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Compilado moderno de assuntos eternos
Compilado moderno de assuntos eternos
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Ebook354 pages3 hours

Compilado moderno de assuntos eternos

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About this ebook

Há assuntos que perduram mesmo quando tudo ao seu redor é carvão. O que foi, o que é, o que será, coisas que foram, que são, o que haverão de ser, são encontradas aqui em forma de preocupações sempre eternas no coração humano. Do romance ao terror, a emoção muda tal qual as fases da lua, em uma transitoriedade que tinge a moderna juventude. Um compilado de essências, um compilado atual, um compilado moderno de assuntos eternos.
LanguagePortuguês
PublisherViseu
Release dateFeb 27, 2023
ISBN9786525442037
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    Compilado moderno de assuntos eternos - Lucas Pedro do Nascimento

    Apresentação

    "Meu jovem, a vida é boa, e você cantando o cântico

    da mocidade pode fazê-la melhor".

    Cora Coralina in Recados de Aninha I

    Para fazer jus às palavras da poetisa goiana, um grupo de jovens irreverentes (alguns até mesmo inconsequentes), em Compilado moderno de assuntos eternos, une suas vozes para cantar, em boa melodia, sob o ritmo de palavras bem orquestradas, as cadências da vida, suas auguras e também suas conquistas, evocando, assim, um cântico da mocidade que não lhe pertence apenas, mas é comum a muitos jovens (de corpo e de espírito) mundo a fora. Com isto, embala a leitora ou o leitor pelos becos, labirintos e saídas que tantas vezes conduziram a humanidade e a juventude ao encontro de si mesmas: a procura incansável pelo eu, e o resultado é a obra que se segue. Aliás, é com habilidade e técnica que esta obra, subdividida em partes (uma para cada autor), construirá aos poucos uma trajetória discursiva e temática espiralada, cujos interstícios recordarão, aos poucos, que o sentido da vida é viver, viver até mesmo quando os escombros e as ruínas dos próprios sonhos pressionam o sonhador contra o chão a ponto de travar sua respiração. Este livro é sobre resistência, fraternidade, sororidade e resiliência.

    Assim, cada autora e autor, como você constatará a seguir, circunscreve um pouco de si nas páginas deste livro e se revela, desmedidamente, para fazer vibrar as cordas do coração humano sob a toada da saudade daquilo que nunca se teve, da gratidão pelo que se tem ou da revivescência das coisas boas vividas. Ainda, recordar que é preciso sonhar, sorrir, amar e viver intensamente enquanto se tem tempo, pois se vida é um sopro, a nossa existência se resumirá sempre a instantes. Dito isto, desejo a você uma excelente leitura e uma maravilhosa viagem sob o cântico desta mocidade e as vozes destes meus queridos jovens.

    Anápolis, julho de 2022.

    Lucas Pedro do Nascimento

    Dedicatória

    Cada momento

    é formado por segundos,

    por isso a gente espera

    que cada um seja eterno.

    A Anna Clara Hammes, que continua iluminando todos que tiveram a graça de conhecê-la, e aos escritores eclipsados, que não tardarão a expor tudo o que precisa ser dito.

    Maria

    Maria Ludwig nasceu em Novembro de 2001, em Nova Friburgo, uma cidade tão pequena quanto fria, na serra do Rio de Janeiro. Teve seu primeiro contato com a literatura ainda pequena, quando sentava na poltrona de seu avô e assistia fascinada enquanto ele lia seus jornais. Mas foram os livros de Harry Potter, que leu pela primeira vez aos 7, que a trouxeram de vez para esse universo (com um favoritismo nada velado pela Sonserina).

    Através dos livros, desenvolveu sua habilidade de escrita, algo que a proporcionou não apenas conquistas acadêmicas, mas a liberdade de voar sem asas, com apenas um lápis e uma folha. Não demorou a escrever suas próprias histórias e poemas, descobrindo em fim o quê a fazia feliz: passar sua imaginação para o papel. E assim o faz, através de sua poesia - hora ácida e mordaz, hora suave e melódica.

    Hoje Maria cursa Direito e nos tempos livres gosta de produzir escritos, assistir filmes e séries (com um apreço especial pelos de terror e de ficção científica), jogar e passar tempo com sua família.

    Em suas obras, busca trazer à vida uma de suas palavras favoritas, hiraeth, expressão gaélica que significa a saudade de algo que nunca se teve.

    Ela espera estar fazendo um bom trabalho.

    S

    upernova

    Como reluzia, sozinha no universo

    Os astros se curvavam diante de sua voz

    Seu riso iluminava as estrelas já brilhantes

    Sua luz era coroa, mas seu olhar era distante

    A rainha de tantos mundos

    De bondade ofuscante

    Ascendeu tão rápido ao céu

    E tornou-se faísca errante

    Pelo seu povo, brilhou mais que o Sol

    Escondeu feridas tão antigas quanto o tempo

    Queimou-se várias vezes em sua própria luz

    Ser a estrela que mais reluz... Era benção? Era cruz?

    O escuro a caçava, sedento por sua presa

    E as sombras clamavam seu corpo, por fim

    Lutou em silêncio e forjou seu sorriso com maestria

    Ao invés de forjar a lâmina que talvez a salvaria

    Rachaduras pela sua superfície reluzente

    E tudo teve fim com a mais cegante luz

    Iluminaria universos por séculos adiante

    Mas sua alma agora era história distante

    Um astro tão marcante

    De ascensão monumental

    Um brilho tão ofuscante

    Era esperado o seu final

    Belo, majestoso e fatal

    Supernova, a rainha

    Amada, e caída

    O centro do universo

    O vazio sem vida

    Estilhaços da minha estrela outrora tão querida

    Alegórico e Colérico

    Sorrisos reluzentes, suaves e felinos

    Cabelos impecáveis e rosto em harmonia

    Por trás dos cordeiros, corações viperinos

    Estilhaçam-me de noite e me deixam em agonia

    Abaixem as cortinas e tirem as fantasias

    Sussurros comedidos de ódio e desdém

    Não são lágrimas, são alergias

    Quando termina o espetáculo, acabo-me também

    Os aplausos inebriantes te deixam extasiado

    Rosas vermelhas, centenas, aos teus pés

    Teu personagem é deveras amado

    Mas poucos sequer o olharam através

    Através das luzes cegantes do teu palco antigo

    Através da máscara tão bela que em ti costurou

    Milhares de fãs, sequer um amigo

    Se tiras a aparência, o que lhe sobrou?

    Como me perfura, por trás das telas

    Enquanto me abraça durante o horário nobre

    Como me destrói ao longo dos intervalos

    Tanto ouro em suas mãos, mas sua alma é pobre

    Sorrio em fotos ao seu lado, polida e tradicional

    Tão belos artistas, que venusta exibição

    Bravo! Belíssimo! Excepcional!

    Dos palcos do Brasil para sua televisão

    Outrora dessa trupe, hoje sairei de cena

    Fique com meus adornos, e o perfume francês

    Embriagou-se em ganância estúpida e plena

    Quando as lágrimas são verdadeiras, não agradam o freguês

    Em outra época, talvez, eu ficaria

    Enganada pelo seu canto doce e o som de mil liras

    Sua vida nada mais é que alegoria

    E seu silêncio grita mais que suas mentiras

    Meu Céu

    Meu céu vazio e azul

    Tão morno e tranquilo

    Calmo, mas sozinho

    Eu mal podia ouvi-lo

    E apareceste como nuvem

    Tímida e transparente

    E levantaste o véu

    \Tornaste-me tua gente

    Cativou meus oceanos

    Criou ondas imparáveis

    E me deu também a noite

    Com estrelas incontáveis

    Foste neve congelante

    E furacão impiedoso

    Sendo brisa confortável

    Sendo espinho impetuoso

    Ah, meu céu parado

    Me deste tantas cores

    Mas para meu azar

    Marcou-me com tuas dores

    Hoje amanhece vasto

    O universo que criaste

    Nesse mundo pequeno

    No qual me deixaste

    Jardins

    Tenho um jardim onde as rosas dançam

    Pelo alvorecer dourado que o céu presenteia

    Tenho flores enraizadas tão antigas quanto o tempo

    E suas memórias me abraçam como intrínseca teia

    Tive árvores de frutos doces e efêmeros

    Alimentaram minha alma e seguiram sua jornada

    Tive sementes que me prometeram um banquete

    E na hora da colheita, deixaram-me com nada

    Rodeei o jardim com farpas enfeitadas

    Cortei os espinhos das rosas, por fim

    Outrora tão fértil, hoje ressecada

    A terra quebrava embaixo de mim

    Mas algo nasceu, sem que eu plantasse

    Deveria permitir que ali se instalasse?

    Poderia partir, poderia me envenenar...

    Mas e se pudesse me curar?

    Um grão tão pequeno, que aguentou tempestades

    Não dei abrigo, mas tampouco o arranquei

    Deixei que vivesse nas terras abandonadas

    Que um dia eu já tanto amei

    Não me atrevo a tocar em suas folhas

    Mas algo me impede de largá-lo à deriva

    Esperarei que cresça, e me mostre sua intenção

    De reviver meu jardim

    Ou rasgar meu coração

    Translúcido

    O brilho dourado que te cativou

    Foi por essa luz que o mundo se apaixonou

    Sem qualquer esforço, encantou multidões

    Com tanta facilidade se instalou em corações

    Era o dia, o verão, queimando em brasa morna

    Era amor, era leão, tão puro que entorna

    O Sol que aquecia planícies sem fim

    Cujos raios incandescentes jamais tocaram a mim

    Como lua, tentei vestir-me ouro

    Copiei sua luz e roubei seu tesouro

    Pratiquei seu sorriso por horas infinitas

    Ouvi músicas de amor para ti escritas

    Mas nunca terei luz áurea assim

    Jamais deixarei que se queimem por mim

    Não serei a estrela das canções

    Não estarei em todos os corações

    Não sou dia, não sou calor

    Sequer provei tamanho amor

    Não sou leve, não sou brisa

    Não sou a aurora que teu povo precisa

    Não trago o verão, tampouco a euforia

    Mas trago o luar e toda sua calmaria

    Sou escuro, sou lua, mas não aclamam minha beleza

    Sou a noite, tão longa e repleta de incerteza

    Salpicada de estrelas, estendo-me ao infinito

    Se tivesse olhos sábios veria como é bonito

    Embalo o teu sono e o abraço com o céu

    Vejo-te tão distante sob meu translúcido véu

    Meu brilho não é de ouro, e sim prata que derrama

    Para os poucos ouvirem, minha imensidão os chama

    Jamais serei o Sol

    Mas jamais serei menor

    Entrego-te meu conforto, minha noite de veludo

    Estrelas de diamante e meu limitado tudo

    Mas se destarte escolher o Sol que o seduz

    Deixarei que o queime com tão bela e mortal luz

    Borboletas

    Quantas borboletas se atraem pela luz

    E buscam refúgio sob o brilho fraco do céu

    Salpicado de estrelas, escondidas pelo dia

    Como lágrimas cristalizadas de um anjo em agonia

    Uma delas abre suas asas majestosas de marfim

    Cria brisa leve, voa apressada e passa por mim

    Encontrou fogo convidativo para se aquecer

    Hipnotizada, entrega a ele todo seu ser

    Outra depositou esperanças no que reluz em demasia

    Mas era brilho fantasmagórico e em nada a acolhia

    Cega pela alegria, causou seu próprio final

    Deu por inteiro seu amor a uma lâmpada artificial

    E elas seguiram vagalumes aos montes, que as deixavam

    perdidas em escuras florestas

    Congelaram ao se contentarem com faíscas pelas frestas

    Pereceram sozinhas envoltas em tristeza

    Pela promessa ilusória vinda de falsa clareza

    Borboletas coloridas, belas e cheias de vida

    Chegam tão perto da luz, mas sempre voltam feridas

    Poderiam algum dia, enfim, aprender?

    Que mesmo a chama mais majestosa está destinada a esvaecer?

    E junto dela, o amor que jamais chegaram a ter.

    Hiraeth

    Sinto falta do quê jamais tive

    Do amor que sequer recebi

    De dançar sob a lua, livre

    História tão bela que eu não vivi

    Sinto falta dos campos... verdes, planos

    Das flores de seda banhadas em luz

    Do pensar leve, feliz e leviano

    Da harpa do anjo que minha alma conduz

    Nostalgia de quando secava minhas lágrimas

    Ou do fogo crepitante em que aquecia minhas mãos

    De tocar-te pelas noites sob as estrelas pálidas

    Da beleza, entrega e devoção

    Saudade amarga da casa que nunca pisei

    Onde há afeto, calor e carinho

    Nas molduras, pessoas que não abracei

    Mesmo o pássaro mais livre já teve um ninho

    Cachoeiras cristalinas, brilhando em mil cores tocadas

    pelo sol

    Gramados verdes como esmeraldas, em riqueza

    De abraços quentes que não me deixam só

    Das aventuras e do belo que há na incerteza

    Sinto falta de lugares que não visitei

    De pessoas que não tive ou há anos perdi

    Do universo, do tudo, do nada, e tentei...

    Mas sinto falta de cada pedaço de ti

    Hiraeth:

    Palavra gaélica para saudade de algo que nunca lhe pertenceu

    Hiraeth...

    Pois o teu coração jamais fora meu

    Equilibrista

    Era de amor que batia meu coração

    Afeto agridoce que envolveu como seda

    Mas rasgou-me em retalhos, cortados

    Almejo o dia em que serão remendados

    Era minha alma que o queria

    Deixava rastro de luz ao ouvir teu nome

    E encolhia, enegrecida

    Ao escutar o silêncio que nos consome

    Eram memórias que me alimentavam

    Criavam esperança onde o vazio me aguardava

    Não teríamos tão impiedoso fim, dizia

    E consolava-me com voz embargada

    Era sonho febril

    De paixão ardente e pesadelo

    Dançava sob o luar em seus braços

    Acordava ao afogar-me em teu gelo

    Era nostalgia antes mesmo que acabasse

    Eu já havia o perdido, mas negava sua partida

    Tentamos consertar algo demasiado quebrado

    Jamais houve cura para tal ferida

    Éramos jovens, afinal

    Equilibrando em uma linha tão frágil que enfim cedeu

    Caímos de mãos dadas, no começo

    Até que a sua se desprendeu

    E naquele dia, nosso amor pereceu

    Nacional

    Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

    De um povo oprimido, uma força hesitante.

    Lágrimas que descem, ácidas.

    Pela face de esperança errante.

    Se o penhor dessa igualdade

    Ainda não foi conquistado,

    Como encontro liberdade?

    Nesse seio mal amado.

    Idolatro glória ausente.

    Salve, antro de injustiça!

    No teu ouro reluzente.

    Tua bela Corte omissa.

    E o teu futuro espelha avareza,

    De céu escuro e mar profundo.

    A terra seca de pobreza,

    Nosso velho Novo Mundo.

    Verás que um filho teu não foge à luta,

    Por falta de escolha e concordância.

    Dessa deplorável conduta.

    Dessa pútrida ignorância.

    Dos filhos deste solo

    És mãe febril!

    Pátria rasa,

    Brasil.

    Arranha-Céu

    Prédios modernos que tocavam as nuvens

    Luzes coloridas e som constante

    Poucas estrelas e lua tímida

    Vento suave que abraça e recua

    No último andar, eu dancei sobre a rua

    Meu vestido voava como se fosse de fumaça

    O brilho pálido da lâmpada era minha coroa

    E você, lá embaixo, era minha esperança

    Pois seu amor me seguraria, certo?

    Ia amparar minha queda, aterrissaria em seus braços

    Olhava-me do chão com sorriso e olhos claros

    Eu o amava, e eu confiava

    Pule, disse-me, e eu cairia por ti

    Seu amor era incondicional, como me prometeu

    E viveríamos em comunhão bela e eterna

    Sequer hesitei antes de encontrá-lo

    Dei um passo para frente, e o vento me engoliu

    Caí por metros, sem desviar o olhar de ti

    Durante a queda só pensei no calor dos teus braços, tão

    próximos de mim

    Estava tão perto quando vi

    Seu sorriso se alargou, e deu um passo para trás

    Meus olhos arregalados entregaram meus sentimentos

    O êxtase da queda tornou-se puro terror

    Encontrei duro asfalto, ao invés do teu amor

    A selva de pedra me clamou

    E o luar sereno embalou meu fim

    Tão tola, pensei ser querida

    Mas encontrei-me no chão

    Ferida, traída

    E sem vida

    Água Salgada

    Eu ansiava pelo dia em que saberia meu futuro. Acordava todas as manhãs e abria as amplas janelas de madeira rústica do meu quarto, nas quais, ao longo dos anos, cravei minha história. Desenhos, palavras, trechos de músicas... a tinta branca descascada com as vinhas marcadas que a contornavam. Cada vez que o sol surgia, eu corria para o jardim, na esperança de finalmente poder sentir o aroma das flores ou o cheiro de grama cortada.

    Mas eu não sentia nada. Sabia que o perfume das rosas era doce, pois assim minha mãe o descreveu. Sabia que, quando minha hora chegasse, eu sentiria todas as essências do mundo, experiência que ela descrevia como assustadora, inebriante e inesquecível. Eu só precisava esperar, mesmo que cada dia sem viver de verdade me matasse aos poucos. Não estava sozinha, no entanto. Milhares de crianças, jovens e até mesmo adultos estavam tão impacientes quanto eu, aguardando ansiosamente seu momento de epifania.

    Geralmente, eram amores. Foi assim com mamãe. Como o resto, ela jamais havia sentido fragrância alguma, até que conheceu meu pai, que havia caído como um saco de farinha após uma tentativa falha de roubar maçãs do vizinho. O cheiro de madeira, folhas e o metálico do sangue de seu machucado recente dominaram seus sentidos, e após se recuperar do choque, estava

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