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Estágio de Estudantes: o estágio de estudantes como instrumento de precarização das relações de trabalho no ordenamento brasileiro
Estágio de Estudantes: o estágio de estudantes como instrumento de precarização das relações de trabalho no ordenamento brasileiro
Estágio de Estudantes: o estágio de estudantes como instrumento de precarização das relações de trabalho no ordenamento brasileiro
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Estágio de Estudantes: o estágio de estudantes como instrumento de precarização das relações de trabalho no ordenamento brasileiro

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Esta obra tem por objetivo analisar as etapas do estágio de estudante para a formação profissional. As exigências profissionais do mercado de trabalho na sociedade contemporânea concorrem para que os diversos cursos superiores e profissionalizantes incluam em seu conteúdo programático atividades teórico-práticas para que os estudantes concluam seus estudos com trabalhos e tarefas cada vez mais complexos, neles envolvendo procedimentos que harmonizem a teoria à prática.

Texto de contracapa: Apurou-se que os centros educacionais, principalmente aqueles voltados para o ensino superior, têm se omitido nas suas funções de coordenação e acompanhamento. No decorrer da pesquisa foi possível entender: se as razões das substituições dos trabalhadores empregados por estagiários, a baixa qualidade dos acompanhamentos e avaliações foram os motivos que ocasionaram o crescente aumento de estagiários no mercado formal de trabalho e o seu desvirtuamento. A ausência ou inexistência das etapas de coordenação e acompanhamento propugnou-se pela descaracterização do instituto. Após análise das diversas opiniões registradas no marco teórico, afirma-se ser o caráter central do estágio para a formação profissional a sua relação e efetiva aplicação prática da teoria acadêmica devidamente acompanhada e supervisionada. Concluiu-se que o estágio profissional não pode ser encarado como uma tarefa burocrática a ser cumprida sob aspecto formal, pois muitas vezes é desvalorizada pela entidade concedente. Deve, então, assumir a sua função efetivamente prática e revisada numa dimensão dinâmica e não estática, produtiva, profissional e de troca de conhecimentos.
LanguagePortuguês
Release dateJan 6, 2023
ISBN9786525259284
Estágio de Estudantes: o estágio de estudantes como instrumento de precarização das relações de trabalho no ordenamento brasileiro

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    Estou escrevendo um artigo acadêmico sobre esse assunto e o livro me ajudou bastante, porque falta informações precisas e atualizadas sobre o tema. Além disso, o livro é de fácil entendimento, ou seja, não tem uma linguagem acadêmica extremamente complexa que não dê para entender. Amei!

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Estágio de Estudantes - Jair Teixeira dos Reis

CAPÍTULO I PROPOSTA DE PESQUISA

2.1. JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

A tese em desenvolvimento foi concebida ao longo da trajetória profissional do autor como Auditor Fiscal do Trabalho, desde fevereiro/1996, na Superintendência Regional do Trabalho no Estado do Espírito Santo, órgão integrante da estrutura administrativa do Ministério da Economia - ME da República Federativa do Brasil e a partir de agosto/2002 como professor universitário na Faculdade São Geraldo, atualmente - MULTIVIX localizada no município de Cariacica, Estado do Espírito Santo.

No quadro das mudanças empresariais vividas, em nosso tempo, todas as profissões podem ser consideradas novas, com surpreendentes características, polivalentes e multidisciplinares. A aquisição de competências passa pela dimensão técnica, pela dimensão humana, pelo contexto político-econômico e pela parte de conhecimentos a serem transmitidos, reunindo o saber e o fazer e a teoria e a prática (NISKIER, 2006).

Destaca-se que os trabalhos de orientação, acompanhamento e supervisão de estágios por parte das instituições de ensino não têm atendido à sistemática prescrita no ordenamento jurídico, no que pertine ao estágio curricular, ou têm sido atendidos de forma incompatível com os processos acadêmicos e institucionais vigentes.

A exemplo do que acontece com as diversas profissões liberais e técnicas profissionalizantes, os conhecimentos hauridos durante o curso de formação não conferem as condições especiais requeridas para o pronto exercício da profissão. O desempenho da profissão exige uma adaptação especial designada pelo termo capacitação profissional. Distinguem-se assim claramente duas fases, sendo a primeira educativa e a segunda profissional propriamente dita. As instituições podem, melhor do que ninguém, propiciar a capacitação profissional pelo aparelhamento prático que possuem, muito importante para o envio dos estudantes nas diversas entidades concedentes. Todavia, o exercício das profissões, precisamente porque as duas fases mencionadas se distinguem, está sujeito a condições de capacidade a serem apuradas fora do ambiente educacional, ou seja, no efetivo exercício do estágio de estudantes (BARROS JR; TUCUNDUVA, 1980. pp. 14-15).

Dentre outras razões positivas para a justificativa da adoção do instituto em discussão verificou-se a inexistência de diversas obrigações adicionais previstas na legislação trabalhista brasileira, tais como: Informações no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED, informações da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, obrigações com o Programa de Integração Social e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público – PIS/Pasep, geradoras de despesas nos departamentos de recursos humanos das entidades empresariais e de profissionais autônomos³.

Apurou-se, conforme destacado no desenvolvimento da tese, que a prática do estágio no Brasil tem sido incentivada e vista, sob certa ótica, como uma das soluções para o fim ou, ao menos, a mitigação do desemprego. Deveras, gostaríamos que a adoção desta política tivesse mais pontos salutares do que perniciosos, todavia, empiricamente não é isto que tem sido verificado. O período em que permanece na empresa é reduzido em razão de outras atividades acadêmicas e se encerra com a contratação de outro estagiário. Acaba não sendo preparado para o mundo laboral e, mesmo sem esse intento, acaba por retirar uma vaga de emprego formal, contribuindo para o já preocupante e elevado desemprego.

O art. 1° da Lei n° 11.788, de 25 de setembro de 2008 nos ensina que:

Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos.

Para Sá (2017, p. 14), da leitura deste artigo, podemos, então, definir que o estágio, é um ato educativo escolar que visa preparar o aluno a ter conhecimento do ambiente de trabalho, bem como ao próprio mercado de trabalho, além de funcionar como elo entre o que se aprende na teoria e sua aplicação na prática. Assim, pela relação de estágio ser facilmente confundida com a relação de emprego, e com o crescente número de estagiários no Brasil, a importância do tema se faz presente posto que a relação de estágio gera vínculo jurídico triangular entre três partes: 1 – A parte concedente do estágio; 2 – a instituição de ensino; 3 – o estagiário. A partir de então, para apuração de sua utilização como mecanismo de aprendizagem, será realizada uma análise sobre o tema, destacando-se os direitos e garantias inerentes aos estagiários, os aspectos que poderão ser observados na descaracterização do termo de compromisso, fraudes cometidas e a principal consequência desta desvirtuação do contrato, que é a transformação do contrato de estágio em contrato de emprego, formando, por conseguinte, vínculo empregatício.

Na visão de Fonseca (2001), o estágio profissionalizante configurou-se numa forma de aprendizagem escolar que excepcionalmente exclui o vínculo de emprego. A legislação brasileira, tradicionalmente, regulamentou o estágio por meio da Lei nº 6.494/77 (atualmente, Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008) em relação aos cursos técnicos ministrados no nível secundário, no ensino superior e em escolas especiais para portadores de deficiência, buscando fazer com que a atividade laboral complementasse o ensino escolar de cunho profissionalizante, assinalando que a grande excepcionalidade que caracteriza o estágio justifica-se pelo fato de que o trabalho complementa a escola, no sentido estrito da formação curricular em face das matérias lecionadas, cuja finalidade é a formação profissional. E que grande equívoco de interpretação foi conferido às Medidas Provisórias nºs 1.779, 1.879, 1.952, 2.076 e 2.164, que alteraram o § 1º do art. 1º da Lei nº 6.494/77, para admitir o estágio no ensino médio genérico.

Esta análise segundo Fonseca (2015) afigurou-se inadequada, uma vez que não concebeu o trabalho profissionalizante hábil a se caracterizar como estágio e desconectado de ensino teórico também profissionalizante, pois, se a aprendizagem escolar, materializada no estágio, somente se revela como tal, na medida em que propicie complementação prática do ensino teórico, este deve necessariamente ser profissionalizante, sob pena de se abrir em demasia as portas para a fraude no estágio. Assim, não há como se ler o § 1º da Lei nº 6.494/77 em estudo de uma maneira incoerente com o próprio caput do art. 1º e com o seu § 2º. Não se podendo mudar a substância das coisas alterando-se a sua aparência. O estágio profissionalizante, nos termos da lei, somente se implementa na medida em que complemente o ensino de nível médio e superior.

Aponta Camino (1996) que, se descumpridos os requisitos formais de validade do estágio curricular, de estágio não se trata:

a) É uma relação jurídica formal porque somente se constitui mediante contrato escrito;

b) É uma relação jurídica complexa porque desdobrada em duas relações jurídicas formais e interligadas: a estabelecida entre a escola e o sujeito cedente (contrato originário) e a estabelecida entre o estagiário e o sujeito cedente (contrato derivado, expresso no termo de compromisso);

c) O ônus de provar a inexistência da relação de emprego é sempre do sujeito cedente. Logo, se não há prova, há contrato de trabalho;

d) O estágio curricular é, em tudo, igual ao trabalho pessoal e por conta alheia, que caracteriza a relação de emprego. Falta-lhe, porém, um dos requisitos essenciais desta última: o trabalho não é produtivo, mas formativo. O fim econômico cede espaço ao fim pedagógico.

Complementa a autora que o estágio pode se apresentar como formalmente válido, mas ineficaz, sempre que no plano da sua execução concreta, não se verificarem os demais requisitos estabelecidos na lei e em seu regulamento para que sejam colmatados os objetivos do estágio profissional, principalmente quando não há acompanhamento pedagógico pela instituição de ensino.

Por fim, questão de fundamental importância para esse trabalho científico é a aplicação distorcida do procedimento didático-pedagógico do estágio, em especial, a partir do surgimento, ao longo dos anos, de um universo muito expressivo de trabalhadores que, envolvidos de alguma forma com essa espécie de contratação, não assumiram verdadeiramente a condição de estagiários, porquanto se submetem ao poder hierárquico, empregador-empregado, típico da relação empregatícia, muito embora estejam alijados da esfera de atuação do Direito Social na modalidade trabalhista.

Assim, a possibilidade de utilização do procedimento didático-pedagógico do estágio de estudantes, com cumprimento das regras estabelecidas no ordenamento jurídico brasileiro, atendendo a seus princípios fundados no ímpeto formativo e não-produtivo, traduziu-se em instrumento de aperfeiçoamento dos conhecimentos teóricos obtidos nas salas de aula quando aplicados no ambiente prático.

Esta utilização do instituto do estágio, sem riscos de maquiar o trabalhador, numa relação empregatícia, surgiu para que os empresários detentores dos postos de trabalho num momento de expansão da globalização fossem beneficiados, já que estavam buscando caminhos que levassem à máxima redução de custos da mão de obra e consequentemente do produto ou serviço final, e impulsionados pelos agentes de integração (intermediadores) acabaram iludidamente cometendo infrações à legislação⁴ vigente no estado brasileiro.

O gestor de estágios traduz-se numa peça fundamental de adaptação dos currículos e programas acadêmicos. Funciona como um termômetro de verificação das mudanças a serem implementadas na condução das disciplinas profissionalizantes.

2.2. FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DA PESQUISA

O desvirtuamento no estágio de estudantes nem sempre se apresenta frontalmente. Quando as instituições de ensino e as partes cedentes, dentre elas a própria administração pública brasileira, admitem estagiários, as formalidades exigidas para a concretização do estágio profissional ou acadêmico costumam ser atendidas, sendo necessário que se vá verificar, além dos aspectos ou elementos formais, os aspectos ou elementos intrínsecos da prestação do trabalho que denotem a possível fraude do estágio.

É interessante ressaltar que a preocupação principal deste trabalho com o instituto do estágio de estudantes se deu, tendo em vista que a quantidade de trabalhadores envolvidos nesta espécie de trabalho a partir da alteração legislativa de 1998, expandiu-se numa escala alarmante, embora desprovidos de qualquer proteção trabalhista e previdenciária, consequentemente, agravaram-se os índices de desemprego uma vez que não há nenhum controle oficial desta espécie de trabalho.

O número de estagiários no Brasil aumentou de 339 mil em 2010 para 498 mil em 2017, o que representa um crescimento de 47,1%. Já o número de bolsistas cresceu 42,2% nesse mesmo período, ao passar de 206 mil para 292 mil. Em 2017, a maior parte dos estagiários cursava o ensino superior (76,6%), seguido pelo ensino médio (19,6%), técnico (3,4%) e demais níveis (0,3%), de acordo com dados do estudo Benefícios Econômicos e Sociais do Estágio e da Aprendizagem, do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe)⁵.

Como podem os centros educacionais acompanhar, supervisionar e analisar os estagiários nas entidades concedentes quando existe a utilização indevida dos mesmo em postos de trabalho?

Esta tese propõe que a partir do atual desvirtuamento do estágio (no contexto normativo e na prática) haverá grande dificuldade de cumprir com a legislação vigente e ampliar a tendência da precarização do trabalho em ambientes que deveriam ser utilizados para o seu aperfeiçoamento prático.

2.3. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

A educação é um processo amplo, dinâmico e contínuo que não necessariamente tem sua finalização ao término do ensino superior, mas que deve estar comprometido com a formação plena dos estudantes, para além dos limites internos dos cursos regulares dentro dos centros acadêmicos. Neste sentido, é a partir desta constatação que surge a atividade de estágios em entidades concedentes como complemento desta etapa de formação educativa, que foi utilizada como instrumento precarizante no ordenamento brasileiro.

2.3.1. Objetivo Geral

Para delimitar o objetivo geral da presente tese, merece destaque o fato de que a similaridade dos institutos do emprego e do estágio nem sempre permitem compreender ou mesmo identificar a possibilidade de sua utilização como mero mecanismo de redução de custos da folha de pagamento a trabalhadores no ordenamento jurídico brasileiro, pois a utilização desvirtuada ou precarizada, sem a coordenação e acompanhamento transmuda de sua vocação de instrumento de aprendizagem em autêntica relação de emprego, sem, contudo, assegurar ao estagiário os direitos sociais destinados aos empregados.

Assim, é pacífico na doutrina que o estagiário não é um trabalhador no sentido jurídico do vocábulo. Conforme Martinez (2019, p. 130), o estagiário está sendo preparado para o trabalho, mas, enquanto não alcança esse momento, simplesmente realiza atividades em sentido estrito, pois se trata de um ato educativo escolar supervisionado.

Portanto, o objetivo geral visa demonstrar a importância da coordenação e supervisão do estágio de estudantes pelas instituições de ensino no ordenamento jurídico brasileiro tendo em vista evitar a sua utilização na substituição de mão de obra de baixo custo.

Para atingir o objetivo geral visualiza-se o negligenciamento por parte das instituições de ensino no acompanhamento pedagógico e necessário desses estágios, pois, é comum, o descaso dos agentes de integração, que em regra não se preocupam em estabelecer o nexo de finalidade entre as funções inerentes à vaga ofertada pela concedente e a grade curricular do curso frequentado pelo estudante que se oferece para preenchê-la.

2.3.2. Objetivos Específicos

Objetivo predominante do estágio somente será obtido se o estagiário atuar no desempenho das atividades desenvolvidas pelos empregados do sujeito concedente, assim, não pode olvidar-se da realidade do meio em que se insere o estudante com o conteúdo ministrado na instituição de ensino.

A fraude que se pretende demonstrar revela-se quando apurado se os aspectos relacionados à finalidade pedagógica do estágio, está precisamente em o estagiário trabalhar sem a devida orientação dos supervisores, empregados ou proprietários da concedente.

No intuito de aperfeiçoamento do instituto, e por exigência legal, enumeraremos as principais responsabilidades dos envolvidos no desenvolvimento dos estágios no estado brasileiro.

a) Identificar as razões das substituições de trabalhadores empregados através do regime celetista por estagiários dentre outras modalidades de precarização do trabalho;

b) Apontar a qualidade dos acompanhamentos e avaliações de estágios efetuados por coordenadores e supervisores;

c) Identificar a relação entre a teoria existente nos programas curriculares escolares e a prática executada nas empresas concedentes de estágios;

d) Explicar os motivos provocadores do crescente número de estagiários no mercado formal de trabalho;

e) Avaliar os desdobramentos do desvirtuamento dos estágios de estudantes;

f) Enumerar as responsabilidades dos envolvidos no desenvolvimento dos estágios de estudantes.


3 A partir de janeiro de 2020, o eSocial incorpora o CAGED e a RAIS, nos termos da Portaria 1.127, de 15 de outubro de 2019, que determina o envio de informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados e da Relação Anual de Informações Sociais por meio do eSocial. Conforme ali previsto, a partir de 1º de janeiro de 2020 a obrigação da comunicação de admissões e dispensas e informações sociais deverão ser enviados unicamente pelo sistema de escrituração digital.

4 Para MAIOR (2002) a figura jurídica do contrato de estágio é alvo de grande interesse para alguns, pelo fato de permitir a utilização do trabalho humano, sem os custos do direito do trabalho, uma vez que, nos termos dos arts. 3º e 4º da Lei 6.494/77, nos contratos de estágio não há a formação de vínculo empregatício. O contrato de estágio, portanto, configura-se, consequentemente, em uma porta aberta para a diminuição do custo da produção.

5 Acesso em http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2019-06/numero-de-estagiarios-no-brasil-aumenta-em-sete-anos.

CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA

3.1. HISTÓRIA E CONCEITO DE TRABALHO

Em todas as referências do termo trabalho, em seu contexto mundial, veremos que ele apresenta diferentes fases, considerando-se desde o trabalho escravo – escravidão – ao sistema de servidões, posteriormente às corporações de ofício; e, finalmente, à Revolução Industrial, quando surge o Direito Laboral.

A existência trabalho é tão antiga quanto o homem. Em todo o período da pré-história, o homem é conduzido, direta e amargamente, pela necessidade de satisfazer a fome e assegurar sua defesa pessoal. Ele caça, pesca e luta contra o meio físico, contra os animais e contra os seus semelhantes, tendo como instrumento as suas próprias mãos.

Conforme Russomano (2002), a importância econômica, social e ética do trabalho não passou desapercebida dos legisladores antigos. No Código de Manu há normas sobre a empresa, na forma rudimentar com que ela se havia constituído. Os historiadores mais credenciados da Antiguidade aludem às organizações de classes dos hindus, dos árias, dos egípcios. Toda a preocupação parecia reduzir-se à organização social das classes, entre estas e a dos trabalhadores, para conservá-los no círculo do seu destino.

O trabalho também pode ser estudado, historicamente, pelas denominações a seguir.

O Direito Romano partiu da figura do arrendamento de coisa (locatio conductio rei) para aplicá-la, como obrigação de fazer, às duas formas usuais de contratação do trabalhador livre: a) para a execução de determinada obra (locatio conductio operis); b) para a prestação de serviços em favor do contratante (locatio conductio operarum).

a) Locação de obras e serviços – Na locação de obras (locatio conductio operis)⁶, gênese do contrato de empreitada, havia a execução de uma obra mediante pagamento de um resultado. Configura-se, de certa forma, como o trabalhador autônomo ou por conta própria. O objeto do contrato era, portanto, um resultado, cabendo o contratado o risco da sua execução.

b) Locação de serviços (locatio operarum) – Existia uma cessão do próprio trabalho, como objeto do contrato. Deu origem ao trabalho contratado ou subordinado. Aqui, o objeto do contrato era uma atividade, cabendo ao contratante o risco do empreendimento.

3.1.1. Escravidão

Menciona Vianna (1984) que o homem sempre trabalhou; primeiro para a obtenção de seus alimentos, já que não tinha outras necessidades, em face do primitivismo de sua vida. Depois, quando começou a sentir o imperativo de se defender dos animais ferozes e de outros homens, iniciou-se então na fabricação de armas e instrumentos de defesa. Nos combates que travava contra seus semelhantes, pertencentes a outras tribos e grupos, terminada a disputa, acabava de matar os adversários que tinham ficado feridos, ou para devorá-los ou para se libertar dos incômodos que ainda podiam provocar⁷. Assim, concluiu-se que em vez de liquidar os prisioneiros, era mais útil escravizá-los para gozar de seu trabalho.

Contudo, os vencedores valentes que faziam maior número de prisioneiros, impossibilitados de utilizá-los em seus serviços pessoais, passaram a vendê-los, trocá-los ou alugá-los. E aos escravos eram dados os serviços manuais exaustivos não só por essa causa como também, porque tal gênero de trabalho era considerado impróprio e até desonroso para os homens válidos e livres.

Registra-se ainda, que a escravidão entre os egípcios, gregos⁸ e os romanos (Antiguidade Clássica) atingiu grandes proporções. Na Grécia havia fábricas de flautas, facas, de ferramentas agrícolas e de móveis onde o operariado era todo composto de escravos. Teseu e Solon incluíram o princípio do trabalho na Constituição ateniense. E a generalização do trabalho escravo, sua importância e a necessidade de sua utilização para a prosperidade geral ou para o gozo dos privilégios constituídos levaram Platão e Aristóteles⁹, em suas obras A República e A Política¹⁰, a admitirem a escravatura, quando não chegaram ao extremo de defendê-la. Em Roma os grandes senhores tinham escravos de várias classes ou níveis, desde os pastores até gladiadores, músicos, filósofos e poetas. Para os romanos, a organização do trabalho ofereceu três aspectos distintos: o trabalho escravo, em que o homem se transforma em res, sujeito à vontade despótica de seu proprietário; o trabalho em corporações, e finalmente o trabalho livre. No direito egípcio, no século XVI, com a 18ª dinastia há o desaparecimento da escravidão.

Leciona Gilissen (2001) que a apropriação do solo leva a desigualdades sociais e econômicas e estas desigualdades econômicas levam a diferenças mais ou menos consideráveis de produção de um clã para outro, duma família para outra. Segue-se o aparecimento de ricos e pobres e, por consequências, de classes sociais. E, estas classes vão se diferenciar fortemente à medida que os ricos se tornam mais ricos e os pobres mais pobres, porque muito frequentemente o pobre, obrigado a procurar meios de sobrevivência, deverá pedir emprestado ao rico e pôr os seus bens e a sua pessoa em penhor, o que terá consequências graves no caso de não execução do contrato. Assim, aparecem classes sociais cada vez mais distintas e uma hierarquização da sociedade, que vai se complicando à medida que aparecem novas classes entre a dos livres e a dos não livres. Chega-se assim a uma sociedade fortemente estruturada, geralmente do tipo feudal, piramidal, tendo à sua cabeça um chefe, abaixo do chefe os vassalos, depois os vassalos dos vassalos e assim seguidamente, finalmente os servos e os escravos.

A primeira forma de trabalho – escravidão - em que o escravo era considerado apenas uma coisa¹¹, sem qualquer direito, pois, não era tratado como sujeito de direito e sim, propriedade do dominus (MARTINS, 1999). Ademais, muitos escravos vieram, mas tarde, a se tornar livres, não só porque senhores os libertavam como gratidão a serviços relevantes ou em sinal de presente em dias festivos, como também, ao morrer declaravam livres os escravos prediletos. E, ganhando a liberdade, esses homens não tinham outro direito senão o de trabalhar nos seus ofícios habituais ou alugando-se a terceiros, mas com a vantagem de ganhar o salário para si próprios.

Esclarece Vianna (1984) que àquele tempo, a escravidão era considerada coisa justa e necessária, tendo Aristóteles afirmado que, para conseguir cultura, era necessário ser rico e ocioso e que isso não seria possível sem a escravidão. A existência da escravidão nos tempos medievais era marcada pelo grande número de prisioneiros, especialmente entre os bárbaros e infiéis, efetuada pelos senhores feudais, que mandavam vendê-los como escravos nos mercados de onde seguiriam para o Oriente Próximo. Sob vários pretextos e títulos, a escravidão dos povos mais fracos prosseguiu por vários séculos; em 1452 o Papa Nicolau autorizava o rei de Portugal a combater e reduzir à escravidão todos os muçulmanos, e em 1488 o rei Fernando, o Católico, oferecia dez escravos ao Papa Inocêncio VIII, que os distribuía entre cardeais. Mesmo com a queda da Constantinopla em 1453, a escravidão continuou e tomou incremento com o descobrimento da América. Os espanhóis escravizavam os indígenas das terras descobertas, e os portugueses, não só aqueles, como também faziam incursões na costa africana, capturando escravos para trazer para as terras do Novo Continente.

O ciclo revolucionário que ocorreu na França entre 1789 e 1799 que marcou o fim do absolutismo nesse país culminou na denominada Revolução Francesa¹² de 1789 que proclamou a indignidade da escravidão, pois a vida dos trabalhadores e camponeses era de extrema miséria, portanto, desejavam melhorias na qualidade de vida e de trabalho. A burguesia, mesmo tendo uma condição social melhor, desejava uma participação política maior e mais liberdade econômica em

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