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Plantas Medicinais e Antroposofia: Apresentação e desenvolvimento das ideias de Rudolf Steiner sobre o mundo das plantas e sobre os fundamentos da Botânica Medicinal
Plantas Medicinais e Antroposofia: Apresentação e desenvolvimento das ideias de Rudolf Steiner sobre o mundo das plantas e sobre os fundamentos da Botânica Medicinal
Plantas Medicinais e Antroposofia: Apresentação e desenvolvimento das ideias de Rudolf Steiner sobre o mundo das plantas e sobre os fundamentos da Botânica Medicinal
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Plantas Medicinais e Antroposofia: Apresentação e desenvolvimento das ideias de Rudolf Steiner sobre o mundo das plantas e sobre os fundamentos da Botânica Medicinal

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Este é fundamentalmente um livro de ciência, mas de uma ciência compenetrada pela visão do universo e do homem acessível ao Iniciado Clarividente, daí o nome — Ciência Espiritual. O mundo das plantas é apenas o portal que dá acesso à contemplação (sempre parcial) do Reino do Espírito, que é aquele do qual, a princípio, somos destinados a fazer parte. O objetivo específico é compreender a 'natureza da planta medicinal', isto é, responder à seguinte pergunta – Por que esta planta interfere nos processos fisiológicos do organismo humano nesta direção particular? Tendo mantido esta questão na mente por muitos anos, o autor, a partir dos escritos de Rudolf Steiner, organizou aos poucos o panorama conceitual que lhe pareceu necessário para respondê-la, ao menos em parte.
LanguagePortuguês
PublisherViseu
Release dateMar 6, 2023
ISBN9786525443676
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    Book preview

    Plantas Medicinais e Antroposofia - Lauro Lopes Noronha

    Texto 1

    A planta entre o cósmico e o terrestre

    Introdução

    Nas grandes cidades o metabolismo social é perturbador: um excesso de impressões, informações e sensações atravessa difusamente a esfera psíquica; instala-se um conteúdo subliminar, uma espécie de ruído no fundo da alma. Quem consegue reorientar a vida para uma aproximação da natureza logo reconhece isso. Não é preciso refletir sobre os processos formativos das plantas para se beneficiar do contato mais estreito com elas. Muito pelo contrário, basta acostumar o olhar ao silêncio da contemplação e logo vem o pressentimento do fundo espiritual que existe em cada um de nós, e que nos conecta à Grande Natureza. Mas existem aquelas pessoas cuja necessidade intelectual sobrepaira a vida dos sentimentos. Esses textos são especialmente para elas. O caminho intelectual contemplativo é essencialmente o da Antroposofia. O que se deseja contemplar ao final das contas? As ideias atuantes no mundo natural e no próprio ser humano. Não ideias abstratas, mas ideias assentadas em forças vivas emanadas de Seres Espirituais organizados numa hierarquia, irradiadas a partir da própria Terra e do Cosmos - o céu dos planetas, do Zodíaco e além. A Antroposofia é ao mesmo tempo uma cosmogênese e uma antropogênese. Os processos formativos da planta são tratados em justaposição aos processos que têm lugar no ser humano e no Cosmos. A compreensão do seu conteúdo avança com a familiarização das formulações gerais de Rudolf Steiner sobre o homem e o mundo. Ao fim do texto apresentamos a referência bibliográfica, que é, essencialmente, aquela em que Steiner abre uma espécie de visão pluridimensional do mundo das plantas.

    Neste primeiro texto examinamos as ideias de Steiner sobre os processos formativos das plantas apresentadas em duas de suas obras: "Elementos fundamentais para uma ampliação da arte de curar" e os "Fundamentos da Agricultura Biodinâmica". A primeira contém orientações para a prática de uma medicina ampliada pela Ciência Espiritual; a segunda é o denominado Curso Agrícola e contém diretrizes para o cuidado com a Terra em geral e para a prática da agricultura biodinâmica. Como ficará claro, os pontos de vista desenvolvidos nas duas obras estão perfeitamente alinhados—aquele dos "Fundamentos" representando uma aproximação para dentro da fenomenologia dos "Elementos Fundamentais", um detalhamento dos processos ali descritos.

    Na segunda conferência dos "Fundamentos" Steiner dá o eixo ordenador fundamental, e todas as perguntas que possam ser formuladas sobre os princípios formativos das plantas derivam-se dele:

    O que se reproduz em cada planta é sempre imagem de alguma constelação cósmica, sendo construído a partir do Cosmo. (L 2, 2ª)

    A escritura do DNA não é fruto do acaso probabilístico. A dupla hélice no núcleo celular de cada planta é um portal celeste, uma espécie de antena sintonizada com certa faixa de informações recebidas do macrocosmo.

    O conteúdo dos "Elementos Fundamentais" - e mesmo o dos "Fundamentos" - aborda a relação das forças telúricas e extratelúricas com as formas e processos vegetais de modo muito abrangente, e são bons textos introdutórios. Os "Fundamentos" têm como pano de fundo a ideia dos Arquétipos Planetários, que permanece de certo modo velada ao longo do texto, mas sem a qual o sentido holístico das representações não pode ser alcançado de fato.

    Abstratamente falando, a palavra arquétipo indica a ideia de um princípio espiritual configurador, que perpassa os diversos planos da Criação fazendo com que exista entre estruturas e processos que decorrem em níveis diferentes uma espécie de ressonância mórfica qualitativa:

    O ocultista realmente tem razões para imaginar a relação do Sol com Mercúrio e Vênus de maneira análoga à relação que no organismo humano supomos haver entre o coração, pulmão e os rins. (L 4, 3ª)

    O que Steiner está dizendo, é que existe uma correspondência analógica entre a estrutura do sistema planetário e a estrutura do organismo humano, entre as forças atuantes no sistema planetário e aquelas atuantes no organismo humano: que o coração é o Sol orgânico interior e mobiliza forças solares, o pulmão é o Mercúrio orgânico interior e movimenta forças mercuriais, etc. Isto só é possível pela existência de uma matriz configuradora de fundo, que se manifesta tanto no corpo humano quanto no céu dos planetas - a Consciência Vibracional de Entidades Espirituais, no caso, os Arquétipos Planetários.

    Para que nossos desenvolvimentos estejam vinculados à cosmovisão espiritualizada de Steiner, todo o tempo partimos de suas palavras, ou seja, de citações extraídas das obras em questão.

    O ponto de vista dos Elementos fundamentais para uma ampliação da arte de curar.

    A relação da planta com as forças centrais e periféricas. A Terra como entidade física. As forças planetárias. O Éter Solar.

    As citações:

    A forma e a organização da planta são o resultado exclusivo de dois domínios de forças: aquelas — centrífugas — que irradiam para fora da Terra, e as — centrípetas — que irradiam em direção a ela…Isto vale tanto para as forças plasmadoras que dão a forma exterior, como também para aquelas forças que regulam o movimento interno das substâncias, dando-lhe direções determinadas, unindo-as ou separando-as… Devido ao jogo de forças caracterizado, resulta na planta uma alternância entre o estar ligada às forças de irradiação vindas da periferia e o estar desligada delas… Por causa disso o ser vegetal se desfaz em dois membros: um aponta para a vida, está totalmente submetido às forças da periferia (são os órgãos germinativos de crescimento, portadores das flores), o outro aponta para o sem vida, permanece no domínio das forças centrífugas que abrange tudo aquilo que endurece o crescimento, que dá apoio à vida… (L1, IV)

    As leis físicas atuam como que fluindo a partir da Terra; as etéricas como que fluindo para a Terra, a partir (de todos os lados) da periferia cósmica… (L 1, I)

    Cada substância e processo terrestres têm suas forças centrífugas vindas da Terra e em comum com ela. Como a Química a observa, ela só é uma tal substância como um componente do corpo terrestre. Se passa ao domínio da vida, essa substância tem de deixar de ser apenas uma parte da Terra.... ela é incorporada ao domínio de forças que não têm centro, mas são periféricas... As forças etéricas dissolveriam a substância terrestre, levariam-na a um estado totalmente isento de forma... se a esse campo de forças não se unissem as forças solares e outras vindas do espaço cósmico... que modificam a dissolução. (L1, III)

    A ideia preliminar é simples: existe um equilíbrio instável no reino vegetal, submetido a certa tensão e polaridade em razão de dois campos de forças: o terrestre-centrífugo, que introduz a substância no domínio das leis da Química mineral; e o etérico-centrípeto — que tende a dissolver toda estrutura e levar a matéria a um estado totalmente isento de forma.

    É de uso corrente na literatura antroposófica intercambiar as expressões forças etéricas e forças plasmadoras. O texto sugere outra coisa: a rigor devemos falar de forças etéricas puras (cujo sentido de atuação, para toda matéria, é caotizante e dissolvente), e de forças etérico-plasmadoras (as forças etéricas que foram apreendidas em campos morfogenéticos planetários e, possivelmente, também aqueles das constelações zodiacais). É importante ter em mente que a substância orgânica viva é um território sob confinamento relativo — a boa imagem é a célula separada do ambiente por uma membrana seletiva.

    Continuando:

    No ser vegetal a substância viva é constantemente separada da substância sem-vida. Na substância viva a forma da planta aparece como resultado das forças que irradiam para a Terra... Isto dá lugar a uma corrente de substâncias. Algo sem vida se transforma em algo vivo; algo vivo se transforma em algo sem vida. Nessa corrente formam-se os órgãos vegetais.... Uma transformação total da substância física pelas forças etéricas só ocorre na formação da semente... Na semente em formação pode ocorrer essa transformação total da substância física pelas forças etéricas, pois a semente é protegida da influência das forças físicas pela organização materna que a envolve. (L 1, V).

    Steiner ainda fala de uma desintegração da substância física pelas forças etéricas. (L 1, III)

    Há uma questão aqui: a formação dos órgãos vegetais em geral e o processo especial de formação da semente.

    O crescimento vegetal, o desenvolvimento do sistema dos galhos e das folhas, a formação da flor, representam uma espécie de expansão, mas não devida unicamente a forças operantes de dentro para fora. A folha da planta, por exemplo, não cresce à semelhança de um sistema fechado exercendo pressão interna contra seus limites, como um gás recebendo calor dentro de um balão elástico. O que acontece no ponto germinativo de crescimento, portador das flores, totalmente submetido às forças da periferia cósmica? O texto sugere o seguinte: à medida que o fluxo de substâncias minerais alcança o ponto germinativo aquelas são pressionadas para a desintegração, o etérico periférico exerce sobre as mesmas um efeito de sucção dissolvente. O processo, no entanto, é contido: a substância viva é dominada (pelo conjunto das forças solares e planetárias), que impedem-na de dissolver-se (no éter universal).

    Existem aqueles pontos germinativos que são portadores das folhas. Não é a estes que Steiner se refere. Veremos, que para a formação da folha concorrem também forças físicas e que as diferentes formas foliares são resultados do balanceamento específico entre forças etérico-cósmicas e forças terrestres. A sutilidade do tecido floral sugere que o processo formativo transcorre mais para o âmbito cósmico.

    De qualquer modo, no ponto germinativo a corrente em vias de caotizar-se recebe o plano formativo dos tecidos e órgãos vegetais e vai deixando para trás os ramos, as folhas, a estrutura terminal da flor. Vamos caracterizar o processo no sentido da Teoria das Cores de Goethe:

    A folha nasce quase sempre tingida de vermelho, ou de um marrom avermelhado, algumas vezes num tom esverdeado claro, que depois escurece. O vermelho é a primeira das cores na frente da luz, a primeira das cores visíveis quando o observador se desloca do fundo espiritual (o negro) na direção da fonte de luz. O vermelho é a imagem viva do etérico. Arde na imobilidade. O caminho arquetípico tonal da folha é descer do etérico ígneo até o verde terrestre. Ao fazer isso ela libera o vermelho — esfriando para o amarelo — e absorve o azul; quanto mais escuro o azul mais se intensifica o caráter terrestre na folha. Com o verde a folha alcança sua maturidade física, está estruturalmente pronta para entrar na relação funcional com a luz. A folha não seria verde se o Sol não atuasse sobre ela. O verde foliar repousa em si mesmo, no equilíbrio entre o amarelo irradiante e o azul retro-radiante. A sequência tonal para o fruto é invertida. De acordo com o arquétipo o fruto se deslocaria do verde para o amarelo, para o laranja, o vermelho e finalmente se tornaria negro. O fruto negro e doce interiorizou forças espirituais elevadas, é uma estrutura terrestre oferecida amorosamente à necessidade do Todo.

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    As forças morfogenéticas não são as forças etérico-periféricas puras, mas aquelas refreadas pela influência do Sol e dos planetas. O processo formativo tem um fator interno (o afluxo de substâncias minerais) e um externo (a atuação mediadora do Sol e dos planetas). Nos Fundamentos veremos que as forças morfogenéticas expressam uma dupla corrente planetária, a dos planetas próximos e a dos planetas distantes. Já o dissemos: o agente de interiorização principal das forças etérico-plasmadoras é o Sol. Os demais planetas apoiam e modificam a influência solar. O Sol não é unicamente aquela esfera luminosa que o olho ou o telescópio focalizam. Na realidade o Sol, que concentra 99,85% da massa do sistema solar, estende-se até onde seu campo gravitacional aprisiona outros corpos celestes, ocupa os limites da curvatura que sua massa imprime no espaço-tempo. Na realidade moramos no interior do Sol. A Voyager 1, lançada ao espaço em 1977, só deixou o campo gravitacional solar depois de 36 anos de viagem, em 2013, a 19 bilhões de quilômetros da Terra, mais de 13 vezes a distância média entre Saturno e o Sol, que é de 1,43 bilhões de quilômetros.

    Podemos entender, que o princípio etérico só atuará de forma plasmadora se um princípio superior lhe fornecer o plano de configuração. Na realidade, qualquer processo no plano físico resulta da combinação e encadeamento de princípios superiores atuantes:

    Um corpo físico humano jamais poderá estar submetido a atuações puramente físicas, assim como um corpo etérico humano jamais poderá estar submetido a atuações puramente etéricas. A consequência disso seria a sua desintegração. (L1, IV).

    A formação orgânica não subsistiria a partir de forças puramente físicas, é necessária a atuação de forças etéricas, por exemplo, o Éter químico. Mas o Éter químico, por sua vez, estrutura-se como tal porque um princípio superior o apreende e organiza: uma formação astral particular. A cadeia de causalidade tem de recuar até o Plano dos Arquétipos, isto é, até o mundo espiritual.

    Há uma questão aqui: a natureza da periferia cósmica.

    Afirma Steiner, que das vastidões do Cosmo atua sobre a matéria uma força anti-agregadora e dissolutiva, de natureza etérica. Paralelamente, no entanto, de acordo com sua descrição espiritualizada do Cosmo, o mundo etérico seria, por assim dizer, interno, suprafísico. Aqui temos um aparente paradoxo: se a expressão periferia cósmica indica um quadrante do universo da Física, sugere, por conseguinte, que o fundo distante do Céu não é mais físico e que a separação entre o mundo físico e o mundo etérico é (também) uma questão de distância. A contradição talvez se resolva se pensarmos o espaço no sentido da Teoria de Campo - o espaço relativístico - que não é um vazio, mas uma entidade topológica dinâmica e qualitativamente complexa: ele se contrai, se expande, se dobra, se enovela. O espaço é Deus, uma afirmação de Blavatsky. O Espaço-Campo-Deus tem características diferentes ao longo de sua tessitura. Nem a gravidade nem a matéria, como a Física as conhece, seriam fenômenos primários, e sim a expressão física de realidades anímicas e espirituais de fundo. O que Steiner parece dizer, é que, nas vastidões do Cosmo, o espaço é afetado por Consciências diferentes daquelas cuja natureza intrínseca se realiza exteriormente como campo gravitacional e matéria. Das vastidões do Cosmo Seres Espirituais irradiam o que se manifesta como contraforça gravitacional, isto é, etérico-luminosa, e que exerce sobre a matéria organizada uma pressão negativa, induzindo sua desintegração e caotização. É o bastante se afastar da superfície da Terra para comprovar o efeito da ausência (relativa) da gravidade sobre a massa corporal. A perda muscular, a perda sanguínea (e principalmente óssea) dos astronautas é acentuada e o corpo tende à dissolução. Isto talvez ocorra porque o Eu não consegue apreender a estrutura corporal:

    Imaginem, que por um processo fotográfico sofisticado, pudessem fazer com que de um homem andando nada mais fosse fotografado além de todas as forças que ele emprega - para erguer a perna, para colocá-la no chão, para pospor a outra. Do homem, portanto, nada seria fotografado senão as forças. Os amigos estão redondamente enganados ao pensar que vivem com seu Eu nos músculos e carne; não é aí que vivem com seu Eu quando despertos, mas é principalmente nas sombras fotografadas, nas forças por cujo intermédio seu corpo executa os movimentos... Ao sentar-se os Senhores comprimem suas costas contra o espaldar da cadeira, e vivem com seu Eu na força desenvolvida nessa compressão... Não é absolutamente verdadeiro que vivemos com nosso Eu em nosso corpo visível. Vivemos com nosso Eu em forças... (L 3, 12ª)

    O Sol pode ser tomado como exemplo. De acordo com a Antroposofia, o Sol astronômico é o centro de irradiação da consciência de um Ser Divino Espiritual — o Logos Crístico Solar — de modo que a condição exterior do Sol confirmaria a sua essência: o Sol não tem constituição material alguma… o verdadeiro Sol é, de fato, espiritual. (L 15, 12ª). Steiner pode estar dizendo que o interior do Sol é constituído unicamente por irradiação luminosa termonuclear, sendo imaterial, portanto.

    Sobre a natureza das forças atuantes na vegetação. As fazendas subterrâneas. A adubação química. A hidroponia. A deterioração dos alimentos.

    A planta permite ao físico imperar dentro dela, quando o etérico do espaço cósmico não desenvolve mais a sua atividade, como acontece durante a noite, quando o éter solar deixa de agir. (L 1, III)

    Há algumas questões aqui.

    Primeiramente a ideia de o Sol é o principal vetor das forças etéricas, o princípio vitalizante fundamental do Sistema Solar, que se interpõe primariamente entre a Terra e aquelas forças irradiadas a partir da periferia cósmica. Como explicar o fato de que a planta continua crescendo durante a noite, ainda que desconectada das forças solares e periféricas? Isto é possível porque encontra no solo, além da água e dos componentes minerais, também uma reserva de forças solares-vitais. Forças vitais são permanentemente armazenadas no solo se a prática agrícola é correta. Essa é a proposição fundamental da agricultura biodinâmica: trabalhar o solo de modo que se disponham nele, no balanceamento correto, forças físicas, etéricas, astrais e mesmo espirituais. A questão da produção de alimentos tem muitos pontos obscuros. A planta cresce e se desenvolve sob luz inteiramente artificial nas fazendas subterrâneas. A luz irradiada a partir do decaimento orbital do elétron é capaz de fornecer ao vegetal calor e energia para os processos fotossintéticos. Mas o Sol, na cosmovisão espiritual, é muito mais que um dispensador de energia, é fonte de Vida, Amor e Consciência. Cabe perguntar: que tipo de consciência-informação a planta recebe a partir do infra-solar, o campo da eletricidade? Quanto existe de forças vitais no solo (que nunca recebeu luz natural), ou nos alimentos hidropônicos cultivados em dissociação com a terra, sob condições inteiramente artificializadas? A hidroponia representa mais uma tentativa de reduzir o orgânico-vivo a um sistema mecânico. É possível que a iluminação artificial, e mesmo a hidroponia, tenham efeitos no esvaziamento de forças vitais.

    Existem diversas artificialidades tecnológicas que levam, no fundo, a uma falsificação dos produtos agrícolas; a adubação química é uma delas.

    Ainda no decorrer deste século (XX) os produtos agrícolas estarão tão degenerados que não mais servirão à alimentação humana… Todos os tipos de adubos sintéticos são justamente os que contribuem com o essencial para essa degeneração… essa deterioração dos produtos agrícolas. (L 2, Intr.)

    As plantas, que se encontram sob a influência de um adubo mineral qualquer, mostrarão um crescimento que denuncia estar apoiado somente na aquosidade estimulada, e não na vitalização da substância terrosa…. Com a adubação mineral jamais se aproxima realmente do elemento terroso, e sim, no caso mais extremo, do elemento aquoso da terra… Os senhores podem realmente cultivar qualquer fruto de aspecto esplêndido, no campo ou no pomar, mas talvez ele sirva ao homem apenas enchendo-lhe o estômago, e não propriamente promovendo organicamente seu bem-estar interior… (L 2, 4ª).

    Todos sabem a diferença sensível entre uma fruta que tem de fato sabor e aquela outra, cujas substâncias palatáveis parecem nitidamente diluídas em água. Todos sabem também que existe no alimento um fator que o torna mais ou menos durável depois de colhido. Que fator é este? Ele se refere à intensidade das forças vitais interiorizadas no alimento ou à sua configuração mais interna, à menor ou maior perfeição de sua estrutura fina? É possível que ambos os fatores estejam associados. Quando a fertilização química do solo induz uma hidratação excessiva dos tecidos vegetais, é possível que tenha sido criado um obstáculo à atuação efetiva das forças etérico estruturadoras do alimento. É improvável que alimentos mal estruturados tenham um delicado sabor sem o apoio dessas forças vitais. O ser vivo não se movimenta fisiologicamente usando energias e forças puramente físicas. Porque não é uma máquina. No ser orgânico as forças puramente químicas são permeadas e dominadas pelas forças vitais. Se assim não fosse não teríamos a química do carbono, a química orgânica. Só existem moléculas orgânicas em função de forças etéricas sobrepostas às forças que estruturam átomos e moléculas minerais. Ainda que uma pessoa se alimentasse observando rigorosamente suas necessidades diárias de gorduras, açúcares, proteínas, vitaminas, sais minerais, etc., se lhe fossem dadas apenas alimentos inteiramente desvitalizados (como as vitaminas sintéticas), ela adoeceria cada vez que os ingerisse, porque teria que dispor de suas forças etéricas para vitalizar tais alimentos antes de poder utilizá-los. Se tal pessoa não tivesse outros meios de recompor seu organismo etérico, que se esgotaria rapidamente, não poderia sobreviver.

    O terrestre-centrífugo e o cósmico-centrípeto:

    No sentido do texto, o terrestre, na expressão terrestre-centrífugo, não se refere à totalidade do organismo da Terra. Refere-se especificamente ao reino mineral — o corpo físico da Terra, ou seja, onde dominam as leis físico-químicas, a gravitação, o eletromagnetismo, etc. O organismo global da Terra seria físico, etérico, anímico e espiritual. A planta, por razões adaptativas, imediatas ou sazonais, pode dirigir suas estruturas para o domínio do mineral sem vida, isto em vários níveis. Pode simplesmente abandonar partes de si mesma ao mundo exterior, ou, ainda, configurar, ativamente, estruturas que se aproximam do mineral no sentido da solidez, rigidez, densidade e peso, com vistas a uma finalidade de longo alcance: apoiar a vida, assegurá-la numa condição superior, a da planta perene.

    Os termos centrífugo e centrípeto devem ser tomados no estrito sentido etimológico: centrífugo (que foge do centro), centrípeto (que procura o centro). A força terrestre-centrífuga é, portanto, no sentido do texto, divergente, origina-se no centro da Terra e, na sua atuação sobre a vida vegetal, vai perfazendo esferas concêntricas de raios cada vez maiores. A força cósmico-centrípeta, ao contrário, é convergente, origina-se na superfície de uma esfera muito ampla e vai se fechando na direção do interior da Terra, procurando uma espécie de centro relativo das esferas planetárias e zodiacal e de toda a periferia do Universo.

    A casca da árvore

    A atuação de forças na planta se articula em duas direções: uma atividade na qual a formação de substância tende para o âmbito etérico, e outra, na qual ela tende outra vez para a formação física. Originam-se partes na entidade vegetal que estão a caminho da vida, e outras que tendem a perecer. Estas aparecem como excreções do organismo vegetal: a formação da casca na árvore é um exemplo bastante característico… essa excreção, na planta, que se aproxima do âmbito do sem vida, o mineral exterior, ainda está muito longe desse mineral. (L 1, V)

    A casca da árvore está muito longe do mineral, porque se trata de uma organização formada ativamente a partir do etérico vivo, e redirecionada para o não-vivo por meio da desidratação — um processo de morte bem controlado, que avançou do câmbio para o exterior (na direção da suberina). A casca e o córtex são, genuinamente, estruturas que dão apoio à vida, como veremos mais adiante. A casca da árvore não é uma formação lenhosa, não representa propriamente endurecimento, lignificação. A lignina, em si, não tem forma definida, mas é pela sua deposição que as paredes celulares se tornam rígidas e firmemente unidas umas às outras, além de impermeáveis. É através dos vasos lenhosos que água e sais minerais são transportados, desde o solo, até as partes superiores da planta. A lignificação dos vasos lenhosos torna-os estruturas de sustentação e de apoio à vida, mas são formações diferentes da casca da árvore. Árvores, como o eucalipto, abandonam periodicamente a casca ao mundo exterior. Não é o caso para a formação lenhosa, dos espinhos e acúleos lignificados, dos frutos e sementes secos. Aqui o processo gerador de enrijecimento envolve outros fatores e tem outro sentido.

    Resumindo: a tarefa do vegetal é tomar a substância sem vida e mineral da Terra e elevá-la a um primeiro grau de espiritualização, o grau da substância viva. Para fazê-lo a planta se conecta, durante o dia, àquelas forças denominadas periféricas ou centrípetas, as forças etéricas contragravitacionais, indutoras de leveza, que são irradiadas para a Terra a partir das vastidões cósmicas. Durante a noite ocorre uma inversão: a planta se desconecta do âmbito cósmico-periférico e se submete às forças centrais e centrífugas, as forças que o planeta Terra mobiliza: a força gravitacional, a magnética — aquelas forças configurativas da matéria física. Quando o vegetal entra no domínio dessas forças, a sua substancialidade tende novamente ao puramente mineral, mantendo-se, contudo, bem distante dele. A substância material vitalizada é descrita como sendo uma espécie de secreção. Aquilo que percorre o sentido contrário, a substância que se retrai do âmbito da vida e tende ao mineral, constitui uma espécie de excreção. Sob este ângulo, constituem secreções todos os produtos do metabolismo vegetal primário — proteínas, açúcares, gorduras, ácidos nucleicos — bem como aqueles do metabolismo secundário — os compostos fenólicos, os alcaloides, etc. A casca da árvore, a cortiça, é, ao contrário, uma espécie de excreção, aquilo que o vegetal abandona ou deixa para trás no metabolismo da vida. Steiner faz o paralelo: aquilo que na planta aparece como formação da casca, e que se desprende quanto mais mineral ela fica, aparece, no animal, como produtos de excreção da digestão. (L 1, V)

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    Um fenômeno similar é a circunstância de algumas plantas perenes perderem suas folhas. Para amenizar a ação de fatores abióticos — no caso a escassez de água — a planta interioriza o fluxo de água e sacrifica vitalidade na periferia (as folhas secam e caem). Este fenômeno talvez caracterize uma excreção, no sentido do texto, já que a dinâmica de atuação mencionada vale tanto para as forças plasmadoras que dão a forma exterior, como também para aquelas forças que regulam o movimento interno das substâncias, dando-lhe direções determinadas, unindo-as ou separando-as… A perda das folhas é um fenômeno através do qual a planta se orienta na interface entre a morte e a vida, como o armazenamento de água no caule e nas raízes, estratégia de plantas adaptadas a ambientes onde a água é escassa.

    Como se vê e ficará mais claro nos próximos capítulos, este ponto de vista — forças centrífugas e forças centrípetas — é muito abrangente, e para dentro dele devem ser introduzidos os demais, como a relação da planta com os Elementos e Éteres, com as Forças planetárias, com a atuação dos Seres Elementares, etc. De um modo geral, é através da sua capacidade de regulação das duas correntes que o vegetal se estrutura como organismo propriamente terrestre.

    O ponto de vista dos Fundamentos da Agricultura Biodinâmica — (L 2)

    A relação entre os planetas e o Zodíaco. O reino vegetal.

    Com as ideias do cósmico e do terrestre, apresentadas na segunda conferência dos Fundamentos, Steiner focaliza unicamente o sistema solar, embora assinale que todo o Céu, com suas estrelas, participa da vegetação (L 2, Int.) Ao tratar de certos procedimentos técnicos para eliminar o rato silvestre afirma: se queremos alcançar alguma coisa no mundo vegetal podemos deter-nos no sistema planetário. No caso do animal isto já não basta. Aqui já se necessita de representações que levem em conta as estrelas fixas circundantes, nomeadamente aquelas pertinentes ao Zodíaco. (L 2, 6ª) Este alcançar alguma coisa, parece se referir também às representações suficientes para descrever, no essencial, a dinâmica de desenvolvimento dos seres em questão. O cosmo planetário e, portanto, o reino vegetal, recebem influências provindas das constelações, mas sua relação com aquelas forças de fundo não é indicada (em pormenores) no texto. Digo em pormenores porque Steiner adverte:

    "Na verdade, não se sabe absolutamente que criatura especializada é o Sol… Ele é sempre algo diferente. E é até mesmo uma grande tolice, todavia perdoável, falar do Sol de modo generalizado. Na verdade, dever-se-ia dizer Sol de Carneiro, Sol de Touro, Sol de Leão… e assim por diante…" (L 2, 6ª)

    Vê-se, portanto, que as forças solares sobre as quais os planetas exercem uma influência qualitativa, já haviam antes sido pré-organizadas sob influência

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