Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

A produção de bonecas negras por artesãs tocantinenses: costurar igualdade e construir vínculos
A produção de bonecas negras por artesãs tocantinenses: costurar igualdade e construir vínculos
A produção de bonecas negras por artesãs tocantinenses: costurar igualdade e construir vínculos
Ebook192 pages2 hours

A produção de bonecas negras por artesãs tocantinenses: costurar igualdade e construir vínculos

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

O livro A produção de bonecas negras por artesãs tocantinenses: costurar igualdade e construir vínculos apresenta um referencial teórico-conceitual a partir das experiências motivadas pela solidariedade, cooperação e empoderamento. O empreendimento do Projeto Brincando de Bonecas é fomentado ela Comsaúde, entidade filantrópica que apoia iniciativas de geração de renda nos modelos da economia solidária em Porto Nacional, Tocantins. A obra apresenta uma revisão referente à análise da categoria gênero, dos movimentos sociais, das conquistas políticas para a igualdade entre sexos e da economia solidária. Também foram analisados os modelos simbólicos e construtivos na representação da boneca e o seu papel como ferramenta para inclusão social das mulheres. A análise das entrevistas e dos documentos, pela metodologia da história oral, forneceu informações sobre o desenvolvimento do grupo em torno da produção de bonecas. O processo grupal foi analisado sob o olhar da Teoria do Vínculo, de Pichon-Rivière, em que se evidenciou a conquista do empoderamento, emancipação e autonomia das artesãs.
LanguagePortuguês
Release dateDec 19, 2022
ISBN9786525029290
A produção de bonecas negras por artesãs tocantinenses: costurar igualdade e construir vínculos

Related to A produção de bonecas negras por artesãs tocantinenses

Related ebooks

Crafts & Hobbies For You

View More

Related articles

Related categories

Reviews for A produção de bonecas negras por artesãs tocantinenses

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    A produção de bonecas negras por artesãs tocantinenses - Jonas Carvalho e Silva

    12894_Jonas_Carvalho_e_Silva_capa_16x23-01.jpg

    A produção de bonecas negras

    por artesãs tocantinenses

    costurar igualdade e construir vínculos

    Editora Appris Ltda.

    1.ª Edição - Copyright© 2022 do autor

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.Catalogação na Fonte

    Elaborado por: Josefina A. S. Guedes

    Bibliotecária CRB 9/870

    Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT

    Editora e Livraria Appris Ltda.

    Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês

    Curitiba/PR – CEP: 80810-002

    Tel. (41) 3156 - 4731

    www.editoraappris.com.br

    Printed in Brazil

    Impresso no Brasil

    Jonas Carvalho e Silva

    A produção de bonecas negras

    por artesãs tocantinenses

    costurar igualdade e construir vínculos

    À Heloisa Lotufo Manzano e Luciana Pereira de Souza.

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço ao Sr. Christian Schulz, pelo financiamento do livro, à Comsaúde (Comunidade de Saúde, Desenvolvimento e Educação), por ser um laboratório vivo de boas práticas em saúde comunitária, e às artesãs do projeto Brincando de Bonecas de Porto Nacional, Tocantins, pela colaboração na construção desse referencial teórico para as ciências sociais.

    APRESENTAÇÃO

    Pichon-Rivière nos ensina que em tempos de incerteza e desespero, é essencial desenvolver projetos coletivos a partir dos quais se possa planejar a esperança junto com os outros. Este livro foi concluído na Alemanha durante a terceira primavera após o início da pandemia da covid-19. O período que estamos vivendo certamente será relembrado pela história, mesmo que ainda não saibamos que caminhos seguiremos para o futuro. O período como pesquisador e residente em um país diferente do Brasil me proporcionou a chance de elaborar as minhas memórias com as leituras que acumulei no campo das ciências sociais e humanas.

    Como produto dos resultados obtidos da reflexão e da minha trajetória acadêmica e política, apresento um referencial teórico conceitual articulado em processos coletivos de solidariedade, cooperação e autogestão. Busquei sistematizar, de maneira acessível as diversas áreas científicas e profissionais, diversos temas e conceitos que são emergentes no campo social, político e ecológico. O livro auxiliará a leitora e o leitor a situarem-se no mundo complexo em relação a si, ao outro e ao ambiente.

    Durante a minha formação como psicólogo, em uma universidade privada na Região Norte do Brasil, eu não tive nenhuma componente curricular que fornecesse conhecimentos empíricos, teóricos e interventivos sobre a economia solidária (Ecosol), ou sobre outras interseccionalidades, como gênero, classe e raça. Por sua vez, a minha formação acadêmica se constituiu de movimentos sinergéticos pessoais, sociais e institucionais, que dinamizaram o meu olhar sobre o projeto socioeconômico. As tendências e desafios que vivenciei exigiram criatividade e a convergência de elementos organizativos, práticos e políticos acerca dos processos socioecológicos humanos. Estes elementos da minha história de vida contextualizam a minha escolha pelo tema e pela psicologia comunitária.

    Os meus pais se conheceram no movimento social durante o processo de redemocratização do Brasil, iniciado com o encerramento da ditadura militar. A minha mãe, uma professora de história e artesã, nasceu em Pium-TO e se mudou com os meus avós para Porto Nacional ainda criança. O meu pai, um artista e produtor de vídeos autodidata, nasceu no Maranhão e se transferiu para Porto Nacional, após conhecer a região com um grupo de teatro. Eu nasci poucos dias antes da aprovação, e posterior promulgação, da Constituição brasileira de 1988. Neste mesmo ano, o norte do estado de Goiás foi emancipado, e eu fui registrado civilmente, após o meu nascimento, como tocantinense, a partir da instalação definitiva do Tocantins em 1989.

    Tenho preservado nas memórias da infância os momentos em que escutava os meus pais conversarem sobre os tempos sombrios da ditadura e a esperança em um Partido dos Trabalhadores; os motivos pela luta contra a discriminação racial e o respeito das diferenças; a construção de políticas para a Ecosol, onde trabalharíamos sem patrões e nos autogeríamos; a conquista de um Sistema Único de Saúde e educação de qualidade. A vitória do presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 2002, foi um período importante para a nossa família. Seguindo os passos dos meus pais e de tios, eu, os meus irmãos e primos tivemos contato, desde muito jovens, com os espaços de militância social e política.

    Também tenho preservadas na memória as rápidas transformações culturais, paisagísticas e ambientais que o Tocantins sofreu desde o período da sua criação. Em especial, um fato marcante foi o barreamento do rio Tocantins, após a construção de uma Usina Hidrelétrica, em 2000. O lago e a crescente atividade da agroindústria trouxeram vários impactos socioambientais para a nossa comunidade, que se tornaram uma pauta de luta para a nossa família.

    A cidade de Porto Nacional, como outras cidades ribeirinhas, foi fortemente afetada, provocando uma ruptura nos modos de vida da população. Os movimentos e as agendas políticas de Ecosol tomaram força nas cidades e nos assentamentos rurais atingidos pelas hidrelétricas e outros projetos de larga escala. Como um fator de resiliência comunitária, a formação dos Empreendimentos de Economia Solidária (EES) e os espaços de comercialização foram uma alternativa encontrada pelos atingidos frente às perdas econômicas, culturais e emocionais.

    Em razão das políticas sociais implementadas pelo governo, como o Programa Universidade para Todos (Prouni), eu, alguns familiares e amigos pudemos ter acesso à Universidade. E foi diante desse contexto de vida que eu iniciei a minha trajetória acadêmica. A Universidade me proporcionou o desenvolvimento de uma consciência mais profunda com os temas ligados às minhas experiências pessoais. A minha formação acadêmica, aliada à inserção política e social, impulsionaram o interesse para a realidade internacional.

    Durante a minha graduação, no período de 2008-2009, eu fiz um intercâmbio na Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Lovaina (Bélgica), onde pude, tanto nos espaços acadêmicos como do movimento social, daquele país, compartilhar a realidade do Brasil e aprender sobre os estudos de gênero, migração e de comunidade. Ao final da minha graduação em psicologia, em 2010, eu escrevi o meu trabalho de conclusão de curso sobre a formação de um EES da minha cidade, que será abordado neste livro.

    Após a graduação, iniciei, em 2011, o mestrado em Ciências do Ambiente, criado no final de 2002, sendo o primeiro mestrado a ser ofertado na Universidade Federal do Tocantins e no estado do Tocantins. A extensão da minha pesquisa, iniciada na graduação, em um programa interdisciplinar, que discute o meio ambiente em sua ampla conceituação, me possibilitou articular um campo teórico-conceitual sobre a condição de vida das pessoas.

    Nessa fase da minha formação, realizei um período sanduíche na Universidade de Múrcia (Espanha) no Programa de Mestrado em Gênero e Igualdade da Faculdade de Direito. Esta experiência me despertou o interesse em desenvolver a profissão com base na perspectiva de gênero e na promoção da igualdade, como via de superação das diferenças, e combater a discriminação nos âmbitos institucionais, políticos e profissionais. Este livro é derivado da minha dissertação de mestrado, na linha de pesquisa Cultura e Meio Ambiente, defendida em 2013. Para a edição da obra eu atualizei o estado da arte, atinente à temática da pesquisa, e a discussão dos resultados.

    Na segunda parte do livro trago uma experiência real de um grupo de artesãs da minha cidade natal, Porto Nacional, Tocantins. Ligadas à entidade Comsaúde, as mulheres se reuniram, por um período de cinco anos, em torno de uma atividade econômica de produção de bonecas, motivadas pela crença comum em uma sociedade justa e democrática. Elas são as protagonistas desta obra, pois deram voz e representatividade à identidade coletiva das mulheres negras, para a construção de um esquema de sobrevivência, tendo como recursos do processo grupal os vínculos e a união.

    A minha inserção no campo de pesquisa se deu a partir de uma atividade da Comsaúde nos bairros, que chamávamos de "Baús da Leitura", iniciada após a doação de livros infanto-juvenis de uma escola particular de São Paulo. Os livros armazenados e transferidos nos baús proporcionavam encontros rotativos nos quintais das residências das mães, onde realizávamos a leitura de histórias para as crianças e as suas famílias. Todas as ações foram posteriormente concentradas e interligadas no Centro das Crianças, após a construção do prédio, e eu fui contratado como assistente da biblioteca. Nesse local eu me encontrava diariamente com o grupo de artesãs.

    O projeto Brincando de Bonecas foi estruturado com os vários colaboradores da Comsaúde que desenvolviam ações sociais no bairro Brigadeiro Eduardo Gomes. Junto com a produção da boneca, inspirada na economia solidária, outras ações foram planejadas para a educação étnico-racial. Nos dias 20 de novembro, em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, iniciamos a organização de desfiles da beleza negra. Esses eventos visavam à valorização da estética negra e da autoestima das pessoas da comunidade.

    O Brasil está marcado atualmente pela polarização das opiniões, o que põe em risco o consenso sobre os valores humanos que nos fazem estar com os outros. A pesquisa e o ativismo social devem agir conjuntamente na contramão, como pontes entre os mais diversos contextos, para promover a garantia dos direitos fundamentais daqueles mais vulneráveis, que são as vítimas diretas da injustiça. Este livro é um convite para a transformação, por meio da resistência e da esperança de que uma sociedade igualitária é possível, a partir dos esforços coletivos.

    Jonas Carvalho e Silva

    PREFÁCIO

    Em O tecelão dos tempos, Durval Muniz de Albuquerque Jr. nos ensina que a história nasce como trabalho artesanal, paciente, meticuloso, diuturno, solitário e infindável que se faz sobre os restos, sobre os rastros. Como esfinges, pedem deciframento, solicitam compreensão e sentido (2019, p. 30).

    O psicólogo e ambientalista Jonas Carvalho e Silva parece percorrer esse caminho indicado por Durval. O livro A produção de bonecas negras por artesãs tocantinenses: costurar igualdade e construir vínculos é, antes de tudo, a escrita artesanal, paciente e meticulosa do autor que nasceu e viveu em Porto Nacional (TO), cidade impactada pela barragem de Lajeado. Aos moradores do Centro Histórico coube a resiliência

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1