Poesia para curar
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O nome não é à toa: hoje, se Maria Clara está viva é graças às poesias, feitas para curar as mais graves cicatrizes que já habitaram em sua pele.
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Poesia para curar - Maria Clara Morais Sousa
Dedicatória
para a garota assustada e fragilizada que já fui
você pode muito mais do que pensa
e é muito mais do que acha
esta aqui
é para todas as dúvidas que você já teve
se um dia seria algo
hoje você é poesia
Poesia para curar
ao mesmo tempo
que eu me sinto fraca
me sinto forte
me sinto frágil
mas não quebro
No meio da tempestade, só existe caos:
sentada nesta cadeira, olhando para a mesa de bilhar (ou sinuca — eu nunca aprendi mesmo a diferença), penso em todos os meus problemas como se estivesse numa sessão de terapia.
não consigo parar de pensar no incômodo mais breve do meu coração, ao mesmo tempo em que recordo os antigos incômodos, numa tentativa de me sacrificar em público por um motivo que nem eu mesma me lembro qual é.
eu perdi meus motivos numa estrada muito antiga e esburacada. no meio dela, eu tentava achar o sentindo do que eu era e do que vou ser, sem saber que eu viraria esta pilha de preocupações ambulante.
me destruindo pelo simples esquecimento de uma pílula, uma sensação, a falta de só uma coisinha que me faz funcionar como uma pessoa normal e saudável.
sendo um impedimento, tornando tudo ao meu redor um impedimento, sendo um arrependimento e me arrependendo de tudo o que veio antes de mim.
a esse ponto, perdi até o que estou escrevendo e por que tudo está errado, sendo que só aceitei que está, sem nem pensar, nem questionar qual é a diferença entre sinuca e bilhar. eu só desejo desaparecer e me teletransportar para um lugar onde não existo, enquanto me destruo em paz, sem ninguém. os outros tentam me impedir — seus sentimentos me impedem.
enquanto olho para esta mesa de sinuca/bilhar, lembro-me do que realmente me impede: sou eu e a razão pela qual escrevi tudo isso, eu mesma fui me convencendo de que escrever me tiraria do buraco em que eu me enfiei, mas ninguém além de eu mesma pode me tirar daqui.
e eu escolho ficar.
~ é muito difícil sair de casa ~
e o que que eu faço com este sentimento de culpa?
o que que eu faço com esta sensação, enquanto olho pro meu braço e penso em como me castigar?
o que eu faço com estas palavras afiadas, prontas para me cortar?
estas letras prontas para serem vomitadas?
o que é que eu faço com esta vontade de sumir, de morrer?
o que eu vou fazer neste quarto silencioso e escuro
atormentada pelos meus demônios
sozinha, jogada aos leões?
o que eu faço com esta sensação de eu contra o mundo
?
onde eu enfio toda esta dor?
esta perda?
esta culpa?
esta tristeza?
para onde mando