Obra Poética
By Paulo Avila
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A voz da poesia, ainda que rouca, nunca se cala: ela torna-se essencial não só para a formação crítico-reflexiva de quem lê, mas também um deleite para a alma.
Transitando por várias estéticas literárias, Paulo Avila nos traz nesta antologia todos esses elementos, tecendo, assim, uma literatura humanizadora. A cada poema lido, o leitor transporta-se para um mundo repleto de polifonias, simbologias, reflexões. A poesia surge como um grito. O eu lírico despedaça-se, divide-se em vários eus sem perder a sua essência.
Em seus versos é possível encontrar-se com questões contemporâneas, com a metalinguagem e com o fazer poético revelando-se em cada página. Assim, a alma do poeta e a do leitor fundem-se em uma só.
A poesia vem como um remédio, um oásis para a alma sequiosa, sendo, por sua vez, uma voz que clama no deserto e que também navega em meio às ilusões, já que a esperança é fugaz e a única certeza é a dor. Essa é a sua matéria-prima, pois o homem moderno é composto justamente por ela e pela solidão.
Vive-se um momento em que a poesia se torna vital e acalentadora. Por isso, o verso de Paulo Avila personifica-se, dialoga, satisfaz. A poesia ganha voz, renasce, encontra o pôr do sol, mostra a sua importância e a necessidade que temos dela.
Obra poética é um convite ao mergulho nas palavras, uma leitura que se torna essencial e necessária na contemporaneidade.
Paula Macri
Professora formada em Letras com especialização em Literatura contemporânea
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Book preview
Obra Poética - Paulo Avila
Sumário
DEVANEIOS
DESPIDO
DESTINO, NIILISMO E REDENÇÃO
SOBRE O AUTOR
Obra Poética
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Paulo Avila
Obra Poética
PREFÁCIO
Aqui, abre-se uma alma.
O verso de abertura desta antologia comemorativa dos dez anos de publicação da trilogia Devaneios (2012), Despido (2013) e Destino, Niilismo e Redenção (2014), de Paulo Avila, já declara o que se pode esperar do que vem a seguir. O autor, nas páginas de Obra Poética, apresenta-nos um eu lírico cuja alma – incoerente, sincera, subjetiva e universal, entre outros atributos mencionados nos poemas – abre-se generosamente ao leitor e à leitora com seus temas existenciais, sociais e amorosos. O autor elabora seus versos com uma linguagem ora áspera, ora melancólica, fazendo uso de diversos recursos expressivos, além de flertar com o concretismo. Sua poética também é atravessada pela melancolia e pela rebeldia do rock, principalmente de Renato Russo.
Voltemos nossa atenção inicialmente a essa alma lírica que se mostra em Devaneios
, primeiro poema do livro de mesmo nome:
(...)
nos devaneios
de uma poética produzida em um quarto fechado
alimentada por versos inventados à meia-luz
de lugar algum, ou de algum lugar pantanoso
do inconsciente
O eu lírico nos diz do lugar algum
ou algum lugar pantanoso do inconsciente
onde as imagens e ideias surgem para que possa inventá-las À meia-luz
de um quarto fechado
, evidenciando o bonito percurso da criação poética, que não deixa de ser sofrido, uma vez que seus sonhos
(...)
cortam
como navalha na carne,
sangram.
singram,
suam
(...)
E o resultado desse percurso doloroso, expresso em vocabulário cortante, são as vozes-fragmentos da alma impura, fragmentos que constituem a essência desse Eu que se revela no poema Fragmentos
– que no livro Devaneios (AVILA, 2012) era o décimo quarto e, nesta seleção revisada, o autor sabiamente o posicionou em seguida ao primeiro, pois que se complementam – para declarar sua essência multifragmentada. As questões existenciais, incluindo o fazer poético, pontuam toda a obra de Paulo, com suas angústias e negações, mas também na busca de redenção. São versos que se confundem com a própria vida.
Os temas sociais também são caros ao autor. Como em Pressa
:
Temos pressa.
O mundo tem pressa.
Pressa de comer,
Pressa de viver,
Pressa de ganhar dinheiro,
Pressa de ter pressa.
No poema, a repetição do vocábulo pressa potencializa o discurso, destacando o caráter destrutivo da pressa que nos impede de enxergar as crianças raquíticas que caminham sem destino
. Ou em Panaceia
, em que são mencionadas guerras, miséria, fome, o Brasil e sua turba de alienados
, a religião e seus fiéis fanáticos
, o absurdo cotidiano
. Esse poema sofreu algumas alterações para a nova edição, e continua cada vez mais atual, considerando-se, sobretudo, a realidade social brasileira. Essa preocupação é faceta marcante dos vários eus fragmentados
criados por Paulo Avila.
Temas como a passagem do tempo e a morte também são frequentes, como em Procissão dos mortos-vivos
, em que o autor cria a cena de um cortejo a um meio-morto num catre/na rua principal daquela cidade
(Devaneios). Ou em Quebrado
(Despido):
Diante do espelho,
vejo a alma enrugada,
envelhecida pelos anos
e pelo meu triste olhar.
O tempo é algoz.
Ou ainda em Fugacidade
(Destino, Niilismo e Redenção):
(...)
a vida perece aos poucos
e deságua na morte
um breve infinito perdido
nas duas pontas do horizonte.
Mas não pensem a leitora e o leitor que os temas são apenas os melancólicos. O eu poético é um buscador – a metáfora do espelho onde investiga o próprio rosto é uma constante – e a redenção vem. Há um alento para a falta de sentido de que nos vemos reféns: o amor. E este vem materializado na figura da bem-amada, em Silvana
(Destino, Niilismo e Redenção):
tua pureza ilumina meus dias
teu sorriso é primavera
seu olhar... perdição
onde me encontro
livre de amarras
livre de mim
salvo por ti
No poema acima, os versos tornam-se cada vez mais curtos, como que revelando concretamente a libertação que a presença da mulher amada representa para a alma do eu lírico.
Outro aspecto que não pode deixar de ser destacado é a procura incessante de Avila pela depuração da linguagem, sendo esse um dos motivos do desejo de publicação desta coletânea, em que o poeta revisa e realinha versos e poemas de seus três primeiros livros, além de acrescentar novos textos. Sua linguagem é marcada pelos jogos de palavras, pelo vocabulário contundente, construções concretistas, bem como pela declarada influência tanto por Álvares de Azevedo e seu romantismo gótico quanto por Augusto dos Anjos e seu vocabulário antipoético. Fernando Pessoa e Drummond são também influências marcantes e presentes nesta obra.
Encerro essa visão panorâmica, bastante breve e resumida, dessa obra/alma lírica com tantos aspectos a explorar. Em mãos, quatrocentas páginas ofertadas ao leitor e à leitora com generosidade. Deliciemo-nos com a poesia a cada dia mais amadurecida de Paulo Avila.
Luciene Lima
Mestra em Letras e professora
APRESENTAÇÃO
Para começar a falar deste projeto que se torna realidade, preciso primeiro voltar um pouco no tempo: no dia 26 de maio de 2022, o Diário Oficial publicava o resultado do Edital de Retomada Cultural da Comissão de Avaliação da Secretaria Municipal de Cultura do município de