Viver, conviver, trabalhar: trajetórias de trabalho e sociabilidade no distrito do Itaiacoca
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Viver, conviver, trabalhar - Matheus Koslosky
CAPÍTULO I – ITAIACOCA: CONSTRUINDO UM PANORAMA
Criado pela Lei n° 203, de 03 de janeiro de 1909¹⁸, o Distrito Judiciário de Itaiacoca localiza-se na região leste do Município de Ponta Grossa, no Estado do Paraná. Seu limite se inicia aproximadamente quinze quilômetros da área urbana da sede do município, estendendo-se por mais de seiscentos e cinquenta quilômetros quadrados, até as fronteiras dos municípios de Campo Largo, Carambeí, Castro e Palmeira, na Mesorregião do Centro Oriental Paranaense (MAPA 1).
MAPA 1 – Distritos Administrativos do Município de Ponta Grossa
FONTE: GOES, John Lenon de. Distritos Administrativos de Ponta Grossa. 2015. Documento digital.¹⁹
O distrito do Itaiacoca é formado por dezenas de comunidades rurais, que se espalham por todo o seu território, distanciadas umas das outras por vários quilômetros de estradas, que em sua maioria não são pavimentadas (MAPA 2).
MAPA 2 – Distrito do Itaiacoca
FONTE: GOES, John Lenon de. Localidades Itaiacoca. 2015. Documento digital.²⁰
Para este mapa, separou-se o distrito entre as regiões norte e sul, sendo a região norte (em azul) formada pelas comunidades mais próximas às áreas de mineração de calcário e talco, e a sul (em vermelho) formada pelas comunidades que se ocuparam por mais tempo da agricultura de subsistência, que me ocuparei neste trabalho.
Devido à sua localização, na região de transição entre o Primeiro e o Segundo Planalto Paranaense, na Escarpa Devoniana, o relevo do Itaiacoca representa um verdadeiro degrau topográfico, com paredes íngremes e verticalizadas com desníveis altimétricos frequentemente entre 100 e 200 metros²¹, apresentando características adequadas para as atividades mineralógicas, que lhe renderam o título de Terra do Talco
²².
A extração comercial do mineral teve início na região norte, na segunda década do século XX, tendo sido, por muito tempo, a principal atividade econômica não-agrícola praticada em todo o distrito. De acordo com matéria publicada no ano de 1962, um terço de toda a produção brasileira de talco, do ano anterior, havia saído do Itaiacoca. Isso equivaleu a uma média de mil e quinhentas toneladas mensais, de um talco que era considerado o melhor do hemisfério sul, perdendo em qualidade, apenas para aquele produzido na Índia.²³
O grande interesse da administração municipal de Ponta Grossa, que desde 1964 tributava em 2,5% o faturamento das empresas mineradoras²⁴, aproximadamente CR$ 400.000 cruzeiros em impostos, neste ano²⁵, fez com que se investisse na infraestrutura dos bairros da região norte do distrito, onde se concentravam as minas de calcário. Os demais bairros do distrito, na região sul, permaneceram abandonados pelo poder público, conforme se verá adiante.
A exploração mineral se desenvolve até os dias de hoje, nas minas do Itaiacoca, e a atividade mineradora se mantém como a principal atividade comercial praticada no distrito do Itaiacoca. Em períodos anteriores, no entanto, os proprietários de terras na região do Itaiacoca desenvolveram outras atividades econômicas, de maneira semelhante àquela desenvolvida no restante do território do Paraná, criando e recriando condições necessárias para a sua reprodução.
O comércio de indígenas escravizados foi expressivo entre os séculos XVI e XVII, até o estabelecimento da Companhia de Jesus nos Campos Gerais, quando se iniciou um movimento para a catequização dos índios, e substituição dos escravizados indígenas, pelos negros de origem africana. Nesse período os jesuítas criaram uma missão às margens do riacho entre o morro da Pedra Grande e a localidade do Cerrado Grande, no Itaiacoca, desenvolvendo a lavra de ouro de aluvião.²⁶
Em conjunto com os migrantes e imigrantes livres, que também povoaram o distrito, estas pessoas escravizadas foram importantes para a construção das culturas e identidades dos itaiacocanos²⁷, sendo muito frequente a existência de famílias com descendência indígena ou africana nos diversos bairros do Itaiacoca. Com o fim da escravidão no Brasil, muitos dos que haviam sido escravizados continuaram vivendo na região, especialmente no bairro conhecido como Palmital dos Pretos, reconhecido como comunidade remanescente de um quilombo em 06 de julho de 2006.²⁸
Existem poucos registros sobre este aspecto, mas acredito que, como no restante do Paraná, a busca pelo ouro de aluvião encontrou outros praticantes na região, trazendo garimpeiros de outras regiões. A economia do distrito, então, seguiu para uma pequena atividade agropecuarista, destinada ao comércio e abastecimento dos arraiais e vilas que davam base à exploração deste ouro, até o final do século XVII²⁹, e mesmo depois desta data. A autorização para que o senhor Dr. Lysimaco Ferreira Costa explorasse o ouro de aluvião na região do Itaiacoca, concedida pelo presidente Getúlio Vargas, no ano 1933, indica que a atividade perdurou até, pelo menos, meados do século XX³⁰.
Após este período, com a expansão da rota comercial que ligava o sul brasileiro às regiões auríferas do sudeste do Brasil e o aumento da demanda por animais de transporte (principalmente muares), para o trabalho nas minas, a economia itaiacocana passou a desenvolver-se em torno das invernadas³¹. Isso acontecia através do arrendamento de campos e pousadas aos tropeiros, da ampliação do comércio agropecuário para o abastecimento local e, posteriormente, da expansão da atividade pecuarista, motivada pela lucratividade da engorda dos animais.³² Este foi um dos períodos em que a ocupação ocorre com maior intensidade, nesta