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Da Desolação E Desesperança À Alegria Do Ressuscitado
Da Desolação E Desesperança À Alegria Do Ressuscitado
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Da Desolação E Desesperança À Alegria Do Ressuscitado

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Neste livro sobre “Da desolação e desesperança à alegria do ressuscitado , Buscamos mostrar que Nos tempos atuais assistimos, cada vez mais a um fenómeno de movimentos fugidios, de incompreensões e de medos; de andanças constantes com horizontes entristecidos e atolados. Não poucas vezes, por imagens construídas falsamente, por esperanças desvirtuadas da realidade ou pela concepção de propósitos e ideias que estão aquém da verdadeira vivência da experiência do Ressuscitado. A incompreensão desta experiência tem atolado os caminhos de fugitivos. Estas fugas, na sua maioria, são feitas apressadamente, por caminhos lamacentos e num desespero desmedido. O mesmo aconteceu com os discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) que são o protótipo da desesperança desesperante. A fuga de Jerusalém para Emaús tem sido uma constante, apenas mudam os intérpretes e os nomes das localidades, mas a experiência do desalento tem sido a mesma. É a partir deste ambiente perplexo e desnorteado que vamos nos debruçar. Pretende-se, portanto, tomar o fenómeno de Emaús e contemplá-lo na sua pertinência atual. É um modo operante comum que merece a nossa atenção. Partimos do texto bíblico dos discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35) e analisamos as motivações e preconceitos dos viandantes e, consequentemente, a ação pedagógica do estrangeiro. Abordaremos inicialmente o texto em análise num sentido exegético e literário. Atravessamos o texto original e, paulatinamente, vamos conferir o significado das expressões que nos parecem fundamentais para a sua melhor compreensão. Por certo, é importante perceber o texto no contexto e sitiá-lo diante dos textos envolventes para que a trama seja melhor compreendida através dos textos que precedem e seguem o texto em análise. É importante também que se compreenda como se estrutura todo o texto e perceber aquilo a que o autor dá relevo, sobressaindo algumas nuances dessa mesma estrutura. Recorrendo à história exegética da obra, asseguramos uma melhor compreensão da trama através dos estudos até então realizados pela tradição exegética. Por fim, estabelecemos paralelismos e concordâncias literárias não só com outras passagens da Escritura, mas também com a literatura clássica. neste livro Procuramos utilizar como metodologia a espiritualidade Inaciana, contemplativa na ação, segundo o livro dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola. O autor saluar antonio magni é leigo da Igreja Católica, formado em administração, economia e possui curso superior de religião pela Arquidiocese de Aparecida. Atualmente é oficial reformado da Aeronáutica. Além de do ministério da Palavra é coordenador Arquidiocesano da Liturgia da Arquidiocese de Aparecida e orientador e acompanhante dos exercícios espirituais de santo Inácio de Loyola..
LanguagePortuguês
Release dateSep 18, 2022
Da Desolação E Desesperança À Alegria Do Ressuscitado

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    Da Desolação E Desesperança À Alegria Do Ressuscitado - Saluar Antonio Magni

    1

    SUMÁRIO PG

    INTRODUÇÃO 4

    CAPÍTULO 1 APRENDENDO A DISCERNIR AS

    MOÇÕES DE CONSOLAÇÃO E DESOLAÇÃO 13

    CAPÍTULO 2 A PEDAGOGIA PRÁTICA NA ÉPOCA DE

    JESUS E COM OS DISC. DE EMAUS 25

    CAPÍTULO 3 A PEDAGOGIA DE JESUS E A

    PEDAGOGIA DA IGREJA 36

    CAPÍTULO 4 ORAÇÃO E PEDAGOGIA DIDÁTICA 63

    CAPÍTULO 5 O ENSINO DE JESUS ERA COM

    AUTORIDADE E AMOR 91

    CAPÍTULO 6 O CAMINHAR DO POVO DE DEUS NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO 122

    CAPÍTULO 7- O CAMINHAR DO LÍDER CRISTÃO NO

    SEGUIMENTO DE JESUS 146

    CAPÍTULO 8 O CAMINHO COM OS EXERCÍCIOS

    ESPIRITUAIS NO DIA A DIA 157

    CAPÍTULO 9 NO CAMINHO DO DISCÍPULO O

    PECADO ESTÁ PRESENTE 195

    CAPÍTULO 10 NO CAMINHO DO DISCÍPULO PELA CONTEMPLAÇÃO DOS MISTÉRIOS DE CRISTO

    SOMOS CRISTIFICADO 231

    CAPÍTULO 11 CAMINHANDO COM JESUS PARA A VOCAÇÃO FUNDAMENTAL 279

    EPÍLOGO 354

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 366

    LIVROS PUBLICADOS PELO AUTOR NO CLUBE DOS

    AUTORES 370

    2

    AGRADECIMENTO

    Agradeço de maneira toda especial à minha esposa Teka, pelo incentivo e toda retaguarda necessária para que eu pudesse ter tempo, paz e tranquilidade para contemplar e meditar os assuntos abordados neste livro. Agradeço também ao Padre: Adroaldo, orientador do CEI, que me orientou nos exercícios espirituais, e me ajudou a construir toda experiência dos retiros, contemplações, meditações e estudos, obtidos durante os Exercícios Espirituais em etapas, que realizamos eu e minha querida esposa, em Itaici. À Irmã Zenaide, psicóloga que acompanhou o nosso grupo de partilha e melhoria da personalidade. E a todo o pessoal do CEI, Centro de Espiritualidade Inaciana de Itaici, que me proporcionaram todo conhecimento intelectual, e especialmente afetivo, da metodologia Inaciana. E onde tive a oportunidade de realizar uma especialização sobre orientação e acompanhamento espiritual, coordenado pela FAGE de Belo Horizonte.

    Oh! Verdade! Oh! Beleza infinitamente amável de Deus! Quão tarde vos amei! Quão tarde vos conheci! e quão infeliz foi o tempo em que não vos amei nem vos conheci! Meus delitos me têm envilecido; minhas culpas me têm afetado; minhas iniquidades têm sobrepujado, como as ondas do mar, por cima de minha cabeça. Quem me dera Deus meu, um amor infinito para amar-vos, e uma dor infinita para arrepender-me do tempo em que não vos ame como devia! Mas, enfim vos amo e vos conheço, Bem sumo e Verdade suma, e com a luz que Vós me dais me conheço e me aborreço, pois eu tenho sido o principio e a causa de todos os meus males. Que eu Vós conheça, Deus meu, de modo que vos ame e não vos perda! Conheças a mim, de sorte que consiga arrepender-me e não me busque em coisa alguma minha felicidade a não ser em Vós, Senhor meu! (Santo Agostinho)

    Se queres chegar ao conhecimento de Deus, trata de antes te conheceres a ti mesmo. (Abade Evágrio Pôntico).

    Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no (Jo 24, 31).

    3

    INTRODUÇÃO

    Sim, que eu vos conheça Senhor e me conheça cada vez mais para que eu possa me tornar uma pessoa melhor e possa te servir como Tu queres!

    Quero iniciar este livro sobre Da desolação e desesperança à alegria do ressuscitado, Nos tempos atuais, assistimos, cada vez mais, a um fenómeno de movimentos fugidios, de incompreensões e de medos; de andanças constantes com horizontes entristecidos e atolados. Não poucas vezes, por imagens construídas falsamente, por esperanças desvirtuadas da realidade ou pela concepção de propósitos e ideias que estão aquém da verdadeira vivência da experiência do Ressuscitado. A incompreensão desta experiência tem atolado os caminhos de fugitivos. Estas fugas, na sua maioria, são feitas apressadamente, por caminhos lamacentos e num desespero desmedido. O mesmo aconteceu com os discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) que são o protótipo da desesperança desesperante. A fuga de Jerusalém para Emaús tem sido uma constante, apenas mudam os intérpretes e os nomes das localidades, mas a experiência do desalento tem sido a mesma. É a partir deste ambiente perplexo e desnorteado que vamos nos debruça. Pretende-se, portanto, tomar o fenómeno de Emaús e contemplá-lo na sua pertinência atual. É um modo operante comum que merece a nossa atenção. Partimos do texto bíblico dos discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35) e analisamos as motivações e preconceitos dos viandantes e, consequentemente, a ação pedagógica do estrangeiro.

    Abordaremos inicialmente o texto em análise num sentido exegético e literário. Atravessamos o texto original e, paulatinamente, vamos conferir o significado das expressões que nos parecem fundamentais para a sua melhor compreensão. Por certo, é importante perceber o texto no contexto e sitiá-lo diante dos textos envolventes para que a trama seja melhor compreendida através dos textos que precedem e seguem o texto em análise. É

    importante também que se compreenda como se estrutura todo o texto e perceber aquilo a que o autor dá relevo, sobressaindo algumas nuances dessa mesma estrutura. Recorrendo à história 4

    exegética da obra, asseguramos uma melhor compreensão da trama através dos estudos até então realizados pela tradição exegética.

    Por fim, estabelecemos paralelismos e concordâncias literárias não só com outras passagens da Escritura, mas também com a literatura clássica.

    Conforme caminhámos, fomos percebendo que as dinâmicas relacionais dos dois discípulos repercutiram uma apropriação imagética, espelhando nela uma obscura vivência com a alteridade. Sistematicamente, fomo-nos questionando sobre a existência do salutar vínculo entre o humano e o divino. Com isto, quisemos transferir a passagem de Emaús para a atualidade, numa analogia mais de similitudes do que propriamente de contradições.

    Assim sendo, movidos pela questão da relação humana com a divindade, compreendemos que o modo como nos relacionamos com Deus depende muito do modo como O concebemos. Logo, vamos intuir que, tal como os discípulos, hoje, também Deus é concebido idolatricamente, visão que defrauda a imagem do próprio Deus, permitindo o bloqueio da relação.

    Por que motivo os discípulos estão tristes? Por que as falsas esperanças? Qual era a relação que tinham com Jesus? Como o concebiam? Como experienciaram a sua morte? Como leram a História da Salvação? Tais inquietações vão sendo desbravadas como arado que penetra e remexe a terra recalcada. Acorremos à conceptualização do ídolo para melhor tentar definir o modo como os discípulos concebiam Jesus: um ídolo. Ver em Jesus um ídolo é não compreender a distância relacional, nem salvaguardar a alteridade de ambos os corpos. O discípulo, se excessivamente próximo e dependente, leva à apropriação do outro, espelhando-se visivelmente as características do próprio discípulo. É a partir da justa distância que as portas se abrem, aclarando as relações convenientes e profícuas com Deus.

    Ajudando à reflexão, contrapomos a vivência da morte de Jesus experienciada pelos discípulos com a morte de Deus afirmada na modernidade. Duas mortes, em tempos amplamente longínquos, mas com o mesmo propósito. Ora, se no primeiro caso, os discípulos desacreditados confirmam a morte de Jesus através da incompreensão da vida de Jesus, no segundo caso, algo 5

    semelhante acontece. Pois, na modernidade, fruto de uma concepção obscura e de uma excessiva apropriação de Deus, quase como se de um objeto se tratasse – palpável, observável, à mercê de ser modificado, transformado pelo próprio humano – alguns começam a questionar este Deus que parece mais humano que divino. Perante estas imagens vertiginosas e em decadência, alguns anunciam a Morte de Deus e o fim da divindade, promovendo a dependência absoluta do humano, lutando, assim, contra um Deus que é solução para todos os problemas humanos.

    Mas como podemos mudar esta visão de excessos? Como podemos ajudar todos aqueles que, fugindo, fazem a viagem de Jerusalém para Emaús? Como agir perante os desalentados, tristes e desesperados? Como explicar a morte de Jesus? Será possível ter uma relação saudável com Deus? Quem poderá ajudar estes viandantes a compreender a transcendência? Bem, estas questões desaguam na reflexão suscitada no desenrolar deste livro. Neste momento, partimos de uma análise, claramente mais prática, alinhando-nos à pastoral, através da Pedagogia de Jesus como modelo para a Pedagogia da Igreja.

    Ao longo da toda a trama, percebemos a importância do estrangeiro Jesus. Ele ajudou os discípulos a compreenderem melhor tudo o que não haviam compreendido. A partir da pedagogia divina de Jesus, iremos analisar todas as suas atitudes, ao longo do caminho, para com os discípulos. Analogamente, repercutimos todas as atitudes de Jesus a um convite dirigido à Igreja para, igualmente, proceder com os peregrinos dos dias de hoje. Propomos, assim, um modo de atuar da Igreja enraizado em todas as ações que Jesus efetuou ao longo de toda a passagem.

    Iremos, pois, passear entre a pertinência de Emaús e a vivência moderna contemporânea, entre o ídolo e a distância, entre a Pedagogia de Jesus e a Pedagogia da Igreja. Quisemos que este fosse um caminho itinerante, semelhante ao de Jesus. Da Palavra à prática queremos apresentar uma reflexão itinerante, coerente, com princípio, meio e fim.

    Afirmando que Jesus possuía um modelo pedagógico próprio, que observava a pessoa em seu contexto e forma de aprender. Com uma linguagem simples, composta de exemplos 6

    práticos baseados no cotidiano dos ouvintes, em sua maioria adultos, apresentava seus ensinos por meio da metodologia andragógica, isto é, tendo por centro do aprendizado o adulto, na espera de um resultado que mostrasse a ressignificação do assunto para o aprendiz, ou seja, que aquele princípio de vida fosse aprendido de forma significativa.

    Veremos que as estratégias docentes usadas por Jesus no ensino de seus discípulos e demais seguidores, podem ser usadas atualmente pelos docentes no ensino da Bíblia, principalmente para o ensino dos adultos, visto que as técnicas, os recursos e a metodologia usadas, continuam pertinentes e atuais. Jesus nos deixa o legado de ensinar de uma forma que auxilie os indivíduos a disseminarem o conhecimento adquirido, portanto mais que conteudismo e distribuição de informações o ensino bíblico envolve mudanças de valores e atitudes, os quais se tornam testemunho influenciando outros para também aprender.

    Ao observar o método de ensino de Jesus nota-se a variação desenvolvida por ele conforme o ambiente e o público ouvinte. Por exemplo, com a mulher samaritana, usou método de perguntas, com os discípulos, a caminho do Jardim das Oliveiras, usou o de preleção. Iniciou uma palestra com um jovem doutor e perguntou: como lês? (Lucas 10.26). Filipe, o evangelista, iniciou a sua fala com o alto funcionário de Candace, e perguntou:

    entendes o que lês? (Atos 8.30). Jesus usou o método audiovisual em Mateus 6.26 (olhai para as aves do céu), Mateus 6.28 (olhai para os lírios dos campos), João 10.9 (eu sou a porta); João 15.5 (eu sou a videira verdadeira, vós as varas). O método de narração. Para ensinar certa lição a Pedro usou método de tarefas. Mateus 17.24-27. Aprofundando-se nos evangelhos outros métodos podem ser encontrados.

    Este livro focaliza a ação pedagógica de Jesus, mostrando a importância desse ensino para todas as gerações. Visa, portanto, identificar a metodologia didático-pedagógica usada por Ele, como pedagogo. Estabelece ainda uma relação com Paulo Freire, reconhecido por ter preconizado um método pedagógico popular, que leva à prática da verdadeira educação. No âmbito das diversas concepções pedagógicas, é ressaltada a concepção interacionista, 7

    por ter resposta às necessidades do ser humano em todos os tempos. Jesus, objeto deste estudo, é apresentado como Mestre insuperável em conteúdo, coerência e ação pedagógica. Conclui-se que a pedagogia de Jesus é a pedagogia do amor, levando em conta a realidade existencial de cada pessoa.

    Jesus foi tão persuasivo, em sua ação pedagógica, que marcou o seu tempo e continua influenciando toda a história humana. Relacionar a metodologia de Jesus à forma de elaborar a prática das aulas no ambiente de educação cristã é tomar por princípio o exemplo de sempre ter o conteúdo a ser ministrado tangível à experiência das pessoas. A educação cristã é um processo de vida e não uma preparação para o futuro. Ela vai além das raias da simples valorização do entendimento, atinge a escolha de mudanças, compromisso com a Palavra aprendida e transformação a partir da aplicação para a vida. As técnicas e métodos para alcance destes resultados se encontram nos estudos da andragogia. Os processos andragógicos diferem das práticas pedagógicas, nas quais existe um professor detentor do conhecimento e o repassa aos alunos em uma relação mais verticalizada. Há mais flexibilidade nessas práticas de ensino, pois a responsabilidade do aprendizado é muito mais do adulto que está interessado em aprender do que do professor. Existe ainda outro conceito relacionado à educação: a heutagogia. Esse termo começou a ser utilizado em 2000 e refere-se às práticas de ensino nas quais o aluno é o próprio gestor da busca pelo conhecimento, um autodidata, nessa forma de aprendizagem, o aluno é o ator principal do processo e, embora a figura do professor não seja necessária, caso exista, o seu papel é de facilitador.

    Veremos também que todos aqueles que procuram buscar para a sua vida, estes ensinamentos de Jesus, que lhes possam dar um sentido mais nobre à sua vida em sabedoria, neste livro encontrarão respostas para iniciar este caminho de espiritualidade, bem como programar sua vida conforme o chamado, vocação que escutar nas orações, meditações e exercícios que iremos proporcionar nestes estudos. Precisamos redescobrir uma pedagogia que nos conduza até o mais profundo de nossa intimidade, onde o Espírito ativa a originalidade de nosso ser 8

    único, através de uma fonte que nunca se esgota. Para conduzi-lo no caminho de Jesus vamos propor os exercícios espirituais de Santo Inácio, fundador dos Jesuítas.

    Somos um mistério no meio de mistérios, em um mundo de surpresas e de assombros. Cada um de nós é uma fonte inesgotável de prodígios, uma reserva insondável de recursos e possibilidades. Nós, seres humanos, somos os únicos que podemos lavrar nosso futuro, que podemos inventar-nos a nós mesmos. Somos seres históricos, nascemos como projeto de existência; a vida nos é oferecida como a tarefa apaixonante de chegar a ser pessoa.

    Somos criadores de nós mesmos, dotados da capacidade de nos transformar interiormente, de modificar nossa maneira de pensar e de viver, de entrar em sintonia com os outros e com a realidade.

    Vamos verificar que Jesus ensinava com métodos e técnicas variadas, o mais comum observado nos evangelhos são as parábolas, pois ao contar parábolas, Jesus desenhava quadros verbais que retratavam o mundo ao seu redor. Ensinando por meio de parábolas, ele descrevia o que acontecia na vida real. Jesus identificava símbolos relevantes no contexto dos ouvintes para ensinar os princípios de vida desejados, ele usava uma história tirada do cotidiano, para, por intermédio de um fato já aceito e conhecido, ensinar uma nova lição. Essa lição, na maior parte das vezes, vinha no final da história e provocava um impacto que precisava de tempo para ser entendido e assimilado. Após essa tomada de ressignificação a história tornava-se significativa e as pessoas passavam a viver e disseminar as verdades conhecidas.

    Jesus ainda deixa uma fundamentação bíblica com sua afirmação em Marcos 4:11 quando fala: A vós outros vos é dado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se ensina por meio de parábolas. As parábolas é um recurso que cabe a todos os níveis de intelecto, cultura e social pois, normalmente atraem os ouvintes, provocam reflexões e geram ação. Para a aplicação da Palavra de Deus na vida dos seus discípulos, as parábolas aplicadas de forma andragógica poderá ter os resultados de transformação de vida esperada.

    9

    Veremos as outras formas Jesus usou para ensinar: perguntas, preleções, histórias, conversas, parábolas, discussões, dramatizações, lições objetivas, planejamentos e demonstrações.

    Ensinou multidões, grupos, e pessoas individuais. Ensinou no templo, nas sinagogas, nas casas, nas praças, nas estradas, no deserto e na praia. Porém, o que se observa em comum é a forma andragógica que ministrou com cada ferramenta de ensino.

    Algumas parábolas foram apresentada na forma de relatos detalhados, e outras foram resumidas em um ou dois versículos pequenos. Algumas aparecem isoladas, e outras ganham força por causa do seu contexto imediato. Algumas fazem parte de séries de ensinamentos sobre o mesmo tema, e outras são únicas. Lemos no Evangelho que Cristo ensinou algumas coisas privadamente a seus Apóstolos, mas ordenando-lhes que as pregassem depois publicamente: O que eu vos digo na obscuridade, dizei-o às claras, e o que é dito ao ouvido, pregai-o sobre os telhados (Mt 10, 27).

    Outras vezes, porém, o Senhor ensinou por meio de parábolas, que ele explicava depois aos seus discípulos, mas cujo sentido escapava à maior parte de seus ouvintes. Os próprios Apóstolos perguntaram ao Senhor a razão dessa maneira de pregar, e obtiveram uma resposta cuja interpretação exata é um tanto obscura e difícil:

    "Chegando-se a ele os discípulos, disseram-lhe: 'Por que razão lhes falas por meio de parábolas?' Ele respondeu-lhes:

    'Porque a vós é concedido conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é concedido. Porque ao que tem lhe será dado (ainda mais), e terá em abundância, mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo em parábolas, porque vendo não veem, e ouvindo não ouvem nem entendem.

    E cumpre-se neles a profecia de Isaías (6,9-10), que diz: Ouvireis com os ouvidos, e não entendereis; olhareis com os vossos olhos, e não vereis. Porque o coração deste povo tornou-se insensível, os seus ouvidos tornaram-se duros, e fecharam os olhos, para não suceder que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e entendam com o coração, e se convertam, e eu os sare"

    (Mt 13, 10-15).

    10

    Caros leitores/as como aprendi no cursilho e confirmei em minha vida: o tripé Oração, Estudo e Ação Apostólica. Buscando usar a máxima de Santo Inácio de Loyola: "em tudo amar e servir para a maior glória de Deus". Novo convertido ou não, todo cristão verdadeiro precisa crescer no conhecimento de Jesus Cristo, a fim de desenvolver as características do verdadeiro cristianismo. É

    urgente que aprendamos mais da pessoa de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo hoje em dia, pois infelizmente muitos falsos cristãos tem surgido, enquanto isso muitos outros não estão amadurecendo na vida cristã, e por isso não dando frutos com esmero no reino de Deus. É quase impossível ser um cristão ideal.

    Mas um cristão melhor! Esse deve ser o objetivo de todo aquele que crê em Cristo. Mas como se faz isso? Trabalhando em si mesmo, melhorando sua comunidade inteira e colocando ênfase na sua fé, você pode ser o tipo de cristão que inspira todo mundo ao seu redor. Convido vocês a rezarem este livro, pois teremos oração, contemplação e meditação, e especialmente de cura interior. Mas, na verdade os verdadeiros cristãos não precisam ser cobrados a obedecer as Escrituras Sagradas, pois por amor ao Senhor Jesus estes leem, estudam de boa vontade e com alegria obedecem. Veremos que cada espiritualidade, ou carisma tem a sua maneira de rezar, uns contemplativamente, outros na leitura orante, mas todos na busca de se encontrar com Deus Criador, Seu filho Salvador e do Espírito Santo orientador e que nos dá ardor para sempre e cada vez mais buscar fazer a vontade de Deus!

    Esse é o grande motivo pelo qual escrevo este livro: que minha experiência e a experiência de minha esposa, nossos erros e acertos, ajudem a cada um de vocês leitores amigos, a buscarem uma vida feliz e cheia de sentido e que a cura interior seja alcançada através do conhecimento de como se encontrar com Deus através da oração e do discernimento diário. Para que isto aconteça teremos estudos, exercícios, testes, oração, meditações e contemplações, na busca de nos conformarmos à pessoa de Jesus Cristo, pérola preciosa, nosso Mestre e Senhor. E assim sermos bons cristãos e discípulos missionários de Jesus Cristo!

    No próximo capítulo iremos abordar sobre o que nos leva à desolação e desesperança em situações que fugimos da verdade 11

    por preconceitos, desinformações e cabeça dura para buscar a verdade na Bíblia e no ensinamento do magistério da Igreja

    12

    CAPÍTULO 1 APRENDENDO A DISCERNIR AS

    MOÇÕES DE CONSOLAÇÃO E DESOLAÇÃO

    Temos este tesouro em vasos de barro... (2Cor 4,7) Discernir significa conhecer as emoções, os sentimentos, que acontecem em uma pessoa concreta. Por isso você deve se conhecer, ter um conhecimento amplo de si mesmo. O confronto com a Palavra de Deus na oração deve ajudar nessa tarefa, porque a Palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes, e atinge até à divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração. Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas (Hb 4,12-13).

    Essa Palavra atinge o coração, a fonte... Quando atinge o coração, algo acontece.

    Diante desta Palavra o

    nosso coração reage.

    Vêm as reações ou

    movimentos

    interiores.

    Ninguém

    fica neutro a estas. Elas

    podem

    ser:

    paz,

    perturbação, tristeza,

    ânimo,

    secura,

    inspiração, luz, medo,

    insegurança, confusão,

    atração por Deus... Tudo isso são moções.

    Santo Inácio de Loyola divide as moções em boas e más.

    Chama de consolação às moções boas, que nos conduzem para Deus. Chama de desolação às moções más, que nos afastam de Deus.

    Deus se manifesta nas moções, como pequenos toques...

    Se há moções sempre presentes, aí há algo de Deus. As moções são a linguagem do coração. Devemos ir atrás das moções persistentes. As outras, que vem e vão, devemos desprezá-las.

    Tanto a consolação como a desolação nascem do coração e repercutem nos outros níveis da pessoa: afetivo, mental, corporal.

    13

    A consolação é

    movimento

    de

    expansão

    para

    fora, vem de

    dentro e se alarga.

    Uma

    pessoa

    consolada sente

    sua

    afetividade

    tranquila,

    sem

    feridas, as ideias

    em ordem, a

    cabeça leve, o

    corpo leve, solto, tranquilo, uma melhor relação com os outros...

    A Consolação é um estado de ânimo forte, intenso, além do normal, perceptível. A pessoa percebe sem saber o porquê. Não é algo rápido, mas é algo que tem duração. No entanto, não se pode reter. Do mesmo modo que aparece pode ir embora. Não temos domínio sobre a consolação, não conseguimos repeti-la. Cada consolação é única, porque é graça de Deus. Ele dá a quem quiser e quando quiser. Ela é dom, não é conquista pessoal. Ela vem, entra e sai quando quer. Devemos pôr os meios para acolhê-la, buscá-la, mas não a provocamos. Para cada pessoa a consolação é única e cada uma a capta de um modo diferente.

    Não se deve confundir a consolação com estados eufóricos. A consolação é interior, silenciosa, calma, centrada em Deus e nos outros. O estado eufórico é exterior, ruidoso, o centro é a pessoa voltada para si mesma. No entanto, pode se transformar o estado eufórico numa consolação, levando-o da exterioridade para a interioridade, na oração, no confronto com a Palavra de Deus. Apesar dos conceitos serem pobres e frágeis para definir a consolação, podemos elencar algumas de suas características:

    - Ela é todo movimento interior que deixa a pessoa cheia de confiança em Deus, de afeição por Jesus e de abertura para os outros. É impulso para o alto, para o bem.

    - É toda alegria interior que eleva e atrai a pessoa para as coisas celestiais e para a sua salvação, tranquilizando-a e pacificando-a em seu Criador e Senhor.

    14

    - É paz, alegria, confiança, ânimo, experiência do amor de Deus e do sentido da vida...

    - É experiência de uma presença íntima, pessoal, de ser amado gratuitamente.

    - É experiência existencial, tudo está em harmonia, unificado, integrado....

    - É sensação de liberdade, de que o melhor de nós vem à tona...

    Quando certas consolações são constantes ao longo de uma caminhada, e concordam com experiências semelhantes, anteriores, então as consolações tornam-se indicação ou confirmação importante para conhecer a Vontade de Deus sobre uma pessoa. Se na sua oração ou na sua vida (comportamento, modo de ser, etc.), você experimenta consolações ao se orientar para uma certa vocação específica, pode ter a certeza de que essas moções, se foram constantes, indicam a voz do Senhor que chama.

    Sentir em si, profunda e constantemente, a consolação ao escolher algo para o serviço do Senhor, da Igreja e do Mundo por causa do Evangelho, pode ser considerado como um convite que Deus faz.

    PARA AJUDAR A REZAR:

    ORAÇÃO PREPARATÓRIA - A partir de hoje, sua oração deve iniciar sempre com essa oração preparatória:

    Senhor Deus, que todos os meus pensamentos, minhas atitudes, meus desejos e minha afetividade sejam puramente ordenados para o Teu maior serviço e dos irmãos

    Essa pequena oração é um resumo do Princípio e Fundamento, que veremos mais à frente nos exercícios de Santo Inácio. Nela se pede a graça básica à qual querem conduzir todos os Exercícios, e que inspira todo o seu itinerário. Ela o ajudará a pôr-se diante de Deus.

    GRAÇA - Dai-me, Senhor, o dom do discernimento!

    PALAVRA DE DEUS - Os 11,1-9

    REVISÃO DA ORAÇÃO - O que mais lhe impressionou na oração? A DESOLAÇÃO/desesperança: vimos como as moções são todo movimento interior, impulso, atração da alma que aparecem sobretudo na oração, mas também a partir da vida, dos 15

    acontecimentos e de situações eclesiais e sociais. Como experiências espirituais concretas podem preceder ou acompanhar uma escolha, uma decisão e também decorrer dela como confirmação.

    Chamamos às moções boas de consolação e às moções más de desolação. Ninguém é culpado por ter más moções. Como as boas moções, as más moções também surgem sem esperar, acontecem. São reações interiores diante da Palavra de Deus.

    Costumamos achar que se nos sentimos mal na oração é porque não rezamos, o que não é verdade! Você rezou sim! Isso só indica que está havendo moções interiores. Santo Inácio dizia que se não há nenhum movimento na oração, algo está errado. A desolação também é fruto da oração. Se não se sente nada enquanto se reza, deve-se verificar se está rezando de modo conveniente.

    A Desolação é obscuridade da alma, perturbação, incitação a coisas baixas e terrenas, inquietação proveniente de várias agitações e tentações que levam à falta de fé, de esperança e amor, achando-se a alma toda preguiçosa, tíbia, triste e como que separada do seu Criador e Senhor.

    Isto aconteceu com os discípulos de Emaús: o desânimo que fecha nossos olhos para Deus "Naquele mesmo dia, o primeiro da semana, dois dos discípulos de Jesus iam para um povoado chamado Emaús, distante onze quilômetros de Jerusalém. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles. Os discípulos, porém, estavam como que cegos, e não o reconheceram. Então Jesus perguntou:

    Que ides conversando pelo caminho? Eles pararam, com o rosto triste, e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias? Ele perguntou: Que foi?, Os discípulos responderam: O que aconteceu com Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo. Nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É

    verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deram um susto. Elas foram de madrugada ao túmulo e não encontraram o corpo dele. Então voltaram, dizendo que tinham visto anjos e que estes afirmaram que Jesus está vivo.

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    Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas como as mulheres tinham dito. A ele, porém, ninguém o viu".

    Os dois discípulos fugiam de Jerusalém após a Morte de Nosso Senhor. Podemos observar que eles estão envoltos em trevas. São dominados pela desolação, desesperança e tristeza, e sua fé está abalada. Quando encontram Jesus no caminho eles mesmos confirmam isso, eles não acreditam na ressurreição. Eles estão vacilando na fé, pois, se observarmos, em nenhum momento eles dizem ao forasteiro que Jesus era o Filho de Deus, eles apenas dizem: Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras.

    Será que não parecemos com estes discípulos? Quando nos vem um momento difícil, esquecemos que Cristo é Deus, que pode tudo, e passamos a contar apenas com os aspectos humanos de nossa vida? Reduzimos o poder de Deus. Não é verdade também, que muitas vezes Cristo se apresenta no caminho de nossa vida, mas, por causa de nosso trabalho, nossas ocupações, nossas tristezas, nossa pouca fé, nós não o reconhecemos?

    Vivemos dias de estiagem. Estiagem de afeto. Dias em que a alma se ressente da ausência de diálogo e de compreensão. Dias em que os seres se isolam no próprio egoísmo e se trancam com as suas próprias dores, nas furnas da angústia e da depressão.

    Afogam-se nas próprias lágrimas e escutam apenas os próprios lamentos. Ignoram as dores alheias e desprezam as verdades do próximo. Vivemos dias de grande amargura. Dias de solidão em meio à turba que passa sem destino, nem rumo. Dias em que as pessoas, apesar de toda a riqueza e de todos os recursos dos quais dispõem, sentem-se arrastadas pela correnteza bravia da vida, como se nada pudesse ser feito para evitar tamanha desdita, como se fosse fatal a queda, o fracasso humano. Muitos se perguntam:

    onde foi parar a esperança? Como recuperar a paz perdida? Ora, a esperança e a paz jamais deixaram de habitar as paragens onde sempre foram encontradas. Permanecem encantando as almas que as buscam com sinceridade e persistência, nos caminhos do bem.

    Não foram elas que abandonaram o homem. Em verdade, foi o próprio homem que as confundiu com as ilusões passageiras.

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    Foram tomadas por miragens incapazes de sustentar por longo período a satisfação fugaz dos primeiros tempos.

    Nos momentos de dificuldade e desolação, a tendência de muitas pessoas é a de abandonar a oração, esperar um momento de mais tranquilidade, clareza interior e concentração. Hoje o dia foi muito corrido, estou muito acelerado, inquieto, melhor deixo a oração para amanhã, quando esteja mais tranquilo. Penso que se trata de um grande erro, pois é o Senhor, como testemunha o Salmista, quem prepara o nosso coração, quem nos deixa prontos para cantar e tocar para ele, para acordar a aurora. Não há momento no qual não possamos voltar o nosso coração a Deus, nada fica fora do alcance da sua ação salvadora e reconciliadora.

    Como estamos meditando, Muitos são os motivos que levam à desolação. Se começarmos a pensar sobre o assunto, com certeza perdemos o sono e na manhã seguinte estaremos muito mais desolados. Mas que diabo de coisa é esta? Uma tristeza misturada com desesperança, com generosas pitadas de decepção.

    Pior, desolação é mais do que tudo isto junto. É uma sensação de fim de caminho, de pré-morte. Com ela vem o desânimo, o desamor e tudo desvirtua. A vida perde o foco, a graça já não tem graça, o mundo agora é branco e preto.

    A desolação é a consciência de que o tempo passou e fomos excluídos de viver o futuro. Só sobra o hoje, um resto de vida que se chama presente e que amanhã já será passado. É

    chegada a hora de contabilizar as perdas e os ganhos. Perdemos o desejo, a paixão e o entusiasmo. Fogo baixo, lembranças em alta.

    Como era bom antigamente, hoje as coisas não são mais como eram, dizem os desolados. Foi-se o tempo que fio de bigode era documento, galinha se buscava no terreiro, correndo atrás até pegar a mais gorda. E o fogão de lenha, então. Que delícia poder nadar no rio. Ao invés de pontes havia barcos. A gente namorava, hoje os jovens ficam, mas que coisa é essa se ninguém fica de verdade? Melhor seria contabilizar os ganhos, por mais difícil que possa ser a tarefa. A vida vivida é ganho sobre a morte prematura.

    Sempre que penso nisto lembro de quem nem teve a chance de viver. Morreu antes.

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    Que lindas são as histórias que os mais velhos têm guardadas na memória e podem contar aos mais jovens. São testemunhas oculares. Viram a vida acontecer, foram abençoados com filhos e netos. De nada adianta se queixar que não podem mais dançar porque as pernas não aguentam. Dance do mesmo jeito, devagar, no ritmo de seu tempo. Desistir de continuar buscando felicidade é condenar-se à depressão, é ingratidão com quem lhe deu a vida, é condenação. É muito desolador ver pessoas tão lindas assim, desoladas.

    Vejamos outras características da desolação:

    - É experiência de crise, de torpor, de esvaziamento interior progressivo. É impulso para baixo, para o terreno.

    - É desânimo, pessimismo, desconfiança, aridez, desamor, frieza, ressentimento, temor, confusão, silêncio de Deus.

    - É toda frieza diante de Jesus Cristo.

    - É sentir que a mudança é impossível, por perda de confiança em si mesmo.

    - É perda de interesse pelos outros, para o serviço.

    - É experiência existencial, tudo está em desarmonia, desunificado, desintegrado.

    A desolação é também um estado interior intenso, fora do normal, perceptível, que repercute nos outros níveis da pessoa: afetivo, mental, corporal. Uma pessoa desolada sente sua afetividade ferida se intensificar, amargurada, confusão de ideias, apavorada, mal-estar físico, preguiça, pesada, mal-estar e desconfiança com os outros.

    Não se deve confundir a desolação com a depressão. A desolação tem origem numa situação interna, se dá na oração, no confronto com a Palavra de Deus, refere-se ao sentido da vida, aponta para a frente, para o novo, para o desafio. A depressão é provocada por uma situação externa, por alguém ou por uma frustração, uma derrota, minando as forças da pessoa, isolando-a, desanimando-a. A desolação está no nível da fé, a depressão está no nível afetivo. A desolação faz referência ao futuro, a depressão faz referência ao passado. A desolação pode se aproveitar de uma depressão, somar-se a um estado afetivo frágil.

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    Quando certas desolações são constantes ao longo de uma caminhada, podem indicar resistências e conflitos diante de um possível convite ou chamado de Deus. Se a pessoa está buscando sinceramente o Senhor e a vocação pessoal e sente confusão interior, inquietação, tristeza..., apesar da busca sincera, significa que algo não está bem com respeito à escolha. Com efeito, a doação a Deus e aos irmãos sempre deixa a pessoa intimamente satisfeita, apesar do sacrifício que exige.

    Deus nos ensina através da desolação. Ela pode ser lição do Senhor! Que nas horas difíceis, não sejamos surdos! Que nos momentos de desolação tenhamos a disposição de preparar o nosso coração para receber o Amor de Deus, que é puro dom! O

    certo é que nesse exato momento alguém está amargurado, sofrendo uma dor que se julga irreparável, mas é preciso persistir na procura por Deus, na oração, na busca pelo sentido mais profundo da existência, pois Deus nunca se ausenta, por mais que sintamos a tentação de nos fechar em circunstâncias que parecem negá-lo.

    O nosso caminho de homens e mulheres é um caminho, às vezes, na noite profunda, às vezes na névoa, porque não sabemos ver bem, não sabemos escutar bem. O silêncio de Deus acolhido como nossa não escuta, como nossa surdez, faz parte do nosso caminho árduo, da tarefa de viver como humanos e como cristãos. Sendo assim, não podemos pensar que Deus tem a possibilidade de interromper o Seu amor, de fechar para sempre uma relação, de ver o ser humano sofrer e de Se comprazer com isso. Ou seja: O amor de Deus não deve ser merecido, e nenhum de nós pode pensar que tem em si mesmo um amor que Deus nega, detesta ou não vê, porque o Seu amor é maior do que o nosso coração e o nosso amor (cf. 1Jo 3, 20)".

    Ao contrário dos momentos de consolação espiritual, quando somos levados por movimentos internos positivos, que conduzem para o bem e reforçam em nós as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), dadas não por mérito humano, mas graça divina, quando nos vem a desolação, somos inundados por sentimentos negativos, que nos desintegram interiormente, trazendo a sensação de que Deus se esqueceu de nós. Esta dura 20

    experiência é um convite à maturidade espiritual, São momentos que exigem superação e persistência, constância na súplica e desejo de encontro com Deus, a quem nascemos para louvar, reverenciar e servir. Este é o verdadeiro projeto que conduz à felicidade.

    Ao nos depararmos com momentos de desolação:

    - Não tomar nenhuma decisão, já que o ser humano fica propenso a ser dirigido pelos maus conselhos e tentado a se desviar de seu propósito de vida;

    - Reagir firmemente contra a desolação, insistindo

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