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Refletindo Sobre O Purgatório
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Refletindo Sobre O Purgatório

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Neste livro “Refletindo sobre o purgatório”, QUE TEM COMO subtítulo: buscar a santidade através dos Exercícios Espirituais Inacianos. REFLETIREMOS SOBRE: O que é o Purgatório? Afinal, ele existe? E como é? Será que todos nós, quando morremos, já estamos plenamente convertidos a Deus? O que acontece com as almas que precisam se purificar? Muitos se perguntam se o Purgatório realmente existe. Mas, pensemos sinceramente: será que todas as coisas sujas que acumulamos em nossas vidas se tornarão, de repente, irrelevantes? Bem caro/a leitor, refletiremos neste livro que para a Igreja Católica, o purgatório é um estado no qual as almas dos defuntos passam por um processo de purificação a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. É a ocasião final que Deus dá às pessoas de se habilitarem para a comunhão plena com Ele. Assim, o purgatório é a última conversão, na morte. O modo de viver de cada pessoa não é irrelevante. A morte não é uma esponja que simplesmente apaga todo o mal feito e o pecado cometido. Raros são os que, na morte, estão de tal forma purificados que podem mergulhar direto na santidade de Deus. A graça de Deus que salva não prescinde da justiça. Quando uma pessoa morre, sua opção de vida torna-se definitiva. Podem existir pessoas que levaram uma vida puríssima, tendo morrido na graça e na amizade de Deus, estando totalmente purificadas. A Igreja ensina que tais pessoas seguem imediatamente para o Céu. No outro extremo desse caso, podem existir aqueles que morreram tendo cometido faltas muito graves, sem terem se arrependido e acolhido o amor misericordioso de Deus. Estes passariam ao estado de auto exclusão definitiva da comunhão com Deus, chamado de Inferno. Observando as duas situações acima, não é difícil perceber que nenhuma delas é a mais comum. O coração do homem vive constantemente em luta perante suas limitações e negações em acolher o amor de Deus de forma plena. Em sua carta Spe Salvi, a segunda Encíclica de Bento XVI, que está dedicada à esperança cristã, o Papa Bento XVI reconheceu que na maioria dos homens “perdura no mais profundo da sua essência uma derradeira abertura interior para a verdade, para o amor, para Deus”. Porém, nas opções concretas da vida, essa abertura para Deus “é sepultada sob repetidos compromissos com o mal: muita sujeira cobre a pureza, da qual, contudo, permanece a sede” (n. 45). Mesmo aqueles que buscam viver a sua vida em amizade com Deus não estão totalmente isentos de apresentar inclinações desregradas, falhas em sua constituição humana, ou seja, características incompatíveis com a santidade de Deus. Quantas vezes aquilo que chamamos de virtude não é, na verdade, um culto ao próprio “eu”; quantas vezes a prudência não se revela uma forma de covardia; a virilidade, arrogância; a parcimônia, avareza; e a caridade, uma forma de esbanjamento. Quantas vezes em nossos corações não se instalam egoísmo, orgulho, vaidade, negligência, infidelidade… Então pergunta o Papa Bento: “o que acontece a tais indivíduos quando comparecem diante do Juiz? Será que todas as coisas imundas que acumularam na sua vida se tornarão, de repente, irrelevantes?” (n. 44). O Papa Bento tem aqui em mente a questão da justiça. A graça de Deus – seu socorro gratuito –, que salva o homem, não exclui a justiça. A graça não é uma esponja que apaga tudo que foi feito de mal no mundo, de modo que, ao final, tudo tenha o mesmo valor (n. 44). A compenetração da graça e da justiça ensina que “o nosso modo de viver não é irrelevante”, ou seja, que o mal que cometemos e o pecado dos homens não é simplesmente esquecido. Procuramos utilizar como metodologia a espiritualidade Inaciana, contemplativa na ação, segundo o livro dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola PARA REALIZAR A EXPERIÊNCIA DE ENCONTRO PESSOAL COM JESUS, NO EXERCÍCIO ESPIRITUAL DO DIA-A-DIA O autor saluar antonio magni é leigo da Igreja Católica, formado em administração, economia e possui curso superior de religião pel
LanguagePortuguês
Release dateNov 21, 2022
Refletindo Sobre O Purgatório

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    Refletindo Sobre O Purgatório - Saluar Antonio Magni

    1

    SUMÁRIO PG

    INTRODUÇÃO 4

    CAPÍTULO 1 ANTES DO PURGATÓRIO VEREMOS A

    MORTE SEGUNDO A IGREJA CATÓLICA 16

    CAPÍTULO 2 SPE SALVI A ENCÍCLICA DE BENTO

    XVI, DEDICADA À ESPERANÇA CRISTÃ. 36

    CAPÍTULO 3 O QUE É O PÓS-MORTE PARA OS

    CATÓLICOS E OUTRAS RELIGIÕES 51

    CAPÍTULO 4 COMO O CATÓLICO ENFRENTA MORTE E

    O LUTO DE FORMA CRISTÃ 79

    CAPÍTULO 5 O PURGATÓRIO SEGUNDO DANTE

    ALIGHIERI 108

    CAPÍTULO 6 PREPARAR-SE, POIS SÓ UMA VIDA CONSUMADA FAZ FECUNDA A MORTE 122

    CAPÍTULO 7 APRENDENDO A CONTEMPLAR NOSSO

    CAMINHO PARA O PARAÍSO 166

    CAPÍTULO 8 QUAL É O PLANO DE DEUS PARA NÓS

    RETORNARMOS AO PARAÍSO 186

    CAPÍTULO

    9

    COMO

    DISCERNIR

    OS

    NOSSOS

    SENTIMENTOS NO CAMINHO PARA A ETERNIDADE? 196

    CAPÍTULO 10 O PECADO NOS DESVIA DO CAMINHO PARA DEUS SE GRAVE ATÉ DO PURGATÓRIO 204

    CAPÍTULO 11 CONTEMPLAR A VIDA DE JESUS ME AJUDA A ENTENDER A ETERNIDADE COM DEUS 236

    CAPÍTULO 12 O AMOR DE DEUS SE ENCARNA 245

    CAPÍTULO 13 CONFIRMAÇÃO DA ELEIÇÃO OU PROJETO

    DE VIDA NA PAIXÃO E RESSURREIÇÃO E CRISTO 292

    EPÍLOGO 332

    BIBLIOGRAFIA 341

    LIVROS PUBLICADOS PELO AUTOR NO CLUBE DOS

    AUTORES 342

    2

    AGRADECIMENTO

    Agradeço de maneira toda especial à minha esposa Teka, pelo incentivo e toda retaguarda necessária para que eu pudesse ter tempo, paz e tranquilidade para contemplar e meditar os assuntos abordados neste livro. Agradeço de maneira toda especial à minha esposa Teka, pelo incentivo e toda retaguarda necessária para que eu pudesse ter tempo, paz e tranquilidade para contemplar e meditar os assuntos abordados neste livro. Ao padre Geraldo de almeida Sampaio, nosso professor na especialização em mariologia que fizemos aqui na arquidiocese de aparecida. E a todo o pessoal do CEI, Centro de Espiritualidade Inaciana de Itaici, que me proporcionaram todo conhecimento intelectual, e especialmente afetivo, da metodologia Inaciana. E onde tive a oportunidade de realizar uma especialização sobre orientação e acompanhamento espiritual, coordenado pela FAGE de Belo Horizonte.

    Oh! Verdade! Oh! Beleza infinitamente amável de Deus! Quão tarde vos amei! Quão tarde vos conheci! e quão infeliz foi o tempo em que não vos amei nem vos conheci! Meus delitos me têm envilecido; minhas culpas me têm afetado; minhas iniquidades têm sobrepujado, como as ondas do mar, por cima de minha cabeça. Quem me dera Deus meu, um amor infinito para amar-vos, e uma dor infinita para arrepender-me do tempo em que não vos ame como devia! Mas, em fim, vos amo e vos conheço, Bem sumo e Verdade suma, e com a luz que Vós me dais me conheço e me aborreço, pois eu tenho sido o principio e a causa de todos os meus males. Que eu Vós conheça, Deus meu, de modo que vos ame e não vos perda! Conheças a mim, de sorte que consiga arrepender-me e não me busque em coisa alguma minha felicidade a não ser em Vós, Senhor meu! (Santo Agostinho)

    Se queres chegar ao conhecimento de Deus, trata de antes te conheceres a ti mesmo. (Abade Evágrio Pôntico).

    Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no (Jo 24, 31).

    3

    INTRODUÇÃO

    Quero iniciar este livro Refletindo sobre o purgatório, e como subtítulo buscar a santidade através dos Exercícios Espirituais Inacianos. O que é o Purgatório? Afinal, ele existe? E

    como é? Será que todos nós, quando morremos, já estamos plenamente convertidos a Deus? O que acontece com as almas que precisam se purificar? Muitos se perguntam se o Purgatório realmente existe. Mas, pensemos sinceramente: será que todas as coisas sujas que acumulamos em nossas vidas se tornarão, de repente, irrelevantes?

    Bem caro/a leitor, refletiremos neste livro que para a Igreja Católica, o purgatório é um estado no qual as almas dos defuntos passam por um processo de purificação a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. É a ocasião final que Deus dá às pessoas de se habilitarem para a comunhão plena com Ele.

    Assim, o purgatório é a última conversão, na morte. O modo de viver de cada pessoa não é irrelevante. A morte não é uma esponja que simplesmente apaga todo o mal feito e o pecado cometido.

    Raros são os que, na morte, estão de tal forma purificados que podem mergulhar direto na santidade de Deus. A graça de Deus que salva não prescinde da justiça. Quando uma pessoa morre, sua opção de vida torna-se definitiva. Podem existir pessoas que levaram uma vida puríssima, tendo morrido na graça e na amizade de Deus, estando totalmente purificadas. A Igreja ensina que tais pessoas seguem imediatamente para o Céu. No outro extremo desse caso, podem existir aqueles que morreram tendo cometido faltas muito graves, sem terem se arrependido e acolhido o amor misericordioso de Deus. Estes passariam ao estado de auto exclusão definitiva da comunhão com Deus, chamado de Inferno.

    Observando as duas situações acima, não é difícil perceber que nenhuma delas é a mais comum. O coração do homem vive constantemente em luta perante suas limitações e negações em acolher o amor de Deus de forma plena.

    Em sua carta Spe Salvi, a segunda Encíclica de Bento XVI, que está dedicada à esperança cristã, o Papa Bento XVI reconheceu que na maioria dos homens "perdura no mais profundo da sua 4

    essência uma derradeira abertura interior para a verdade, para o amor, para Deus. Porém, nas opções concretas da vida, essa abertura para Deus é sepultada sob repetidos compromissos com o mal: muita sujeira cobre a pureza, da qual, contudo, permanece a sede" (n. 45). Mesmo aqueles que buscam viver a sua vida em amizade com Deus não estão totalmente isentos de apresentar inclinações desregradas, falhas em sua constituição humana, ou seja, características incompatíveis com a santidade de Deus.

    Quantas vezes aquilo que chamamos de virtude não é, na verdade, um culto ao próprio eu; quantas vezes a prudência não se revela uma forma de covardia; a virilidade, arrogância; a parcimônia, avareza; e a caridade, uma forma de esbanjamento. Quantas vezes em nossos corações não se instalam egoísmo, orgulho, vaidade, negligência, infidelidade… Então pergunta o Papa Bento: "o que acontece a tais indivíduos quando comparecem diante do Juiz?

    Será que todas as coisas imundas que acumularam na sua vida se tornarão, de repente, irrelevantes? (n. 44). O Papa Bento tem aqui em mente a questão da justiça. A graça de Deus – seu socorro gratuito –, que salva o homem, não exclui a justiça. A graça não é uma esponja que apaga tudo que foi feito de mal no mundo, de modo que, ao final, tudo tenha o mesmo valor (n. 44). A compenetração da graça e da justiça ensina que o nosso modo de viver não é irrelevante", ou seja, que o mal que cometemos e o pecado dos homens não é simplesmente esquecido.

    Veremos que o ensinamento católico considera que o ser humano, na morte, ainda tem uma ocasião para se purificar e atingir o grau de santidade necessário para entrar no Céu. O

    purgatório é exatamente este estado em que as almas dos defuntos se purificam. Não é uma câmara de tortura e não deve causar medo. O purgatório é uma derradeira oportunidade para a pessoa tornar-se plena e evoluir até as últimas possibilidades do seu ser.

    Podemos dizer que o purgatório só tem uma porta: a de saída para viver a felicidade plena com Deus na eternidade purificados por Sua Graça no Purgatório, pois todos que estão no purgatório irão para Glória do Pai purificados!

    5

    Todo ser humano é dotado de liberdade, o mal do mundo e de nossos corações não fica simplesmente esquecido com a morte. Deus não é apenas graça, mas é também justiça. E toda pessoa, sendo dotada de liberdade, é ao final responsável por suas escolhas e atitudes. Sendo assim, aqueles que morrem na graça e na amizade com Deus, mas não estão completamente purificados, têm a oportunidade de passar por essa purificação após a morte.

    Portanto, o ensinamento católico considera que o destino do ser humano na morte não alcança um ponto final estático da evolução.

    Ou seja, é possível realizar um caminho de aperfeiçoamento – de conversão e purificação – depois da morte. Vamos refletir que o Purgatório existe e é oportunidade de última conversão, trata-se da última conversão da pessoa. Diante de Deus, na morte, cada um deve abrir mão, de forma radical, de todo orgulho e egoísmo, entregando-se incondicionalmente ao Senhor, depositando nele toda a esperança. Deve abandonar tudo que impossibilita amar a Deus com todo coração. É a este último ato da evolução humana, esta conversão derradeira e purificação para mergulhar na comunhão com Deus que a Igreja chama de purgatório.

    "É exatamente na morte e por ocasião do encontro com Deus que cada pessoa experimentará, com intensidade nunca antes conhecida, o significado de sua vida vivida.

    E dependendo do que ela tiver feito de si durante esta vida, dependendo também do que ela tiver feito a outras pessoas e com as situações históricas e estruturais naquela vida, sua união com Deus também será ligada a uma purificação experimentada de maneira mais ou menos dolorosa, afirma o teólogo Renold Blank no livro Escatologia da Pessoa". Todos teremos oportunidade de purificação, esta purificação é uma última oportunidade dada ao homem de cumprimento do plano de Deus, em que sejamos

    conformes à imagem do seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos (Rm 8, 29). Assim refletiremos que o purgatório não deve ser visto como uma câmara de tortura cósmica e nem deve causar medo. O purgatório é no fundo de um novo e reiterado ato de salvação de Deus, a fim de que o homem possa ser salvo. A oferta de Deus com o purgatório configura-se 6

    então como a etapa para a pessoa tornar-se plena, evoluir até as últimas possibilidades do seu ser, alcançar a plena realização de todas as suas capacidades, estando apta assim para entrar no Céu e na santidade de Deus. A imagem do fogo, associada ao purgatório, pode ser interpretada como o próprio Cristo, que vem para nos salvar. No encontro com Ele, toda falsidade vem abaixo e o seu olhar nos cura como que pelo fogo. O fogo transformador que existe no Purgatório, isto é a imagem do purgatório ser associada ao fogo, Bento XVI assinala que alguns teólogos recentes são do parecer de que o fogo que simultaneamente queima e salva é o próprio Cristo, o Juiz e Salvador (Spe Salvi, n. 47). Diante do olhar de Cristo, toda falsidade vem abaixo. É o encontro com ele que, queimando-nos, nos transforma e liberta para nos tornar verdadeiramente nós mesmos. Nesse momento, as coisas edificadas durante a vida podem se revelar palha seca e desmoronar. Porém, na dor deste encontro em que o impuro e o nocivo do nosso ser se tornam evidentes, está a salvação. O olhar de Cristo, o toque do seu coração cura-nos através de uma transformação certamente dolorosa ‘como pelo fogo’. Contudo, é uma dor feliz, em que o poder santo de seu amor nos penetra como chama. Bento XVI explica ainda que o pecado do homem já foi queimado na Paixão de Cristo. E no momento do Juízo,

    experimentamos e acolhemos este prevalecer do seu amor sobre todo o mal no mundo e em nós.

    Veremos que a doutrina do purgatório é uma consequência lógica da ideia bíblica de que Deus exige a expiação dos pecados.

    Ela traz referências a certos trechos da Escritura, à tradição da Igreja e à prática da oração pelos defuntos. Essa ideia foi sistematizada a partir do II Concílio de Lião, em 1274. O Papa Bento XVI a retomou em sua encíclica sobre a esperança cristã, Spe Salvi (2007).

    O termo purgatório designa uma noção teológica elaborada a partir da Idade Média no Ocidente. Nomeia o estado em que se encontram as almas dos defuntos que estão num estado provisório, devido ao fato de não estarem aptas a entrar imediatamente na visão de Deus. O pensamento católico assinala o dogma do 7

    purgatório como consequência lógica da doutrina bíblica segundo a qual Deus exige do homem a expiação pessoal pelas faltas cometidas. Do Antigo Testamento, considera-se a passagem mais significativa para ilustrar essa ideia 2 Mac 12, 39-46, em que Judas Macabeu mandou que se celebrasse pelos mortos um sacrifício expiatório, para que fossem absolvidos de seu pecado. Já Paulo, em 1Cor 3, 10-15, fala de uma salvação como que através do fogo. Até o século IV, a fé no purgatório é atestada pelos sufrágios que os cristãos faziam por seus defuntos, ou seja, as orações pelas almas que ainda não tinham entrado no Céu e poderiam ser ajudadas nisso pelos fiéis vivos. Santo Agostinho e outros grandes teólogos dos inícios da Igreja assinalam a existência de penas expiatórias depois da morte. Nesse âmbito, o texto de Paulo que fala da salvação como que através do fogo é frequentemente citado. Diante de um crescente interesse pelo tema do purgatório na Idade Média, o Magistério da Igreja passou a estruturar essa doutrina. O II Concílio de Lião (1274) fala de

    penas purgatoriais. O Concílio de Florença (1438) também assinala uma purificação após a morte por penas purgatoriais.

    Mas é o Concílio de Trento (1547) que vai registrar expressamente a doutrina, afirmando que o pecado acarreta uma pena que tem de ser expiada seja neste mundo, seja no outro, no purgatório.

    Trata-se portanto de uma doutrina católica, que não foi acolhida nem pelas Igrejas do Oriente nem pelos protestantes. O

    ensinamento mais recente da Igreja Católica reafirma a doutrina do purgatório. O Catecismo da Igreja Católica (1992) assinala sua fundamentação nas Escrituras, nos concílios e na prática da oração pelos defuntos. O Papa Bento XVI também retoma o tema, na sua encíclica sobre a esperança cristã.

    Purgatório, a prova de fogo de nossas obras no dia do julgamento final. Na Bíblia Sagrada, uma das passagens mais conhecidas ocorre quando um rico e um mendigo morrem. Lázaro, o mendigo, foi levado pelos anjos para junto de Abraão. O rico foi atormentado no fogo, onde pede a Abraão que permita que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque sua língua. Em 8

    resposta, Abraão diz ao rico: Lembre-se, filho, você recebeu seus bens durante a vida, enquanto Lázaro recebeu males. Agora, porém, ele encontra consolo aqui, e você é atormentado (Lc 16,25). É que com a morte, o caminho seguido em vida se conclui e suas virtudes e seus pecados se tornam definitivos. Algumas pessoas guiam a vida em plena comunhão com Jesus Cristo, e sua chegada ao céu é o cumprimento da verdade sobre aquilo que são.

    Outras pessoas morrem na amizade de Deus, mas, embora seguros da sua salvação eterna, precisam ainda de purificação para entrar no Reino dos Céus.

    Na primeira Carta aos Coríntios, São Paulo trata sobre as obras que fez e as obras de Apolo, ensina-nos que o alicerce fundamental de nossas obras é Jesus Cristo. De tal forma, que cabe a cada um construir sobre esse alicerce, para que a sua obra seja mostrada no dia do julgamento e provada pelo fogo. Com efeito:

    Se a obra construída sobre o alicerce resistir, o operário receberá uma recompensa. Aquele, porém, que tiver sua obra queimada, perderá a recompensa. Entretanto, o operário se salvará, mas como alguém que escapa de incêndio (1 Cor 3,14-15).

    Vejamos que todos os construtores que tem por fundamento o Cristo serão salvos, ainda que alguns precisem ser provados no fogo. Esse é o purgatório, a prova de fogo de nossas obras no dia do julgamento final. Também São Pedro nos ensina que Desse modo, a fé que vocês têm será aprovada como ouro que passa pelo fogo. O ouro vai desaparecer, mas a fé que vocês têm, e que vale muito mais, não se perderá, até o dia da revelação de Jesus Cristo. Então, por essa fé, vocês receberão louvor, glória e honra (1Pe 1,7). É pelas Sagradas Escrituras que entendemos que o purgatório é a provação das almas que viveram em Cristo, mas estão marcadas pelo pecado e precisam ser purificadas para entrar no Reino de Deus. Aqui é importante usar esses exemplos para tratar de uma diferenciação importante, o purgatório é a purificação final dos eleitos, diferente do castigo dos condenados.

    No purgatório, as obras foram construídas em Jesus Cristo, mas têm falhas humanas que passam pela purificação. Já no castigo dos condenados, as obras foram vãs, sem a presença de Jesus Cristo.

    9

    O que o CIC diz sobre o purgatório? De fato, é assim que o CIC (Catecismo da Igreja Católica) nos apresenta o purgatório, como a purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do castigo dos condenados. Para bem entender, lemos no § 1030

    do CIC que os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu. Quando ocorre o julgamento final do cristão, que ainda não está em completa comunhão com Jesus Cristo, sua alma se oferece ainda com os desejos e as culpas do pecado, o que torna impossível colocar-se na presença de Deus.

    Na história do pecado original, lê-se que, após o pecado, ao ouvir os passos de Deus, Adão e Eva esconderam-se da presença d’Ele entre as árvores do jardim e Deus não os encontrou, perguntando por eles. Ora, tal passagem pode nos trazer o questionamento: Como Deus, criador do céu e da terra, não sabia onde estavam Adão e Eva?. Na verdade, a passagem nos ensina que Deus já não encontrou a sua imagem e semelhança como lhes havia criado, mas no jardim estavam os pecadores. Assim também é conosco, marcados pelos pecados de nossa caminhada da vida, para nos apresentarmos a Deus, precisamos retornar a Sua criação original, puros e dignos de Sua presença.

    Estejamos preparados para que, no dia em que sejamos levados ao encontro de Deus, possamos estar certos de que nossas obras tiveram Jesus Cristo como alicerce e, ainda que os pecados nos corrompam pelo caminho, no coração carregamos o amor e a certeza de que nossa vida não foi egoísta, mas repleta de serviço para com o próximo. Busquemos, com a fé cristã, o amor do Pai e a intercessão da Virgem Maria – serva por excelência – ser imagem e semelhança de Deus, para que, quando o dia do julgamento chegar, estejamos na Sua graça e amizade.

    Minha vida profissional na Força Aérea e na indústria, como um profissional de engenharia de manutenção e segurança de voo e de segurança no trabalho, me fizeram aprender uma regra: existem duas maneiras de aprender: errando ou vendo os outros errarem, isso é 10

    aprendendo com o erro dos outros. Quando acontece um problema, um desacerto pessoal ou familiar, ou mesmo um acidente, a resposta que muitas vezes escutamos, ou até damos é: o que eu tenho com isso! É amigo, talvez esta seja sua resposta. Por causa de uma resposta como esta, já aconteceram muitos problemas e acidentes, muitas vidas foram perdidas e com certeza enormes foram os prejuízos. As pessoas ainda reagem ao termo segurança, associando-o com palavras de sentido negativista ou restritivo, tais como: não entre n’água você pode afogar-se, pare, fique quieto, não faça isso, é muito perigoso, e tantas outras.

    Todas essas imposições são limitações que se tornam inaceitáveis por serem contrárias ao natural desejo do homem, causando traumas ou fortes reações de oposição. Mas veja bem amigo, há sempre uma perspectiva adequada para realizar-se uma tarefa ou tomarmos uma atitude de forma mais segura e eficiente.

    Podemos correr, subir e nadar, falar e agir sob condições de menor riscos, traumas, atitudes ou perigos. A conscientização de como somos limitados, de características, tipos de personalidade e temperamentos diferentes, certamente ajudará a que você tome decisões seguras e sensatas, evitando, ou ajudando a evitar problemas, situações difíceis, tanto pessoais, como familiares e até acidentes.

    Nestes anos tenho aprendido que nós somos responsáveis por tudo que acontece à nossa volta. Através dos nossos pensamentos, emoções e palavras, criamos situações ao longo de nossas vidas que poderão ser destrutivas ou construtivas. Todos os acontecimentos em nossas vidas até o momento em que nos encontramos foram criados por nossos pensamentos e crenças que tivemos no passado, pensamentos estes que usamos ontem, na semana passada, no mês passado, no ano passado e durante toda nossa vida. O que passou não pode ser modificado, mas, o importante é o que estamos escolhendo pensar agora, porque o pensamento sim pode ser modificado, pois todos os estados mentais negativos atuam como obstáculos à nossa felicidade.

    Muitos vivem irados, com raiva, e essa atitude é um dos maiores empecilhos para atingirmos o estado de liberdade interior, 11

    que é onde reside a felicidade. A raiva é tida como a mais hedionda das emoções, ela perturba nosso discernimento, nos causa desconforto e consegue devastar nossos relacionamentos pessoais com a força de um furacão, que põe abaixo ou pelos ares tudo que se interpõe à sua passagem. Estudos comprovam que a raiva, a fúria e a hostilidade são prejudiciais ao sistema cardiovascular, causando aumento de colesterol, de pressão alta e até de mortes prematuras.

    Muitas pessoas têm ânimo instável e atuam

    impulsivamente, duvidando de sua identidade e sofrendo explosões de violência contra ela mesma e contra os demais. Essas pessoas padecem de um transtorno que conduz ao abatimento e desesperança, caracterizada pela instabilidade emocional. Sem conseguir se controlar contra o abandono, ataques de ira, sensação de vazio interior e impetuosidade. Suas relações, seu sentido de si mesmo e o seu ânimo, se tornam muito instáveis. Muitos têm impulsos de gastar, ter relações sexuais abusivas e descontroladas, abusar de substâncias e comidas ou dirigir de forma temerária e incontrolável. Suas possibilidades de continuar estudando, ter um emprego ou estabelecer uma relação sentimental, casamento ou namoro se tornam difíceis. Essas pessoas tendem a experimentar longos períodos de abatimento e desilusão, interrompidos às vezes por breves episódios de irritabilidade, atos de autodestruição e cólera impulsiva. Estes estados de ânimo costumam ser imprevisível e parecem ser desencadeados menos por fatos externos do que por fatores internos da pessoa

    Fique certo caro amigo, pois estes sentimentos destrutivos quando brotam dentro de nós, acabam nos dominando de tal forma que destroem nossa paz mental e por isso são corretamente considerados como os nossos inimigos internos. Esses nossos inimigos internos só têm uma função, a de nos destruir e muitas vezes envolver também quem está a nossa volta, especialmente nossos familiares e amigos, exatamente os que mais amamos ou que deveríamos amar. Nossa presença de espírito e nossa sabedoria desaparecem, sentimos uma ansiedade que nos sufoca. Acabamos perdendo a capacidade de distinguir o que é certo ou errado, e aí, 12

    somos lançados num estado de confusão tamanha que agrava ainda mais nossos problemas e dificuldades. Você já deve ter percebido que quando isto acontece nossa tensão tende a aumentar, nosso nervosismo e nossa fisionomia também se transformam, e emanamos, desprendemos uma vibração tão hostil que todos se afastam. Até os nossos animais de estimação, como o gato ou cachorro, podendo mesmo nos transformar em autores ou vítimas de crimes hediondos contra pessoas próximas, ou mesmo contra nosso próprio ser. Quantos suicídios e vidas autodestruídas eu tenho visto nestes últimos anos. Quantas tristezas geram! Casais se separam de uma união que deveria ser indissolúvel, filhos matam pais, pais matam filhos, amigos se distanciam, pessoas perdem o emprego. Quanta angústia e desolação! A ira, a raiva, a depressão, o mau humor constante, a indolência e muitos outros problemas.

    São todos inimigos tão poderosos, que podem ficar atuando somente por instantes ou passar de geração para geração. Em alguns casos temos até raiva de pessoas que já faleceram há muito tempo, e assim o inimigo interno continua ativo com toda a sua força. Em outros casos mantemos raiva por desastres financeiros ou relacionamentos que já acabou há muito tempo.

    Francamente caros leitores, eu já passei por muito disso, e ainda hoje luto contra minhas instabilidades, temperamento difícil, impaciência e intolerância. Porém tenho descoberto, juntamente com minha querida esposa, que todos estes sentimentos podem ser construtivos, quando os utilizamos para detectar o que está dentro de nós como inimigos e com isso enxergar nossos egoísmos, nossas críticas, nossas lamentações, nossa falta de fé, ou sentimentos de culpar os outros por nossas mazelas, etc.

    Por mais de 20 anos fui instrutor e chefe de ensino na maior escola de aeronáutica da américa latina: a escola de Especialistas da Aeronáutica, como engenheiro de voo dava instrução de voo e controle de manutenção aeronáutica e segurança de voo, como já falei anteriormente, pois sempre fui agente do CENIPA, que é o Centro Nacional de Segurança de Voo. Mas como era uma Escola tinha as funções de planejamento e avaliação que me obrigaram, além da engenharia, administração 13

    e economia, entender de psicopedagogia. Para poder chefiar a área de psicopedagogia tive de fazer um curso de pedagogia, na Universidade da Força Aérea, com ênfase na psicopedagogia, para poder ajudar os alunos a escolherem suas profissões, nas 28

    especialidades que a escola oferecia. Além de ajudá-los nos problemas ligados a aprendizado e dificuldades de aprendizado.

    Nesta época, também minha filha resolveu fazer a faculdade de psicologia e eu estudava com ela todos os livros nesta área, o que me ajudou a conhecer um pouco do que iremos discutir e refletir neste livro.

    Temos aprendido que devemos usar a força das nossas emoções para destruir os maus sentimentos que habitam em nossa alma e impedem que nossa vida, e a de todos aqueles que dela participam desfrutem de alegria, paz e amor. Para conseguirmos dominar esses inimigos internos, temos descoberto algumas ferramentas que são acessíveis a cada um de nós, basta força de vontade e perseverança em aplicá-los e transformarmos para melhor, nossas vidas e a vida daqueles com os quais convivemos.

    É destas ferramentas que iremos desenvolver nossos estudos e reflexões

    Esse é o grande motivo pelo qual escrevo este livro: que minha experiência e a experiência de minha esposa, nossos erros e acertos, ajudem a cada um de vocês leitores amigos, a buscarem uma vida feliz e cheia de sentido e que a cura interior seja alcançada através do conhecimento de como se encontrar com Deus através da oração e do discernimento diário. Para que isto aconteça teremos estudos, exercícios, testes, oração, meditações e contemplações, na busca de nos conformarmos à pessoa de Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor. E assim sermos bons cristãos e discípulos missionários de Jesus Cristo!

    Nestes estudos sobre purgatório, morte, luto, o amor, e o pecado, claro que teremos oração, contemplação e meditação, e especialmente de cura interior. Mas, na verdade os verdadeiros cristãos não precisam ser cobrados a obedecer as Escrituras Sagradas, pois por amor ao Senhor Jesus estes leem, estudam de boa vontade e com alegria obedecem. Veremos que cada 14

    espiritualidade, ou carisma tem a sua maneira de rezar, uns contemplativamente, outros na leitura orante, mas todos na busca de se encontrar com Deus Criador, Seu filho Salvador e do Espírito Santo orientador e que nos dá ardor para sempre e cada vez mais buscar fazer a vontade de Deus!

    No próximo capítulo veremos qual o Sentido da Morte Cristã no Catecismo da Igreja Católica, conforme os parágrafos 1010: Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo.

    Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro (Fl 1,21). Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos (2Tm 1,11).

    A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente morto com Cristo, para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este morrer com Cristo e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor:

    É bom para mim morrer em (eis) Cristo Jesus, melhor do que reinar até as extremidades da terra. É a Ele que procuro, Ele que morreu por nós: é Ele que quero, Ele que ressuscitou por nós. Meu nascimento aproxima-se. (…) Deixai-me receber a pura luz; quando tiver chegado lá, serei homem.

    15

    CAPÍTULO 1 ANTES DO PURGATÓRIO VEREMOS A MORTE SEGUNDO A IGREJA CATÓLICA

    A Igreja Católica crê que a morte entrou no mundo pelo pecado. A Ciência, por sua vez, afirma que não é possível para um organismo humano, por sua própria natureza, viver eternamente.

    Como conciliar o dado revelado com o dado científico?

    Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas imperfeitamente purificados, embora estejam certos da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, para alcançarem a santidade necessária para entrarem na alegria do céu.

    A Igreja chama purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é completamente diferente do castigo dos condenados. Este ensinamento apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, de que a Escritura fala: Por isso [Judas Macabeu] mandou fazer um sacrifício expiatório pelos mortos, para ficarem livres do pecado (2 M 12, 46). Desde os primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios por eles, em particular o sacrifício eucarístico (cf. DS 856), para, uma vez purificados, poderem chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência pelos defuntos.

    Em primeiro lugar, é necessário saber qual foi exatamente o dado revelado, o que diz a Igreja sobre o tema. O Catecismo da Igreja Católica traz a informação no número 1008, quando explica que: A morte é consequência do pecado. Intérprete autêntico das afirmações da Sagrada Escritura (585) e da Tradição, o Magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por causa do pecado do homem (586). Embora o homem possuísse uma natureza mortal. Deus destinava-o a não morrer. A morte foi, portanto, contrária aos desígnios de Deus Criador e entrou no mundo como consequência do pecado (587). «A morte corporal, de que o homem estaria isento se não tivesse pecado» (588), é, pois, «o último inimigo» (1 Cor 15, 26) do homem a ter de ser vencido.

    Qual o Sentido da Morte Cristã no Catecismo da Igreja Católica, conforme os parágrafos 1010 a 1014: Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. "Para mim, a vida é Cristo, 16

    e morrer é lucro (Fl 1,21). Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos (2Tm 1,11). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente morto com Cristo, para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este morrer com Cristo" e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor:

    É bom para mim morrer em (eis) Cristo Jesus, melhor do que reinar até as extremidades da terra. É a Ele que procuro, Ele que morreu por nós: é Ele que quero, Ele que ressuscitou por nós. Meu nascimento aproxima-se. (…) Deixai-me receber a pura luz; quando tiver chegado lá, serei homem. Na morte, Deus chama o homem a si. É por isso que o cristão pode sentir, em relação à morte, um desejo semelhante ao de São Paulo: O meu desejo é partir e ir estar com Cristo (Fl 1,23); e pode transformar sua própria morte em um ato de obediência e de amor ao Pai, a exemplo de Cristo:

    Meu desejo terrestre foi crucificado; (…) há em mim uma água viva que murmura e que diz dentro de mim: Vem para o Pai. Quero ver a Deus, e para vê-lo é preciso morrer. Eu não morro, entro na vida. A visão cristã da morte é expressa de forma privilegiada na liturgia da Igreja: Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível. A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir seu destino último.

    Quando tiver terminado o único curso de nossa vida terrestre, não voltaremos mais a outras vidas terrestres. Os homens devem morrer uma só vez (Hb 9,27). Não existe reencarnação depois da morte. A Igreja nos encoraja à preparação da hora de nossa morte (Livra-nos, Senhor, de uma morte súbita e imprevista: antiga ladainha de todos os santos, a pedir à Mãe de Deus que interceda por nós na hora de nossa morte (oração da Ave-Maria) e a entregar-nos a São José, padroeiro da boa morte: a morte é consequência do pecado. Intérprete autêntico das 17

    afirmações da Sagrada Escritura e da tradição, o magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por causa do pecado do homem. Embora o homem tivesse uma natureza mortal, Deus o destinava a não morrer. A morte foi, portanto, contrária aos desígnios de Deus criador e entrou no mundo como consequência do pecado. A morte corporal, à qual o homem teria sido subtraído se não tivesse pecado, é assim o último inimigo do homem a ser vencido.

    Adão não tinha apenas a sua natureza humana normal.

    Antes da Queda, no chamado período pré-lapsário(trata da predestinação original), Deus havia dado a ele os chamados dons preternaturais, ou seja, que não faziam parte da sua natureza humana. Entre aqueles estava a imortalidade. Por isso é que a Igreja ensina que viver eternamente não estava na natureza de homem, mas que isso aconteceria por força dos dons preternaturais concedidos por Deus. Até que ponto essa interpretação da Igreja combina com o que está na Sagrada Escritura?

    No Livro do Gênesis, no capítulo 3, versículo 18, logo após o homem ter pecado, Deus decreta: tu és pó e ao pó hás de voltar. Nessa frase, há o reconhecimento de que é da natureza do homem ser pó, portanto, se existia imortalidade deveria ser um dom de Deus, algo extrínseco à natureza. Resta uma pergunta: de onde vem a ideia da imortalidade do homem pré-lapsário? Vem da chamada Árvore da Vida. No Paraíso existiam duas árvores: a do Bem e do Mal, e a da Vida. Deus proibiu que os primeiros pais comessem do fruto da Árvore do Bem e do Mal e a desobediência deles originou o pecado original. O livro do Gênesis prossegue: "O

    homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal.

    Que ele, agora, não estenda a mão e colha também da árvore da vida, e coma, e viva para sempre. (22). Em seguida, Deus expulsa o homem do Paraíso e coloca a porta os Querubins para impedi-lo de se aproximar justamente da Árvore da Vida: Ele expulsou o homem e colocou diante do jardim do Éden os querubins e a espada chamejante, para guardar o caminho da árvore da vida"

    (24). Refletindo sobre a Ascenção sobre a Ascensão, da entrada de Cristo Ressuscitado no Paraíso, quando os querubins, lá 18

    posicionados por Deus para barrarem a entrada do homem, se curvam e deixam Jesus Ressuscitado entrar. É a entrada também do homem na vida eterna. Por Jesus Cristo a humanidade obtém acesso à Árvore da Vida, não mais como dom preternatural, mas como o dom da Ressurreição que será dado por Deus no fim dos tempos. Por meio de uma história criada por Ele, Jesus nos evangeliza sobre as verdades da vida eterna.

    Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava. Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caiam da mesa do rico. Até os cães iam lamber lhe as chagas

    1. Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos Anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.

    Jesus inicia revelando que há vida após a morte. Há Anjos.

    O seio de Abraão significa a gloria do céu, para onde os Anjos levam aqueles que são salvos. (As palavras céu e céus aparecem 348 vezes no Novo Testamento).

    2. "E estando ele (o rico) nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio.

    Gritou, então: ‘Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, afim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas'".

    Jesus revela claramente a existência do inferno. Que ali é lugar de tormentos cruéis. As chamas não são de fogo material, mas sim, uma tortura de consciência e de coração por ter perdido o céu, por própria culpa. Jesus revela que dali, os condenados podem ver e saber que existe o céu, lugar de felicidade que eles perderam por própria culpa, pois foram reprovados por sua má vida. (A palavra inferno aparece 10 vezes no Novo Testamento e geena, que é sinônimo de inferno, aparece 8 vezes).

    3. Abraão, porém, replicou: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento'. Jesus revela que os aprovados e salvos são consolados pela felicidade gerada pela 19

    presença de Deus, que os acolhe em seu seio, isto é, em sua presença. E que os reprovados são atormentados pela perda culposa daquela presença de Deus, no céu.

    4. Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá. Aqui há uma revelação surpreendente. A felicidade do céu e definitiva, imperdível, irreversível. Os que estão no céu, jamais poderão passar pelo grande abismo e ir parar no inferno. Estão salvos para sempre.

    Mas a infelicidade, o inferno, também é definitiva. Ninguém que se encontra na condenação pode passar pelo grande abismo para entrar no céu.

    5. O rico disse: ‘Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para lhes testemunhar, que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos'. Jesus revela que todo condenado ao inferno tem consciência de que foi castigado por causa de sua má vida. Ele sabe que aqueles que vivem sua vida terrena também podem ser condenados se persistirem na pratica do mal e morrerem nesse estado. Usando as palavras do rico, preocupado com seus cinco irmãos que também vivem mal e podem ser igualmente condenados, Jesus quer mostrar que se os maus se converterem, mudarem de vida, poderão se salvar.

    6. Abraão respondeu: ‘Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos!' Jesus quer nos ensinar que, enquanto é tempo, devemos acolher os ensinamentos

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