta

    A Super-Realidade

    A Revolta Artística

    Desregramento dos Sentidos

    Rebeldes e Malditos

    Estética Generalizada

    Neovanguardas

    A Realização da Arte

    Reencantamento do Mundo e Espetáculo

    Enfrentando Dilemas

    Novas Trincheiras

    Conceituando a Arte-Revolta

    CAPÍTULO 2

    POR DENTRO DO CRITICAL ART ENSEMBLE:ARTE E REVOLTA NO CORAÇÃO DO IMPÉRIO

    Os Anos de Formação

    Virada do Século

    Anos 80

    Princípios

    Surgimento

    Primeiros Movimentos

    Dinâmica Interna

    Grupos de Criação

    Pluralismo

    O Revide da Arte-Revolta Contra o Espetáculo

    Produções Multimídias

    Apocalipse e Utopia

    Conexões com o Ativismo Tradicional

    CAPÍTULO 3

    OS ARSENAIS ANTROPOTÉCNICOS DA REVOLTA:A ESTÉTICA DO DISTÚRBIO

    – Maurizio Lazzarato, Resistência e criação nos movimentos pós-socialistas.

    Palavras e Gestos Radicais

    Artists’ Books

    Teoria Crítica Engajada

    Guerrilha Cultural

    Matrizes e Formas de Expressão

    Arte Conceitual e Plágio Utópico

    Teatro Recombinante

    A Estética do Distúrbio

    Conceituando o Distúrbio

    Explorações em Mídia Tática

    Contexto Histórico

    Definição Ativista

    Praticando Mídia Tática

    Intervenção Molecular

    Subjetivação Política

    CAPÍTULO 4

    RESISTÊNCIA CULTURAL: TRANSFORMAR O MUNDO, MUDAR A VIDA

    – Steve Kurtz, integrante fundador do Critical Art Ensemble.

    Ecos da Arte-Revolta

    Micropolíticas da Criação

    Resistência Cultural na Sociedade do Espetáculo

    Situações e Revolução Cultural Permanente

    Resistência, Revolução e Destituição

    Tecnologia, Poder Nômade e Pancapitalismo

    CAPÍTULO 5

    SUBVERTENDO A MÁQUINA: RESISTÊNCIA E DESOBEDIÊNCIA CIVIL ELETRÔNICA

    A Arte Crítica na Era Digital

    Resistência Eletrônica

    Subvertendo a Máquina

    Internet e Poder

    Desobediência Civil Eletrônica

    Paranoia

    Em Defesa da Desobediência Civil Eletrônica

    Conceituação

    Electronic Disturbance Theater

    Neovanguardas Contemporâneas

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Para uma Sociologia da Revolta

    REFERÊNCIAS

    Livros do Critical Art Ensemble

    Entrevistas com o Critical Art Ensemble

    Documentário

    Obras Citadas

    Obras Consultadas

    ANEXO 1

    PRODUÇÕES DO GRUPO DE CRIAÇÃO E ESTUDOS INTEGRADOS GAYA SCIENZA E DO EXPERIMENTO FLUXUS

    ANEXO 2

    LIVROS DO CRITICAL ART ENSEMBLE

    ANEXO 3

    FORMAÇÕES DO CRITICAL ART ENSEMBLE

    INTRODUÇÃO

    Este livro faz parte de uma trajetória intelectual marcada igualmente pelas ciências e pelas artes. Quando ingressei no curso de Ciências Sociais, eu estava envolvido com uma série de atividades artísticas e micropolíticas. Tocava em bandas de rock, pintava, escrevia poesia, publicava zines e, como se não bastasse, participava do movimento anarcopunk. As artes produzidas então expressavam um estilo crítico e uma profunda vontade de transformação social. A vontade de criar e transformar nutriam-se mutuamente em um ativismo cultural entre amigos, coletivos e ações diretas, nas praças, nas ruas, nos palcos e na internet.

    Imerso na vivência universitária, esse mesmo impulso deu origem a um coletivo com a intenção de realizar estudos temáticos nas ciências, nas artes e na filosofia. O grupo ganhou vida e, aproveitando a verve poética de seus membros, aventurou-se também nos experimentos artísticos. A ideia de impulsionar a prática cultural com o pensamento teórico, e vice-versa, tornou-se uma realidade quando o grupo assumiu o desejo de se dedicar à criação em suas formas acadêmicas e estéticas. O nome assumido pelo coletivo reflete bem essa vontade: Grupo de Criação e Estudos Integrados Gaya Scienza, uma assinatura em si totalmente conceitual.¹

    No mesmo período, foram realizadas performances, publicações poéticas, apresentações musicais, instalações e exposições artísticas, bem como palestras dentro e fora da universidade. As criações e os estudos com os amigos continuaram por algum tempo e resultaram também em um amplo material escrito. Em seguida, durante o mestrado em Filosofia, foi o momento de editar parte do material do grupo para publicação. Em parceria com o Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes e a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o livro foi impresso e publicado em 2010 com o título Machinapolis e a Caosmologia do Ser.² Nele, o grupo apresenta os resultados de sua experiência micropolítica com as artes e uma vasta pesquisa teórica sobre a megamáquina de guerra planetária em seus aspectos políticos, econômicos, epistêmicos e tecnológicos.

    Foi nessa dinâmica de pesquisa e ação que, pela primeira vez, tive contato com o Critical Art Ensemble (CAE), um coletivo formado por artistas ativistas dos Estados Unidos que une produção cultural, teoria crítica, tecnologia e política radical. Em sua obra Distúrbio Eletrônico, publicada em português pela Conrad Editora do Brasil, em 2001, as análises sociológicas e filosóficas são constantes e, além de menções a pensadores estudados na academia (Nietzsche, Foucault e Baudrillard são citados textualmente), há diversas referências a autores outsiders (como Artaud, Debord e Hakim Bey) e a movimentos artísticos (como o Dadaísmo, o Surrealismo e os Situacionistas, o Fluxus e o Living Theater). As referências mobilizadas pelo coletivo coincidiam justamente com algumas leituras que inspiravam as atividades e os estudos que eu realizava naquele período. Com tantos pontos em comum, a afinidade foi praticamente imediata, e desde então acompanho a produção do CAE com interesse.³

    Imagem 1 – Grupo de Criação e Estudos Integrados Gaya Scienza no lançamento do livro Machinapolis e a Caosmologia do Ser, em 2010

    Da esquerda para a direita: Edson Gonçalves Filho, Lisandro Loreto e Lucas Fortunato

    D:\Lucas\Doutorado\Tese\Tese - Final\Tese - Imagens\Grupo Gaya Scienza.jpg

    Fonte: fotografia por Verena Viana. Arquivo pessoal do autor

    Enquanto intelectual e pesquisador, eu sempre tive a propensão a refletir sobre as formas de pensar e agir que expressam práticas e linguagens consideradas de resistência. A busca pela emancipação e pela autonomia e a correlata emergência de diferenciadas formas de viver, agir, pensar e se relacionar nada mais são do que expressões de uma atitude social que se pode denominar de resistência. Na vasta linguagem teórica das ciências sociais, a temática da resistência tem sido uma constante desde o surgimento dos movimentos sociais clássicos, inclusive, com relação à revolta que, segundo Albert Camus e Julia Kristeva, há pelo menos dois séculos tem dado o tom na história política e nas artes ocidentais. Michel Foucault foi um dos pensadores que se debruçou sobre o problema do poder e, nas suas investigações genealógicas, estabeleceu referenciais para se pensar formas de resistência aos poderes que até hoje repercutem na teoria crítica e no campo dos movimentos sociais.

    Quando decidi cursar o doutorado, a ocasião mostrou-se ideal para reativar os contatos com a produção do Critical Art Ensemble. Enquanto elaborava o projeto de pesquisa, a sociedade brasileira deparava-se uma vez mais com o problema da crise dos valores, que no plano sociopolítico aparece como perda de representatividade política e de legitimidade das figuras de autoridade. Para não recair na investigação de instâncias puramente institucionais, optei por pensar ações criativas que se elaboram nesse contexto como forma de resistir aos poderes estabelecidos. Fiel à trajetória desenvolvida até então, ao invés de tratar diretamente da política institucional, com seus partidos e sindicatos, mantive meu interesse alinhado aos estudos de práticas sociais e culturais emergentes, ou, mais especificamente, aquelas advindas da resistência e do dinamismo contemporâneos que não passam necessariamente ou prioritariamente pelas vias institucionalizadas. No campo da reflexão e da teoria, tenho inclinações ao pensamento crítico, sobretudo francês, produzido no pós-guerra, e com essa base elaborei os estudos para a pesquisa que originou este livro.

    A princípio a pesquisa tinha por temática a resistência artística e o cuidado de si na cibercultura. Não é de hoje que a tecnologia gera um sentimento ambíguo de fascinação e desconfiança. Historicamente, a geração da qual faço parte acompanhou de perto a entrada das sociedades em sua dinâmica maquinocêntrica e tem, portanto, algo a dizer quanto a isso. As relações homem-máquina, hoje quase onipresentes nas metrópoles, tornaram-se fatalmente objetos de estudos, questionamentos e reflexões.

    A conjunção de vivências pessoais, acadêmicas e culturais assim apresentadas talvez explique a escolha epistemológica adotada na obra que o leitor tem em mãos. O certo é que, nos últimos anos, a incorporação incessante de dispositivos digitais na vida cotidiana tornou evidente mudanças comportamentais, perceptivas, cognitivas e culturais, e, enquanto sociólogo, eu quis pensar como as máquinas entram nas relações que os sujeitos estabelecem consigo para se constituírem enquanto tais valendo-se do uso das tecnologias a seu dispor. Para efeito de análise empírica, escolhi o Critical Art Ensemble, na intenção de pesquisar o uso das tecnologias nas práticas artísticas de resistência, supondo que o grupo ofereceria a oportunidade para uma análise privilegiada do fenômeno.

    Durante o curso da pesquisa, a ideia inicial modificou-se. Os elementos principais continuaram presentes, o que mudou foi a maneira de colocar o problema. Não mais a maquínica do ser em função do sujeito, do cuidado de si, senão em relação à arte na sua dimensão cultural e política como expressão da revolta. Como se vê, a abordagem da problemática foi modificada para abarcar uma maior amplitude de análise. A intenção passou a ser a de focar a arte-revolta do Critical Art Ensemble, articulando tematicamente a questão da tecnologia (muito presente na teoria e na prática do grupo) por um duplo viés, ao mesmo tempo como efeito de poder e meio de resistência. Assim, a questão da subjetivação maquínica, que a princípio aparecia em primeiro plano, tornou-se um tema transversal que adquiriu seu sentido no interior da discussão sobre como a revolta atua no campo mais amplo da cultura constituindo micropolíticas da criação.

    A problematização da arte-revolta, que em si implica processos de subjetivação, será remetida aos conteúdos críticos produzidos pelo CAE (a tecnologia, a arte, a ciência e o pancapitalismo), quando então a discussão sobre a resistência vem para o primeiro plano com suas táticas correspondentes ao nível tecnológico atingido pelas atuais sociedades de controle. Assim, cruzando trajetórias que acoplam as caóides do pensamento,⁴ este livro tematiza arte, revolta, política e tecnologias, ao vincular o pensamento contemporâneo à produção micropolítica do Critical Art Ensemble.

    Critical Art Ensemble

    Desde a graduação que me interesso por estudar no campo social o que lhe dá movimento e renova, especificamente o que denomino micropolíticas da criação, compostas por práticas socioculturais emergentes. Para contemplar as investigações empíricas na pesquisa do doutorado, escolhi como objeto de estudo o Critical Art Ensemble (CAE), um coletivo oriundo de Nova York que tem se destacado internacionalmente desde a década de 1990 devido a uma vasta produção teórica, prática, cultural e artística. O CAE elabora formas de intervenção na esfera pública por meio do que chamam social practices, formas de expressão culturais por vezes denominadas artísticas que se amparam em discussões científicas e filosóficas para problematizar questões políticas de interesse social. A abordagem do grupo diferencia-se das formas de ativismo político tradicional pois não atualiza o proselitismo tão caro aos modelos de resistência clássicos. Ao invés disso, como o nome do grupo indica, ele pratica uma arte que, no contato direto com a produção cultural, coloca na esfera pública problemáticas acerca das apropriações capitalistas de tecnologias e discursos científicos que ameaçam a autonomia dos indivíduos e do pensamento ao reforçarem tendências autoritárias na esfera da cultura. A fim de combater essas tendências, o coletivo elabora questionamentos políticos relevantes em torno dos mass media e do complexo biotecnológico, duas das principais linhas temáticas trabalhadas pelo grupo, tanto em performances quanto na produção teórica.

    Ao estudar o CAE, o objetivo é aprofundar a discussão teórica sobre as resistências artísticas e culturais contemporâneas que se valem das artes e das tecnologias para se expressar na arena pública. Essa abordagem tem o mérito de retomar os estudos e as pesquisas que desenvolvo desde a graduação articulando, sempre que possível, a discussão teórica e a análise empírica.

    O estudo do CAE justifica-se por vários motivos. Em primeiro lugar, pelo pioneirismo do coletivo no tratamento crítico e político, teórico e prático, dado à arte e à tecnologia sob o viés da resistência. Os dois primeiros livros do grupo foram inteiramente dedicados a refletir sobre a resistência eletrônica, quando o ciberativismo ainda parecia ficção cyberpunk aos olhos da resistência tradicional (The Electronic Disturbance foi publicado em 1994 e Electronic Civil Disobedience em 1996). No entanto, o motivo principal é outro.

    O que justifica o estudo desse grupo em especial é o reconhecimento de sua trajetória, que já dura mais de 30 anos inteiramente dedicados a questionar o mundo a seu redor e promover novas formas de se fazer arte, ciência e ativismo. Uma avaliação lúcida de seu legado levará qualquer crítico de arte a colocar o grupo em lugar de destaque na história da arte-revolta. Os métodos de ação e as ferramentas conceituais forjadas no calor da batalha pelo CAE ampliam as condições de possibilidade (técnicas e políticas) da resistência e estão entre as mais sofisticadas de que se tem conhecimento no circuito da arte internacional recente. O portal Creative Capital atribui ao grupo uma série de premiações:

    Seu trabalho foi coberto por revistas de arte, incluindo Artforum, Kunstforum e The Drama Review. Critical Art Ensemble recebeu inúmeros prêmios, incluindo o Prêmio de Liberdade de Expressão Artística em 2007 da Fundação Andy Warhol Wynn Kramarsky, o Prêmio de Multimídia John Lansdown em 2004 e o Prêmio Leonardo New Horizons de Inovação em 2004.

    Enquanto uma miríade de artistas, grupos e bandas se lançam nas autopistas da informação de braços dados com os tentáculos do mercado espetacular sem qualquer reserva, o CAE assume uma postura crítica que o coloca no prolongamento atual das linhagens da arte-revolta do século XX, fazendo jus ao nome que escolheu para si.

    Mais do que um simples coletivo de artistas, o CAE coloca-se em várias frentes de ação, até mesmo na produção de obras teóricas, nas quais empreende um tratamento transdisciplinar aos problemas abordados. As tecnologias, por exemplo, são tematizadas pelo viés crítico, político e artístico, de forma teórica e engajada, com a mobilização de conteúdos científicos e filosóficos dos mais prestigiados na história do pensamento crítico contemporâneo. A bibliografia produzida pelo Critical Art Ensemble conta com oito livros e diversos artigos publicados e traduzidos para vários idiomas, somando-se a uma vasta produção de vídeos (da primeira fase do grupo) e de exposições, performances e intervenções dentro e fora de museus, nas galerias, nas ruas, na internet, nas Américas, na Europa e na Ásia. Por isso, ao invés de considerar o Critical Art Ensemble um coletivo de artistas, será mais adequado tratá-lo como um grupo de criação e estudos integrados, assim compreendido pois, além da criação no campo das artes, o CAE empreende estudos teóricos e pesquisas empíricas, agenciando conteúdos científicos e filosóficos.

    Uma produção prolífica como essa permanecerá atual por muito tempo, sem dúvida, afinal, o grupo coloca no centro de suas atenções problemas cruciais da época que estão longe de ser resolvidos: a tecnologia a serviço do poder e suas implicações na produção das subjetividades, no âmbito social e, mais atualmente, no campo ecológico (temática desenvolvida nas produções recentes do grupo). A criticidade do CAE tem características próprias, põe em xeque o poder autoritário que se materializa nas tecnologias de controle, nos discursos de verdade, nas práticas cotidianas, nas instituições e na máquina de guerra planetária do capitalismo. Como o próprio nome do grupo indica, suas produções são marcadas por uma verve crítica, o que lhe rendeu boas aventuras no coração do império.

    O pensamento complexo do grupo, marcadamente artístico, científico e filosófico, ao expor um forte teor crítico, faz valer uma obstinação por desvelar as zonas escuras do poder, onde subjaz a fragilidade das pretensas fundações ordenadoras do mundo. Tal pensamento, animado por um estilo contestador e insurrecional, criativo e irreverente, explode pelos ares os discursos normalizadores e coloca em primeiro lugar os princípios libertários que pretende expandir na esfera da cultura.

    Nesse sentido, é possível identificar o viés contemporâneo, atual e inovador de suas obras, no sentido empregado por Giorgio Agamben:⁸ um pensamento que, ao se deslocar em relação às estruturas dominantes, refaz o trajeto afirmando sua diferença pela perspectiva crítica direcionada ao tempo presente, enquanto se coloca em favor de um tempo porvir.

    É portanto um pensamento vital, prospectivo, libertador e intempestivo como definido por Friedrich Nietzsche: ou seja, contra o tempo, e com isso, no tempo e, esperemos, em favor de um tempo vindouro.

    De acordo com Agamben, o contemporâneo é o intempestivo, ou seja, quem mantém uma relação com o presente numa desconexão e numa dissociação, e por isso, é mais capaz de perceber e apreender o seu tempo. Isso significa que somente quem dispõe da postura de pensamento capaz de se relacionar com o tempo sem a ele se render tem as condições adequadas para ver a época de uma perspectiva que não coincide com os discursos e as visibilidades instituídas. A contemporaneidade do pensamento é algo raro de se encontrar, pois o contemporâneo estabelece uma relação com o tempo que a este adere através de uma dissociação e um anacronismo, o que pressupõe a coragem de pensar o não pensado com uma postura singular que se mantém entre as rachaduras do que se vê e do que se diz na história. Destarte, para o contemporâneo, é necessário manter fixo o olhar no seu tempo e perceber não as luzes, mas o escuro.

    Enquanto sentinela do tempo presente, o Critical Art Ensemble aposta na força do entusiasmo, no questionamento, na postura cética e no desejo por liberdade, os mesmos princípios que impulsionam as resistências antiautoritárias. Por tudo isso, o CAE vem se destacando entre os coletivos praticantes da arte-revolta e, justamente por dar vida a uma arte inteiramente crítica, política e contemporânea, é que se torna o objeto privilegiado desta obra.

    A Tarefa do Pensamento Contemporâneo

    O objetivo central deste livro é abordar o Critical Art Ensemble e seu legado do ponto de vista artístico e político. O propósito inicial é destacar o papel da arte do grupo na construção de matrizes teóricas e práticas, discursivas, imagéticas, estéticas e micropolíticas que se inscrevem no prolongamento histórico contemporâneo da arte-revolta. Assim, as formas de expressão artísticas e micropolíticas do grupo são tomadas no registro histórico da cultura-revolta mais ampla, das quais a resistência pode reter o exemplo, bem como apoderar-se de possíveis contribuições para discutir as relações da arte com a política e a cultura de seu tempo.

    Fazer das experiências do CAE objeto de reflexão, conhecimento e crítica permite entender o movimento histórico de uma perspectiva privilegiada, pois o que se coloca em destaque com isso são problemáticas fundamentais da civilização mundial: a política tecnológica ou a máquina política e a revolta artística enquanto catalisadora de movimentações sociológicas na cultura.

    Ao lidar com o grupo, o que se pretende enfatizar são exemplos vivos e criativos do que a arte-revolta contemporânea é capaz de inventar e produzir quando assume uma postura ativa face ao mundo, ao mesmo tempo que se evidencia o sentido da crítica às estruturas de dominação e captura há muito investidas para minar as potências da revolta e seu apelo junto às massas.

    Com base nisso, as problemáticas suscitadas pela retomada das vanguardas, suas possíveis superações, as contradições bem ou mal resolvidas, os impasses, mesmo as aporias, podem lançar luzes sobre a arte contemporânea e as infinitas possibilidades de ação e transformação desencadeadas pela resistência, justo no momento em que o neoliberalismo, com todas as agências do espetáculo, investe o máximo para reificar uma dominação que tenta impedir o pensamento crítico em geral e a arte-revolta em especial de realizarem-se autenticamente na época.

    Hoje, como há muito, a tarefa do crítico contemporâneo tem diante de si uma arte neutralizada e reduzida à mera mercadoria. Não bastasse o fato de a arte moderna ter sido esvaziada de suas origens radicais, é necessário lidar com a imensa profusão da cultura-entretenimento, que tem desqualificado a vocação crítica das artes e do pensamento. No contexto atual do espetáculo integral, a arte-revolta encontra-se literalmente soterrada pela massa de arte espetacular que se avoluma indefinidamente.

    O tempo presente, saturado de mercadorias e espetáculos, gadgets e simulacros, carece de um estilo de arte crítica e igualmente de um pensamento atento às proezas da revolta, uma das potências da resistência da vida às investidas do capitalismo e sua máquina de guerra. Na concepção de Julia Kristeva, a arte e a cultura-revolta estão ameaçadas e em alguns casos até mesmo impossibilitadas:

    Não a arte ou a cultura-show, nem a arte ou a cultura-informação consensuais favorecidas pelas mídias, mas justamente a arte e a cultura-revolta. E quando essas se produzem, acontece que mostram formas tão insólitas e brutais que seu sentido parece perdido para o público. Com isto, cabe a nós sermos os doadores de sentido, os intérpretes.¹⁰

    Nesse cenário, talvez mais do que nunca, o trabalho crítico do pensamento, como enfatiza Kristeva, precisa ser revalorizado como um dos suportes fundamentais para o universo das artes contemporâneas. Cabe aos intelectuais o papel de doadores de sentido, de intérpretes das manifestações artísticas de seu tempo, seja por meio da crítica artística, seja por meio das ciências ou da filosofia. Kristeva inclui:

    [...] o trabalho crítico na experiência estética contemporânea: estamos mais do que nunca diante da necessária e inevitável osmose entre realização e interpretação, o que implica também uma redefinição da distinção entre crítica, de um lado, e escritor ou artista, de outro.¹¹

    Ao crítico cabe ter a sensibilidade e a lucidez de destacar, entre tantas produções, a originalidade e a singularidade de uma obra artística, de um processo estético. O que se pretende com isso não é erigir monumentos, mas apropriar-se do pensamento contemporâneo, voltá-lo às práticas artísticas que se instalam nas rachaduras da época, igualmente contemporâneas no sentido empregado por Agamben, para dotá-las de sentido sensível, cognitivo e político. Em suma, a tarefa do crítico contemporâneo não é outra, senão iluminar o valor da experiência-revolta lá onde ela se manifesta criadora de valores e modos de pensar, sentir, imaginar, agir, relacionar-se, ser e viver afirmativos.

    No contato com o grupo e suas produções, trata-se fundamentalmente de impulsionar a reflexão e o pensamento, que são levados a questionar e problematizar a pertinência dos fenômenos estudados em relação ao que se pensa e se vive no presente, ou seja, como forma de auxiliar na tarefa, sempre por se fazer, de interpretar o atual a fim de melhor compreender os processos que fizeram o presente o que ele é e assim, quem sabe, lançar luzes sobre aquilo que, do ponto de vista da revolta, precisa ser transformado mediante uma série de trabalhos coletivos necessariamente criativos em suas dimensões éticas e estéticas, portanto, micropolíticas.

    Nesse sentido, o CAE será tomado no interior de um pensamento que fará do próprio grupo estudado um operador conceitual, cognitivo e reflexivo, um meio de contato e uma via de acesso privilegiado a problemáticas atuais mais amplas, de caráter político, cultural e, em certos casos, antropotécnico, maquínico, o que poderá contribuir para a elaboração de uma ontologia do presente.¹²

    A Questão da Revolta

    O Critical Art Ensemble ocupa um lugar de destaque na arte-revolta contemporânea, tanto por sua trajetória quanto pela rica produção em torno de temas atuais. No grupo, a revolta encontra sua configuração micropolítica, sua máquina produtiva e seu canal de expressão. Convém, por isso, esclarecer a questão da revolta no plano teórico aqui adotado.

    O significado da palavra revolta não foi o mesmo em todo momento histórico. Na realidade, tem variado conforme a época e o contexto no qual é usada. De acordo com Alex Galeno:

    Kristeva recupera a plasticidade do termo e estabelece outros vínculos com o contexto histórico. Uma revolta não desconectada da realidade política e propiciadora de um novo encantamento da subjetividade dos indivíduos e da própria palavra.¹³

    A história da revolta pode ser acompanhada pela genealogia de palavras cujos significados modificaram-se conforme o contexto social e epistemológico.¹⁴ Há, portanto, uma plasticidade que é preciso ser considerada ao tratar do sentido atribuído à expressão.

    A palavra revolta tem uma história semântica que remete a uma linhagem de palavras usadas durante algum tempo para designar o deslocamento dos corpos celestes no espaço, significando algo parecido com a revolução dos astros em torno de si e no curso de uma órbita. Semelhante sentido foi empregado no uso de palavras ligadas ao tempo para representar o fim de um ciclo e o início de outro. Em ambos os casos, rotação, ciclo e retorno estavam associados à palavra latina volvere, voltar, retornar, em sentido espacial e temporal.

    Transposta do contexto astronômico e astrológico, a palavra adquiriu pouco a pouco um significado estratégico, social e, por fim, político de mudança. Revolta só passou a significar revolução social, tal como empregada no sentido moderno hoje conhecido, na passagem do século XVII para o século XVIII, quando a expressão foi popularizada com os acontecimentos políticos aos quais era associada. Nesse período, deve-se a Voltaire o emprego de révolte como guerra civil, perturbações, guerra e, finalmente, revolução.

    A revolta como fenômeno social e político de rejeição da autoridade, portanto, foi moldada na história das convulsões sociais e por isso carrega em si o significado de uma mudança de direção, um retornar a um novo começo, pôr fim a um estado de coisas e dar início a um movimento em outro sentido.

    Atualmente, a questão da revolta coloca-se na arte e na política com igual importância. O que Kristeva disse na década de 1990 sobre a perda da força da cultura-revolta e a sua substituição quase completa pela cultura-espetáculo na Europa também se aplica aos tempos presentes, talvez com maior intensidade. É verdade que o pensamento crítico e a arte-revolta conseguem criar espaços, abrir brechas, atravessar o espetáculo, porém, quase sempre, são destinados aos outsiders obstinados. De modo geral, o espetáculo integral abarcou a dimensão subjetiva com a interatividade generalizada e tornou-se hegemônico sem qualquer força contrária capaz de lhe fazer oposição frontal.

    Realmente, a conjuntura não é das melhores para o pensamento crítico. No campo das artes, há muitas expressões, das mais diversas. Porém a arte-entretenimento não conta para o campo da revolta. Mesmo considerando as artes de contestação, a arte-revolta tem que lutar com o niilismo artístico e suas várias vertentes. Assim, o espetáculo e o niilismo se sobrepõem a toda investida da cultura-revolta, que não vê outra saída a não ser resistir.

    Não fosse o bastante, o tempo presente perdeu a noção de qualquer medida. Não reconhece mais a revolta nem o seu valor. Cumpre, portanto, esclarecer do que se trata quando a questão se coloca.

    Albert Camus pergunta na abertura de seu livro sobre o assunto: Que é um homem revoltado?. A resposta é dada de uma forma simples e direta: Um homem que diz não. Mas, se ele recusa, não renuncia: é também um homem que diz sim, desde o seu primeiro movimento.¹⁵

    Em termos teóricos, a revolta pressupõe um tipo de atitude que é afirmativa e negativa ao mesmo tempo. Há, portanto, características próprias com as quais se pode identificá-la.

    Conceitualmente, não se pode falar de revolta como pura negatividade, pois lhe falta o caráter criador. Do mesmo modo, não se pode falar de revolta nos casos em que só há afirmação. A pura negação, por ser absoluta, recusa a parte aproveitável e positiva do mundo, enquanto a afirmação total é, na realidade, aceitação, o contrário da revolta, pois admite o que é intolerável do ponto de vista da vontade de transformação inerente ao ato de revoltar-se. Nos dois casos, extrapola-se e se desvirtua o movimento da revolta por excesso, suprimindo assim a tensão pela qual se mede a vontade característica da revolta e pela qual se reconhece sua ação no mundo.

    A abordagem do estudo se fará por via do conceito Arte-Revolta inspirado na compreensão de Albert Camus e Julia Kristeva. Para Camus, a revolta coloca-se no campo da criação e dos valores éticos e, por essas vias, atinge a arte e a política. Kristeva, por sua vez, aproxima-se da revolta pela psicanálise e pela linguagem.

    Na perspectiva de Camus, a revolta tem sido uma característica das mais presentes na história moderna e está estreitamente relacionada com o fenômeno do niilismo entendido como o descrédito de todos os valores éticos ou

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