Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

Sete Vidas Em Nove Mundos
Sete Vidas Em Nove Mundos
Sete Vidas Em Nove Mundos
Ebook573 pages8 hours

Sete Vidas Em Nove Mundos

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

A história da criação não poderia existir sem os segredos e mistérios que envolvem o ato de nascer e morrer. No mais profundo e negro espaço, em meio às mais isoladas estrelas, Saul Victor se vê obrigado a arriscar-se em uma jornada pelos nove mundos para acabar com uma ameaça desconhecida do passado. Abordo do navio Benção Branca, ele e sua tripulação devem chegar ao sétimo sistema e por fim a um antigo projeto de reestruturação da espécie Suprema. Montblanc, por outro lado, luta contra si mesmo balanceando-se entre sua predestinação e as consequências de seus atos. Ao mesmo tempo, lida com o fato de não ser bom o suficiente para sua própria espécie enquanto enfrenta as ameaças do império. O Universo Expandido passa por uma fase de incertezas onde apenas um lado poderá vencer, seja ele bom ou ruim.
LanguagePortuguês
Release dateFeb 19, 2022
Sete Vidas Em Nove Mundos

Related to Sete Vidas Em Nove Mundos

Related ebooks

Science Fiction For You

View More

Related articles

Related categories

Reviews for Sete Vidas Em Nove Mundos

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    Sete Vidas Em Nove Mundos - Ícaro Vinícios P. S. Beluco

    Título Sete Vidas em Nove Mundos – O Primeiro Final

    O Primeiro Final

    Autor Ícaro Vinícios Paes Santos Beluco

    Ano de Conclusão 2019

    Local Londrina, PR, Brasil

    Gênero Ficção Científica; Fantasia; Literatura Brasileira

    Diagramação Ícaro Vinícios Paes Santos Beluco

    Revisão Ícaro Vinícios Paes Santos Beluco

    Arte de Capa Ícaro Vinícios Paes Santos Beluco

    ISBN 978-65-902104-0-1

    Contatos: icarobeluco@outlook.com

    BELUCO, Ícaro Vinícios P. S. Sete vidas em nove mundos: o primeiro final. 2 ed. Londrina: Inédito, 2019. 366p.

    Nota do Autor

    Quando eu era criança, olhava para os céus e tentava imaginar se meus olhos estavam olhando para alguém do outro lado na mesma situação. Então eu cresci, entendi melhor a vida, e novas perguntas surgiram na minha mente, perguntas que nem mesmo os adultos sabiam responder. Anos depois, escrevi este livro.

    Não sei como é a experiência de ler esse livro, só sei como foi viver a de escrevê-lo.

    Algo parecido com isso chamou a minha atenção na Nota do Autor de um livro qualquer que eu li uma vez. Faço minhas as palavras dele, pois não sei qual como será para você, caro leitor, a experiência de ler este livro. Todavia, espero mesmo que seja tão gratificante quanto foi para mim todos esses anos trabalhando nessa obra. Foram quase nove anos até que ele estivesse finalizado, mas sim, estava cheio de erros e ainda é possível que encontre alguns, mesmo depois de várias revisões. Porém, a primeira versão, quando batemos o Enter, pela última vez, é sempre a que gostamos mais.

    Não sou arrogante o suficiente para dizer que criei alguma coisa, essa história surgiu há muito tempo na minha cabeça, e ela praticamente se desenvolveu sozinha. Eu prefiro dizer que essa história me escolheu para contar ela ao mundo, ainda que o mundo, de todas as formas, diga o contrário.

    Eu sei que terá muitas dúvidas ao entrar nessa jornada, são propositais, e todas as respostas também estão nessas páginas, direta ou indiretamente. Neste momento, estou sozinho no meu quarto tentando imaginar como te ajudar a percorrer tudo isso, eu gostaria mesmo de poder ajudar. Entretanto, entendo que você deve ter a experiência de um leitor, e não de um escritor. Bancar um deus é legal, mas anula tudo o que faria de algo inesquecível.

    Se ainda assim tiver perguntas, guarde-as, porque a jornada só acaba quando a última página estiver virada, e esta última página não está neste livro. Lembre-se, este é o primeiro final.

    Ícaro Vinícios P. S. Beluco

    Sumário

    Prólogo

    O Universo Expandido

    Atos Iniciais

    A Estranha Recepção

    O Significado de Montblanc

    Navio, Capitão e Tripulação

    O Chamado do Império

    O Passado Presente

    A Magnífica Benção Branca

    Tempos Sombrios

    Guerra Civil

    Eles Sempre Dizem

    A Espada de Jalium

    Solitário Ragath

    Para Não Perder a Cabeça

    Sarcof

    Louco Pom e o Infectado

    A Torre Mais Alta de Suprária

    A Conspiração

    Consequências I

    Problemas da Capital

    Consequências II

    Ser Supremo

    Segredos do Império

    Contrato da Irmandade

    Os Dias Perdidos na Cidade Baixa

    Ibdusodem

    Mistérios da Universidade

    O Mensageiro

    Novos Tempos, Velhos Problemas

    O Plano Secreto de Montblanc

    A Fúria de Pagro

    A Ameaça Ulstron

    Jornada por Dascart

    O Nono Mundo

    A Despedida

    Consequências III

    Conflito de Interesse

    O Começo do Fim

    A Chegada

    A Invasão

    Um último Recurso

    O Julgamento

    Epílogo

    Agradecimentos

    Prólogo

    U

    ma nave discreta se aproximava lentamente de uma cidade circular no mar, ao norte de Dascart. O transporte voava baixo o suficiente para ser atingido pelos resquícios das ondas altas. O sol refletia as construções grandiosas de pedra branca, nas camadas internas e externas da cidade. Havia um porto atrás do alto palácio da metrópole abandonada, onde a nave pousou em segurança.

    — Olá, Capitão – disse Oulana, a primeira a descer da nave. – Como você está? Não foi seguido, foi?

    O homem grande e forte se aproximou, portava uma arma de disparo na mão, mas baixada. Seu uniforme branco e dourado estava levemente sujo e deteriorado, e o Capitão parecia ferido.

    — Não se preocupe, Oulana – disse, em reverência. – Seus contatos estavam errados, não há nada em Dascart, apenas poucas ruínas esquecidas.

    Outro homem desceu da nave, estava com um bebê nos braços.

    — Capitão, está bem? – Indagou, ao ver o rosto machucado.

    — Melhor impossível, Rurgar – respondeu, com um tom sério. – Não foi fácil chegar até aqui, cruzar o Universo Expandido com todos os conflitos da Grande Guerra está cada vez pior. Onde está o Humano?

    — Ele não vai vir, está atrás de algumas relíquias sagradas que tem a ver com aquela armadura dele – respondeu Oulana. – E também não gosta muito dos Supremos, com razão, eu diria. Conseguir a ajuda dele uma vez já foi difícil, essa segunda vez nos custará uma dívida eterna.

    — Esta é a criança? – Perguntou o Capitão, se aproximou de Rurgar e baixou o tecido que cobria o bebê. – Quando o alto conselho notar, vão vir atrás dele, estarão furiosos com vocês, e comigo também, imagino.

    — Eles não sabem que você está envolvido – justificou Oulana.

    Um grupo de sete pessoas de espécies comuns surgiram de dentro do grande palácio branco. Vestiam um tecido todo branco com faixas azuis, e usavam lanças negras com adornos prateados.

    — Venham conosco, Supremos – disse o que estava mais à frente.

    Caminharam todos pelos longos corredores altos decorados com pedras douradas por toda a extensão da construção. Passaram por grandes salões, subiram enormes escadarias, e chegaram finalmente ao alto do palácio. Um salão aberto, sustentado por altas colunas de pedras brancas cristalinas. No centro, havia uma pira baixa onde queimava um fogo branco em uma chama alta, mas não quente.

    — O que vai acontecer com ele? – Questionou Oulana.

    — Ficará em suspensão por toda a eternidade, se for preciso – disse uma mulher do grupo. Foi até Rurgar e pegou a criança. – Ele é lindo, há muito não víamos tamanha perfeição – sorriu e caminhou até à pira. – Façam o juramento, por favor.

    O Capitão, Oulana e Rurgar se aproximaram do entorno das chamas, estenderam suas mãos e sentiram o calor seguir pelos seus braços. Não era quente, de fato, mas confortante. Então os outros sete se aproximaram, e a mulher colocou a criança na pira. Este se remexeu, e então dormiu.

    — Ele me falou que seria um processo de criogenia assistida – disse Oulana, com lágrimas nos olhos. – Já até registrei isso.

    — A criogenia é um risco muito grande para qualquer espécie, ele disse que seria melhor assim – respondeu um homem dos sete. – O fogo branco vai mantê-lo vivo, alimentá-lo, e parar seu desenvolvimento até que vocês decidam a hora de recuperá-lo.

    — Os efeitos da Grande Guerra podem durar milhares de ciclos se Alfro Andromar não conseguir unificar os mundos – disse o Capitão. – Têm certeza que desejam fazer isso?

    — É muito melhor do que deixar que as coisas aconteçam como estão planejadas. Todos sabemos que um extermínio é um extermínio, seja lá qual for o nome que dão – rebateu Rurgar.

    Outra mulher dos sete estendeu o braço para as chamas e tirou uma pequena parte que se balançava na palma de sua mão.

    — Coloquem suas mãos direitas sobre a minha – pediu, e todos os três Supremos o fizeram. – Sob a testemunha das sete espécies do Universo Expandido, aqui se faz o tratado – a chama se estendeu pelos braços dos Supremos, deixando uma marca na palma de suas mãos. – Serão necessários os três juntos para que a criança seja retirada de seu sono. Caso um morra, os que restarem serão responsáveis para a realização do processo. Caso reste apenas um, então este terá que dar a vida pela criança, pois a carga de energia será grande demais. Caso os três morram, então a criança estará condenada ao sono eterno. Não permitam, em hipótese alguma, que isso aconteça.

    — Precisaremos estar aqui para retirar a criança? – Indagou o Capitão.

    — Não – respondeu um dos sete. – Podem fazer isso em qualquer local sagrado. O fogo branco é vida, e está em todos os lugares, emanando com mais força em locais de grande poder.

    Rurgar e Oulana foram uma última vez até a pira, para olhar para o bebê, que dormia tranquilamente envolto nas chamas.

    — É o melhor a se fazer, meu amor, o alto conselho não pode colocar as mãos nele – disse Rurgar, abraçando a mulher.

    — Vocês precisam ir agora – disse uma dos sete. – Precisamos selar a pira e esconder a cidade dos seus perseguidores.

    Todos os sete se fecharam um uma roda em volta das chamas, oraram algo em uma língua estranha. Então uma membrana transparente se fez no formato de um ovo, mantendo a criança dentro da pira.

    Os Supremos saíram do palácio e foram até suas naves. Seguiram até o alto de uma montanha, onde podiam ver a cidade circular afundar, e esta mergulhou rapidamente até desaparecer embaixo das águas do mar.

    — Para onde vocês vão agora? – Perguntou o Capitão.

    Oulana deu uma olhada para Rurgar, e este confirmou.

    — Vamos para Holover, temos um esconderijo lá que já abastecemos de suprimentos há um tempo – respondeu a mulher. – Não esperamos ficar muito, só até ver se os planos dos Liatus darão certo. E você?

    — Eu vou voltar para o alto conselho, eles vão fazer perguntas, mas eu já sei que respostas dar – respondeu o Capitão. – Além disso, vão precisar de apoio para voltar também, se Alfro fracassar.

    Rurgar enxugou uma lágrima que escorreu. Disse:

    — Então é isso, e agora esperamos?

    — Agora esperamos – respondeu Oulana.

    O Universo Expandido

    Imagine uma linha... e essa linha segue em conjunto e contra todas as outras, interagindo e criando turbulências eternamente em seu curso. Cada uma delas representa uma essência. Todas passarão pelas sete existências de forma aleatória em todos os nove mundos. Quando começar, será no Berço, e quando acabar, terá seu lugar garantido na Mãe.

    O

    s ciclos, o tempo é medido a cada alinhamento dos nove mundos, o que dá pouco menos de dois anos dascartianos. A convergência desse evento faz com que as essências desabrochem, uma gama pode ter entre um e nove bilhões de futuros seres a entrar na vivência. Elas vagam até encontrarem sua existência em algum dos sistemas ao longo do ciclo. São desenvolvidas na origem da vida, as novas essências passam por um longo processo até chegarem a ser merecedoras da Mãe. Isso acontece somente após viverem as sete vidas civis em cada um dos sistemas, morrendo de forma natural, e então se tornam parte do infinito.

    Existem nove sistemas. Cada um possui uma capital, um único planeta que desenvolveu vida natural, todos os sistemas têm planetas secundários colonizados pelas capitais. Longe de tudo vive solitária a Mãe, um complexo e grandioso mundo onde vive o Pai e a hierarquia da Luz, e suas primeiras criações. Poucas pessoas vivas, que não terminaram sua jornada, chegaram à Mãe, e nenhuma delas retornou.

    Primeiro vem o Berço, um sistema divino gerenciado pela Mãe. É guardado pelos guardiões da Luz, e onde surgem as essências ainda brutas. Todos os ciclos, durante a convergência, as essências desabrocham para suas vidas. Uma das poucas ocasiões divinas que a Luz permite que o universo assista, toda a imprensa transmite o evento para todo o universo.

    Depois vem os sete mundos civis. Sendo o segundo, Lalúria, e sua capital chamada de Cidade Capital, onde situa a sede do império universal. Prit é o terceiro, em sua capital, Sarcof, situa o poder militar do império. A seguir, no quarto sistema, vem Ibdusodem, e sua capital Intéligus. Sede da maior universidade de todo o império. Dascart é o quinto sistema, não possui capital, é considerada primitiva e vive sob proteção isolada do império e do governo de Ibdusodem. Exkepclu, o sexto sistema, sua capital é Assos, conhecida por ser a sede do maior presídio do Universo Expandido. No sétimo sistema vem Satsu Man e sua capital, Siabu, que concentra o poder econômico do império, além de ser famosa pelas especiarias, cultura, diversidade e infraestrutura única. Alador, e a capital, Suprária, estão no oitavo sistema, conhecida por ter a maior concentração da espécie Suprema, é um sistema rico em minério e fonte de recursos do império universal.

    E por fim, no nono sistema, a Mãe, o sistema divino onde vivem os criadores e as essências que passam pelas sete vidas civis. Muitas pessoas fizeram fama ao tentar explorar o nono sistema, mas nunca retornaram.

    Na criação, época quando o Pai deu origem às espécies, os primeiros a serem desenvolvidos foram os Brancos, chamados de Supremos pelos que vieram depois. Demonstravam a perfeição, eram altos, fortes, sem nenhum fio de cabelo no corpo. Vivem por ciclos infinitos já que não possuem essências e não envelhecem após a fase adulta de suas vidas. Eles vivem em todos os sistemas, e isso causou a criação dos sub-Supremos, que nada mais são do que mestiços.

    As vidas originais de cada planeta se misturaram com o tempo, muitos ciclos de evolução também ajudaram nas misturas de DNA. Porém, ainda existem seres de espécie pura das linhagens originais, grandes famílias controlam orgulhosas suas gerações com reproduções arranjadas.

    Os lalurianos originais são da espécie Liatu, seres altos e esguios, porém, mais baixos que os Supremos. Suas cores variavam entre o vermelho cobre para o azul prateado. Possuem olhos negros e cabelos geralmente dourado. A espécie original dos pritanos são os Caldures, possuem o porte médio, mas a força compensa no tamanho. São geralmente marrons. Possuem muitos pelos e um intelecto afiado. O temperamento dos Caldures é conhecido por todo o universo, são sempre muito espertos, furiosos e possuem um histórico invejável no poder militar do império. Já os ibdusodenos se originaram na espécie Arcânuna, considerados os mais inteligentes dos nove mundos. São grandes, mas não muito fortes. Seus cabelos nascem apenas no meio da cabeça e vão até o final das costas. São azulados e, às vezes, avermelhados. Possuem olhos completamente brancos. Os dascartianos se originaram na espécie Humana, mas pouco tempo depois da criação, eles provocaram a própria extinção ao entrar em guerra com os primeiros Supremos. Exkepclanos são de origem na espécie Tavula, seres fortes e resistentes. Têm uma armadura natural nos braços, pernas, peitoral, costas, além de partes da cabeça. Possuem tons amarelo-escuros a pretos. Ainda que sejam fortes, os Tavula são seres calmos e pacifistas. Satsanos deram origem à espécie Dôlora. Possuem uma estrutura leve em seus corpos e liberam uma energia por seis saliências em suas costas. Eles as usam como arma quando estão em fúria, pois essa energia pode ser controlada e solidificada. São altos e magros, praticamente flutuam enquanto se movimentam. Vadaluzes é a espécie aladoriana de origem, parecidos fisicamente com os Humanos, mas possuem desenhos naturais em todo o corpo. São seres valentes e agressivos. A espécie foi uma das que mais sofreu com a presença dos Supremos em seu planeta.

    Outras espécies inteligentes surgiram naturalmente ao longo dos ciclos. Todas elas possuem essências e foram criadas de forma natural por conta da mistura extrema dos DNA já existentes. A maioria dessas espécies derivadas foram extintas. O código-fonte do DNA surge na existência, quando há apenas três exemplares da espécie vagando pelo universo. A ideia era que o código-fonte servisse como uma segunda chance para a restauração, já que vivem em ciclos eternos. Mas muitos são caçados devido à sua raridade, e no caso de uma extinção em massa, o código-fonte viverá sozinho pelo infinito, impossibilitando sua reprodução natural.

    A história do Universo Expandido se escreveu em base de guerras. A primeira delas foi a Guerra das Primeiras Espécies, que aconteceu entre os Supremos e os primeiros Humanos, em Dascart. O evento levou o fim da espécie Humana e a expulsão dos Supremos do planeta. Ainda, originou a criação dos outros mundos e do sistema de essências. Com mais espécies e sistemas no universo, com ajuda da evolução tecnológica, deu-se início a Grande Expansão. O choque de cultura entre eles mesmos e uns com os outros criou pequenos conflitos que se tornaram maiores ao longo dos ciclos, o que gerou a Grande Guerra.

    Os Supremos, ainda que não apoiassem nenhum lado, não tiveram escolhas a não ser se juntar para dar fim à guerra, mas isso fez com que mais povos lutassem. Esse período durou milhares de ciclos, foram construídos os primeiros navios de guerra, e milhares de espécies desapareceram da existência. Então, em uma atitude desesperada, os Supremos retomaram o poder e várias revoluções começaram a surgir em resposta, foi quando se desenvolveu o governo imperial. Um único governante e um único idioma foi implantado em conjunto com várias culturas. Passaram o poder para os últimos cinco Liatus. O império universal se tornou a figura única de autoridade civil, mas isso não agradou aos Supremos que defendiam sua supremacia.

    Armas de disparo foram proibidas por todos os mundos, por outro lado, o império autorizou o uso de espadas e armas brancas. Foi implantado um novo código de leis, pena de morte limpa era a punição para criminosos desonrosos e crimes de guerra. Também foram estabelecidas as capitais e seus respectivos representantes que, a partir de agora, seriam escolhidos pelo seu povo e aprovados pelo império universal.

    A Rebelião Escura foi o último grande evento de conflito. Aconteceu em Assos, quando diversos prisioneiros liderados por Targus Vafiron, tomaram o poder de Exkepclu, obrigando o império a remodelar seu sistema de segurança. Targus colocou sob seu poder os detentos e corruptos mais perigosos que estavam presos lá. Sua tropa foi tão bem organizada que o império teve de reagir perdendo muitos homens em conflitos sangrentos dentro e fora do sexto sistema.

    Houve, depois, mais conflitos entre os mundos. O de maior proporção foi a Crise dos Mundos, uma guerra civil que envolveu Prit, Ibdusodem, Exkepclu, Satsu Man e Alador. Todos queriam o controle de Dascart para extração de recursos e interesses próprios. Porém, o império, com ajuda da Benção Branca e da Luz, decidiu diplomaticamente deixar o quinto sistema sob responsabilidade da Universidade de Ibdusodem.

    Atualmente, o império enfrenta uma ameaça que surgiu tempos depois do fim da Grande Guerra e se fortaleceu após a Rebelião Escura. Os primeiros grupos de rebeldes apareceram nos ciclos após a reforma e estenderam-se a todos os mundos e espécies. As pessoas começaram a se questionar o porquê de o império ser todo poderoso e não dar fim nas raízes da rebelião. E essa dúvida permaneceu se disseminando nos sistemas, principalmente quando haviam ataques terroristas em nome dos rebeldes.

    Atos Iniciais

    M

    uitos ciclos antes do império ser estabelecido, durante o auge da Expansão, um seleto conselho de Supremos dava início a um projeto de recriação da espécie superior. Nascia afastado um ser puro, de DNA perfeito. Na mesma época, os Supremos começavam a se dividir em meio aos ideais pregados pelos diferentes mundos.

    Então do Pai, por meio dos Escolhidos do Prometido, veio a profecia que motivou muitos dos atos: No mais negro dos céus, o ser mais puro virá. Não nascido de seus semelhantes, ele será o mais poderoso que habitará o caminhar. Dividido entre o bem e o mal, o Supremo decidirá o destino dos novos tempos.

    A história seguiu seu curso recheada de mistérios e segredos. Durante a Rebelião Escura, os olhos do Universo Expandido estavam virados para Exkepclu. Enquanto isso, dois seres puros nasceram e foram nomeados de Shinkra e Sorrano. Eram criados fora dos conflitos, mas tinham contato a tudo. Informações chegavam a eles por vários meios, ainda que fossem educados para entender que faziam parte de uma missão muito maior. Ambos se desenvolveram em paz e harmonia, isolados com seus pais em um planeta afastado de qualquer sistema. Recebiam assistência dos Supremos, mas os seres nunca tiveram contato com quaisquer pessoas de fora. Sempre ouviam falar da corporação Ulstron, e desde a infância essa era a única referência que tinham de algo bom do Universo Expandido.

    Shinkra via os mestiços como ameaça, cresceu carregando um ódio dentro de si. Desenvolveu um complexo de superioridade que seus pais preferiam ignorar. O segundo, entretanto, era neutro, Sorrano preferia não interferir e evitava as discussões quando o assunto eram as políticas do império. Afastados das brigas, a família se manteve viva por longos ciclos, até que foram alcançados pelos conflitos.

    Já era quase noite no planeta, a luz natural desaparecia. Enquanto comiam, o silêncio foi perturbado por rajadas de ventos que anunciavam o perigo. Ruidosos motores zumbiam e luzes circundavam a moradia solitária no alto de um morro.

    — Esperem aqui! – Disse Volnar, pai dos meninos, levantando-se da mesa. – Não façam barulho, nunca devíamos receber visitas.

    Aproximou-se das áreas de ventilação enquanto era observado pela sua família. Shinkra rezava para a Luz como nunca havia feito antes. Volnar deu um giro rápido, pediu silêncio.

    — DEIXE-NOS ENTRAR! – Esbravejou um mestiço, líder do pequeno grupo rebelde. – Não me faça pedir duas vezes!

    — Não fazemos parte do império, vivemos em paz – defendeu o pai, apontando para um alçapão. – Não há necessidade de nos fazer mal!

    A mulher da família, Izra, mãe dos meninos, abriu o alçapão e sinalizou para que descessem para a escuridão abaixo.

    — Sorrano, proteja seu irmão! – A mãe ordenou. Volnar preocupado com a segurança de sua família confirmou o mesmo com a cabeça. – Você é o mais velho, é o seu dever – disse ao baixar a entrada do buraco.

    — Explodam a entrada! – Mandou o mestiço. – Agora!

    Volnar correu e se protegeu dos estilhaços. Jogou-se no chão e se arrastou até que a poeira baixasse. E entraram os rebeldes, todos armados com espadas sujas e enferrujadas, seguindo seu líder. Quando já dentro da pequena, porém luxuosa, residência, os rebeldes começaram a pegar tudo que lhes agradava. Ao mesmo tempo, ameaçavam com palavras grosseiras para o alto. O pai da família estava escorado no canto da parede lateral com alguns ferimentos no rosto. O sangue branco escorreu no alto da cabeça.

    — Não me interessa se fazem parte do império ou não, vim para dar um fim aos seus descendentes, os puros – avisou o mestiço. Colocou a ponta de sua espada na testa de Volnar. – Tenho certeza de que estão aqui, minhas fontes são confiáveis – deu um sorriso agudo.

    As lágrimas corriam pelo rosto de Volnar. No fundo, sabia que aquele era seu fim. Não tentou se defender, já estava preparado para isso. Sua única preocupação era Shinkra e Sorrano.

    — Onde estão eles? – Perguntou o mestiço. – Facilite o meu trabalho!

    Volnar não respondeu e um feixe de luz foi disperso pela lâmina da espada, levando a vida do homem junto. Tudo foi observado por Shinkra, que se negava a parar de olhar o assassino de seu pai. De um lado, o medo gritava histericamente dentro de si, do outro, a raiva fazia apertar a mão de sua mãe com força o suficiente para machucá-la.

    — Vamos Shinkra! Morreremos se ficarmos aqui – Izra tentou puxar seu filho para o túnel abaixo da casa. – Sorrano, me ajuda! – Mas o irmão também estava congelado.

    Sorrano voltou a si com a batida de alguma coisa dentro da casa, então reagiu. Não entendia a calmaria de seu irmão. Segurou no braço dele e deu uma leve empurrada. Mesmo com certa resistência, Shinkra seguiu o caminho, para o alívio de Izra.

    Saíram por uma porta ao fundo da moradia. Os três seguiram cuidadosamente um caminho que os levou bem abaixo, à floresta. Shinkra parava a todo o momento e olhava para cima, onde os rebeldes ainda vasculhavam sua casa, mas sempre era puxado por Sorrano. O morro era íngreme, mas desciam com demasiada velocidade e silêncio.

    Ao lado de fora da casa caminhava o líder dos rebeldes. Procurava pela família que já não estava por perto, esbravejava algumas palavras de ódio aos ventos. A noite havia coberto completamente o pequeno planeta e os cosmos pareciam mais brilhantes no céu iluminado. O grupo atacava os animais da família com demasiada violência. Os cães de guerra deixados pelos Supremos para proteção do planeta conseguiram afastar alguns rebeldes, mas logo foram mortos também.

    Em uma última parada, Shinkra denunciou sua localização próximo à entrada para a floresta. Não demorou para que os planadores rebeldes, e diversas pessoas selvagens descessem pela colina regidos pelos gritos desesperados de seu líder. O pânico era evidente no rosto de Izra, ela corria sem ver onde estava indo. Os passos rápidos os levaram na direção do meio das árvores. Shinkra mantinha a mesma expressão fria, desviava dos troncos e galhos no chão com saltos ágios. Sorrano a todo o momento olhava para trás, os gritos dos rebeldes inundavam a floresta ecoando para todos os lados.

    Izra, já cansada, começou a ficar para trás a cada passo. Perceberam que seriam alcançados e que era inevitável o confronto. A mãe, em um ato instintivo, se virou e parou. Shinkra e Sorrano se esconderam, olharam sua mãe cercada pelos rebeldes. Com um breve olhar mergulhado em lágrimas, Izra pediu aos irmãos para não enfrentarem os rebeldes.

    Com passos curtos, o líder se aproximou da mãe, indefesa.

    — Isso não acabará aqui, mulher! – Falou e a golpeou na altura do abdômen. – Onde estão as criaturas?! – A chutou. – SUPREMA IMUNDA!

    — NÃO! – Gritou Shinkra, saindo de trás de uma grande árvore. – É um homem morto, mestiço imundo!

    Sorrano puxou seu irmão e o empurrou em direção à ladeira na lateral da floresta, depois se jogou junto para o mar. A beira do alto penhasco se iluminou com as luzes das pequenas naves rebeldes. Tanto Sorrano quanto Shinkra caíram pesados na água cristalina da noite. Rezaram para não bater em nenhuma pedra no fundo, as águas logo se tornaram negras.

    Sorrano se recuperou rápido, pegou impulso em uma rocha e se jogou para cima. Puxou Shinkra, desacordado, pelo braço e agarrou-o. Exausto, era jogado contra o paredão pelas ondas violentas. Ao fim, se deixou ser levado pelo cansaço e pelas ondas. Fechou seus olhos, suplicando por um milagre enquanto desacordava.

    Shinkra se viu nu e perdido em um infinito todo branco, onde milhares de vozes desconhecidas o ensurdeciam. Procurou por um refúgio, mas era nada além de um deserto sem fim. Aos poucos, viu imagens surgir em sua volta, mas não conseguia reconhecê-las. Eram naves nunca vistas e rostos estranhos que corriam de um lado para o outro, desesperados e gritando frases impronunciáveis. Shinkra sentia o medo começar a incomodá-lo. Gritou para cima, e uma resposta veio:

    — Assustado? – Ouviu uma voz macia, era idêntica à sua. – Não tenha medo, Shinkra. Tudo está planejado.

    — Quem é você? – Indagou, dando alguns passos para trás. – Onde você está? Apareça!

    Então os vultos, as naves e as vozes cessaram-se. Uma silhueta surgiu, mas estava ofuscada demais para conseguir identificar. Veio a passos controlados, um na frente do outro. A luz do fundo iluminou o homem. Era ele mesmo, tão nu quanto o original.

    — Como... – Shinkra se surpreendeu indo mais alguns passos para trás. – Você... sou eu? Como... Onde eu estou? Que lugar é esse?

    O homem parou e levantou as mãos. Sua voz saiu mais firme, para que tivesse certeza de que era a voz de Shinkra no outro:

    — Fique calmo – disse. – Esse é um lugar onde pouquíssimos estiveram, exatamente no meio da existência e da realidade.

    Shinkra estava assustado demais para dar atenção à explicação. Prestou-se a correr no sentido contrário, mas não havia caminhos para onde ir. Metros depois, parou, olhou em volta e percebeu que o homem ainda estava ali, na mesma distância de antes. Então correu para o homem na esperança de acordar. Trombou no forte corpo da sua cópia e caiu.

    — O que é você? – Perguntou, no chão. – Quem é você?

    O homem baixou para olhar nos fundos dos olhos de Shinkra.

    — Você me vê como você – disse, brando. – Mas percebo que na sua concepção eu não sou você. Me vê como Ligerious, faz sentido, você nunca viu uma imagem dele. Isso nunca havia acontecido.

    — Do que está falando?

    — Não finja que não conhece esse nome, sei que obteve informações sobre o seu passado – exclamou o homem. – Permita-me que te ajude a levantar – ofereceu a mão, mas Shinkra recusou. – Que seja – voltou à sua postura. – Eu estou aqui para confirmar seus planos de trazer de volta a glória dos dias da criação.

    — Ligerious Montblanc – a voz de Shinkra saiu chorosa. – É um prazer finalmente te conhecer – se pôs de joelhos e reverenciou-se. – Eu farei o que deseja, trarei honra ao seu sacrifício.

    — Eu não sei se... – o homem pensou. – Enfim, eu não sou o seu pai, Shinkra. Você já é adulto, está na vivência infinita dos Brancos, está na hora de abandonar seu nome e lutar pelo que acredita. Fará isso por você e pela sua espécie – levantou-o a força e o segurou pelos ombros. – Olhe só para você, tão perfeito, tão... Supremo. Tem que assumir uma nova postura, tem um dever a cumprir, é para isso que foi criado e é para isso que está aqui. Caso contrário... – o olhou no fundo dos olhos por alguns segundos, encostou sua testa na dele. – Enfim, está na hora de ir, Montblanc, está na hora de enfrentar o seu destino!

    O homem beijou-o na boca. Então Shinkra sentiu seu corpo ser puxado para trás, como se engolido por um vórtice. Estava em um lugar totalmente escuro, mas sentiu Sorrano flutuando ao seu lado, então o puxou para cima, para fora da água.

    Raiou o dia novamente. Banhado pelos raios de três sóis distantes, Sorrano despertou. Quase não enxergava, com dificuldade, se sentou na areia fofa e limpou seu rosto, tentou recobrar sua consciência totalmente. Quando finalmente se deu conta do que havia acontecido, parou para observar sua volta tentando identificar algum perigo, mas a calmaria pareceu ter voltado. Respirou fundo e cuspiu um bocado de areia que estava em sua boca.

    Shinkra apareceu caminhando pela orla. O homem que um dia fora um menino cheio de vida, agora era frio como um corpo morto. Não aparentava, ao menos, estar abalado pelos acontecimentos, ou não estava demonstrando. Ajudou Sorrano a se levantar, um a frente do outro, olharam o vazio do horizonte.

    — Shinkra, você está bem? O que vamos fazer? – Tentou recuperar um mínimo de reação. Era o mais velho, tinha que dar o exemplo. – Não sei o que aconteceu, você está bem?

    Com um olhar sorrateiro por cima do ombro, Shinkra deixou clara a resposta, e nenhuma palavra foi usada. Caminharam por um longo trajeto, e subiram o penhasco pela esquerda em uma escalada difícil. Sorrano, indo mais atrás, precisou da ajuda do irmão por algumas vezes, mas este o fazia ainda sem nenhuma expressão. Seguiram para sua antiga casa no alto do morro, destruída, vazia, assombrada por fantasmas recém-surgidos.

    Entraram a passos calmos e pequenos, tentavam não fazer barulho. Não havia mais harmonia na residência, tudo estava quebrado e bagunçado, alguns corpos de animais estavam espalhados pelo ambiente. Os raios dos sóis da longa manhã se projetavam para dentro criando um aspecto sombrio.

    — Os animais feridos devem ter entrado aqui – observou Sorrano falando para si mesmo. – Coitados... – ajoelhou sobre um dos corpos.

    Não havia comida nos recipientes que estavam sobre a mesa, os armários estavam revirados e havia muitos pratos sujos em todos os cantos. Alguns restos de vinho de pera celeste estavam nas taças quebradas, e alguns bolinhos estavam pisoteados pelo chão. Sorrano sentiu a fome quando viu a comida estragada.

    O som de algo caindo veio do andar superior, onde ficavam os quartos. Shinkra jogou o olhar para o irmão, fez o sinal pedindo silêncio. Foi para as escadas de forma rápida e silenciosa. Sorrano o seguiu, mas tentou segurar o irmão por algumas vezes.

    — Shinkra, não! – Sussurrou.

    — Fique fora do meu caminho – respondeu com uma olhada penetrante. – Não quero ter problemas com você também.

    Calmamente entraram, dentro estava uma rebelde que dormia no chão. O quarto estava tão bagunçado quanto toda a casa. Os olhos de Shinkra pareceram recuperar o brilho que havia perdido. Sorrano, apreensivo, hesitou em entrar no quarto, temia por seu irmão e a pela situação.

    — Saia! – Shinkra ordenou, sem sucesso. – Saia logo.

    Com um movimento certeiro jogou seu irmão para fora do local, fechou a porta com força, estrondando um barulho alto. Tal ato feriu os dedos de Sorrano. Do lado de fora, batia na porta e berrava temendo as intenções de Shinkra para com a mulher.

    Com um golpe, o irmão mais novo derrubou algumas tranqueiras sobre a rebelde no chão, a mulher pulou rápido se jogando para trás. Era muito menor que seu rival e estava visivelmente assustada.

    — Acorda! Temos que conversar – disse Shinkra, não demonstrando nenhum sentimento aparente. – O que queriam aqui? – Falou enquanto se sentava sobre outro cômodo. – E sugiro que use respostas rápidas.

    A pobre mulher no chão se deixou tomar por medo, a ponto de quase não conseguir responder. Sua voz falhou por diversas vezes, até que finalmente conseguiu juntar palavras suficientes para uma frase inteira:

    — Nosso cliente disse que devem ser destruídos – Esbravejou. – Não me machuque! – Implorou, temendo pela vida. – Só estávamos cumprindo ordens. Não temos nada a ver com os Supremos.

    — Não farei isso – disse Shinkra, em um tom calmo. – Há como sair daqui? Se me disser a verdade te deixo no primeiro local habitável que passarmos – ofereceu. – A única coisa que preciso de você é ajuda para chegar em Suprária.

    — Tem um porto do outro lado do planeta, eu vi no projeto do nosso empregador – apontou para o leste.

    — Eu sei onde fica, mas não tem nave lá – finalizou, levantou e pegou a espada improvisada da rebelde jogada não muito longe dela. – Eu tive aulas de luta, mas admito que preciso aprender a usar isso.

    — Minha nave está lá – esbravejou a mulher, com receio. – Você deu sua palavra que me deixaria em uma cidade.

    — E eu cumprirei minha palavra, mas não disse que parte sua eu levaria – concluiu Shinkra, avançando para cima da rebelde indefesa. – Você deve ter tido uma boa vida, que a Luz tenha piedade da sua essência.

    Do lado de fora, Sorrano esperava a discussão acabar. Ainda batia desesperadamente na porta bloqueada. Ouviu os gritos da rebelde e o tilintar de metais. Não sabia o que aqueles ruídos significavam. Shinkra abriu a porta, seu rosto e trajes estavam sujos de amarelo. Ao fundo, a rebelde estava decapitada e seu corpo envolto em seu próprio sangue amarelado. Nas mãos do irmão mais novo havia um saco que não era difícil de deduzir o que guardava. Todo o resto do lugar estava respingado com o mesmo sangue, e a espada suja estava cravada no colchão onde a mulher havia dormido. Um pulo ligeiro e Sorrano entrou no quarto. Boquiaberto, imaginando o que havia acontecido, deu um empurrão em seu irmão.

    — O que você fez?! O que... – a indignação de Sorrano era evidente na tentativa de entender. – Você a matou!

    — QUIETO! – Gritou Shinkra, furioso.

    Sorrano se calou, temendo a fúria de seu irmão.

    — Se quiser vir, então venha – ofereceu Shinkra.

    O planeta era extremamente pequeno, cruzá-lo não demandava muito esforço. Poucas horas depois, a noite chegou. Os ventos frios pareciam mais fortes, o gramado já não balançava como antes.

    O porto vazio e solitário na planície parecia convidativo. Era um espaço aberto, afastado de tudo. Poucas árvores se espalhavam pelo ambiente e alguns animais nativos corriam da movimentação. Shinkra, não hesitou em se aproximar. Pararam e se armaram com o que tinha lá, sabres e adagas apenas. Também tinha alguns recipientes com comida. Viram uma nave maior, com o símbolo dos rebeldes, dentro de um belo hangar.

    — Se alimente, e pegue o máximo que puder para nós – chefiou o irmão mais novo, carregando o saco. – Coloque tudo na nave grande, vou ver como se pilota isso.

    — Para onde vamos? – Indagou Sorrano, finalmente.

    — Nosso mestre tinha amigos, por isso fomos atacados. Vamos encontrá-los, temos assuntos para tratar.

    — Nosso..., mestre? – Sorrano não entendeu. – Quem te disse isso? A rebelde que matou?

    Não obteve resposta, apenas uma olhada.

    — Não se preocupa com nosso futuro – disse Shinkra. – Respostas virão na hora certa. Conhece Suprária? – Perguntou de forma retórica. – É para lá que estamos indo.

    — Não falam bem desse lugar, não poderíamos ir para algum lugar mais seguro? – Questionou. – A Capital, por exemplo.

    — Não há lugar mais seguro para nós do que Suprária – Shinkra respondeu. – Além do mais, é lá que estão as respostas que procuramos.

    — Assim que entrarmos em Alador, voe para a primeira cidade que vermos, eu preciso cumprir uma promessa – disse Shinkra.

    — Promessa? – Sorrano olhou para o saco.

    No meio da longa viagem, uma frase solta veio do irmão mais novo.

    — Não me chame mais de Shinkra. Montblanc existe agora, somos um legado. Esses são apenas os atos iniciais.

    Sorrano não respondeu. Preferia não pensar no que iria acontecer, apenas permaneceu seguindo seu caminho.

    A Estranha Recepção

    D

    o porto espacial, foram direcionados para o norte sem explicações. Uma cidade nada discreta apareceu no horizonte de Alador, uma cidade dourada que se erguia verticalmente e se estendia ao abismo infinito. Sorrano pilotava a pequena nave e seguia direto para a multidão de prédios espaçados e ruas largas. Shinkra, se maravilhava pelo luxo que chegava aos seus olhos.

    Baixaram seu transporte após algumas voltas no entorno da cidade. Sorrano soltou os controles e deixou a nave, alguns planadores militares seguiam a nave, escoltando-a até o palácio dourado.

    Bem-vindos à Suprária. Disse uma voz no rádio enquanto os grandes portões do porto se abriam. Serão posicionados no hangar superior do palácio. Continuou a mulher no rádio.

    A nave se auto pilotou até um hangar pequeno, pousou sobre o chão que brilhava refletindo o céu alaranjado e glorioso daquele dia. As pessoas passavam de um lado para o outro, mais e mais naves chegavam a outros hangares com carregamentos. O ambiente estava tomado por apenas alguns tipos de pessoas, Supremos em sua maioria, enquanto Vadaluzes, outras espécies e alguns mestiços servia-os. Ninguém se tratava com agressividade, mas eram indiferentes aos servidores.

    De longe vinha em sua direção cinco seres, três Supremos e dois mestiços. Quatro deles vestidos com o traje amarelo escuro da guarda militar do planeta. Outras pessoas os seguiam, vestiam trajes brancos acinzentados, eram servidores do mais baixo escalão.

    — É um prazer estar em suas presenças – apresentou-se o do meio, se curvando, vestia uma túnica longa azul-escuro. – Meu nome é Talin Ulstron, sou responsável pelo bem-estar de vocês. Estes são os responsáveis pela sua segurança, e para servi-los da melhor maneira possível.

    Montblanc fitou-o com demasiado desprezo. Ele era mais baixo que os outros Supremos. Talvez seja mestiço, pensou. Mas é um Ulstron, como pode? Concluiu. Sorrano reparou nas pessoas que o cercaram, olhou-os de cima a baixo, observou os detalhes das roupas, então finalmente os cumprimentou com um aceno de cabeça.

    — Se puder nos acompanhar, mostrarei com prazer seus aposentos – disse Talin da forma mais cordial possível.

    Ambos o seguiram e eram acompanhados pelos outros quatro. Todos em volta observavam admirados os irmãos caminharem, mas estes não questionaram o porquê daquilo. Sorrano imaginou o real motivo, estava cheio de perguntas, mas se conteve. Muitos abaixavam as cabeças, outros desviavam o olhar.

    Talin até tentava explicar sobre algumas coisas do palácio e do governo de Alador, mas Shinkra soava indiferente, e Sorrano estava perdido demais para prestar atenção. Então, diante dos outros seguidores, passou a falar apenas o que era relevante. Apontava para algumas salas, dizia o que era ali e sua função, então voltava ao caminho para o quarto.

    Seguiram por grandes portas que davam a grandes corredores, salas grandes e sacadas com vistas belíssimas da cidade futurista. Montblanc se aproximou do limite do jardim lateral e olhou para baixo, quando retornou com feições de desprezo, o que chamou atenção do irmão.

    — A cidade baixa – comentou. – Espero não botar os pés lá, está infestada de mestiços e espécies baixas.

    — Não devia falar essas coisas – rebateu Sorrano, saindo para junto dos outros. – Devia se preocupar com essa estranha recepção.

    Uma olhada rápida, e era fácil dizer que quase todos ali eram Supremos, mas com um pouco mais de atenção, via-se outras espécies servindo-os. Ouvia-se apenas o som dos passos e os pequenos cumprimentos de Talin aos que cruzavam seu caminho. Mestiços e outras espécies eram ignorados por todos enquanto trabalhavam nos locais.

    Pararam em frente a uma porta grande o suficiente para chegar ao teto, chamava atenção pela beleza e a riqueza nos detalhes. A porta se abriu e revelou uma equipe de empregados que davam passos rápidos para fazer tudo ficar da melhor maneira possível. Uma Vadaluz dava ordens com sua voz potente que alcançava todo o quarto.

    — Por favor, entrem, este é o quarto preparado para vocês – convidou Talin, passando pela porta. – Aqui dentro há tudo que precisam para o banquete, virei buscá-los para vossa apresentação – baixou a cabeça e saiu, levando todos as pessoas consigo.

    Montblanc, observou todo o ambiente com um olhar avaliativo. Seu irmão, por outro lado, sorriu mais abertamente. Gostavam do modo como estavam sendo tratados, nunca tiveram isso no planeta de onde saíram. Mas Sorrano ainda ficava apreensivo com tudo o que lhe era dado.

    Shinkra tirou suas vestimentas sujas e se ajeitou sobre a cama distante do salão oval. Não teve problemas com a nudez, ainda que seu irmão estivesse por perto.

    No Universo Expandido, a nudez era vista como algo comum e natural, principalmente para os Supremos, como uma forma de mostrar sua superioridade. Muitas espécies também preferiam viver assim, mas não era algo usualmente praticado em público ou em cidades de grande porte.

    — Aproveite tudo, meu irmão,

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1