Mundos paralelos
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About this ebook
Nunca senti medo, sempre achei isso muito natural e assim também entende minha família, com quem sou muito aberta. Em alguns momentos, sinto necessidade de falar e é com a família que falo. Meu atual marido, às vezes, também percebe alguma coisa diferente em casa e por várias vezes sentiu odores. Ele me pergunta o que está acontecendo e eu explico. Ele costuma dizer que a casa é "assombrada", mas não tem nada disso. Explico a ele que são entidades desencarnadas que por aqui passam ou que viveram nestas terras. Há alguns anos ele dizia que era meu pai. Depois começou a dizer que era o capeta e o desafiava. Eu ria da situação e falava que ele parecia o "padre Quevedo". Até que entendeu que esse é meu mundo, então parou de reclamar e aceita tudo. É óbvio que quando alguma alma com más intenções me visita, falo que ela não é convidada a ficar aqui, pois esta família pertence a Jesus. Tivemos alguns problemas com espíritos malignos, mas o problema foi resolvido. E continuamos com tranquilidade dentro da casa.
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Book preview
Mundos paralelos - Nelma Oliveira
Introdução
Quantas pessoas existem no planeta? Bilhões. Mas uma não é igual à outra. A não ser alguns gêmeos que aparentemente são idênticos. Impressão digital, fundo de olho, será mesmo que não existem pessoas semelhantes na aparência, na psique, no gosto pela vida e pelos animais? Acredito que em alguma coisa somos semelhantes a outros, talvez alguém que esteja tão distante que nunca iremos conhecê-la. Mas acredito também que possuímos semelhanças que não compartilhamos, por medo do ridículo ou porque aquilo faz parte somente de nós, de nossa intimidade, seja com o mundo material ou espiritual.
Me sinto uma felizarda por me achar um tanto diferente da maioria. Aos 71 anos, quantas coisas já vi e vivi. Muitos nem desconfiam como sou e como vivo. Mas agora que já não tenho mais 70 anos de vida, resolvi contar minha incrível história. Uma história que talvez encontre um semelhante por aí. Um igual.
Acredito que seria muito criticada e nada elogiada por expor assim minha vida. Porém nessa idade, nada mais me faz mal. Sou o que sou e assim sou uma felizarda, por conhecer coisas que a maioria não conhece, nem sequer sonha que existe. Mas eu vivo, vivo o mundo material e o espiritual sem problemas, aliás nunca tive problema algum com isso.
Tenho amigos, vários amigos, que me ajudam, me acolhem e me orientam. Não sou nada especial. Sou normal e tenho todos os problemas que qualquer pessoa, somente os encaro de maneira diferente. Com tranquilidade. Também choro, sofro, dou muita risada, passei por poucas e boas na vida. Mas tudo isso me preparou para ser mais forte, mais compreensiva com tudo que iria viver. Aceito mais facilmente minhas dores, o jeito que vivo, meus problemas, ou seja, minha vida.
Desejo a todos uma ótima distração e um bom passeio por estas páginas.
COMO VIVÍAMOS
Desde pequena, percebi que era diferente das outras crianças. Sabia que existia uma ordem Superior que cuidava de todo Universo, mas sempre achava distante de mim. Já seu filho, Jesus, que estivera na Terra, era mais fácil entendê-Lo, entrar em contato, mesmo em pensamento. Mas recusava tudo o que se relacionava ao mundo espiritual. Era distante, sentia um grande vazio.
De família católica, de origem portuguesa, ia à missa todos os domingos. Era em latim, não entendia nada, mas achava que Jesus ali estava, e a Igreja era muito linda perante meus olhos infantis. Vivia com meu pai, tecelão de profissão, minha mãe e irmã, quatro anos mais velha do que eu. Éramos pobres, todos eram. As ruas não eram asfaltadas. Não havia esgotos, muitas casas ainda possuíam poços, de onde tiravam a água para os afazeres domésticos. As ruas não eram iluminadas. O caminhão que recolhia o lixo e o bonde, único meio de transporte, eram puxados por seis burros.
Aquela era uma época de necessidades, mas, para nós, era tudo normal e vivíamos felizes. As casas que possuíam muros, estes eram baixos. Os portões viviam abertos, já que a criançada toda hora entrava e saia de casa para brincar na rua. Luxo era usar nos pés tamancos de madeira com um pedaço de couro ressecado em cima, a fim de que ele não saísse. Às vezes quebrava no meio, aí era hora de trocar o calçado.
Havia, em todos os lugares, muitos terrenos baldios, cheios de mato. Alguns nem a grama conseguia crescer, pois era o campinho onde todos brincavam.
Médicos e hospitais, só em extrema urgência, e às vezes nem dava tempo de levar o doente a esses nosocômios. Tratávamos com benzedeiras e remédios caseiros, e todos ficavam bem. Vivíamos descalços, sujos, gripados, com febre, dor de garganta, muitos tinham vermes, mas tudo bem, estávamos vivos.
Foi a época do sarampo, catapora, paralisia infantil, caxumba e outros mais. Eu e minha irmã tivemos sarampo e fomos medicadas por minha mãe, beberagens. Às vezes algum farmacêutico receitava um remédio. Mas logo vieram as vacinas.
Em quase todos quintais, existiam vários tipos de frutas e galinhas, criadas soltas, juntas com os cães que todo mundo tinha.
Época em que todo mundo estudava até o quarto ano e fazia datilografia na esperança de conseguir um emprego no escritório de alguma fábrica. Somente as crianças com posses estudavam.
A criança diferente
Percebi que não existia somente o que nossos olhos podiam ver, mas olhos espirituais
podiam ver muito além. E eu via.
Por vária vezes, sentia que estava dentro de uma caixa e espiava o mundo através de um buraco, na direção dos olhos. Me questionava como isso podia acontecer. Eu dentro de uma caixa olhando o mundo ao redor, mas nunca comentei com ninguém, achei que não me entenderiam. E criança, logo esquecia o fato.
Conhecendo a avó
Por volta dos 5 ou 6 anos, um dia, estava brincando na varanda de uma amiguinha chamada Naisa. Enquanto ela ia à cozinha de sua casa buscar grãos crus para nossa brincadeira de cozinhar, aconteceu um fato interessante comigo. O primeiro de muitos. Estando sozinha na sacada da casa da amiga, sem que eu esperasse, me apareceu uma senhora bonita e bem-vestida, toda de preto. Usava um chapeuzinho na cabeça e um tecido transparente cobria-lhe um pouco os olhos, mas deixava seu rosto visível.
Percebi que a senhora não estava pisando no chão, mas flutuava acima dele. Incrível como isso não me assustou. Somente anos mais tarde, pensei em como não me afetou, uma vez que isso não é natural.
A senhora bonita me olhava com carinho e me disse de maneira educada: Olá, Valéria, estou de partida, mas antes desejava te conhecer. Sou sua avó
. E no mesmo instante rebati, dizendo que era impossível, pois minhas avós eram gordas, não se vestiam daquela maneira e usavam aventais o dia todo.
Ela insistiu dizendo que vinha de longe e também ia para longe. E a vontade de me conhecer era tão grande que fez de tudo para conseguir me visitar. Disse que me amava, que sabia da minha existência e que sempre pensou em mim com carinho. Mas que tinha que partir, não podia ficar mais. E do mesmo jeito que apareceu, sumiu.
Não esperei a Naisa voltar com a comidinha, corri para casa para contar a minha irmã, certamente saberia me explicar o ocorrido com a senhora bonita. Chegando em casa, chamei minha irmã Neusa e lhe contei o acontecido. Ela ficou admirada com a história, porém não me explicou nada. Eu, por mim, me dei por satisfeita e voltei a brincar com a amiguinha.
Morava numa casa composta de cozinha com mesa, fogão, um armário de madeira e algumas cadeiras; a sala de jantar tinha uma enorme mesa quadrada com quatro cadeiras e uma cristaleira com alguns copos dentro; num canto, uma máquina de costura. Interessante notar que nunca fizemos uma refeição sequer na sala de jantar, que servia mais para fazermos lição e brincarmos.
O quarto possuía dois guarda-roupas pequenos, uma cama de casal e uma de solteiro, onde dormíamos eu e minha irmã. Na época, nada era novo em casa. O ferro de passar roupas era a carvão. O banheiro ficava do lado de